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quarta-feira, 9 de março de 2022

Augusto Rocha, o pequeno tigre (lou fu chai)

Em 1955, Augusto Rocha (AR), o futebolista macaense com a maior projecção de sempre, partia para Portugal (imagem abaixo). Na imprensa podia ler-se: "A fim de ingressar no Sporting Clube de Portugal, partiu recentemente para a Metrópole o jovem futebolista macaense Augusto Rocha que é, sem dúvida, uma das maiores revelações de futebol nesta Província. No cais de desembarque, a despedir-se do jovem futebolista, compareceram, além de sua mãe, alguns amigos meus, antigos professores e dirigentes do Sporting Clube de Macau, e o Dr. António Maria da Conceição que foi quem tratou da sua ida para o Sporting".
Ao jornal Ponto Final em Fevereiro de 2022, AR recordou esse tempo: "O futebol era muito diferente, tinha outra entidade. Quando cheguei, achei que era pequeno demais [risos]. Era um miúdo, tinha 18 anos. Fiquei no Sporting dois anos, estava lá o Pacheco [Joaquim Pacheco], que era de Macau, fiquei em casa dele".
Depois de representar o SCP, onde não foi muito feliz, AR vestiria a camisola da Académica, clube onde viria a terminar a sua carreira. No tempo em que viveu em Portugal representou ainda a selecção nacional.
Na imagem Augusto Rocha está de luvas e tem a sua mãe à esquerda. Do lado direito de Rocha está António Conceição presidente da filial de Macau do Sporting.  Ao lado deste estão o Prof. Almeida Serra e Frederico Nolasco, neto de um dos fundadores do SCM.
Com Pelé no último jogo pela selecção portuguesa

Nascido em Macau a 7 de Fevereiro de 1935, Augusto Francisco Rocha (AR) começou por se destacar na bolinha (jogo de futebol de sete com uma bola mais pequena que a do andebol) e representou O Negro Rubro (1952/53) e o Sporting Clube de Macau (1953/54). 
Lo Sec - Lou Fu Chai

AR jogou ainda pela selecção de Macau - era médio avançado - e destacou-se nos Interports de futebol Macau vs Hong Kong. Iniciados em 1937, estes torneios jogavam-se de forma alternada num dos territórios e realizaram-se até ao final da década de 1950 nos moldes originais. Augusto Rocha participou e foi decisivo em alguns dos encontros. Em 1951, por exemplo, Macau ganhou por 3-0 e em 1953, voltaria a ganhar por 3-2, com dois golos de Rocha.
Era conhecido por Lou Fu Chai, o Pequeno Tigre. O nome vem do seu pai, que tinha por alcunha tigre. “Os outros que me deram [a alcunha] é que sabem. O meu pai era o tigre, e eu era o filho do tigre”
Oriundo de Alcobaça rumou a Macau onde casou com uma chinesa (Trresa). Augusto cresceu e depressa se afamou como jogador de bolinha. O seu ídolo era Joaquim Pacheco, o polícia macaense que jogava a defesa no Sporting. 
José de Carvalho e Rêgo, no livro "Figuras Desportivas (1996) refere-se a este jovem macaense já que o viu jogar várias vezes.
"Vimos Augusto no desafio Negro Rubro – Sete tigres com a vitória dos macaenses por 4-1. Dois golos de Augusto e dois de João Rocha. O último golo foi uma maravilha de execução. Augusto, depois de fintar e de driblar todos os adversários, apareceu isolado em frente do famoso I Iu Tak – este, pensando que  a bola seria atirada para o lado esquerdo, lançando-se mal, vê a bola tocada para o direito". 
Num outro jogo, entre o Negro Rubro e o South China, de Hong Kong, a equipa macaense ganhou por 3-1: 
“Recordamos o último golo marcado por Augusto. Após receber a bola vira-se para a esquerda e dribla sucessivamente dois adversários e prepara-se para cruzar. Não o faz e leva a bola para a grande área fingindo querer ceder a bola a João Rocha e, de repente atira e a bola entra sem possibilidade de defesa. Foi o delírio no campo” 
Sobre um confronto com selecção de Hong Kong em 1953 … "no último golo quando recebeu a bola do João Rocha correu uns metros e atirou a 15 metros da baliza. A bola foi embater no poste direito e entrou sem possibilidade de defesa para o guarda-redes inglês. Após esse sucesso é convidado a jogar no St. Joseph e no Eastern".  
Apesar de cobiçado por vários clubes (entre eles o Benfica e o Desportivo de Lourenço Marques), Augusto Rocha sairia de facto de Macau rumo a Portugal.
Representou o Sporting Club de Portugal nas épocas 1954/55 e 1955/56 e a Académica de 1956/57 a 1970/1971, época em que terminou a carreira.
No SCP começou por jogar na equipa das reservas e só no ano seguinte alinhou pela equipa principal onde as prestações não foram as melhores. Em 17 jogos marcou 2 golos.
Partiu para a Académica em 1956 sendo ainda hoje considerado o mais carismático futebolista de toda a história do clube que conseguiu na altura excelentes resultados no campeonato incluindo a melhor classificação de sempre, o segundo lugar na época 1966/67.
 Em 1958 o SCP ainda tentou contratá-lo mais uma vez e o acordo até chegou a ser assinado mas AR acabaria por desistir e devolver os 400 contos acordados.
Na Académica AR jogou 363 partidas e marcou 58 golos. 
Pela selecção portuguesa de futebol registou 12 internacionalizações: duas pela seleccão B, uma pelas “Esperanças” e nove pelos militares. Estreou-se a 13 de Abril de 1958, em Madrid, contra a Espanha (derrota por 1-0) e despediu-se a 21 de Abril de 1963, com o Brasil (campeão do mundo), em Lisboa (vitória por 1-0). 
Pela selecção militar venceu o torneio internacional realizado em Lisboa, em Novembro de 1958, e na final os portugueses ganharam a França por 2-1. Da Selecção principal despediu-se a 21 de Abril de 1963, no histórico jogo em que Portugal ganha ao Brasil, campeão do Mundo, por 1-0.
A carreira futebolística da AR terminaria em 1968 e a vida prosseguiu em Coimbra onde completou o curso dos liceus e entrou para a Faculdade de Ciências tendo desistido da licenciatura. Em 1979, abriu um restaurante chinês no Monte Formoso, a que deu o nome de Lung Wah, Dragão Chinês.
Para além de Augusto Rocha, outros nomes do futebol macaense se destacaram, embora não tenham tido a mesma projecção. Citando alguns exemplos, refira-se Joaquim Pacheco (no SCP em 1954), Francisco Cunha, João Maria Rocha, Belo, Mário Costa Alberto e Eduardo Jesus Júnior.
Num regresso a Macau

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