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quinta-feira, 12 de março de 2015

A propósito da edição de "Os Lusíadas" (12 Março 1572)


Excerto de um artigo da autoria de A. A. Bispo, intitulado "A Gruta de Camões como Sábio por Excelência e Confúcio do Ocidente em paisagens sino-inglesas e em transfigurações românticas. Da Literatura à Filosofia intercultural nos estudos de relações China/Ocidente." Revista Brasil-Europa: Correspondência Euro-Brasileira 137/6 (2012:3).
"A gruta de Camões já possuia, no século XVIII, um pavilhão chinês no seu cimo, do qual se descortinava amplo panorama e que constituia elemento de significado na configuração do conjunto tanto nas suas relações com a tradição chinesa como com a de "pagodes" chineses no paisagismo ocidental. A sua demolição para a construção do projetado monumento a Camões teria roubado do local importante elemento simbólico de relações do Ocidente com a tradição chinesa. A inscrição concebida por Rienzi contribuiu para que Camões surgisse para os chineses como um Sábio e um Confúcio do Ocidente.
Os chineses não podiam ter deixado de registrar que na sua esfera encontrava-se um memorial respeitado e procurado por pessoas de cultura e autoridades não só de Portugal como por representantes e eruditos das mais diferentes nações. A extraordinária posição concedida à erudição na tradição confuciana da organização da sociedade e de Estado dirigiu necessariamente a atenção chinesa a um local que surgia como de peregrinação de intelectuais e de pessoas cultas, sobretudo por não ser explicitamente religioso, não de missão, mas sim dirigido a um vulto da literatura, da história do pensamento e do conhecimento.
Neste contexto, o nome chinês recordado no estudo aqui considerado foi o do estadista Ki-ing (Ki-ying). Vice-Rei de Cantão, delegado e alto comissário imperial nos dois Kuangs, o significado de Ki-ing manifestou-se no privilégio que lhe foi concedido pelo Imperador de suicidar-se quando condenado à morte à época das negociações com inglses e franceses, em 1858. Esse dignatário, quando na sua qualidade de Vice-Rei esteve em Macau em 1845, visitou várias vezes a gruta de Camões, ali realizando atos de homenagem.
O Vice-Rei ali podia ler, em letras chinesas, os dizeres "O Sabio por excelência" e, nas pilastras laterais do pórtico construído perante a gruta, também em caracteres chineses, as frases: "As qualidades do espírito, e do coração o elevaram acima da maior parte dos homens. Os literatos sábios o honraram e veneraram; mas a inveja o reduzio à miséria. Seus sublimes versos estão espalhados por todo o mundo. Este monumento foi erigido para transmitir a sua memória à posteridade."
Essa referência no próprio estudo que defendia a remodelação da gruta, afastando as edificações de Lourenço Marques indica que estas correspondiam de forma muito mais adequada às dimensões simbólicas sino-europeias do local do que a projetada estátua."

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