Páginas

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Carlos D'Assumpção: biografia resumida

Quatro depois do previsto é publicada esta semana em Macau uma biografia de Carlos Assumpção (1929-1992) - Um homem de Valor. Aqui no blogue existem diversos posts sobre o tema. Incluo neste duas notícias sobre a sua morte em 1992 e uma biografia resumida publicada na Revista Macau em 1997.
Filho primogénito de um advogado provisionário e de uma senhora originária do arquipélago de Trinidad, que lhe deram mais sete irmãos, Carlos Assumpção nasceu em Macau em 1 de Março de 1929, no seio de uma família tradicional — o barão Paes d’Assumpção (bisavô de Carlos Augusto) exercera em Macau funções de grande destaque.
Órfão de pai aos 14 anos, Carlos Assumpção frequenta o Liceu de Macau durante os anos da II Grande Guerra. Com o fim do conflito, ruma para Coimbra, onde se forma em Direito. Remontam a Coimbra os seus primeiros passos na vida política, com a sua eleição para presidente da Associação Académica.
Concluída a licenciatura com distinção (foi o melhor aluno do curso), Carlos Assumpção regressou a Macau, deixando em Coimbra, a acabar Medicina, a sua futura mulher. Dedica-se afincadamente ao trabalho num cartório de advocacia na Rua Central, granjeando, em pouco tempo, fama e clientela. Em 1956, é eleito vogai do Conselho Consultivo do Governador e, dois anos depois, assume o cargo de notário e director da Secretaria Notarial (funções em que se manteria até 77).
Vive por dentro a crise do “Um-dois-três”, de 1966. Integra o Conselho de Defesa, chega a chefiar a delegação que negoceia com as autoridades chinesas uma saída para o conflito, mas acaba por abandonar a comissão.
Em 1968 é escolhido como procurador à Câmara Corporativa, iniciando novo mandato em 72 (interrompido em 25 de Abril de 74).
Funda e lidera a Associação para a Defesa dos Interesses de Macau (ADIM), que se viria a tornar, na década seguinte, a mais importante força política local, e colabora intensamente na elaboração do primeiro Estatuto Orgânico que instituiu a Assembléia Legislativa.
À frente da ADIM e de outras forças políticas, vence as eleições directas para aquele órgão em 1976, 1980, 1984 e 1988, sendo sucessivamente eleito pelos seus pares presidente da Assembléia Legislativa, cargo que ocuparia durante quase 16 anos, até à sua morte a 20 de Abril de 1992. No seu obituário, inscrevem-se ainda a participação na comissão de redacção da Lei Básica de Macau, a convite da RPC, e uma série de elevadas distinções de Macau e da República Portuguesa.
Um busto em sua memória foi inaugurado na Taipa pelo Presidente Mário Soares, em 1993, numa rotunda com o seu nome que figura também numa importante alameda dos novos aterros do Porto Exterior.
in Revista Macau - Maio 1997
Carlos Assumpção regressou pela última vez a Macau
Carlos Assumpção regressou hoje pela última vez a Macau. Aos ombros de elementos das Forças de Segurança e no ambiente de pompa e circunstância que toda a vida recusou, o corpo do presidente da Assembleia Legislativa esteve depositado até às quatro da tarde na Igreja da Sé, seguindo então para o Cemitério de São Miguel Arcanjo. A espantosa expressão de serenidade que a sua máscara mortuária apresentou é o melhor testemunho de que Carlos Assumpção se libertou já do longo sofrimento que foi a sua agonia e das angústias terrenas. Dizer que desapareceu para sempre é falsear a verdade. No coração dos muitos que o amavam, respeitavam a admiravam,, estará sempre vivo, numa saudade que hoje é insuportável e que só o tempo ajudará a sarar.
in Tribuna de Macau - 23.4.1992
Ir em frente
Das muitas coisas que tive a felicidade de aprender com Carlos Assumpção, uma foi a de que é preciso serenidade nos momentos de crise. A dor que sentimos com a sua morte é uma questão com cada um de nós. Respeitar a memória é, no entanto, recusar o pânico ou a tentação de desistir de lutar. Toda a sua vida Carlos Assumpção lutou pela dignificação dos seus conterrâneos e pelo progresso da sua terra e do seu país. É certo que nos falta agora o apoio do seu conselho e a sua capacidade criativa para ultrapassar dificuldades. Mas é quando faltam os homens excepcionais que os outros mais se têm de unir para suprir insuficiências. Contávamos todos com ele. Agora teremos que cumprir os mesmos objectivos só nós. É cada um dando o seu melhor que poderemos honrar a memória de um homem que nunca nos pediu mais do que isso. João Fernandes
in Jornal de Macau - 23.4.1992

Sem comentários:

Enviar um comentário