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quinta-feira, 23 de abril de 2015

António Rebordão Navarro 1933-2015

Morreu esta quarta-feira o escritor (poeta e ficcionista), advogado e editor, António Rebordão Navarro que passou por Macau em 1989. Tinha 82 anos. Dessa estadia resultaram várias crónicas sobre o território publicadas primeiro nos jornais portugueses e depois no livro "Estados Gerais" (1990). Mas a sua obra mais conhecida sobre Macau seria o romance "As Portas do Cerco", editado em Macau pelos Livros do Oriente, em 1992. O livro, depois traduzido para francês e holandês, é uma "crónica de viagem e biografia reinventada de Camilo Pessanha".
Nascido no Porto, em 1933, Rebordão Navarro formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e exerceu advocacia antes de se tornar editor literário. Editou um volume com a correspondência de Fernando Pessoa a Armando Corte-Rodrigues e uma antologia com a poesia de Jorge de Lima, e ainda a antologia "Poetas Escolhem Poetas" (1992). Dirigiu as revistas "Bandarra" (fundada pelo seu pai, também escritor) e "Notícias do Bloqueio" nas décadas de 50 e 60 do século XX. A partir dos anos sessenta dedicou-se sobretudo à ficção narrativa e ainda editou uma antologia com a sua obra poética na Imprensa Nacional - Casa da Moeda.
Alguns dos seus poemas estão traduzidos para castelhano, francês, checo e sueco. Em 2002 foi-lhe atribuído o “Prémio Seiva” (Literatura). Nos últimos anos editou e reeditou alguns títulos de ficção e foi homenageado pela SPA no Museu Soares dos Reis, onde lhe foi entregue a medalha de honra da cooperativa. Para a SPA, António Rebordão Navarro "foi uma figura sempre activa na vida cultural e cívica do Porto", tendo a entidade criado um prémio literário com o seu nome que ainda não foi atribuído.
Excertos do livro "Estados Gerais" podem ser lidos no 4º volume da Antologia "De Longe à China: Macau na Historiografia e na Literatura Portuguesas", organizada por Carlos Pinto dos Santos e Orlando Neves (edição ICM, 1996) e da qual retirei esta passagem:
"Além das igrejas, das suas ruínas, dos pagodes impregnados de aroma do incenso exalado pelos pivetes que, às portas, uns funcionários obscuros, fumado displicentemente os seus cigarros, vendem juntamente com esculturas, postais, o jogo tem também os seus templos. E à sua beira, nas ruas adjacentes, uma série desses estabelecimentos de apoio que são, sem subterfúgios ou eufemismos, denominados "Casas de Penhor", todos eles ostentando nas tabuletas pintadas a vermelho, cor da felicidade e da alegria, um estilizado morcego considerado animal propiciador de fortuna. Daí que a grande catedral do jogo que é o Hotel Lisboa, edifício com estrutura de dourada gaiola, tenha, no alpendre da porta principal, o desenho da boca de um morcego."

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