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terça-feira, 12 de abril de 2022

Crazy Paris Show: 1ª parte

Em cartaz há mais de 40 anos, o espectáculo "The Crazy Paris Show" realizou a sua última  apresentação pública no Grand Lisboa no início do corrente mês de Abril.
O espectáculo erótico "The Crazy Paris Show" revolucionou a oferta cultural de Macau no final da década de 1970 ainda hoje está activo. Tudo começou em 1979...
Nesse ano, reza a história, um empresário de Macau de passagem por Paris contacta o responsável do famoso Folies Bergère Music Hall em Paris onde está m cena um espectáculo denominado "Crazy Paris Show" - inspirado noutro também famoso de Paris, o Crazy Horse de Paris, criado em 1951 - com o intuito de levar para Macau um espectáculo de diversão.
Guy Lesquoy era então um jovem bailarino e viria a tomar uma decisão que mudou radicalmente a sua vida: “Eu concordei em trazer o show, mas disse a ele,‘ Eu sou muito caro ”e ele disse:‘ Preço não é um problema ’. Eu não sabia com quem estava falando! ".. explicou Guy recentemente numa entrevista no meio de risos. E não é para menos. Na verdade, ele estava a falar com Stanley Ho, fundador da STDM e proprietário do então recém-construído Hotel Lisboa. 
Pouco tempo depois Guy estava em Macau... tinha 20 anos e estava rodeado das mulheres mais bonitas do mundo (segundo ele).
Este show de strip erótico de dançarinas estrangeiras começou em Julho de 1979 no Teatro D Pedro V, uma sala  inaugurada em 1860 e a primeira do género na Ásia. Curiosamente, também este espectáculo foi pioneiro no género na Ásia.
Mas nem tudo foi rosas... Para uma sociedade ainda conservadora a nudez exibida criou algum choque inicial que foi sendo ultrapassado. Guy explica (revista Macau Closer, Agosto 2020):  “Fui muito rígido com as meninas porque em público elas não representavam apenas o show, mas também a França e nossa cultura. Sim, existia nu estético, mas de minissaias, o que permitiu ao povo de Macau aceitar mais facilmente e vê-lo de forma positiva ”.
O teatro ficava junto a uma igreja e a um seminário e ainda havia comissão de censura...
“Havia três freiras e um padre na comissão e o pessoal do Departamento de Turismo e do Governo, mas ficaram impressionados com o facto de que era um show de nus estéticos. O que estávamos fazendo era mostrar a beleza humana de uma forma extravagante, com iluminação, música e movimento. Era sugestivo, mas nada era mostrado de forma explícita"
Num guia turístico da época de 1970 pode ler-se: "Plenty of nudity is displayed at Crazy Paris strip shows in the Orient's oldest European-style theater."
Tal como no lema na Coca-cola, a sociedade macaense primeiro estranhou mas depois entranhou e depressa todos queriam ver o espectáculo de que todos falavam e que passou a ser um dos grandes atractivos do território, a par dos casinos, Grande Prémio e património cultural.
Num guia dedicado aos turistas publicado na década de 1980 o espectáculo era apresentado como "sofisticado": "A sophisticated strip show is offered at the charming and historic Dom Pedro V Theatre."
O programa inicial previa uma exibição ao longo de apenas dois meses mas o sucesso foi tal que foi exibido até 1986 - dois shows nocturnos diariamente - quando passou para o hotel Lisboa. Em 1988 o espectáculo já tinha sido levado à cena 4.700 vezes e vistos por mais de um milhão de espectadores.
Guy Lesquoy, que dirigiu o espectáculo de cabaret durante 12 anos (saiu em 1992), considerou que o mesmo tornou-se um legado cultural do território. Em declarações feitas em 2014 ao Ponto Final disse: "O que nós queríamos mostrar era a cultura francesa da época, tendo por base o Crazy Horse Show de Paris. Esforçámo-nos para que as pessoas em Macau percebessem que o nosso show era incomum, mas baseado no que eu apelidava de ‘nu estético’. Utilizávamos um jogo de luzes muito sugestivo, mas não havia nudez gratuita. Felizmente conseguimos passar essa mensagem – exemplo disso era o tipo de público que o espetáculo atraía. A determinada altura, quase metade da audiência – cerca de 45% – era composta por mulheres. As nossas bailarinas faziam o show à noite, mas durante o dia estavam envolvidas em várias atividades de cariz social, colaborando com diversas associações locais. Tudo isto foi importante para que o espetáculo fosse bem acolhido em Macau. (...)
No princípio, houve alguma desconfiança e muitas dúvidas sobre o tipo de espetáculo que estávamos a planear. Mas com o passar do tempo, e depois de assistirem ao espetáculo, as pessoas entenderam a natureza do show e as nossas intenções. Foi engraçado perceber como, passado algum tempo, estavam até orgulhosas pelo facto de este ser um espetáculo especial – este show era único na Ásia, com um nível de profissionalismo indiscutível. Era da mais alta qualidade que se podia encontrar a nível internacional, até mesmo em Paris. O show passou a ser uma paragem obrigatória em vários roteiros turísticos e até representantes em visitas oficiais a Macau eram levados ao Teatro D. Pedro V, que acolheu o espetáculo durante vários anos antes de ser transferido para o Hotel Lisboa. O espetáculo foi bem recebido na cidade e essa foi a razão para se ter mantido em palco cerca de 14 anos. Eu deixei de dirigir o espetáculo entre o final de 1993 e o início de 1994, após discordar com os proprietários, que pretendiam que as bailarinas exibissem mais o corpo. Na minha opinião, abandonar a natureza sugestiva do nu estético foi um erro."
Anúncio década 1990: o espectáculo faz parte das atracções turística do território a par dos casinos. 
No final da década de 1980 passou para a nova ala do Hotel Lisboa, no Mona Lisa Hall (imagem abaixo).
Nos anúncios em inglês da década de 1980 podia ler-se:
"The spectacular Crazy Paris Show in a small theatre inside Hotel Lisboa. Be sure that tickets are booked in advance because the show is normally jam-packed."
"Nude spectacle, inspired by the Crazy Horse Show"

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