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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A decadência da Ilha Verde

Devido ao decreto pombalino de 3 de Setembro de 1759, os jesuítas são presos e expulsos de Macau em 5 de Julho de 1762. Em 13 de Dezembro de 1763, a quinta da Ilha Verde foi entregue com todos os pertences, judicialmente pelo juiz ordinário e dos feitos da Coroa e da Fazenda, por auto público, a Manuel José Batalha, alferes de infantaria da Fortaleza de S. Paulo do Monte. Por este documento fica-se “a saber que existiam na Ilha Verde uma capela, uma sacristia, uma galeria que conduzia ao coro, uma habitação próxima ao refeitório com seus pertences. Não se faz menção aí do colégio, observatório, ou jardim botânico. Este inventário devia servir de consto no caso que qualquer pessoa que viesse a ser dono da ilha tivesse em qualquer tempo de a restituir ao Rei de Portugal, quando uma reversão tivesse lugar.” Mas como os Colégios de S. Paulo e S. José dos Jesuítas deviam 6147 taéis a Simão Vicente Rosa, ele, que nessa altura se encontrava em Goa, como forma de reaver essa dívida em 1765 consentiu ficar com a Ilha Verde por essa quantia. Tentou-se ainda leiloar a propriedade da ilha, mas não houve ninguém que oferecesse coisa alguma. Em 14 de Abril de 1766 o Governo de Goa dá ordem ao Senado para entregar a ilha a Simão Vicente Rosa. Esta durante algum tempo conservou-se em bom estado e tratada e qualquer pessoa respeitável podia, com a devida permissão, passar um dia na ilha.
Em 31 de Janeiro de 1773 faleceu Simão Vicente Rosa, legando a ilha Verde à sua filha, Ana de Araújo Rosa. Os anos foram passando e os edifícios foram demolidos e os materiais vendidos, ficando a ilha ao abandono. Quando Ana de Araújo Rosa faleceu, a ilha foi vendida em leilão e arrematada por Manuel Homem de Carvalho e Bernardo Gomes de Lemos por 501 taéis, em 1 de Setembro de 1813. A controvérsia estalou sobre o legítimo herdeiro da ilha, que opôs em 22 de Agosto de 1814 a neta de Simão Rosa, Margarida Carvalho Milner ao seu pai, Manuel Homem de Carvalho. A contenda só terminou em 18 de Abril de 1822, quando o ouvidor Miguel de Arriaga obrigou Margarida Milner a pagar as custas do processo.
No jornal Abelha da China, veio um aviso na página 20 do dia 10 de Outubro de 1822 que dizia: “Pelo Juizo da Ouvidoria Geral se há-de vender a Ilha Verde, havendo a pregoações nos dias quarta-feira, sábado, e quarta-feira, 9, 12, e 16 do corrente, para ser arrematada no ultimo dos dias referidos, a quem mais der.” Já no dia 24 de Outubro de 1822 na página 28 no espaço referenciado como Leilão se pode ler: “Pela Repartição do Juizo da Ouvidoria Geral se ultimará no dia sábado 26 do corrente a venda do Brigue S. Pedro e da Ilha Verde, esta sobre 5000 patacas, e aquele sobre 3000 patacas.” Mas já em 15 de Março de 1820, a Ilha Verde (com árvores frutíferas e casas nela construídas) fora comprada por 2000 patacas Espanholas pelo Pe. Nicolau Rodrigues Pereira de Borja, Superior do Seminário de S. José, por conta do mesmo Colégio. A Ordem dos Jesuítas fora restaurada em 1814. A escritura, lavrada nas notas do tabelião de Macau, José Gabriel Mendes, sobre a posse pelo Seminário de S. José (que faz parte do Padroado Português no Oriente) da Ilha Verde foi feita a 15 de Março de 1828, apesar dos Jesuítas muito antes se terem aí estabelecido. Beatriz Basto da Silva na Cronologia da História de Macau: “A ilha tinha 3300 paos ou côvados chineses medidos por cima do alicerce do muro velho, em circuito.” O dinheiro, entregue antecipadamente, serviu para Bernardo Gomes de Lemos pagar as dívidas contraídas aos chineses que, por isso iam ocupando a ilha e aí construindo barracas. Passava a ilha a servir de recreio próprio a uma casa de educação.
A 4 de Novembro de 1828 o Mandarim de Heong-San proibiu por Edital que se continuasse a quebrar um grande rochedo na ilha Verde. Os jesuítas voltam a construir na ilha Verde uma capela, uma casa com uma sala para receber hóspedes e quartos para professores, que vão para aí passar os dois meses de férias. Há também “casas para o feitor e para os guardas bem como currais para quadrúpedes domésticos e abrigos para galinhas e pombos etc.. no meio há uma área espaçosa aberta, e no alto há muitas árvores de pinheiro, nos lugares mais conspícuos há árvores frutíferas, há hortaliças e lugares para pastagem dos animais.” Os jesuítas começam a cercar a ilha com um muro como era antigamente.
Em 3 de Setembro de 1831, um edital do mandarim Cso-tang de Macau, Chen, proíbe a construção de muros na ilha Verde já que o terreno fora dos muros (da cidade cristã) pertence ao palácio imperial. “Ora a ilha Verde, que está fora de Macau, situada no meio do mar, em distância de alguns lis, nada tem com as habitações europeias. Não se pode, portanto, consentir que seja designada como propriedade europeia, e que ali se fabriquem muros porque deste modo se transgridem leis.” Já anteriormente, em 21 de Julho desse mesmo ano o mandarim de Heong-San tinha reclamado contra as obras que se estavam a efectuar na Ilha Verde. “Em 1833, o P. Leite construiu lá uma casa, uma capela e um muro, pelo que foi louvado pela Rainha D. Maria I em 23-11-1842.” (Macau e a sua Diocese). Esse muro em 1834 estava já feito em três quartas partes, prevendo-se para breve a sua conclusão. Defronte da casa principal há um cais para desembarque e entre elas encontram-se muitas árvores de pagode e ao sul há uma pequena bacia com comporta. Em 23 de Julho de 1834, procede-se à bênção da capela. Estão na ilha um inspector e cinco escravos para tratar dela.
Em 1844, a Comunidade Americana fez uma festa na Ilha Verde para celebrar a assinatura do I Tratado Sino-Americano que fora realizada na mesa de pedra do pagode de Kun Iam. Em 1865, no cume da colina da ilha Verde foi iniciada a construção de uma fortificação que não chegou a ser concluída e de que nada resta, segundo informação de Jorge Graça no livro Fortificações de Macau. A sua função era vigiar o continente chinês devido à afronta que o governador Ferreira do Amaral fizera aos chineses abrindo três estradas para fora das portas da cidade e ocupando as várzeas chinesas, removendo inúmeras campas.
Segundo o P. Manuel Teixeira “Em 1872, o P. António Luís de Carvalho construiu lá uma capela dedicada a S. António.” “Em 1873, o Delegado do Procurador da Coroa e Fazenda contestara o direito do Seminário de S. José à posse da Ilha Verde, pretendendo fazer dela um logradouro público; mas o Tribunal decidiu a favor do Seminário como se pode ver do processo de Julho desse ano.” A Educação em Macau P. Manuel Teixeira. 
Esse episódio está narrado em mais uma das muitas disputas entre os jornais, O Independente e a Gazeta de Macau e Timor do ano de 1873. Enquanto O Independente, apregoava ter sido a Ilha Verde “sempre um logradouro público desde épocas remotas, sem entrarmos na discussão acerca de ser ou não ser ela uma propriedade do seminário de S. José, cujos pontos são diferentes, apesar de parecerem a mesma coisa. Vamos por tanto demonstrar esta diferença para acabar com essa confusão”...”Toda a cidade de Macau pertence à nação portuguesa, e é o governo que concede ou afora terrenos às pessoas particulares para o fabrico de casas, chácaras, etc. Uma pessoa qualquer que queira obter um bocado de terreno em qualquer parte da cidade, e mesmo no campo, tem de o pedir ao governo para o aforar: e o governo que pode dispor deste terreno, não pode contudo impedir a pessoa alguma o seu passeio nem pela cidade nem pelo campo. É isto que o bom senso chama logradouro público; e é debaixo deste ponto de vista que sustentámos e sustentaremos que a Ilha Verde é um logradouro público como é o campo e toda a parte da cidade que não é ocupada por casas, quintais, jardins, ou hortas.” 
A Gazeta de Macau e Timor tinha publicado pelo Pe. Carvalho quatro documentos para provar que a Ilha Verde não é um lugar público, pois pertence ao Seminário de S. José. Entre Agosto e Setembro de 1888 foram montados lazaretos em várias partes de Macau, entre eles na ilha Verde, para acolherem as tropas portuguesas, que de barco chegaram à praia de Cacilhas e vinham contagiadas com cólera morbus contraída durante a sua passagem por Hong Kong. Talvez tenha sido por esse motivo que a ilha ficou abandonada e assim muitas embarcações chinesas por aí permaneciam o que levou o Governo Português de Macau a apresentar um protesto ao Vice-Rei de Cantão, datado de 15 de Junho de 1890, contra essa ocupação.
Artigo da autoria de José Simões Morais publicado no JTM de 18-8-2011

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