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terça-feira, 23 de setembro de 2014

Bambu Quebrado


O mais recente romance histórico de Maria Helena do Carmo (apresentado esta semana) fala de Macau, do problemático governo de Ferreira do Amaral e do seu amor impossível por Maria Helena de Albuquerque. 
Bambu Quebrado é uma biografia romanceada que retrata factos reais da vida de um liberal, que viveu com intensidade a história do seu tempo, e fez História, ao vencer batalhas que deram novo rumo aos desígnios nacionais. Oficial da Armada, João Maria Ferreira do Amaral comandou navios, percorreu os mares, defendeu as colónias portuguesas num combate sistemático ao tráfico de escravos e estendeu a sua autoridade até ao Extremo Oriente. Em Macau este capitão-de-mar-e-guerra desempenhou o cargo de governador, enfrentou uma forte luta diplomática para recuperar a autonomia da cidade, conseguindo dar-lhe soberania administrativa, financeira e territorial, acabando por morrer ao serviço da Pátria.
Mas a sua vida encerra também a história de um grande amor. Uma paixão proibida pela fidalga madeirense Maria Helena de Albuquerque, senhora por quem lutou contra os preconceitos sociais da mentalidade da época e a relutância da própria mãe. Por ela enfrentou o mundo, com o auxílio das novas leis liberais, vindo a casar por procuração com essa senhora que lhe deu dois filhos. D. Maria Helena abdicou de tudo por amor, mas o destino não a recompensou como merecia.
Segue-se um excerto.
No tratado de Nanquim, assinado a 29 de Agosto de1842, Francis Davis firmou a Convenção com o vice-rei de Kung para franquear Cantão aos europeus por dois anos, ratificando este tratado no ano seguinte, altura em que fora estabelecida a paz entre as duas nações. Exigiu a abertura dos portos de Amoy, Fu-chau, Ning-pó e Xangai, a supressão do Cong-hang, igualdade de tratamento entre as autoridades, e uma indemnização à Inglaterra de 21.000.000 patacas pelos gastos com a guerra e pelo prejuízo que tiveram com o ópio queimado em 1839. Nesse tratado de Pequim a China cedeu a ilha de Hong Kong aos ingleses, com jurisdição própria, porto que a abriram ao comércio internacional.«Medida que veio prejudicar Macau, cidade sem recursos para as suas despesas e que jamais poderá competir com Hong Kong. Aplicar a lei de 1845, que determina tornar Macau um porto franco será também uma medida prioritária do meu governo.» Concluiu. Apesar destas transformações impostas pelos ingleses, não se alterou o relacionamento de Macau com a China. O procurador pediu aos mandarins a diminuição dos direitos alfandegários, o aumento do número de navios de 25 para 50, o livre comércio, o fim da medição dos navios para desenvolver a economia da cidade, sem nada conseguir. O território continuou sujeito aos mandarins que, em 1844, chegaram a advertir Macau de que os limites da cidade se confinavam às portas do Campo e de Santo António. Uma chapa do imperador enviada ao suntó de Cantão avisava que não entretivéssemos no coração esperanças vãs (1), sugerindo que Macau se conservasse nos limites que lhe impunham com o mesmo modo de relacionamento. A guerra com os ingleses havia estipulado condições de cedência, que o imperador não queria ver repetidas com outras nações estrangeiras. «Ora aqui está um assunto que importa clarificar quanto antes. Alterada a conjuntura internacional, não se justifica a eterna dependência de Portugal à China, em inferioridade com as outras nações europeias que por aqui fazem comércio.» Sublinhou com três traços no seu bloco.A cidade sofria a concorrência inglesa e deixara de ser intermediária com a China em prejuízo do seu comércio. Via-se disputada por forças estrangeiras, como a França, sem dispor de recursos humanos, bélicos e financeiros para se impor, correndo o risco de ser entregue a outro país por ser território da China. Era esta a realidade que João Maria Ferreira do Amaral teria de enfrentar no Extremo Oriente para satisfazer o governo de Lisboa. 
(1) Marques Pereira, Ta-Ssi-Yang-Kuo, Série I, Vol. I-II, p. 24

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