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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Bispo D. José Manuel de Carvalho: 1844-1904

D. José Manuel de Carvalho (1844-1904), foi o 18º Bispo de Macau (1897 a 1902). Nasceu no então lugar de Tourigo (Tondela), concluiu o curso do Seminário em Viseu e foi ordenado sacerdote em 1867. Na Universidade de Coimbra formou-se em Direito no ano de 1871 sendo depois professor do Liceu e no Seminário daquela cidade.
Por iniciativa do conselheiro Jacinto Cândido da Silva, então Ministro da Marinha e Ultramar e antigo colega universitário, foi apresentado a 4 de Fevereiro de 1897 para o lugar de bispo de Macau. Foi confirmado para o lugar por breve do papa Leão XIII datado de 19 de Abril de 1897. Foi sagrado a 29 de Agosto daquele ano, embarcando seguidamente para Macau. Durante o seu bispado, dividiu Timor Português, naquela altura dependente da Diocese de Macau, em dois missões centrais ou vicariatos gerais (Lahane e Soibada), em 1900. Nesse mesmo ano, consagrou a diocese ao Sagrado Coração de Jesus. Apoiou as actividades religiosas, educacionais e assistenciais oferecidas à diocese pelas Filhas Canossianas da Caridade, que se expandiram para Hainão em 1901. Abriu uma nova missão portuguesa em Heung-shan. Tanto Hainão como Heung-shan, que eram territórios chineses livres da ocupação portuguesa, estavam sob jurisdição eclesiástica da Diocese de Macau. Regressou a Lisboa por motivos de saúde, onde chegou a 8 de Abril de 1901, seguindo depois para os Açores. Morreu em 1904.
De seguida reproduzo excertos da sua biografia à época (1897)
Chronologia – Nasceu a 16 de setembro de 1844; ordenou-se de presbytero, em Vizeu, a 20 de setembro de 1867; concluiu a sua formatura em direito, na universidade de Coimbra, em julho de 1881; foi nomeado professor interino de Lyceu Nacional de Vizeu em outubro de 1881; passou a professor effectivo em novembro de 1887; foi nomeado professor substituto do curso de theologico do Seminario, e depois professor effectivo em 20 de novembro de 1883; por decreto de 4 de fevereiro de 1897 é eleito Bispo de Macau, sendo preconisado como tal em consistorro de 19 de abril immediato e finalmente sagrado em 29 de agosto do mesmo anno.
Não pretendemos fazer a biographia do illustre Bispo de Macau, como desnecessaria perante uma cidade e um povo que conhece bem a par e passo os predicados do antistite que há dois dias foi sagrado; não queremos tão somente exprimir aqui a nossa saudade pela ausencia do homem que foi nosso professor e nosso mestre, do professor que foi nosso companheiro e collega; e dizer ainda aos diocesanos macaenses que por ventura ignoram a biographia do seu novo Pastor, que, pelo apontamento chronologico dos factos acima indicados, justamente se podem orgulhar de receberem em seu seio um Prelado que saberá mover o báculo em ordem á felicidade espiritual e temporal dos seus diocesanos.
O dr. José Manuel de Carvalho, filho de pães abastados e piedosos, nasceu no logar do Tourigo, freguezia de Barreiro, concelho de Tondella. Dedicando-se á vida ecclesiastica fez o curso de estudos theologicos no Seminario de Vizeu, sem contestação, em face da historia da fundação e progresso dos seminarios do reino, um dos seminario mais bem dirigidos e organisados. Tendo-se emfim ordenado de presbytero, retirou para Coimbra onde fez a sua formatura em direito, durante a qual foi alguns annos capellão e chantre da real capella da Universidade. Em Coimbra captivou alle a estima de professores, e sympathia de estudantes que tantas vezes nos teem fallado de José Manuel de Carvalho como de um “collega expansivo e um amigo sincero e delicado.” 
Concluída a formatura, regressou a Vizeu, capital da diocese onde nascera, sendo em outubro do mesmo anno nomeado professor interino do Lyceu Nacional desta cidade. (...)
O actual e illustre Antistite da egreja viziense aproveitou desde logo para o serviço do seu Seminario o novo laureado da universidade, por quanto nomeou-o professor de latinidade, e substituto das cadeiras do curso theologico, passando a effectivo em 20 de novembro de 1883, pela jubilação do encanecido professor conego Oliveira, e nomeado o ainda Promotor do Juízo ecclesiastivo. O illustre ministro da marinha conselheiro Jacintho Candido, catholico de firmes crenças, conhecendo perfeitamente o valor e competencia do seu inolvidável companheiro e amigo dr. José Manuel de Carvalho, para elle requisitou as honras de Monsenhor e, logo que teve conhecimento da vacancia da Sé de Macau, o fez eleger bispo d’aquella diocese do oriente, observando o mais rigoroso cuidado para que o agraciado não tivesse o mais leve conhecimento do caso, antes da nomeação se effectuar, porque receava uma recusa formal. 
Finalmente a noticia da apresentação do dr. José Manuel de Carvalho para bispo de Macau foi recebida em Vizeu por todos, todos com alvoroço de satisfação. Tal era, pois, a estima que todos lhe tributavam. Ah! houve um homem, um homem apenas, que, habitando, despreocupadamente, tranquillamente, uma das mais bellas residencias de Vizeu, que elle madara construir,  estranhou, duvidou, ficou incommodado com a improvisa noticia!...Foi o proprio eleito. 
A sagração – No dia 29, á hora aprazada, compareceram e fizeram entrada solemne na egreja de S. Nicolau em Lisboa, os Exmos. e revmos. Srs. D. José Dias Corrêa de Carvalho, como bispo sagrante, D. gaudencio José Pereira, Arcebispo Bispo de Portalegre, e o Arcebispo de Mytelene, vigário geral do patriachado, como bispo assistente. Começou a imponente ceremonia ás 10¾ e terminou ás 2 horas da tarde. O magestoso templo estava repleto de fieis, avultando grandissimo numero de senhoras. No começo da ceremonia o Exmo. Bispo sagrante ocupou o faldistorium, indo os bispos assistentes e o sagrando sentar-se em frente de um altar lateral, onde foram paramentados para a solemnidade. Em seguida, indo os tres  sentar-se perante o sagrante, o mestre de ceremonias leu a Bulla do Santo Padre Leão XIII, que confirma a apresentação de D. José Manuel de Carvalho na Sé de Macau. A Bulla é o diploma dos poderes do eleito. De joelhos perante o sagrante, o eleito presta juramento sobre os santos Evangelhos protestando fidelidade e obediencia ao supremo gararcha da egreja e todo zelo na defeza da sua doutrina, liberdades e direitos. (...)
in Boletim Diocesano de Vizeu, Agosto de 1897 (reproduzido no jornal Eco Macaense 27.02.1898)

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