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terça-feira, 14 de novembro de 2017

A China na Grande Guerra

No próximo ano assinalam-se os 100 anos passados sobre o fim da primeira guerra mundial. O conflito iniciado em 1914 terminou simbolicamente a 11 de Novembro de 1918, sendo conhecido pelo Dia do Armistício (de Compiègne), assinado entre os Aliados e o Império Alemão naquela localidade francesa, pelo fim das hostilidades na Frente Ocidental, o qual teve efeito às 11 horas da manhã, ou seja, a "undécima hora do undécimo dia do undécimo mês". Na chamada Frente Oriental as hostilidades prosseguiriam... Facto pouco conhecido foi a 'participação' da China.
Membros do CLC junto a fábrica de munições em Vonges, França
A imagem abaixo é de um mapa chinês de 1918 onde são assinaladas a diferentes cores a posição dos diferentes países face ao conflito. A vermelho estão os aliados e a azul os 'inimigos'. A bandeira de Portugal - que tal como a China também por ter uma posição neutral no conflito - está do lado direito.
A primeira guerra mundial teve início em 1914 e só terminou em 1918. Facto pouco conhecido foi a participação chinesa no conflito que oficialmente só ocorreu a partir de meados de 1917, mas antes disso, em meados de 1916, já milhares de chineses tinham chegado à Europa - provenientes sobretudo do Norte mas também de Hong Kong - para ajudar no esforço de guerra ao lado dos aliados - enterravam os mortos, cavavam trincheiras, trabalharam em fábricas de munições, como tradutores, etc - num grupo que ficou conhecido por Chinese Labour Corps (símbolo em baixo). Ao todo foram mais de 500 mil sobretudo em Inglaterra e França (e dali para os EUA), mas também na frente russa. Muitos voltariam a casa - o última contingente voltou já em 1920 - com a primeira experiência do mundo ocidental ajudando a construir a China do século XX (o partido comunista subiu ao poder em 1949). Outros, cerca de dois mil, morreram...
A China, tal como Portugal, era, na época uma jovem república. O período da dinastia imperial tinha chegado ao fim e o país vivia em guerra civil, com dois governos, um a Norte e outro a Sul. Vários países do Ocidente, mas também o Japão tinham importantes interesses comerciais e estratégicos na China com especial predominância em algumas cidades, como Xangai, Pequim ou Tsingtao. E os alemães tinha ocupado a província de Shandong em 1898.
Numa primeira fase da guerra, Sun Yat Sem, fundador da República chinesa, manifestou-se contra a participação no conflito, mas em Agosto de 1917 vir-se-ia a juntar aos aliados cojtra os japoneses e alemães. Implicitamente a ideia era, como a potencial vitória aliada, conseguir para a China alguns proveitos e o fim do que se denominava "exploração colonialista". Na prática acabou por não ser assim, após a Conferência de Paz e só no final da década de 1940 o cenário político iria mudar... Mas antes, ainda ocorreu a segunda guerra sino-japonesa (1937-1945), uma espécie de 'guerra esquecida' da segunda guerra mundial, mas que deixou marcas profundas. Dos 60 milhões de mortos registados no conflito mundial, um terço, 20 milhões, eram chineses. 
Existe abundante bibliografia em inglês sobre o tema mas muito pouca em português. Um desses raros exemplos é de 2014. Tem como título  "China na Grande Guerra - A conquista da Nova Identidade Internacional", e é da autoria de Luís Cunha com edição do IIM.
Curiosidade:
Em Hong Kong existe desde 1923 um monumento denominado - The Cenotaph - que começou por ser uma forma de homenagear os membros das forças armadas britânicas que ao serviço da então colónia britânica morreram na guerra. O memorial, réplica do que existe em Whitehall, Londres, passou também a servir para lembrar e homenagear as vítimas da segunda guerra mundial, um conflito com consequência bem mais nefastas para esta zona do mundo. Hong Kong foi invadido pelo exército japonês em Dezembro de 1941. Com uma forte comunidade portuguesa e macaense a residir na então colónia britânica foram muitos os portugueses e macaenses que sucumbiram na defesa do território. Ainda assim milhares conseguiram escapar encontrando um porto de abrigo a menos de 100 quilómetros de distância, em Macau.

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