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quinta-feira, 9 de julho de 2015

Marinha Portuguesa em Macau

A 8 de Julho de 1497 largava de Lisboa a armada de Vasco da Gama, que seria a primeira na história a ligar, por via marítima, a Europa ao Oriente, com a chegada a Calecute, na Índia. Foi há 518 anos...
A ligação da Marinha portuguesa a Macau é profunda e não se limita à inscrição do arco da Porta do Cerco: "A Pátria honrai que a pátria vos contempla", lema da Marinha. Sugiro por isso uma leitura do livro “A Marinha Portuguesa em Macau — Uma relação muito singular” (Capitania dos Portos de Macau, 1999) de que publico a introdução.
“A presença dos Marinheiros portugueses na região de Macau coincide com a chegada das naus portuguesas às costas da China e com a própria fundação da cidade em meados do século XVI, nascida da necessidade de encontrarem um entreposto seguro para negociar na região de Cantão e para apoiar a rede marítimo-mercantil que tinham estabelecido entre a Índia, Malaca, a China e o Japão. Porém, ao longo dos séculos XVI e XVII as Marinhas eram ao mesmo tempo comerciantes e militares e os navios tanto serviam para as funções de comércio como para as de guerra, conforme as circunstâncias, e o pessoal servia indistintamente na terra ou no mar.
Só em 1736 o Estado Português procedeu à reorganização dos serviços do Reino, criando a Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos, mas a efectiva reorganização da Marinha só veio a acontecer a partir de 1770.
A partir de então, foram criadas corporações de oficiais destinadas ao serviço naval, estabeleceram-se padrões de organização e disciplina, regulou-se a constituição das guarnições, criaram-se serviços de apoio administrativo e oficinal, além de diversas instituições destinadas ao ensino militar-naval.
Alguns acontecimentos ocorridos na primeira metade do século XIX, designadamente as guerras napoleónicas, o processo que conduziu à independência do Brasil e a guerra civil em Portugal, mantiveram a Marinha Portuguesa essencialmente activa no Atlântico mas, em meados do século, as viagens e as permanências no Oriente tornaram-se regulares, sobretudo na região de Macau.
Depois, inclusive porque o poder central instalado em Lisboa procurava assumir algum controlo sobre o território, a influência da sua regular presença repercutiu-se em todas as áreas de actividade, designadamente no sector militar e na administração pública, mas também em áreas como a hidrografia, a meteorologia, a farolagem, o ensino náutico e muitas outras, tendo muitos oficiais de Marinha desempenhado funções no Governo e na administração pública de Macau.
Algumas das mais emblemáticas infraestruturas do território, desde as mais antigas até àquelas que as modernas tecnologias e as novas conjunturas permitiram concretizar, resultaram da iniciativa ou tiveram colaboração empenhada de Marinheiros.
Foto da família Carion.
Da mesma forma, integrados na chamada Estação Naval de Macau ou sem assumir um carácter permanente, a Marinha manteve alguns dos seus navios baseados em Macau, essencialmente como factor de representação e de presença naval simbólica, nomeadamente em períodos de maior instabilidade nos territórios vizinhos.
Esses períodos incluíam, frequentemente, estadias periódicas dos navios em Timor e viagens de natureza logística a Hong Kong e, ocasionalmente, algumas missões ao Japão, Sião, Filipinas, Singapura e Indonésia.

Ponte Cais de Coloane
Fundeados na Ilha da Taipa ou amarrados à bóia no Porto Interior, com a atenção sempre em cima da ameaça de tufões, a presença de navios de guerra nas águas de Macau traduzia-se num factor de confiança para a população macaense, quebrava a sua sensação de isolamento, animava o quotidiano do território e trazia algum acréscimo de dinamismo ao comércio local.
Nesse tempo, a dimensão e a densidade populacional de Macau facilitavam um rápido relacionamento das guarnições com a população residente, quer macaense, quer mesmo da comunidade chinesa.
Mons. Manuel Teixeira abençoando a nova lancha Lira da PMF em 1983
Poder-se-á afirmar que, em todos os domínios, a Marinha esteve sempre ligada aos factos mais relevantes da história de Macau nos últimos dois séculos, desde os tempos de ameaça da pirataria, das guerras do ópio e das guerras civis chinesas deste século, até à II Guerra Mundial, à abertura da China às potências estrangeiras e à emigração dos ‘boat-people’ do Vietname, nos tempos mais recentes.
Os seus navios e os seus Marinheiros representaram Portugal e Macau nos países e portos da região, mantiveram-se neutrais perante os conflitos regionais, foram um ponto de apoio para a comunidade macaense, partilharam dificuldades e participaram nas suas festividades, mas também tiveram uma acção humanitária de relevo, na protecção de populações, na recolha de náufragos e na assistência a desalojados.
As guarnições eram facilmente reconhecidas pela sua postura e correcção, estabeleciam relações de amizade e de convívio com a comunidade local, integravam-se frequentemente nas suas iniciativas e assimilavam novos factores culturais.
Frequentemente isolado do mundo, o território de Macau passou por períodos de prosperidade e de dificuldade, mas encontrou sempre o apoio da Marinha e dos Marinheiros, muitos dos quais lhe ofereceram capacidades, entusiasmo e dedicação, quando não a própria vida.
Posto da PMF na Doca do Lamau
Marinheiros numa parada em 1934: aterros Praia Grande frente ao Quartel de S. Francisco
Os moradores de Macau souberam sempre receber e conviver com a Marinha Portuguesa, não deixando de lhe testemunhar frequentemente o seu apreço e admiração. Por outro lado, também os Marinheiros souberam respeitar as tradições e as culturas presentes em Macau, dando algum contributo para o progresso, partilhando sacrifícios e generosidades, afeiçoando-se à terra e às gentes, ligando-se a elas pelo convívio social e, frequentemente, pelo casamento. Na actual realidade do território, marcado por um ritmo de desenvolvimento extremamente rápido em todos os domínios e pelo fim da sua absoluta dependência do mar, o território de Macau é uma memória que, neste final de milénio, permanece no coração da Marinha Portuguesa.”
Ponte cais de Coloane no século XXI. Foto de Violeta do Rosário.
 Junco e lancha chinesa junto a Macau. década 1960
Capitania dos Portos. Coloane
Dia da Marinha: 8 Julho 1972 

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