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quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Macau na "Chronica Planetária"


A obra "Chronica Planetaria (Viagem à Volta do Mundo)” foi editada em 1903. É da autoria de José Augusto Correa que poucos anos antes fez uma viagem à volta do mundo e passou as memórias para livro. Inclui 240 "photogravuras". 
Partiu de Lisboa a 15 de Março de 1902 e regressou a 19 de Março do mesmo ano. Passou por Macau entre os 20 e 22 de Junho. A "photogravura" de Macau é da baía da Praia Grande.
Excerto:
“20 de Junho – Entre as três próximas cidades: Victoria (Hong Kong), Macau e Cantão, há uma regular carreira de vapores de roda, sem serviço de restaurante. Em três horas de bôa marcha, vence-se as quatro milhas que separam Hong Kong, isto é, a China inglesa, de Macau, a China portugueza.
Foi por uma tarde límpida e formosa que avistei o pharol da Guia, e a linda capellinha contigua, a alvejar por entre a ramaria. Apparece depois o bello quartel mourisco, hoje, hospital de colericos*, a monumental fachada de S. Paulo, os campanarios de S. Lourenço, toda a magnifica edificação da Praia Grande, d´entre a qual sobresahe o palácio do governador, e no extremo oposto o hotel-sanatorio da Boavista, elevado no meio de um caracol maravilhosamente pittoresco. Todo este conjunto impressiona encantadoramente o forasteiro que pela primeira vez aporta à cidade do Santo Nome de Deus de Macau.
O porto, d´este lado da minúscula peninsula, é inacessível a embarcações de alto bordo. É preciso dobrar a ponta da Boavista e ir fundear no porto interior, que defronta o bairro chinez. Este é extenso mas sujo, com exterior apparencia de remota antiguidade.
à noite animan-n'o as casas de tan tan**, onde a jogatina é desenfreada. Esta parte da cidade abunda em pateos, que no Porto têm o nome de ilhas, e no Rio d Janeiro o de cortiços; beccos sem sahida, onde se agglomera e amontôa uma população miservael e infecta. foi aqui que a colera-morbus estabeleceu o seu quartel-general, estendendo as suas devastações ao bairro europeu, onde já tem ceifado muitas vidas, especialmente no elemento estrangeiro. (...)
A cidade, áparte o bairro chinez, é edificado sobre cinco pequenas collinas: Guia (a maior), Penha de França, Mong-ha, D. Maria, S. Francisco e Gruta de Camões, cobertas de abundante arvoredo. (...)"
* referência ao hospital S. Januário
** leia-se fan tan

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