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terça-feira, 21 de maio de 2013

Negócios da China... em 1513

O primeiro contacto documentado de portugueses com território da China aconteceu há 500 anos, na actual província de Guangdong, no sul, entre Julho e Agosto de 1513, numa aventura de mercadores saídos de Malaca. Dois ou três portugueses embarcaram a bordo de um junco [navio à vela usado na China e no Japão] de mercadores malaios, que saiu de Malaca, na actual Malásia, em Maio de 1513 e chegou ao litoral da actual província de Guangdong, entre Julho e Agosto do mesmo ano, de acordo com o  historiador Rui Loureiro. “Antes disso não há qualquer documento sobre contactos portugueses com o sul da China”, disse Rui Loureiro à Lusa, justificando o significado desse momento de primeira presença que agora se assinala.

O cronista português João de Barros afirmou que Jorge Álvares, um mercador estabelecido por conta própria, foi o primeiro português a chegar ao sul da China, mais especificamente a uma ilha, designada pelas fontes históricas portuguesas como “Tamão”, que também foi designada como “Lintin” e identificada como a actual ilha de Nei Lingding, no centro do delta do rio das Pérolas, a norte de Macau. Os portugueses da época iam para a Índia como funcionários públicos (soldados ou feitores) durante três ou seis anos. Terminado esse período, alguns regressavam a Portugal e outros estabeleciam-se na Ásia por conta própria, como comerciantes ou mercenários. Os portugueses tinham armamento superior e eram muito cobiçados por todos aqueles potentados asiáticos, onde podiam actuar como “conselheiros militares”, disse Rui Loureiro.
Jorge Álvares foi um desses portugueses, que primeiro esteve ligado à estrutura do Estado na Índia e depois se estabeleceu por conta própria. Com ele, a bordo do junco malaio, encontravam-se o filho, que morreu já no litoral chinês durante a viagem, e um outro português, de nome desconhecido. Rui Loureiro afirmou que os lucros obtidos nessas viagens eram tão grandes que “incitaram imediatamente outros portugueses” a partir de Malaca para o sul da China. “Daqui nasce uma expressão ainda hoje utilizada, os ‘negócios da China’, algo que dá lucros fabulosos. De acordo com um cronista da época, o lucro era quatro vezes superior ao investimento. Portanto, era um destino comercial muito atractivo para os portugueses, que não param de ir à zona todos os anos”,  acrescentou o historiador. Os portugueses vendiam especiarias, em especial pimenta (muito consumida na China), e madeiras aromáticas (usadas em rituais religiosos). Jorge Álvares regressou a Malaca, em Abril ou Maio de 1514, com produtos manufacturados chineses: porcelanas e sedas, mas também almíscar, aljôfar (pérolas miúdas), enxofre e salitre (componentes para o fabrico de pólvora), cânfora, ruibarbo e “abanos léquios” (os ‘leques’, nome que deriva do topónimo Léquios, como eram conhecidas as ilhas japonesas Ryukyu), explicou. João de Barros escreveu que Jorge Álvares foi uma segunda vez à China em 1521, morrendo de doença na ilha de Tamão, a 8 de Julho do mesmo ano. Foi enterrado junto a um padrão que ali tinha colocado oito anos antes.
Um outro Jorge Álvares frequentou as rotas comerciais de Goa, Malaca e sul da China, mas já na  década de 1540, disse Rui Loureiro. Famoso por ser o primeiro português que escreveu um texto sobre o Japão, em 1548, este “segundo Jorge Álvares” foi um dos primeiros portugueses a visitar o arquipélago japonês, talvez com Fernão Mendes Pinto, “mas não está ligado a esta primeira fase” de contactos comerciais, afirmou o historiador. “Há uma certa confusão entre os dois. Seria o Jorge Álvares que tinha chegado à China e 20 anos mais tarde também tinha chegado ao Japão?, o que faria dele um homem espectacular, mas são duas personagens diferentes”, sublinhou. 
Para o historiador, do ponto de vista chinês, no início os contactos com os portugueses eram “semi-legais”, tolerados, e os novo visitantes apareciam associados a mercadores malaios que visitavam a China regularmente.
A primeira viagem - a do primeiro Jorge Álvares - foi realizada num junco malaio. Há documentação sobre a compra desse junco e sobre a compra das mercadorias que ele leva para a China, referiu Rui Loureiro. “O litoral da China participa nestes negócios, mas não há uma intervenção estatal”, disse. Posteriormente, entre 1517 e 1521, Portugal enviou uma “embaixada”, liderada por Tomé Pires, que foi o primeiro enviado oficial português à China, cuja missão de estabelecimento de uma posição na zona fracassou. “Normalmente, os portugueses usaram na aproximação àquelas zonas, do que nós  hoje chamamos Malásia e Indonésia, uma espécie de posição de força, ou seja, tinham armas, tinham canhões e tinham o equivalente a espingardas (mosquetes) e tinham navios poderosos e, portanto,  conseguiram ocupar determinadas posições pela força”. Rui Loureiro deu o exemplo de Malaca e das ilhas Molucas, em que os portugueses ocuparam uma cidade portuária e construíram uma fortaleza. O mesmo tentaram  na China, disse. “Mas o exército chinês não tinha nada a ver com todas as outras potências ali à volta. Era um Estado sólido, com recursos infinitos e não autorizou esse estabelecimento dos portugueses, nos mesmos moldes que tinham feito noutras zonas, levando à adopção - pelos portugueses - de uma posição mais informal de comércio, de contactos que, a pouco e pouco, se foram desenvolvendo e nos anos 1550 veio a dar origem ao estabelecimento de Macau”. Para a China, “com um Estado muito centralizado, que  tentava controlar todo o litoral, era mais lógico concentrar todos os estrangeiros num ponto só” como Macau, concluiu Rui Loureiro. 
Agência Lusa - Maio 2013

1 comentário:

  1. Great history! Thanks for sharing about the Portuguese connection.Now, would you be able to suggest any links for information/history of Indians in Macau? Thanks!

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