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quarta-feira, 20 de julho de 2016

O patuá: reflexão sumária

Henrique Miguel Rodrigues de Senna Fernandes (1923-2010), ilustre escritor e advogado macaense, dizia que "Ser macaense é um estado de alma: somos filhos de uma caso amoroso entre a Ásia e o Ocidente e muito orgulhosos do nosso sangue misto". Lembrei-me disto para este post com algumas notas genéricas sobre o patuá, a "língua macaista" que remonta ao português dos séculos XVI e XVII e chegou a Macau pelos portugueses que vinham de Sião, Malaca, Bengala, Coromandel, Malabar, Ceilão, Surrate, Pérsia...
Monumento da Vitória (1622): foto década 1980
Numa primeira fase os portugueses usaram tradutores locais na comunicação comercial surgindo as primeiras palavras muito ligadas à actividade comercial; mais tarde esse intercâmbio acentuou-se nomeadamente com a presença administrativa e militar permanente; há ainda um importante contributo dos jesuítas que elaboraram muitos glossários e gramáticas.
É assim que desses primeiros contactos emerge um crioulo classificado com pertencente ao grupo sino-português, o chamado macaísta ou patuá, trazido de Malaca desde 1557 e, posteriormente, usado também em Hong Kong e Xangai. 
Estamos pois perante um crioulo baseado no vocabulário português mas enriquecido com inúmeras palavras chinesas e das línguas dos povos que por ali passaram.
Como qualquer língua foi evoluindo com os tempos e manteve-se muito activo até aos primeiros anos do século XX. Seria curiosamente com o surgimento e massificação do ensino após a implantação da república que se inicia o que se pode apelidar de processo de descrioulização, cimentado posteriormente com o facto de depois da segunda guerra mundial se assistir a um grande desagregação das comunidades macaenses (diáspora), fazendo com que o crioulo patuá fosse praticamente extinto. 
Em termos de características, os especialistas consideram existir três tipos de patuá/macaísta: a)o puro ou cerrado, falado principalmente pelas classes baixas que mais tarde ganhou terreno graças ao isolamento da Metrópole; b) o macaísta modificado pela tendência de se aproximar do português, falado pelas pessoas mais instruídas que mantinham maior contacto com a Metrópole; c) e o macaísta falado pelos chineses.
Sugestões de leitura sobre o tema:
Aldina de Araújo Oliveira: 
Algumas considerações sobre a língua chinesa e o dialeto de Macau, 1974, Lisboa. 
Graciete Batalha: 
Estado atual do dialeto macaense, Revista Portuguesa de Filologia, vol. IX, 1958, Coimbra.
Situação e perspetivas do português e dos crioulos de origem portuguesa na Ásia Oriental (Macau, Hong Kong, Malaca, Singapura, Indonésia), 1985, Lisboa.

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