Páginas

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

“Da Cidade Antiga à Arquitectura Recente”: 2ª parte

(continuação)
Agora, descendo pela Calçada do Tronco Velho, é no Largo do Leal Senado que desembocamos; ou, voltando à Rua Central, e atravessando o ‘corte’ moderno introduzido pela Rua-Avenida Almeida Ribeiro, atingiremos a Sé (a mais descaracterizada de todas as igrejas macaenses). Continuando por aqui, chegaremos ao ponto extremo nascente da baía (com a antiga linha de costa), onde se implantam os ‘restos’ da instalação franciscana que, como é da praxe, está o mais afastada possível dos Jesuítas e do bulício urbano (hoje rodeada por um gracioso jardim – e vem à memória idêntico destino, do edifício franciscano no Funchal) (…).
O Largo do Leal Senado é, talvez, actualmente o espaço urbano com mais carácter e vivência, de entre todos os pertencentes à ‘cidade velha’. Tradicionalmente constituía o pólo civil e administrativo da urbe, por oposição à zona atrás referida (São Lourenço/Colégio/Agostinhos) e à que se lhe segue, no percurso que escolhemos (São Domingos e São Paulo), ambas com eminente sentido religioso.
A Misericórdia e a Câmara, até 1999 designada por ‘Leal Senado’, actual ‘Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais’, são os seus dois elementos arquitectónicos principais, que dão o sentido funcional à praça, situada além disso no âmago da estrutura linear que descrevemos, o que aumenta ainda mais o seu significado. Os edifícios de acompanhamento, com características arcadas em três pisos, pintados em cores vivas, evocam indiscutivelmente o prédio do município de Margão, no território goês: essa analogia não será possivelmente obra do acaso, mas sim das relações entre Obras Públicas, serviço do Estado português, e seus autores, no quadro dos contactos Goa – Macau na transição do século XIX para o XX.
Outra força deste largo provém de ter sido ‘rasgado’ pela nova avenida rectilínea e modernizante que foi a Almeida Ribeiro, e que o transformou num espaço aberto, de ligação entre o porto interior e os novos aterros da Praia Grande. (…) há que concluir o périplo iniciado; e regressando ao Leal Senado, já se vislumbra ao fundo a silhueta da Igreja de São Domingos, que abre para a rua do mesmo nome (outro núcleo comercial fervilhante) e para a Rua de São Paulo, que leva às famosas ruínas. (…)
A seca escadaria que leva às ruínas, desinteressante e cheia de ‘hóóós!’ de turistas japoneses, era dantes ladeada por casinhas, com esquinas e beirais, como as gravuras oitocentistas de Chinnery deixam entrever; (…) Desenhos antigos reconstituem também as bolbosas torres que se erguiam para trás da portentosa fachada de dragões e caravelas (fruto de uma mistura artífice nipo-portuguesa que as idas quinhentistas ao país do Sol Nascente propiciaram), a qual é ainda hoje imagem longínqua que torna reconhecível o centro da cidade, para quem vem pelo mar…”

Sem comentários:

Enviar um comentário