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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

"Silêncio"... os mártires do Japão

"Silêncio" é o título do mais recente filme de Martin Scorsese e  conta a história de dois padres jesuítas portugueses no Japão, no século XVII, altura em que o cristianismo era proibido naquele país. Baseado no romance homónimo de Shusako Endo (de 1966), este é o relato das aventuras e desventuras de dois padres jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe cuja fé é posta à prova durante a busca do mentor desaparecido, Cristóvão Ferreira.

Face à perseguição religiosa, que apenas terminou em 1873, Ferreira parece ter renunciado à fé cristã através da participação num ritual conhecido como fumie durante o qual os cristãos eram forçados a pisar um símbolo cristão como sinal de renegação da fé cristã. Durante o filme, com uma duração de 159 minutos, os dois jovens padres acabam por ser colocados na mesma situação que Ferreira.
São 205 os beatos mártires, que deram a vida pela fé, entre 1617 e 1632, na perseguição que foram alvo em Nagasáki e Tóquio, e que durou 15 anos. Foram beatificados por Pio IX, a 7 de Julho de 1867. Dos 205, 166 eram cristãos leigos (quase todos japoneses) e 39 sacerdotes. Entre os sacerdotes, treze eram jesuítas, doze dominicanos, oito franciscanos, cinco agostinhos e um sacerdote diocesano japonês. Dos treze jesuítas, cinco eram portugueses: João Baptista Machado, Ambrósio Fernandes, Francisco Pacheco, Diogo de Carvalho e Miguel de Carvalho.

A estreia em Portugal do filme de Martin Scorsese “Silêncio” é acompanhada pela apresentação, inédita no país, da carta de Miguel Carvalho, um jesuíta português morto pelas autoridades japonesas no século XVII. Na carta, que motiva a exposição, Miguel Carvalho despede-se do irmão Simão Carvalho, depois de o jesuíta português ter sido preso em Julho de 1623 por pregar o cristianismo. Passou vários meses na prisão antes de ser condenado à fogueira e torturado a 25 de Agosto de 1624 pelas autoridades japonesas. Antes de ser missionário no Japão, Miguel Carvalho, que entrou para a Companhia de Jesus em 1597, foi professor de teologia em Goa e Macau durante 15 anos. 
Contemporâneo dos portugueses retratados em “Silêncio”, Miguel Carvalho foi beatificado em 1867 pelo papa Pio IX. No filme, os protagonistas Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe viajam de Macau para o Japão, no século XVII, em busca do mentor, o padre Cristovão Ferreira para confirmar se o jesuíta, perseguido e torturado pelas autoridades japonesas, renunciou à fé cristã. Em território nipónico, sob o xogunato de Tokugawa Ieyasu – que baniu o catolicismo e quase todo o contacto com os estrangeiros –, os dois jovens religiosos testemunham a perseguição dos japoneses cristãos pelas autoridades. 
A exposição “Japão: a última carta de um mártir” vai estar patente até 19 de Fevereiro, no Museu de São Roque, em Lisboa. 
Sugestão de leitura: este post sobre o tema e ainda este sobre o livro "A Embaixada Mártir", de Benjamim Videira Pires.

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