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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

1949, Salazar, Franco Nogueira e o 'agente secreto'

A 1 de Outubro de 1949 Mao Tse Tung proclama a República Popular da China. Ao mesmo tempo o partido comunista assume do poder. Tal como os aliados Portugal não reconheceu a proclamação. No início de 1964 Franco Nogueira, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, sugere o reconhecimento e o estabelecimento de relações diplomáticas entre Portugal e a China, por via de Macau. A questão divide o Estado Novo. Salazar é contra. O Governador de Macau é a favor.
Para Franco Nogueira o objectivo da proposta era realizar negociações com Pequim com vista a transformar "Macau, como porto franco, condomínio por forma a determinar ou até a transferência de soberania com manutenção de laços simbólicos com Portugal" .
Para o efeito foi incumbido da missão um 'agente secreto', Jorge Jardim (1919-1982), que testemunhou assim este caso:
"(...) Disse-me tratar-se de uma tentativa de estabelecimento de relações com a China Popular. Tinham-me escolhido pela delicadeza da missão que não poderia fracassar, dado tudo quanto nela se jogava. O Presidente do Conselho (Salazar) tinha estado reticente mas dera a sua concordância, tal como aprovara o meu nome. (...) Franco Nogueira esclareceu-me de que esta aproximação deveria ser genuína e, desde que iniciada, levada às últimas consequências ou seja o estabelecimento de relações oficiosas que desembocariam, a curto prazo, em relações diplomáticas. A China Popular teria interesse político nisso, pelo que representava a ostensiva libertação da tutela americana por parte de um país, como Portugal, membro da Aliança Atlântica e tradicionalmente anti-comunista. Depois do reconhecimento francês (que havia sido duramente atacado na NATO com a única posição favorável da Alemanha e de Portugal) isso traduziria notável vitória para Pequim cujas compensações contávamos recolher. Mas era preciso andar-se depressa para não nos atrasarmos entre os países ocidentais que viriam, certamente, a seguir o mesmo caminho. Em conclusão: a manobra depois de iniciada era irreversível e tinha de ser feita convictamente, com sinceridade".

Vista sobre a Fortaleza do Monte, Porto Interior e Ilha da Lapa: década 1950
“Nunca verdadeiramente fomos soberanos em Macau, sempre subsistimos graças à boa vontade da China e sempre partilhámos com ela a autoridade.” 
Declaração do Antigo embaixador e ministro dos Negócios Estrangeiros do Estado Novo, Franco Nogueira (1918-1993).
Sugestão de leitura: "Jorge Jardim: agente secreto", de José Freire Antunes, 1996

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