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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

"Empress of China"


A 3 de Setembro de 1783 era assinado o Tratado de Paris chegando ao fim a Guerra de Independência Americana com Inglaterra a reconhecer a soberania dos Estados Unidos. Nascia assim um novo país...
No início desse ano tinha sido lançado à água o "Empress of China" (Imperatriz da China), também conhecido como "Chinese Queen" (Rainha da China) um veleiro de 360 ​​toneladas e três mastros. Terminado o conflito, a embarcação foi adaptada ao transporte de mercadorias e o capitão do navio, John Green (1736-1796), entrava agora numa nova fase de vida no mar.
A ele vão juntar-se Robert Morris (1734-1806), Thomas Randall (1723-1797) e Samuel Shaw (1754-1794) que juntamente com outros sócios, investem numa aventura inédita: fazer a primeira viagem da nova nação até à China com objectivos políticos e comerciais, já que porto de Cantão estava aberto aos ocidentais, nomeadamente aos países europeus, como a França, Portugal, Inglaterra e Holanda... e de onde as notícias que chegavam davam conta de "bons negócios".
No Empress of China, Shaw ficou responsável pela carga no valor de 120.000 dólares que seguia no porão do navio: chumbo, 2600 peles de animais, tecido fino de camelo, algodão, alguns barris de pimenta e 30 toneladas de ginseng, uma raiz que cresce selvagem na América do Norte e que os chineses usavam muito devidos aos seus poderes curativos.
A 22 de Fevereiro de 1784  - dia de aniversário do presidente George Washington - o Empress of China partia para a primeira viagem de uma embarcação norte-americana à China. A partida deu-se em Nova Iorque rumo a Cantão, mas com paragem em Macau, onde chegaram seis meses depois, a 23 de Agosto.
Na colónia portuguesa, o capitão Green contratou pilotos chineses para guiar o navio pelo Rio das Pérolas até Whampoa (chegou a 28 de Agosto), na rota para Cantão, onde nesse ano foi registada a chegada de 40 navios estrangeiros. A cidade ficava a apenas 12 milhas de Cantão e era ali que os grandes navios aguardavam os negócios feitos pelos encarregados de carga. Em Cantão as autoridades limitavam a entrada do número de estrangeiros e apenas podiam circular na zona das feitorias estrangeiras. Samuel Shaw (imagem abaixo) passou cerca de 4 meses a negociar: a vender o que trazia e a comprar vários produtos chineses, sobretudo chá. Concluídos os negócios e com o porão do Empress of China recheado, partiram de Macau a 28 de Dezembro 1784 rumo aos Estados Unidos onde chegaram a 11 de Maio de 1785 conseguindo um lucro de 30 mil dólares.
Curiosidades:
- Em 1786 Shaw tornou-se no primeiro cônsul dos EUA na China (até 1789)...
- Em 1786 foram cinco os navios norte-americanos a chegar a Cantão.
- Shaw viria a fazer várias viagens entre os EUA e a China; na quarta, no regresso a casa, não resistiu à doença e morreu perto do Cabo da boa Esperança com apenas 40 anos.
- Entre os produtos trazidos da China na primeira viagem estavam muitas porcelanas; o presidente dos EUA comprou um serviço de porcelana dessa carga.
- Em 1986, como forma de assinalar a viagem do Empress of China, a China emitiu uma moeda comemorativa em prata no valor de 5 yuan.


No livro "Remarks on China and the China Trade", de Robert Bennet Forbes, editado em Boston em 1844, o autor recorda essa viagem recorrendo ao diário de Samuel Shaw.
Alguns excertos do livro:

(...) On the 4th of August the ship cleared Gaspar Straits and on the 23d anchored in Macao Roads in China. We see by these extracts how extremely difficult the navigation was in those seas. It required men of nerve for commanders and great caution was necessary at every step In the present day it is very uncommon for ships to find themselves twenty miles out of their reckoning on making Java. Head after a passage of from eighty to one hundred days and it is very common for ships to run through the Straits of Sunda by night and also through the still dangerous Straits of Gaspar and without touching for supplies and a captain or mate who does not understand the use of the chronometer and lunar observations both by sun and stars distance is or ought to be considered unfit for his station. (...)
The arrival of the Empress of China at Macao Roads was a matter of no small moment; for Mr Shaw tells us that in the morning the French Consul visited us with several gentlemen from Macao and on leaving was saluted with nine guns. On the 25th of August we came to sail and in passing the Triton saluted her with nine guns which was returned with an equal number.
The city of Macao says the writer of Anson's voyage is a Portuguese settlement situated on an oland at the entrance of Canton River. It was formerly very rich and populous and capable of defending itself against the power of the adjacent Chinese governors but at present it is much fallen from its ancient splendor for though it is inhabited by Portuguese and hath a Governor nominated by the King of Portugal yet it subsists merely by the sufferance of the Chinese who can starve the place and dispossess the Portuguese whenever they please.

Moeda de prata de 5 Yuan (1986) com imagem da Empress of China
This obliges the Governor to behave with great circumspection and carefully to avoid every circumstance that may give offence to the Chinese. This description of Macao was perfectly just up to the late great changes brought about by the quarrel between Great Britain and China when it became somewhat less under the authority of the Chinese though the Portuguese hold the place upon the same tenure as formerly. Mr Shaw says The situation of Macao is very pleasant and the gentlemen belonging to the European nations trading to Canton are well accommodated there.
As soon as their ships leave Canton and the factors have settled their accounts with the Chinese they return to Macao where they must reside until the ships of the next season arrive. The Dutch Danes and English had gone to Canton a few days before our arrival. From Macao we proceeded towards Canton and on the 28th on opening the shipping at Whampoa we saluted them with thirteen guns which were returned by each nation. At eight o clock we came to anchor and again complimented the ships with thirteen guns. The French sent two boats to assist us in coming to anchor the Danish sent an officer to compliment the Dutch a boat to assist and the English to welcome your flag to this country. In the afternoon the gentlemen of the Empress of China returned these civilities and on leaving the ships were saluted with from seven to nine guns the Empress returning the salute of each there being not less than seven ships and the country ships as the Bengal and Bombay traders are called apologized for not doing the same on account of the lateness of the hour it being after sunset. (...)"


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