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sábado, 26 de julho de 2014

"Os Chins de Macau": 1867

Um destes dias encontrei num leilão um exemplar deste livro de Manuel de Castro Sampaio, editado em Hong Kong em 1867 (Typografia Noronha e Filhos) em que a base de licitação era 4 mil dólares (mais de 40 mil patacas). Do livro extraí um excerto sobre as diferentes povoações do território - respeitando a grafia de meados do século XIX - ainda dividido entre cidade chinesa (a zona do bazar) e a cidade cristã.
"Uma das primeiras fica próxima da Fortaleza da Barra e é por isso chamada Povoação da Barra. A outra acha-se na encosta outeiro da Penha onde (...) está a a fortaleza do Bom Parto e onde se encontram as mais lindas chácaras de Macau. Esta é conhecida pelo nome de Tanque-Mainato, nome derivado de um tanque de lavadeiros ou mainatos, como lhes chama no paiz. As outras três povoações são denominadas de Patane, Mong-ha e S. Lazaro. Patane é de todas as cinco a mais importante, pela sua industria fabril e pelo seu comercio, principalmente em madeiras de construção. Esta fica no litoral do porto interior, tendo Mong-ha do lado opposto, onde existe a maior parte dos agricultores e onde há alguma indústria e comercio, como em todas as outras povoações, excepto a do Tanque-Mainato, onde pouca industria e nenhum comercia ha por ser um povoado insignificante. A povoação de S. Lazaro, que está em continuação da cidade cristã, é onde principalmente habitam os chins que não têm abraçado o christianismo. Nesta povoação há além da Igreja de s. Lazaro, que é o mais antigo templo de Macau, uma pequena capella a cargo de um sacerdote catholico, que se dedica à catechese. Entre Patane e Monghá, povoações que se dilatam até ao isthmo, existem diversas hortas, nas quaes se encontram algumas centenas de humildes tugurios, habitados por agricultores e mendigos. A maior parte destas hortas pertence a Monghá. As restantes são de Patane. Finalmente no Bazar há um theatro chinez (auto-china) e em diferentes pontos têm os chins os seus pagodes, em parte dos quaes habitam os bonzos ou sacerdotes chineses, e em todos é exercido o culto publicamente. (...) Há ainda umas povoações fluctuantes no rio e na Bahia da Praia Grande. Ali existem numerosas famílias que habitam em maiores e menores embarcações. Os seus misteres são diversos, como o de praticos de costa, o de pescadores, etc. e muitas das mulheres empregam-se em conduzir passageiros e mercadorias para bordos dos navios fundeados e para as ilhas circunvizinhas. (...)
Manuel de Castro Sampaio (1827-1875) era jornalista. Prestou serviço como Capitão da guarnição em Macau. Juntamente com António Feliciano Marques Pereira, José Gabriel Fernandes, Pereira Rodrigues, Osório Cabral de Albuquerque, José da Silva e Meyrelles de Távora fundou o semanário «Ta-Ssi-Yang-Kuo» publicado entre 1863 e 1866.  Foi sócio-correspondente da Real Sociedade Asiática de Londres (“Royal Asiatic Society“).
Para além do livro acima mencionado foi ainda autor de: Pobreza envergonhada (Valença, 1852); Compendio de hygiene popular – tradução livre do texto de D. FranciscoTamires Vaz, (Elvas, 1860); Victimas de uma paixão (Lisboa, 1863); Memorias dos festejos realizados em Macau no fausto nascimento de S. A. o sr. D. Carlos Fernando (Macau, 1864); Compendio de ortographia (Macau, 1864).


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