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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Gaiolas tradicionais chinesas


É um dos hábitos mais enraizados na comunidade chinesa em Macau (conheci também alguns macaenses que o fazem) e ainda hoje pode ser apreciado, em especial ao amanhecer. A devoção aos pássaros é tal que os seus donos os levam a passear praticamente todos os dias. Transportam-os em gaiolas e  depois juntam-se com os demais amigos, em igual ritual, num jardim do território. 
As gaiolas tradicionais chinesas existem nos mais diversos formatos e têm várias particularidades por comparação com as ocidentais: têm uma pega no fundo o que permite que uma pessoa possa transportar várias em simultâneo carregando-as com um só braço; são feitas de bambu (material leve mas ultra-resistente), os recipientes para comida e água são feitos de porcelana; a portinhola de acesso usa um mecanismo elevatório simples.

As imagens que ilustram este post são de uma série de postais e selos editados em 1996 em Macau.
Numa entrevista a Marcial Alves, em 1995, Henrique de Senna Fernandes explicava assim este hábito: 
"Os chineses gostam muito de jardins. Esses pássaros nas gaiolas, no fundo, traduzem também um sentimento de paz, de estar em contacto com a Natureza. Pintassilgos, melros, etc. Mas já rouxinóis, não. Muitos deles são criados para combater. Há combates de rouxinóis em que, aquele que perde, nunca mais pode combater... Fazem-se apostas fortíssimas. Mas, a maioria, leva o pássaro a passear, pendurando a respectiva gaiola num ramo e deleitando-se a ouvir a melodia do piar libertado no meio da folhagem toda. É, contudo, tarefa para os homens. Não se vê uma mulher a passear pássaros."
Num artigo publicado em 2008 no Jornal Tribuna de Macau Leonel Barros escrevei assim sobre o tema: 
"A partir dos anos trinta, o Jardim de Camões tornou-se o local mais procurado pelos criadores de pássaros, que ainda hoje frequentam aquele emblemático espaço verde citadino. É ali que os turistas de Macau podem encontrar as mais abundantes e variadas espécies de vegetação tropical que, com o decorrer do tempo, transformaram o recinto do jardim num local verdadeiramente aprazível, onde os raios solares dificilmente conseguem penetrar, devido à abundância de árvores, arbustos e plantas trepadeiras. Este e outros pontos da cidade são frequentados por elementos da comunidade chinesa, desprovidos de qualquer formalismo, que ali se refugiam, em dias de frio ou de calor, levando consigo as suas gaiolas. À semelhança do que sucede na China, em Macau os criadores de pássaro reúnem-se ao pequeno almoço em casas de chá, típicas, a fim de trocarem impressões sobre o canto e comportamento das suas aves de estimação. Os principais locais de convívio concentravam-se na Rua dos Mercadores e na Rua Cinco de Outubro, onde ainda hoje é possível escutar, às primeiras horas do dia, o chilrear dos passarinhos, que entoa no interior de uma ou outra casa de chá". 

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