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sábado, 7 de março de 2020

As muralhas e as portas da cidade cristã

Excerto de artigo de autor não identificado publicado no jornal O Panorama em 1840:
"O pequeno territorio que occupâmos em Macáu tem uma legua escaça de comprimento, e meia legua ainda mais escaça na maior largura: uma muralha de pedra ensôssa, collocada n´uma língua de terra distante das portas da cidade, marca os limites do terreno chamado portuguez, que com todo o ciume e vigilancia são guardados pelos chins, o que não é dado a europeus ultrapassar, salvo em auxílio para apagar fogos, conduzindo agua e instrumentos adequados. Tanto da parte do norte como da do sul é murada a cidade; daquella tem sahida para o campo de S. Paulo do Monte; pela outra a limitam dois fortes os qaues a cavalleiro se vê a ermida de N. S.ª da Penha, que já foi fortificação. Outros tres fortes defendem a bahia e entrada do porto; n´uma alcantilada montanha, fóra das mencionadas portas, apparece o forte de N. S.ª da Guia dominando o mar e todo o espaço adjacente. Um extenso caes, chamado praia-grande, da parte de leste, em frente da bahia, offerece uma morada aprazível, pois alem da vantagem da posição é ventilado pelas aragens refrigerantes no verão, e resguardado das furias das nortadas no inverno."
Planta de 1635 onde são bem visíveis das muralhas
"(...) No princípio do século XVII, depois do ataque dos holandeses em 1622, foi construída a muralha numa linha contínua, que corta a península de meio a meio na direcção NO. a SE., onde havia as portas do Campo e de Santo António, por onde se entrava na cidade. Encravados nesta muralha havia os fortes de S. João e de S. Jerónimo, hoje em ruínas. A muralha, de 16 pés de altura, permitia que os defensores nela se colocassem em toda a extensão, servindo-lhes de parapeito a parte superior que se reduz a um muro de 3 pés de altura por 1 de espessura."
Capitão J. Lima Carmona, num artigo publicado no jornal Ta-Ssi-Yang-Kuo.

Mapa de 1793
O objectivo das muralhas da cidade, que quase circundavam a primitiva cidade, tinham como função principal proporcionar forças defensivas com capacidade de resistir a um assalto directo da infantaria inimiga. Também protegiam a cidade durante a noite, oferecendo segurança contra os piratas e bandos de assaltantes que infestavam os arredores de Macau.
Estas muralhas estavam fornecidas por duas portas. A do lado Nascente, perto da actual Igreja de Sto. António, chamava-se Porta de Sto. António ou Sto. Antão, enquanto que a de Sudeste, perto da Igreja de S. Lázaro, era conhecida por Porta do Campo/Porta de S. Lázaro. Estas portas estavam fechadas à noite, abrindo-se e fechando-se às mesmas horas. Na porta de Sto. António existia ainda um posto alfandegário.
Porta do Campo - desenho de G. Chinnery
"(...) E pegado a ella (a horta da Companhia de Jesus, junto ao Colégio de S. Paulo) está hua porta que vai para o Campo de Moha, (leia-se Mong-Há) e desta porta vai correndo o muro das casas dos moradores athe S. António, aonde está outra porta para o ditto Campo, e na mesma forma vay correndo o muro para o Campo da Patane, aonde está hu postigo, e vindo de volta para a praya pequena, fica outro postigo que se fechou por não ser necessário, e do terceiro baluarte desta Fortaleza (Fort. do Monte) corre outro pano de muro para a parte de leste pegado ao Baluarte, aonde está o sino, aonde tem hum postigo para o Campo, e andando para o pano do muro a tiro de mosquete está a porta que vai para o Campo de S. Lázaro, e desta porta andando pelo muro a tiro de mosquete está um Baluarte* cô duas peças de ferro de 10 libras e na mesma conformidade a tiro de mosquete no mais alto d´esta muralha, e defronte da fortaleza da Guia está outro Baluarte cô huma pessa de ferro assistida para a porta da Fortaleza da Guia e dahi volta o muro para o sul em direitura ao convento de S. Francisco**, e antes de chegar a elle tem hua porta que cahe para o mar, a qual se fecha todas noites".
Excerto de um texto de José Montanha, no livro "Aparatos para a História do Bispado de Macau" 
* este baluarte ficava no cruzamento da Rua de S. João com a da Colina, junto à denominada Horta da Mitra.
** referência ao baluarte de S. Jerónimo, na colina com o mesmo nome, desmantelado para ali se construir o hospital.

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