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sábado, 18 de junho de 2016

O pugilista que encantou Macau com truques de magia

Muhammad Ali, a maior figura do boxe mundial - campeão mundial de pesos pesados - morreu no passado dia 3 de Junho de 2016 com 74 anos. Segue-se um artigo da autoria de João Santos Filipe publicado no jornal Ponto Final que recorda a passagem por Macau do pugilista em Setembro de 1994.
Muhammad Ali veio a Macau na qualidade de pugilista promover a modalidade no ano de 1994, mas foi com os truques de magia que conquistou a simpatia dos residentes, na única visita que fez ao território.
Nessa altura o “The Greatest,” que morreu na passada sexta-feira, já lutava contra a doença de Parkinson que o limitou nos últimos anos da sua vida e veio a Macau para assistir a um evento com combates de boxe, organizado pela Associação Nacional de Boxe Americana, que teve lugar no ringue do Pavilhão do Colégio D. Bosco.
O ex-presidente do Instituto Cultural, Manuel Silvério, foi uma das pessoas que acompanhou de perto a visita de Muhammad Ali, um momento que considerou marcante para todos quantos tiveram a oportunidade de conviver com o campeão olímpico de 1960: “Quando veio já estava limitado em termos de fala devido à doença de Parkinson. Mas tinha permanentemente um lenço no bolso para fazer magia e tentar ser simpático com as pessoas. Eram truques simples, com as mãos e o apoio do lenço”, recordou Manuel Silvério, ao Ponto Final.
“A impressão [que ele deixou] foi muito boa. Era uma pessoa muito afável, notava-se que estava preparado não só para combater em ringue mas também em termos de diplomacia, gentileza e acima de tudo um trato muito humano e afável”, acrescentou sobre a personalidade do pugilista norte-americano.
Em 1994 foi Muhammad Ali que demonstrou interesse em visitar o território, depois de em 1993 ter tido a oportunidade de visitar a República Popular da China: “Contactaram-me e falaram-me desse assunto. Naturalmente, respondi logo que Macau o recebia com todo o gosto. Na altura era o melhor trampolim ou plataforma para lançar a modalidade”, explicou Silvério. “Ele veio por iniciativa própria e suportou as suas despesas. Ele queria estudar o potencial do mercado do boxe na região”, frisou.
Os conhecimentos do norte-americano sobre Macau era muito limitados, no entanto, a imagem que levou do território, segundo Silvério, foi positiva: “Ele ficou surpreendido com Macau porque não conhecia nada sobre o território. Mas o objectivo dele era ajudar no desenvolvimento do boxe e era o melhor embaixador possível. Cá em Macau onde ele ia era logo seguido por multidões”, recorda.
Vertente solidária
O antigo presidente do Instituto do Desporto lembra ainda que durante a visita a Macau, Ali esteve em vários sítios como a actual residência do Cônsul-Geral português, que na altura era o Hotel Bela Vista, o gabinete de Jorge Rangel, que tutelava a pasta do desporto em Macau ou o ainda no  antigo hotel Mandarim, o actual Grand Lapa.
Muhammad Ali fez igualmente várias visitas de caridade para ajudar os menos favorecidos. Um dos episódios é relatado por um do seus seguranças, Pedro Fernandez, num artigo publicado em 2012  no portal RingTalk.
O actual comentador da HBO conta que, na altura, o pugilista pediu para ser conduzido a um orfanato, depois de se ter fartado das visitas protocolares. Nesse espaço, o pugilista encontrou uma freira católica e uma “equipa pequena” a cuidarem de 30 crianças com idades entre os 3 meses e os 10 anos.
Emocionado com o cenário que encontrou, o norte-americano pediu aos presentes que contribuíssem com o dinheiro que tinha e juntou 1400 dólares americanos na hora, que doou ao orfanato. No final, a freira explicou-lhe que aquele montante era suficiente para pagar todas as despesas da instituição durante mais de um ano. A vertente solidária da visita de Muhammad Ali é também confirmada por Manuel Silvério: “Ajudou algumas instituições de cá, mas não sei dizer quais nem quanto ele doou”, frisou, ao Ponto Final.
De Cassius Clay a Muhammad Ali
Muhammad Ali nasceu com o nome de Cassius Marcellus Clay Jr. a 17 de Janeiro de 1942 em Louisville, no estado americano do Kentucky. Como pugilista foi campeão mundial de pesos-pesados e alcançou o ouro olímpico em, 1960, em Roma. Ao longo da sua carreira profissional, participou em 61 combates, tendo vencido 56, dos quais 37 por KO, e perdido 5.
Em termos de estilo, Ali era um pugilista muito rápido, que conseguia conciliar a velocidade com um murro forte. Segundo as palavras do mesmo, “voava como uma borboleta, e picava como um abelha”, afirmou um dia.
Foi já depois de se sagrar campeão mundial, em 1964, que Cassius Clay mudou  o nome para Muhammad Ali, acontecimento que está ligada à sua conversão religiosa ao Islão: “Cassius Clay é nome de escravo. Não escolhi esse nome e não quero viver com ele. Sou Muhammad Ali, um nome livre, sendo que o meu nome significa amado por Deus”, disse sobre a mudança.
Apesar do registo invejável, Ali esteve impedido de lutar entre Março de 1967 e Outubro de 1970. Na altura Ali recusou fazer parte do exército americano que estava envolvido na Guerra do Vietname. O americano afirmou publicamente que preferia ser preso a lutar, tendo sido condenado a 5 anos de prisão – que nunca cumpriu –  e ao pagamento de uma multa de 100 mil dólares americanos.
Quando regressa, em Março de 1971, protagoniza com um dos seus principais rivais, Joe Frazier, aquele que ficou conhecido como o “Combate do Século”. Foram 15 rounds para que fosse encontrado um vencedor por decisão unânime dos júris, que na altura foi Frazier. Esta foi a única vitória que Frazier conseguiu nos três combates frente a Muhammad Ali.
Diagnosticado com a doença de Parkinson em 1984 – uma doença que pode ter sido causada pelos golpes na cabeça que sofreu enquanto pugilista – Ali morreu na sexta-feira no Arizona, devido a um choque séptico, após ter sido internado na quinta-feira com dificuldades respiratórias.

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