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domingo, 9 de agosto de 2020

Revista "Colonial" Agosto de 1920: 1ª parte

Na edição de Agosto de 1920 a Revista Colonial (Ano 9, 2ª série, nº 2) publica um artigo sobre Macau - fizera o mesmo em edições anteriores - que na prática é a transcrição de um texto da autoria do tenente-coronel José Luiz Marques publicado no "Annuario de Macau de 1921". Aborda-se a questão das obras do porto de Macau e a Gruta de Camões (próximo post).
O nome de Macáu vem de Amang Ao (deusa ou rainha do Céu): com o decorrer dos annos transformou-se em Macáu. A peninsula tem cerca de 5 kilometros quadrados de superfície e está situada a Sueste da China, no extremo meridional da ilha de Hian-Chan. Esta nossa colonia data de 1557. Vem a proposito a referencia a alguns trechos do artigo (de J. L. Marques) com que abre o Annuario de Macau, de 1921. Macáu, a mais antiga possessão europeia na China, está destinada, pela transformação completa que está soffrendo o seu pôrto, a tornar-se um dos mais prósperos portos da costa da China. A sua posição é magnifica, collocada como fica à entrada do labyrintho de canaes que formam o delta apertado entre o Rio Cantão e o Rio de Oeste.
O Kuangtung, província chineza que envolve Macau, tão populoso como a França inteira, é uma das mais ricas da China. As riquezas mineraes do Kuangtung são notáveis, estando em exploração na sua área jazigos de carvão, de cobre, de ferro, deprata e de ouro. Ás margens dos canaes, a cuja saida fica o pôrto de Macau, ficam cidades das maiores do mundo, como Cantão, e dúzias de outras, algumas d'ellas, como Siac-Ki, Sam-Sui, Kong-Mun, Shuin-Fu, com dezenas e centenas de milhares de habitantes. Todas essas cidades estão ligadas pela navegação fluvial com Macáu, e apezar da situação do velho pôrto portuguêz ter chegado a um estado lastimoso, pelo assoriamento, a sua posição impõe-se de tal maneira, que o commercio marítimo, mesmo nos últimos annos de desoladora decadência, andou entre 25 e 30 milhões de dollars!
A três dias de viagem do Japão, é Macau uma posição magnifica como entreposto do commécio portuguêz com êsse império, que mantêm hoje relações intensas com todas as nações civilisadas excluindo Portugal! E no emtanto como podia ser grande a penetração no Japão das nossas cortiças, das nossas conservas, do cacau de S. Thomé, do café, de tantos productos emfim para os quaes o Japão, e immensa colmeia de 80 milhões de homens, é um mercado aberto. E em troca, as redes de pesca, para as armações, as japonisices, com que os novos ricos e os velhos remediados enchem os salões, aproveitariam os armazéns de Macáu para se nacionalisar e à sombra da pauta protectora entrariam em Portugal beneficiados. E porque não estabelecer no próprio território da província, n'esta região onde a mão de obra é tão fácil de obter e tão barata, algumas d'essas mesmas industrias para o intercâmbio commercial? Sobe a 9 milhões de dollars a quantia que o governo de Macáu vae gastar com a conclusão do porto. Dentro de um anno deve estar concluído o porto interior destinado á pesca, a estaleiros e docas. O porto de navegação oceanica, e cujos trabalhos começaram já, deve estar prompto no p:azo de 18 mezes. Dentro de 2 annos e meio terá todos os elementos para a garnde vida moderna, a velha cidade portugueza no Extremo Oriente. 
Eis o que é o plano d'essas obras nas suas linhas geraes: 1.° Continuar as obras ao norte de Macau - Patane, norte da Ilha Verde e Areia Preta - para abrigos, reparação de juncos e operações industriaes. 2.° No porto interior fazer os melhoramentos, de dragagens e alguns alargamentos marginaes. 3.° Proceder á limpeza sobre o baixo de Malauchau, por forma a facilitar as comunicações com a Taipa. 4.° Na Taipa, melhorar as condições de abrigo dos juncos que frequentam o porto. 5.° Facilitar as communicações interiores entre a Taipa e Coloane. 6.° Construir o porto artificial na Rada, para navios, estabelecendo-se possibilidades de seu aproveitamento por juncos e vapores de carreira, em acostagens. 
As obras da Rada são: Dois grandes molhes, um do lado do Este partindo da altura de Macau-Siac e outro do lado Sul, partindo da Ponta da Barra, com aberturas diversas, protegendo toda a faxa do SE da Peninsula até ao Canal norte da Rada. O acesso principal a esta região que assim fica abrigada é feito por um canal, a abrir na direcção de SE, com cerca de 4 kilometros de extensão e 100 metros de largura, a partir da boca principal, entre os extremos dos dois grandes molhes em frente do pharol da Guia. Por dentro dos molhes deve ser conquistada uma larga faxa de terrenos, com productos das dragagens exteriores para armazenagem, bairros industriaes e commercíaes, para gare do projectado camino de -ferro docagens, abastecimento de carvão, etc. Vindo de fóra para dentro há a considerar principalmente, o fundeadouro e acostagem'dos navios maiores, a doca para vapores de carreira e juncos, a dóca de abrigo da Praia Grande e installações para o serviço de hydroplanos. O porto, inicialmente, deve dar accesso diário, em preamar, a navios com calado de 23 pés e mais, até 25 pés na maior parte dos preamares de cada mez, podendo comportar, desde o começo 3 navios fundeados e 2 atracados. (continua)

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