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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Os primeiros livros impressos em Macau

A vinda da imprensa para Macau e o Japão deve-se à iniciativa do Pe. Alexandre Valignani, que escreve, desde Goa, a 1 de Dezembro de 1587, ao Arcebispo de Évora, D.Teotónio de Bragança: "tenho mandado vir impressão que levo comigo a Japão para imprimirmos os livros lá (ex)purgados, e limpados quais convêm a Japão" (Cartas do Japão, edição de 1598). Escrevendo ao Geral da Companhia, Cláudio Acquaviva, em 1583, o mesmo Padre afirma idêntica resolução de levar a imprensa para o Japão (A imprensa de tipos móveis,por Jordão de Freitas,1916).
A 11-VIII-1588, chegou a Macau a Embaixada dos 4 príncipes cristãos do Japão, de regresso de Roma, trazendo consigo um prelo e tipos móveis. Acompanhava-os, desde Goa, Valignano e mais 17 missionários da Companhia. Aqui se demorou a luzida embaixada ano e meio, pois só desembarcou em Nagazáqui, a 21-VII-1590. Neste breve intervalo, imprimiram-se, em Macau, com esta tipografia destinada ao Japão, dois livros. O primeiro foi a reedição duma obra do Pe. João Bonifácio, S.J., aparecida em Salamanca em 1575. O Pe.Joannes Laures,S.J., na obra Kirischitan Bunko - A Manual of Books and Documents on the Early chistian Missions in Japan - Sophia University, Tokio, 1940, traz o catálogo, a descrição e o frontispício de 30 obras existentes impressas nesta tipografia, e referências a 25 outras. Portanto, saíram dos prelos dessa tipografia trazida pelos jesuítas a Macau e ao Japão 55 livros conhecidos.
1º livro impresso com caracteres móveis (1588)
Entre os 30 existentes do Catálogo do Pe. Laures, o 1.º, 2.º e 30.º foram impressos em Macau. Os restantes em várias cidades do Japão. O primeiro intitula-se "Christiani Pueri Institutio" - Educação da Criança Cristã. A sua portada pode ver-se na obra do Pe. Laures e em "Archivos de Macau", Janeiro de 1941, p.36, num artigo do Sr. J. M. Braga. Esta obra latina destinava-se à juventude japonesa, educada segundo os moldes clássico do "Ratio Studiorum" dos jesuítas. Foi publicada, "apud Sinas,in Portu Macaensi, in Domo Societatis Jesu, Anno 1588".  
No ano de 1590, saiu a lume, em Macau, a tradução latina do Pe Duarte (em latim "Eduardus") de Sande, S.J., chamada "De missione Legatorum Japonensium ad Romanam Curiam... dialogus". O autor do original, provavelmente escrito em espanhol e conservado manuscrito, é certamente o Pe. Alexandre Valignano, como o provam as suas cartas (Monumenta Niponica, I). Sande, como se diz na própria portada, traduziu-o para um latim elegantíssimo. Está o livro dividido em 34 diálogos. Infelizmente, nada descreve da vida de Macau. Existe uma reimpressão do original em Anvers, no ano de 1593, baptizada com o nome de "De trium regum japonicorum legatis". Carlos Sommervogel, S.J., em "Bibliothèque de la Compagnie de Jésus", Paris, 1866, menciona ainda uma versão castelhana. Não se tratará do original de Valignano?
Na carta dirigida ao Geral da Companhia, Aquaviva, inserta no prefácio do "De Missione Legatorum...", o Pe.Sande afirma que o livro seria traduzido para japonês. Daniel Bartole, S.J., na sua Del'Historia della Compagnia di Giezu in Giappone, Roma, 1650, afirma que 1.000 destes livros em japonês foram distribuídos no Japão. O Pe.Laures, contudo, na sua referida obra, não conhece a existência de qualquer cópia. Da edição de Macau conhecem-se 11 exemplares, um dos quais,que tem escrito no frontispício por um copista "Do Colégio de Cochin" foi parar às mãos do investigador japonês Koda. Este historiador fez uma edição recente em zincogravura da obra primitiva (cfr."Archivos de Macau", Fevereiro-Marco de 1941).
Em 1862, António José Figueiredo deu a lume, no volume VI do Archivo Pittoresco, uma versão portuguesa resumida desta obra, com o título de "Primeira Embaixada do Japão à Europa". O Pe. Gervaix (Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau,n.º 196), Campos Júnior (em Ta-Ssi-Yang-Kuo, vol.3.º) e António J. Figueiredo (Archivo Pittoresco, vol.V) afirmam que o Pe. Sande escreveu e editou, também em 1590, em Macau, os dois textos: português e japonês. A existência desse texto português é muito problemática. Esta obra tem a licença de impressão de D. Leonardo de Sá, "Bispo da China e do Japão", outorgada na "Cidade de Macau, a 5 de 1589", e a censura e aprovação dos PP. Valignano, Tiago Antunes e Nicolau de A'vila, datada de 2 do mesmo mês e ano.
Em 1591, a imprensa, que estivera em Macau, editava, já no Japão, a obra nipónica "Santos no Gosaguyo-no uchí Nukigaki" ou Vida dos 12 Apóstolos, Santos populares e Mártires.
Em Agosto de 1616, com o recrudescer da perseguição contra o Catolicismo no Japão,a tipografia regressava a Macau. Nesta cidade, em 1620, foi impressa a "Arte Breve da Lingoa Japoa" do célebre historiador Pe. João Rodriguez, S.J., natural de Sernancelhe. Depois de 1624, nada se sabe do do paradeiro da tipografia. Por 1640, saiu uma lei proibindo dar à estampa livros nas colónias portuguesas. Esta em pleno vigor em 1736. A tipografia não foi, seguramente, enviada para Manila, conforme alguns escritores opinaram ("Jesuítas na A'sia"). O autor que mais aprofundou este assunto da Imprensa antiga em Macau foi o Sr. J. M. Braga (cfr."Archivos de Macau" 1941; "Boletim eclesiástico da Diocese de Macau, Maio 1938 e Ago.1941; e "O inicio da Imprensa em Macau",1938).
 A impressão por gravura em madeira foi conhecida pelos chineses,muitos anos antes da descoberta de tipos móveis por Guttenberg. Os caracteres amovíveis também eram usados,em pequena escala,na China. No reinado de Káng Hsi(康熙),1662-1722,os jesuítas introduziram o tipo metálico de cobre,nessa Nação,tendo sido fundidos,então,por ordem desse Imperador,250.000 destes caracteres.
A 29 de Novembro de 1584, publicou-se, pelo processo xilográfico,o catecismo chinês do Pe.Miguel Ruggieri, S.J., intitulado "Um genuíno Tratado sobre o Senhor do Céu". A tiragem de 1.500 exemplares foi provavelmente feita em Macau, pois o Códice 49-V-3 da Biblioteca da Ajuda, a fls.2, assevera que o sobredito Padre "fez logo hum catecismo que lhe fez em letra china hum letrado christão que aqui (em Macau) fez" (citação em Arquivos de Macau). Conservam-se, ainda, em Roma, dois exemplares desse catecismo, enviados para o Vaticano em 28-XII-1585.
O Sr. J. M. Braga ("Archivos de Macau",vol.1,1941) enumera mais 6 obras impressas por xilografia, em Cantão ou Macau. No Códice 49-V-11, a fls.519-521 das séries "Jesuítas na Asia", existe um "Catálogo dos livros que os nossos (Jesuítas) têm feito na China". O compilador desta lista, feita, por 1640, enumera mais de 120 obras, só em chinês, escritas e impressas ou xilogravadas pelos jesuítas, no seu primeiro século de missionação na China. Deve, pois, ter sido assombroso o trabalho destes missionários, apenas no campo editorial. Muitas destas e doutras inúmeras obras, redigidas noutras línguas e também na chinesa, viram, quase de certeza, a luz da publicidade em Macau.
Esta cidade tornou-se, assim, então, o maior centro de cultura no Extremo-Oriente. Os "Ecos da Missão de Shiu-Hing": Nov. e Dez.de 1933; Ano VII,N.os 73 a 80; Ano VIII, N.os 87-88 e 91-92, falam-nos um pouco das obras escritas, sobretudo em chinês, por alguns jesuítas portugueses, dentro do Império do Meio.
Artigo da autoria de Benjamim Videira, S. J. (a que retirei algumas das referências bibliográficas: páginas, volumes, etc... para facilitar a leitura). Para mais informações sobre o tema sugiro a leitura de "Origens da Imprensa em Portugal" de Artur Anselmo (1981).

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