Excerto de "Macau e os seus habitantes", Bento da França, 1897
Noções geographicas
Demorando quasi no extremo SE. do vasto
império chinez a 22° 12' 44" lat. N. e 122° 43' 45" long.
L. (pelo meridiano de Lisboa), acha-se a península de Macau unida á grande ilha Hian-chan («Montes odoríferos»)
por uma pequena lingua de terra.
Hian-chan pertence à província de Cantão.
A península de Macau segue primeiro a direcção N.-S.,
isto no percurso de 720 metros, tendo de largura uns 200
metros. Depois alarga-se bruscamente para E., inclinando-
se a sua direcção geral para O., e prolongando-se na extensão de 3:650 metros. (...) A península mede na sua maior extensão 4:400 metros
approximadamente, e na máxima largura 1:680 metros, podendo calcular-se-lhe a área em 330 hectares. (...) Quasi todas aquellas collinas estão coroadas por fortalezas, e podem contar-se em numero de oito (...)
Constituição geológica
A formação d'esta
península é granítica.
Aqui e ali deparam-se-nos grandes rochas d'esta natureza,
entremeiadas por delgadas camadas de espatho e quartzo.
Do lado do mar, em que são batidas pelas aguas, apre-
sentam-se nuas estas fragas, e diversos blocos soltos se
sobrepõem irregularmente e em equilíbrio, na apparencia
pouco estável. (...)
Depois que deixaram de existir as
antigas barreiras da cidade, tem-se esta estendido um
pouco mais, comquanto ainda possamos dizer que se circumscreve quasi exclusivamente na área d'antes occupada,
dividindo-se em cidade christã e basar (a parte chineza).
Em consequência, porém, da área dentro das antigas
barreiras não ser suficiente para a excessiva população
chineza, começaram os chins por estabelecer cinco povoações ruraes. (...)
As tres restantes povoações são a do Patane, a de Mong-
há, e a de S. Lazaro.
A do Patane é de todas cinco a mais importante, já pela
industria fabril, já pelo seu commercio, principalmente em
madeiras de construcção.
Fica no littoral do porto interior, na espécie de cotovello,
que a península faz ao formar a enseada da ilha Verde,
terminando onde começa a Mong-há.(...)
Existem ali numerosas famílias, que habitam em embarcações de maior ou menor lote.
São vários os seus misteres, taes como o de práticos da
costa, o de pescadores, etc. ; n'este numero incluem-se
muitas mulheres (lançareiras), que se occupam em conduzir passageiros e mercadorias para bordo dos navios fundeados e para as ilhas círcumvizinhas, bem como d'estas
e de bordo dos navios para Macau.
A cidade christa propriamente dita abrange a parte mais
pittoresca de Macau. (...)
A cidade christa tem sido invadida por habitantes chinezes; nos bairros chins é que raro moram christãos.
Alem d'isto, na maior parte das casas de moradores portuguezes, ou estrangeiros, ha creados chinezes.(...)
O panorama que se disfructa de algumas elevações é arrebatador e surprehendente (por exemplo, do pharol da
Guia, da Gruta de Camões, ou ainda melhor da Penha).
As habitações dos europeus sao de aspecto agradável,
ha algumas mesmo notáveis pelo tamanho e bom gosto;
quasi todas as da Praia Grande têem os seus jardins e ostentam na fachada da frente grandes varandas ou galerias.(...)
Na parte da cidade occupada pelos europeus (nacionaes
e estrangeiros) e pelos macaístas, contam-se algumas ruas
espaçosas e elegantes, prédios importantes e de boa appa-
rencia, possuindo bastantes d'elles aprazíveis jardins e quintaes.
Nos arrabaldes da cidade encontram-se algumas quintas
bem cuidadas (...).
Occupemo-nos agora dos templos.
Ha em Macau varias igrejas (todas ellas, senão sumptuosas, pelo menos bellas e muito cuidadas). Antes
porém, de tudo mais, falemos da frontraria de S. Paulo.
Esta magestosa peça architectonica foi o que se poude
salvar do incêndio de 1835, que devastou o sumptuoso
templo dos jesuitas.
É toda de granito e de graciosa architectura grega, e
está por tal sorte disposta que se vê de quasi todos os
pontos da cidade.
Vem aqui de molde falar da Sé, que é uma das freguezias, citar S. Lourenço, S. Lazaro e Santo António, mencionar o vasto seminário de S. José, a igreja de Santo
Agostinho, a de S. Domingos e Santa Clara, não convindo
deixar no olvido as ermidas de Nossa Senhora da Guia e
da Penha de França.
(...)
D'entre as construcções chinezas ha a notar os quatro
principaes pagodes, suas pittorescas cercas e mais accessorios, sempre collocados entre penedos e copadas arvores.
Dos principaes pagodes, a que nos vimos referindo, acham-se situados, um no Patane, outro em Mong-há, o terceiro próximo das Portas do Cerco, e o ultimo, que é o mais formoso, nas immediaçôes da fortaleza da Barra. (...)
Dos principaes pagodes, a que nos vimos referindo, acham-se situados, um no Patane, outro em Mong-há, o terceiro próximo das Portas do Cerco, e o ultimo, que é o mais formoso, nas immediaçôes da fortaleza da Barra. (...)
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