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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Camões e Macau na obra de Slauerhoff


O escritor holandês J. Slauerhoff (1898-1936) - que tb era médico - conheceu Portugal e Macau e sobre essas suas viagens deixou impressões na sua poesia.Após embarcar para o Extremo Oriente em 1927 publicou um livro de poemas “Oost Azië” (“Extremo Oriente”) que inclui uma secção dedicada a Macau, constituída por cinco poemas: “De Jonken” (“Os juncos”), “Kathedraal S. Miguel” (“Catedral S. Miguel”), “Uitzicht op Macao van Monte af” (“Vista de Macau a partir da fortaleza do Monte”), “Ochtend Macao” (“Aurora Macau”) e “Camoës” (“Camões”).
De Março de 1928 a Fevereiro de 1931 (…) trabalhou como médico de bordo em navios da Lloyd Real Holandesa na carreira Amesterdão-Buenos Aires v.v., com escala obrigatória em Lisboa. Recordações das suas visitas à metrópole encontramos na colectânea de poesia “Solares” (1933).
"Tal como faz de Lisboa e Macau projecções do seu próprio mal-estar, transforma também a figura de Camões. Reconhece nele um poeta maldito a seu modo e transfigura-o da mesma maneira que transfigurou os outros poetas com quem se identificava, isto é, transpondo para eles as suas próprias obsessões. De todos estes poetas Camões é a personagem mais recorrente na obra de Slauerhoff.
Em 1932 é editado o seu primeiro romance “Het verboden rijk”, traduzido para português sob o nome “O Reino Proibido”. Aqui uma das duas personagens principais é baseada na figura de Luís de Camões.
Em 1935 é publicado o conto “Laatste verschijning van Camöes” ("A última aparição de Camões”). Neste conto surge novamente o protagonista de “O Reino Proibido”. Poucos meses antes da morte de Slauerhoff ainda foi publicado um outro poema intitulado “Camões”, na colectânea “Een eerlijk zeemansgraf” (“Um honroso jazigo de marinheiro”)."
Fonte: Revista Camões nº 7, 1999 a partir do artigo "Camões e Macau num romance neerlandês" de Patrícia Couto com Arie Pos (adaptado)
Jean Jacob Slauerhoff, nascido em Leeuwarden, capital da província da Frísia, é um dos escritores clássicos da literatura holandesa do século XX. Desde jovem sofrendo de afecções asmáticas e, mais tarde, de uma tuberculose que lhe provocaria a morte aos 38 anos, teve uma vida difícil, que se reflectiu num carácter rebelde e irrequieto, o que profundamente marcou a sua obra e a sua maneira de ser. Fascinado pelo mar e por culturas remotas, optou pela profissão de médico de bordo. Nessa qualidade percorreu os mares de lés a lés e contactou com países e culturas da Ásia, África e América Latina. 
De Setembro de 1925 a Setembro de 1927 trabalhou na Java-China-Japan-Lijn, uma companhia de navegação que fazia a ligação entre a ilha de Java, a costa chinesa e o Japão. Data desse período um fascínio duradouro pelo mundo chinês, nomeadamente por Macau, e pela figura de Luís de Camões, que inspiraram uma parte substancial da sua obra: apontamentos de viagem, poesia, contos e romances. Nos anos seguintes, e através de visitas a Portugal, Espanha e América Latina, aprofundou o seu interesse pelo mundo ibérico e pela época das grandes descobertas e conquistas. Macau e Camões figuram lado a lado no mais conhecido romance do autor, Het verboden rijk (1932, edição portuguesa: O Reino Proibido, 1997) que, conjuntamente com outros escritos, testemunha uma paixão muito pessoal pelo enclave português e pelo poeta dos Lusíadas. Trata-se de um singular caso de identificação que revela muito sobre o próprio escritor, mas igualmente sobre Macau, Camões e a condição humana na Europa da época entre as duas grandes guerras.
Autor: Arie Pos, pp. 126-135] - RC nº 7
As imagens - de 1926 - foram publicadas na Revista Cultura do ICM

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