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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

João Rodrigues, o intérprete

João Rodrigues (Sernancelhe, 1558 a 1561Macau, 1633 ou 1634) foi um sacerdote, jesuíta, português, missionário no Japão. Foi também um linguista, tendo escrito o primeiro dicionário de japonês-português e a primeira gramática da língua japonesa. É conhecido no Japão por João Rodrigues Tçuzu (O intérprete).
Com apenas 14 anos, João Rodrigues embarcou com destino à Índia. Pouco depois da sua chegada ao Japão em 1577, foi iniciado na Companhia de Jesus. Dedicou-se ao ensino da gramática e do latim e à aprendizagem da língua japonesa e alguns anos mais tarde concluiu os estudos em teologia em Nagasaki. Depois de ordenado sacerdote em Macau regressou ao Japão, onde se tornou comerciante, diplomata, político e intérprete entre os japoneses e os navegadores estrangeiros. A sua fluência no idioma oriental mereceu-lhe uma relação especial com os principais líderes japoneses durante o período de guerra civil e da consolidação do xogunato de Tokugawa Ieyasu. Nesta época também testemunharia à expansão da presença portuguesa nesta nação e à chegada do primeiro inglês, William Adams.
Durante este período, teve a oportunidade de escrever as suas observações sobre a vida japonesa, incluindo eventos políticos da emergência do xogunato e uma descrição detalhada da cerimónia do chá. Nos seus escritos revelou uma abertura de espírito sobre a cultura do seu país anfitrião, chegando a elogiar a santidade dos monges budistas.
João Rodrigues seria expulso do Japão no ano de 1610, como consequência de um incidente com o navio português Madre de Deus. Este navio tinha estado envolvido em um conflito em Macau em 1609, no qual foram mortos marinheiros japoneses. Ao voltar a Nagasaki, as autoridades japonesas tentaram abordar e prender o capitão André Pessoa. Na escaramuça, o navio foi incendiado e afundou ao tentar sair do porto da cidade e, em retaliação pelo incidente diplomático, os missionários cristãos foram expulsos do país. Regressando a Macau, dedicou-se à investigação das origens das comunidades cristãs estabelecidas no local desde o século XIII. Morreu a 1 de Agosto de 1633, tendo ficado sepultado na então igreja de São Paulo (hoje Ruínas de São Paulo).
Para além de intérprete, foi um dos autores e coordenador do "Vocábulo da Lingoa de Japam", primeiro dicionário de japonês-português editado em 1603, da "Arte da Língua de Japam" (1608), "Arte Breve da Língua de Japam" (1620) e "A História da Igreja de Japam" (1634).
É sem dúvida uma figura referencial nos primórdios das relações luso-nipónicas nos séculos XVI e XVII. A sugestão de leitura é, claro está, a biografia de João Rodrigues escrita pelo também jesuíta, mas inglês, Michael Cooper, em 1994. "Rodrigues, o intérprete: um jesuíta português no Japão e na China do século XVI".

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