Páginas

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

José Maneiras, o macaense modernista

A obra do arquitecto macaense José Maneiras, focada na habitação e no planeamento urbanístico, vai ser alvo de uma exposição em Março em Macau, numa iniciativa da associação Docomo -Documentação e Conservação do Movimento Moderno.
Nascido em 1935 em Macau, José Maneiras passou nove anos em Portugal, onde chegou em 1953 e se licenciou em arquitectura na Escola de Belas Artes do Porto, em 1962.
Nesse ano Maneiras regressa a Macau onde integra uma equipa coordenada por Manuel Vicente, que desenvolve planos urbanísticos para a cidade. A partir de 1967 abre um atelier em nome próprio.

Segundo Ana Vaz Milheiro, José Maneiras "Sucede a Manuel Vicente no acompanhamento à obra do Liceu Pedro Nolasco de Raul Chorão Ramalho – um dos edifícios modernos mais significativos da presença portuguesa – batendo-se mais tarde contra a sua demolição. Os acontecimentos de 3 de Dezembro de 1966 no território (o amotinamento popular, que ficou conhecido por “1-2-3”, muito influenciado pelo clima vivido durante a Revolução Cultural chinesa), que coloca em causa o governo colonial, e o afastamento geográfico face à Metrópole, provocam um período de baixo investimento que se reflecte na quase inexistência de encomenda pública e privada. A partir de 1967, José Maneiras lança-se na actividade privada, mantendo um atelierde produção “artesanal”, com a colaboração de um ou dois desenhadores, e seleccionando as encomendas, o que lhe permite sobreviver aos tempos de menor solicitação de projectos. Da sua obra construída durante esta fase, e localizada essencialmente em Macau, torna-se tarefa difícil encontrar exemplares intactos. Muitos edifícios foram demolidos, intervencionados ou estão em risco de desaparecer. A falta de hábito de registo, por parte dos profissionais da sua geração, também não ajuda ao levantamento sistemático deste património quase desconhecido."
Da obra que criou destaque para vários edifícios residenciais  com marcas modernistas: Rua da Praia Grande (Conjunto São Francisco, 1964), na Estrada do Visconde de São Januário (duas residências, 1965), Belle Court na Penha (casa e bloco de apartamentos, 1968) ou o programa residencial para invisuais, a pedido da Santa Casa da Misericórdia (1970), na Rua Sete do Bairro da Areia Preta. Foi vereador do Leal Senado entre 1972 e 1989, vivendo em Macau o 25 de Abril de 1974. Entre 1989 e 1993 foi Presidente do Leal Senado.
É também autor do edifício comercial Si Toi – Hong Kong Bank (actual HSBC – Hong Kong and Shangai Bank Corporation) 1982 e, mais recentemente (2001), concebeu o Monumento à Diáspora Macaense.
Em 1987, José Maneiras participa no grupo que funda a Associação de Arquitectos de Macau (AAM) e desde 2006 é membro honorário da Ordem dos Arquitectos portuguesa.

Em 2014, em declarações à agência Lusa a propósito dos 40 anos da Ponte Nobre de Carvalho, José Maneiras referia-se assim: “Mesmo modesta como está, continua a ser um ex-líbris de Macau. É a mais bonita e elegante e continua a servir, na medida do possível, os transportes públicos, com o trânsito atenuado. Mas é percurssora: fez com que tudo o restante fosse acontecendo. Foi o primeiro passo para o desenvolvimento integrado do território."

Sem comentários:

Enviar um comentário