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domingo, 23 de junho de 2024

O ataque holandês de 1622 e o Dia de Macau

O historiador Charles Boxer resumiu assim este tema: "A ideia dum ataque holandês contra Macau datava já de muito antes de 1622. Pondo de parte as visitas hostis feitas por naus ou galeões holandeses em 1601, 1603 e 1607, que não eram, afinal, destinadas para ocupar a colónia à mão armada, a malograda tentativa de 1622 tinha a sua origem no estabelecimento dos holandeses no Japão, doze anos antes."
A viragem do século XVII assinalou a chegada das armadas holandeses à Ásia, passando a competir com os interesses e as rotas exploradas pelos portugueses em todo o Índico. Essa competição rapidamente se transformou em hostilidade e conflito aberto, com o assalto às armadas e fortalezas portuguesas.
Na época a rota comercial mais rica - entre Macau e o Japão - era explorada pelos portugueses. Os lucros fabulosos que eram obtidos suscitou o interesse e a cobiça dos holandeses.
Criada em 1600, a VOC, a poderosa Companhia holandesa das Índias Orientais, estava solidamente instalada em diversos pontos do Índico, mas Macau ocupava de facto uma localização estratégica para atingir a China e O Japão. Em 1619, o novo director geral da companhia, Jan Pieterzoon Coen, decidiu avançar com a decisão de conquistar Macau, território que era considerado como fácil de tomar por a cidade não dispor de fortificações e forças defensivas substanciais. 
No derradeiro ataque de Junho de 1622 e não obstante a superioridade em homens e navios os holandeses saíram derrotados pela guarnição portuguesa com a ajuda da população a 24 de Junho. Em Macau a situação política sofreria alterações enquanto os holandeses foram obrigados a mudar a sua política expansionista no oriente.
O aparecimento de uma armada holandesa composta por 13 navios ao largo de Macau, no dia 21 de Junho de 1622, confirmou os receios portugueses de que os inimigos holandeses tentariam, mais cedo ou mais tarde, apoderar-se da cidade. Era uma poderosa armada de 14 navios, a que se juntaram duas embarcações inglesas, que tinha partido de Batávia, actual Jacarta, com esse objectivo. 
Ao romper do dia de São João Baptista de 24 de Junho de 1622, duas horas depois do nascer do sol, saíram das naus da armada holandesa trinta e duas lanchas, transportando a força de desembarque (ca. de 800 soldados) até à praia de Cacilhas.
Os defensores eram cerca de duas centenas, entre mosqueteiros, moradores da cidade e escravos. O momento decisivo ocorreu quando explodiram os barris de pólvora do campo dos invasores enquanto estes marchavam em direcção à cidade.
A desorganização e desorientação provocadas pelo incidente motivaram os portugueses à ofensiva, tendo desbaratado os holandeses nos combates que se seguiram. Os invasores recuaram e retiraram-se para os navios, deixando mais de uma centena de mortos.
O fracasso do assalto a Macau obrigou a VOC holandesa a alterar os seus planos de expansão naquela zona do Extremo Oriente. Os projetos de fixação na costa chinesa foram abandonados e os holandeses procuraram alternativas, acabando por se fixar no arquipélago das ilhas Pescadores e, mais tarde, em Taiwan. Macau não voltaria a ser atacada.
Do lado português, a vitória foi celebrada como um enorme feito de armas, tanto mais que o Estado da Índia sofreu uma importante perda nesse mesmo ano, com a queda de Ormuz, no Golfo Pérsico. Um dos efeitos mais importantes do ataque de 1622 foi a integração definitiva de Macau na rede oficial de fortalezas portuguesas.
Depois da retirada holandesa, o Senado da cidade aceitou a nomeação de um governador enviado por Goa, algo que sempre tinha recusado, o que revela a gravidade da ameaça holandesa para a sobrevivência de Macau.




Veja aqui o relato 'oficial' do ataque publicado no Boletim Oficial em 1862

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