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terça-feira, 11 de outubro de 2016

Costa Gomes e Gomes da Costa

Ambos exerceram o cargo de Presidente da República e tiveram passagens por Macau...

Costa Gomes, (1914-2001) realizou várias comissões de serviço nas colónias portuguesas, tendo chefiado uma expedição militar a Macau, em 1949, exercendo funções como subchefe e chefe do Estado-Maior naquela região. Segundo as suas próprias palavras a expedição militar foi organizada porque havia o receio de uma possível tomada do território por parte das forças leais a Mao Tsé-Tung. Em Macau, Costa Gomes participou na elaboração de um relatório assinado pelo Coronel Laurénio Cotta Morais dos Reis em que se afirma ser uma "fantasia" pretender-se assegurar militarmente a posse do território. 
Curiosamente essa mesma já fora defendida pelo general Gomes da Costa (1863-1929) na década de 1920. "Em 1922, em virtude das suas actividades conspirativas e declarações políticas, o governo republicano envia-o à China e à Índia, em funções de inspecção militar, de onde regressa em Maio de 1924."
Gomes da Costa chega a Macau a 8 de Outubro de 1922, acompanhado do seu filho Carlos Nunes Gomes da Costa, como secretário, e o tenente Salgueiro Rego, ajudante de campo, para inspeccionar os serviços militares de Macau na sequência dos denominados "Conflitos no Oriente", em Maio desse ano, quando foi decretado o estado de sítio em Macau, depois de sangrentos conflitos com cerca de três dezena de mortes (29 de Maio). Em 1923 Gomes da Costa faz uma alocução aos "soldados de Portugal" em Macau.


Em Agosto de 1995, o JTM revelou algumas das memórias de Costa Gomes sobre a sua passagem por Macau (excertos desse artigo):
Os comandos militares portugueses em Macau estabeleceram boas relações com o Exército de Mao Zedong ainda antes da queda do governo nacionalista de Chiang Kaishek, ignorando instruções de Salazar para isolar o comunismo chinês, revelou o marechal Costa Gomes. “Sempre tive boas relações com os comunistas chineses e, através desses contactos, sabia que eles não tinham intenção de atacar Macau”, disse à Agência Lusa, em Pequim, o antigo Presidente português. Ao recordar a sua comissão de serviço em Macau entre Junho de 1949 e Novembro de 1951, o marechal Costa Gomes afirmou que os militares portugueses “acabaram por ter mais problemas com os refugiados nacionalistas do que com os comunistas, que possuíam, aliás, um bom Exército”. “Havia muitos refugiados que passavam por Macau, sobretudo vindos de Xangai”, contou. Costa Gomes, actualmente com 81 anos, era então Chefe do Estado-Maior do Corpo Expedicionário português enviado para Macau para enfrentar o avanço do comunismo na China. Parte dos efectivos, estimados em seis mil homens, era constituída por “atiradores” recrutados em Angola. (...)
Costa Gomes ao centro, tendo à direita o ajudante de campo, tenente Costa.
A passagem daquele militar por Macau coincidiu com os últimos meses da guerra civil chinesa. O Exército Popular de Mao Zedong ocupou Xangai em Maio de 1949 e entrou em Cantão, a 150 quilómetros do Território sob administração portuguesa, já depois da proclamação da República Popular da China, em Outubro daquele ano. No passado fim-de-semana, durante uma escala em Pequim, o marechal Costa Gomes contou ter chegado a deslocar-se um dia a Cantão para entregar aos rebeldes comunistas dois quadros da organização que se encontravam presos em Macau. “Eram pessoas importantes e sabíamos que se fossem apanhadas pelos nacionalistas seriam decapitadas”, explicou. O marechal não se recorda das suas identidades, lembrando-se apenas que eram de pequena altura. “Sei que eram pequenos porque couberam no porta-bagagens do meu carro”, disse. Como oficial do Exército português, na altura com o posto de capitão, Costa Gomes possuía um “visto especial” para entrar na China e a sua viatura não era revistada quando passava na fronteira.

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