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sábado, 30 de março de 2013

“Centro Histórico de Macau”: Património Mundial desde 2005

O Centro Histórico de Macau constitui o produto do intercâmbio cultural entre o mundo ocidental e a civilização chinesa. O estabelecimento de Macau por navegadores portugueses em meados do século XVI, viabilizou quase cinco séculos de contacto ininterrupto entre o Ocidente e o Oriente. As origens e desenvolvimento de Macau como porto comercial internacional constituem o único e mais significativo exemplo do intercâmbio cultural entre a Europa e a Ásia. A génese de Macau e a consubstanciação da sua função primordial enquanto porta de entrada para a China e janela da China Ming para o mundo, reflecte um processo de progressiva tolerância e crescente abertura em relação a anteriores restrições comerciais ligadas ao antigo sistema tributário da China, definindo um ponto de viragem na História da China e da Europa. 
Macau, como primeira porta de acesso do Ocidente à China, foi notável no estabelecimento de uma rede de contactos que possibilitou o enriquecimento de ambas as civilizações, em várias áreas do conhecimento e do desenvolvimento do espírito humano, na sua expressão tangível e intangível, ultrapassando um momento crítico da história.
Durante quase três séculos, até à colonização de Hong Kong em 1842, a localização estratégica de Macau na foz do Rio das Pérolas conferia à cidade uma posição única no Mar do Sul da China, assumindo um papel central no contexto de uma complexa rede de comércio marítimo, que acabaria por trazer grande riqueza e um fluxo constante de pessoas ao território. Pessoas de várias nacionalidades deslocaram-se até Macau ao longo dos tempos, trazendo diferentes culturas, profissões e tradições, permeando o próprio modo de vida da cidade e influenciando, de forma tangível e intangível, os costumes da comunidade local. Estas influências são mais evidentes pela introdução de diferentes construções e tipologias, tais como fortalezas e outras produções arquitectónicas de raiz ocidental.
Macau também herdou outras experiências culturais e influências regionais, desenvolvendo estas vertentes ainda mais, em conjunção com a cultura chinesa local, misturando todos estes contextos para dar reconhecida no legado histórico excepcional da cidade. As várias culturas a que Macau esteve exposta ao longo dos tempos acabariam por beneficiá-la, dotando a cidade de um espólio de património cultural de extrema riqueza.
Desde o final da dinastia Ming até ao início da dinastia Qing, missionários de diferentes ordens religiosas europeias, incluindo os jesuítas, os dominicanos, os agostinhos e os franciscanos, entraram na China através de Macau, promovendo activamente missões de evangelização e trazendo consigo uma certa influência cultural. Estes missionários foram responsáveis pela introdução de conceitos ocidentais de bem-estar social, tendo estabelecido os primeiros hospitais de modelo ocidental na China, dispensários, orfanatos e várias instituições de caridade. Foram igualmente responsáveis pela introdução da primeira prensa móvel e publicaram os primeiros jornais de língua estrangeira na China. Sendo Macau o ponto de partida para as missões jesuítas na China e noutras regiões da Ásia Oriental, os padres jesuítas que tinham a intenção de seguir para a China, passavam sempre primeiro por esta cidade onde, no Colégio de São Paulo, aprendiam a língua chinesa e outras disciplinas do saber chinês, incluindo Filosofia e Religião Comparada.

Macau foi, assim, a base principal de preparação e formação dos jesuítas, que, posteriormente, seguiam em missões para a China e para outros pontos da Ásia. O Colégio de S. Paulo era o maior seminário do Extremo Oriente daquela época, sendo aclamado como a primeira outros contributos dos missionários cristãos em Macau incluem a produção do primeiro dicionário inglês-chinês e a primeira tradução chinesa da Bíblia, por Robert Morrison. A devoção pela Deusa A-Má em Macau teve origem em crenças populares de pescadores que viviam ao longo da costa sul da China. Neste contexto, e tendo em conta a vocação única de Macau na mediação de um intercâmbio cultural entre o Ocidente e o Oriente, o Templo de A-Má assumiu um papel crucial na promoção da veneração da Deusa A-Má no mundo exterior.
áreas de protecção do património
Desde o momento em que os portugueses primeiro se estabeleceram em Macau que a cidade desenvolveu uma dualidade cultural que ainda permanece até aos dias de hoje, tratando-se da herança de um processo histórico que está patente nas suas estruturas administrativas e na tipologia dos edifícios, jardins e espaços públicos. Este valioso legado cultural é testemunhado sob a forma de valores tangíveis e intangíveis, tanto pela mistura de estilos arquitectónicos como pela tolerância religiosa que faz parte da vivência local, ou mesmo pela fusão de tradições culinárias de Macau, reflexo de diferentes influências históricas e geográficas. Acima de tudo, deve realçar-se a extrema riqueza do legado intangível de Macau, entendido não apenas como um produto inerente à própria
cidade, mas como um valor que resulta do longo intercâmbio entre a China e o resto do mundo, e, como tal, representa um conceito de significado bastante mais abrangente, assumindo-se como um legado cultural de valor universal excepcional.
O Centro Histórico de Macau engloba o mais antigo legado arquitectónico europeu existente em solo chinês na actualidade. Coexistindo com a arquitectura tradicional chinesa de Macau, constitui um testemunho de pluralismo cultural e retrata uma simbiose única de tradições arquitectónicas ocidentais e orientais.
“O Centro Histórico de Macau” é um retrato completo da permanência duradoura de uma colónia ocidental em território chinês. A grande variedade de estilos e a consolidação de um vasto património na Península de Macau, oferecem uma perspectiva abrangente sobre as origens da antiga cidade portuária. O conjunto dos edifícios e o traçado original das ruas, definidos na candidatura, apresentam claramente a dimensão multicultural das raízes históricas de Macau, onde a estrutura urbana original ilustra a fusão única de conceitos ocidentais e orientais, misturando concepções distintas de organização de espaços urbanos, estilos arquitectónicos, ideais estéticos, expressões artísticas e intercâmbio de conhecimentos técnicos.
Conceitos urbanos tradicionais foram incorporados em Macau com base em modelos relativos a anteriores povoados portugueses, com particular destaque para os modelos implementados no antigo Estado da Índia (Goa e Malaca), que podem ser igualmente identificados no tecido urbano das zonas de protecção da candidatura. A ambiência arquitectónica, paisagística e urbana de Macau reflecte claramente o espírito original do velho porto comercial português-chinês, desde o século XVI em diante. Em conjunto, a natureza espontânea e orgânica da estrutura urbana de raiz portuguesa encontra-se misturada com conceitos tradicionais chineses de organização de espaço, incluindo princípios de geomância (feng-shui) e outras concepções chinesas de espaço urbano, baseados em escalas de hierarquia tradicionais.
“O Centro Histórico de Macau” inclui os primeiros exemplos de arquitectura barroca e maneirista na China – A Igreja do Seminário de São José e a fachada da Igreja de S. Paulo são exemplos referenciados no Atlas mundial de la arquitectura barroca da UNESCO. Expressões do neoclassicismo podem ser encontradas na arquitectura de monumentos como a Biblioteca Sir Robert Ho Tung, o Teatro D. Pedro V, o Edifício do Leal Senado, a Santa Casa da Misericórdia. A mistura de tradições canónicas ocidentais foi ainda mais enriquecida pela fusão e integração adicional de conceitos relativos ao contexto cultural asiático, culminando num produto final que corresponde a uma arquitectura vernacular que é específica de Macau. Como exemplos, podem mencionar-se a integração de motivos esculturais temáticos produzidos por artesãos do Japão, Filipinas e China na importante fachada maneirista das Ruínas de S. Paulo, ou mesmo as representações chinesas de temas bíblicos patentes nas pinturas murais do interior da Capela da Guia ou, ainda, a influência mourisca incorporada na arquitectura neoclássica do Quartel dos Mouros, no qual se pode observar uma tipologia que integra arcos inflectidos. Para além de produções resultantes da mistura de conceitos arquitectónicos ocidentais e orientais, existem também exemplos de vários tipos de arquitectura regional chinesa no contexto do grupo dos monumentos históricos apresentados.
O Templo de A-Má é um exemplo típico dos templos tradicionais do sul da China; a Casa do Mandarim surge como um bom exemplo de uma casa do último período da dinastia Qing, enquanto a Casa de Lou Kau é uma construção com características típicas da arquitectura nacional xiguan.
Enquanto testemunho histórico do mais duradouro encontro entre o Ocidente e o Extremo Oriente, Macau apresenta vários casos que se assumem como situações pioneiras resultantes do seu longo processo histórico. As Igrejas de S. Lourenço, Santo Agostinho e S. Domingos são algumas das estruturas católicas mais antigas que ainda mantêm a sua função original na actualidade; o Seminário e Igreja de S. José constituem um dos mais antigos complexos de ensino missionário na China e o mais antigo a permanecer em funcionamento até aos nossos dias; a fachada das Ruínas de S. Paulo é anterior a quaisquer outras ruínas de igrejas em toda a China; as fortalezas de Macau também se encontram entre as construções de carácter militar mais antigas de todo o território chinês. Além destes exemplos, Macau também possui o primeiro cemitério protestante da China. O primeiro teatro de estilo ocidental (Teatro D. Pedro V) e o primeiro farol de modelo ocidental (Farol da Guia) na China, são outras construções que ainda hoje estão em funcionamento.
Em simultâneo, Macau mantém igualmente viva a memória de tradições e técnicas de construção antigas, que, actualmente, já não são, na generalidade, utilizadas, incluindo:
• Técnicas que foram criadas para fins específicos e que já foram substituídas por outras metodologias mais modernas, como por exemplo a produção de um material local denominado “chunambo” (uma mistura feita a partir de uma argamassa contendo terra, areia, palha de arroz e pó de cascas de ostras moídas), utilizado na construção das antigas estruturas militares de Macau;
• Técnicas decorativas que surgiram do contexto multicultural típico de Macau, incluindo a aplicação de pedaços de vidro curvo espelhado em arcos decorativos de janelas e portas, como pode ser observado na Casa de Lou Kau ou na Casa do Mandarim;
• A aplicação de finas placas de madrepérola nas janelas de residências tradicionais chinesas, uma técnica que encontra as suas origens mais remotas na Índia;
• Técnicas tais como a instalação de tectos em madeira perfurada em igrejas, bem como em várias residências tradicionais chinesas, em resposta aos efeitos adversos do clima local, à semelhança de técnicas que podem ser encontradas na América Latina;
• Técnicas de construção, tais como as que são descritas em antigas obras jesuítas, descrevendo pormenorizadamente a estrutura e os elementos decorativos que podiam ser encontrados no interior da antiga Igreja da Madre de Deus, exemplificando a adaptação de métodos de construção chineses para a construção de igrejas, com pilares de madeira maciça colocados no topo de fundações e bases de granito, uma técnica que também pode ser encontrada nos templos antigos de Macau;
• A utilização de tijolos cinzentos chineses e outros materiais locais nos vários monumentos que compõem o percurso rbano, tanto em edifícios de cariz ocidental como noutros de traça arquitectónica chinesa, aludindo a técnicas tradicionais que estão directamente relacionadas com Macau;
• A utilização de cerâmica vidrada em Macau constitui também uma adaptação ao clima tropical local. Esta técnica foi aperfeiçoada por artesãos chineses locais para produzir materiais de construção capazes de aguentar os efeitos adversos do clima sazonal e as condições nefastas verificadas em áreas • A utilização de telhas vidradas de cor vermelho-escuro nas igrejas de Macau, as quais são igualmente aplicadas nas decorações policromáticas dos templos chineses locais. É também importante referir que a arte da cerâmica vidrada e a produção de telhas vidradas chegou a Portugal através de Macau;
• A famosa porcelana azul e branca portuguesa tem raízes em processos artesanais e fórmulas que foram desenvolvidas originalmente na China, inspirando, mais tarde, padrões e desenhos decorativos distintos, ainda que observando as orientações técnicas dos processos de produção chineses, conhecimentos que seriam transmitidos através de Macau.
O Centro Histórico de Macau integra uma grande diversidade de edifícios construídos durante um importante período da História da Humanidade, nomeadamente, no que diz respeito ao capítulo que marca o primeiro e mais duradouro encontro entre as civilizações ocidental e oriental. A arquitectura apresentada incorpora um claro intercâmbio de valores culturais, reflectido na introdução de estilos de edifícios de origem distinta e os próprios pormenores arquitectónicos desses mesmos edifícios. A simbiose subjacente ao intercâmbio social, com influências não só ao nível da arquitectura, mas também ao nível do processo de desenvolvimento urbano da cidade, revela valores estéticos singulares ainda visíveis no ambiente urbano actual.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Comendador Joaquim Morais Alves: 1923-2003

Da esq. para a dir: Pedro Hyman Lobo, Joaquim Morais Alves, Frederico Nolasco, Henrique de Senna Fernandes, Tenente Fontes, Eduardo "Eddie" Batalha da Silva; Sentado: Henrique Nolasco da Silva.
Joaquim Morais Alves nasceu em Vila Real (Portugal) a 25 de Novembro de 1923. Foi para Macau com apenas 16 anos e aí fixou residência até à sua morte tendo-se destacado na vida do território. Era conhecido como o "macaense de Trás-os-Montes". Casou em 1948 com Oláida da Encarnação Couto, natural de Macau, com quem teve 4 filhos: Joaquim Morais Alves Júnior, Carlos Alberto Couto Morais Alves, Victor Manuel Couto Morais Alves e Marília Couto Morais Alves.
No plano cívico-político, foi presidente do Leal Senado, presidente da Comissão de Implementação da Língua Chinesa na Administração de Macau, membro do Conselho Judiciário de Macau, presidente da delegação de Macau da Cruz Vermelha Portuguesa e presidente do Comité Olímpico de Macau. Foi ainda presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses. Foi também deputado à Assembleia Legislativa de Macau em duas legislaturas: 1980-1984, eleito por sufrágio directo pela lista da Associação para a Defesa dos Interesses de Macau (ADIM), encabeçada por Carlos d'Assumpção; e em 1996-1999, nomeado pelo Governador de Macau.
Foi um dos colaboradores próximos de Stanley Hoaté à data da sua morte, secretário-geral da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) e presidente da mesa da Assembleia Geral da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), subsidiária da STDM no sector dos casinos. No plano empresarial, foi também fundador da Companhia de Electricidade de Macau (CEM).
Devido ao seu inestimável contributo para Macau, foi condecorado com o título Cidadão Emérito de Macau pelo Leal Senado. Portugal também o condecorou com os seguintes títulos: Comendador da Ordem do Infante D. Henrique (1973), Grande Oficial da Ordem do Mérito (1995), Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (1999) e Grã-Cruz da Ordem do Mérito (2005). Esta última condecoração foi concedida a título póstumo pelo então Presidente da República Jorge Sampaio, em 2005, numa visita que ele fez a Macau. Justificando esta condecoração, Sampaio considerou que Joaquim Morais Alves «dedicou-se com total abnegação a servir o Estado e a causa Pública. De todos é conhecido pelo seu longo e exemplar percurso no ensino da língua portuguesa e incansável dedicação na preservação das tradições e identidade de Macau».
 Morreu a 27 de Março de 2003 com 79 anos. Nesse dia a agência Lusa escrevia: "A comunidade portuguesa de Macau perdeu hoje uma das suas figuras emblemáticas com a morte de Joaquim Morais Alves, comendador da Ordem do Infante D. Henrique."
Comemoração do 75º aniversário da Fundação do Liceu de Macau, presidida pelo Presidente da República, Almirante Américo Tomás, no dia 24 de Junho de 1969 (Dia de Macau), na Casa de Macau em Lisboa (ao Príncipe Real).Da esquerda para a direita: Comendador Joaquim Morais Alves; o Ministro do Ultramar, Joaquim da Silva Cunha; S. Exa. o Presidente da República, Almirante Américo Tomás; General Flávio dos Santos; Doutor Armando de Oliveira Hagatong.
Foto do site da Casa de Macau em Portugal
Passado poucos meses sobre a sua morte foi alvo de uma homenagem em Macau, acto de que o Jornal Tribuna de Macau deu conta.
"O comendador Morais Alves, um macaense de Trás-os-Montes como gostava de ser chamado, foi alvo de uma homenagem pública promovida pelo Instituto Internacional e sua família. Não serão muitos os homens que, mesmo após o seu desaparecimento, conseguirão reunir tamanhos epítetos elogiosos como os que ontem se puderam escutar no auditório do Instituto Internacional. Joaquim Morais Alves, de quem se fala, conseguiu juntar mais de uma centena de pessoas que se “amontoaram” no pequeno espaço, comungando do mesmo respeito e admiração pela vida e obra de uma figura emblemática de Macau."
PS: o Instituto Internacional de Macau (onde é sócio honorário) tem uma biblioteca com o seu nome 

quinta-feira, 28 de março de 2013

Estrada Governador Albano de Oliveira: Taipa, 1948

O desenvolvimento da construção desta estrada é apresentado no Relatório da Administração do Concelho das Ilhas. A estrada foi construída pelo Repartição Técnica das Obras Públicas para se ligar a fortaleza da Taipa e a Vila da Taipa. Ou seja, fez a ligação e um primeiro aterro entre as duas ilhas que formam aTaipa: a Taipa Pequena e a Taipa grande. O projecto Este começou com um aterro em 1947 e levou alguns anos para ser concluído. Tem 1240 metros de comprimento e recebeu o nome do antigo governador Albano de Oliveira. A 25 de Fevereiro de 1950 foi o próprio governador Albano de Oliveira que presidiu à cerimónia de abertura da estrada e de um novo cais perto da fortaleza da Taipa.
As imagens, do Arquivo Histórico de Macau, foram feitas para o relatório da construção em 1948.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Bilhete postal: 1898

Enviado de Macau a 5 de Março de 1898 este postal enviado por correio marítimo chegou a Hannover (capital da Baixa Saxónia, Alemanha), menos de um mês depois, a 13 de Abril. Demorou pouco mais de um mês o que, para a época, é muito rápido. Deve ter tido 'sorte' na ligação marítima a partir de Hong Kong e por certo seguiu na chamada "mala alemã". Trata-se de um bilhete postal de 20 réis impresso em Portugal para a Província de Macau e Timor e em Macau foi 'carimbado' com a quantia de 3 avos.
PS: tal como em todas as imagens, ao clicar sobre a mesma, pode ver em tamanho maior.

terça-feira, 26 de março de 2013

"Adé": 20 anos depois da morte

José dos Santos Ferreira, mais conhecido por Adé, morreu há 20 anos, mas o seu legado não. No blog, que ele chamaria de "Macau di tempo antigo", reproduz-se um dos seus poemas mais conhecidos (em patuá e em português).
Pa vôs, Macau quirido, pequinino,
Nêsga de chám pa Dios abençoado
Macau cristám, qui fórça di destino
Já botá, na caminho alumiado;
Pa vôa, iou pensá vêm co devoçam,
Rabiscá unga poéma di amôr,
Enfeitado co vôs na coraçam
Pa têm mercê di bença di Sinhôr.
Para ti, Macau querida, pequenina,
Nesga de terra por Deus abençoada,
Macau cristã, que a mão do destino
Colocou no caminho iluminado;
Para ti, pensei vir com devoção,
Compor um poema de amor,
Contigo enfeitado no coração,
E assim merecera bênção do Senhor.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Fragata João Belo: 14 a 24 Março 1970

"Há cinco anos que Macau não era visitada por vaso de guerra português. Por esse motivo a estada da fragata «João Belo» no porto exterior de Macau, tem sido muito festejada pela população que acolhe com particular simpatia os nossos marinheiros."  
Diário de Notícias - 24.03.1970
Jornal de Hong Kong "The Star" - 20.03.1970

domingo, 24 de março de 2013

Selos: impostos, taxas e outros

Início século XX
meio avo e 4 avos
Contribuição industrial: inicio séc. XX
ca. 1919
Bilhete Postal enviado de Macau para Portugal pela "mala allemã" em Maio de 1905
10 avos 'transformados' em 5 avos

sábado, 23 de março de 2013

O fim das negociações da Declaração Conjunta

A 23 Março de 1987 Portugal e a China chegam a acordo sobre a transferência da soberania de Macau a 20 de Dezembro de 1999, no fecho da quarta ronda de negociações.
O livro "Rumos de Macau e das Relações Portugal – China (1974-1999)” integra as intervenções de dois ex-ministros dos Negócios Estrangeiros (José Medeiros Ferreira e Pedro Pires de Miranda), quatro ex-governadores (Garcia Leandro, Pinto Machado, Carlos Melancia e Vasco Rocha Vieira), um embaixador em Pequim, que também liderou a parte portuguesa do Grupo de Ligação Conjunto Luso-Chinês (Pedro Catarino) e dois investigadores (Luís Filipe Barreto e Moisés Silva Fernandes), no âmbito de um seminário organizado pelo CCCM.
Segue-se um excerto da intervenção do Eng.º Pires de Miranda sobre o enquadramento das negociações que conduziram à assinatura da Declaração Conjunta a 23 Março 1987.
“Fizemos ver aos chineses que o acordo de Hong Kong não se podia aplicar a Macau. Era um problema diferente, porque a nossa presença não tinha resultado de ‘tratados desiguais’, guerras do ópio e de ocupações e coisas desse género. A nossa presença em Macau tinha sido consentida, havia quase 500 anos. Não era uma colónia, ao contrário de Hong Kong. Havia eleições, condicionadas é certo. E todas estas e outras especificidades tinham que ser consideradas. Aceitámos a ‘estrutura’ do acordo de Hong Kong, mas só isso. A Lei Básica da nova região seria feita pelos chineses, mas os nossos pontos de vista tinham que ser nela considerados e incluídos na Declaração Conjunta. Fizemos então um esquema das matérias e questões que nos interessava tratar e dos pontos de vista essenciais e daqueles em que poderíamos ter flexibilidade em ceder. Não nos interessavam preâmbulos de tratado que dissessem que no passado as relações eram más, com imposições coloniais, referências a tratados desiguais, etc. Teríamos apenas de dizer que queríamos resolver um problema que a História nos tinha legado. Queríamos que em Macau existisse um regime democrático, com os ingredientes conhecidos, adaptados às circunstâncias locais, devendo isto constar na lei. Queríamos que houvesse uma separação de poderes, com um ‘judicial independente’, com recurso de última instância em Macau. Queríamos que a maneira de viver se mantivesse, usando o conceito de ‘um país, dois sistemas’ e que os interesses específicos dos habitantes de Macau fossem acautelados. Nesta área de interesse específico incluíamos a liberdade religiosa e de prática de culto, o ensino livre, nomeadamente o católico, e a ligação da Igreja de Macau ao Vaticano. Acordámos os contornos essenciais da futura ‘Lei Básica’, assegurando o que nos pareceu essencial. Ficou estabelecido que a China não faria interferências em Macau, durante o período de transição até à transferência da Administração. Em anexos I e II fizeram-se os esclarecimentos sobre aspectos a constar na ‘Lei Básica’. Houve que fazer um trabalho de detalhe muito grande. Os chineses eram minuciosos e nós também. Havia que pôr certas matérias bem claras, outras menos. No caso da religião, um texto que fosse aceite e que mantivesse a liberdade de culto e a sua prática pública. E, finalmente, havia que encontrar uma solução para a questão da nacionalidade e para a data da transferência, ponto importantíssimo para os chineses, que queriam fazê-la coincidir com a de Hong Kong. Nas conversações com o Sr. Zhou Nan fiz-lhe ver que esta solução não era aceitável face às circunstâncias portuguesas, mas certamente que seríamos razoáveis. Desejávamos um período de transição, o mais longo possível, dentro do razoável. Havia uma corrente de opinião em Portugal que pretendia que a transferência se fizesse em data bem já dentro do século XXI, para que a nossa presença fosse de 500 anos. E esta ideia passou para a imprensa. Os chineses reagiram ferozmente. Mas eu expliquei à parte chinesa que o Governo não controlava os jornais e que a posição oficial portuguesa era diferente. O que se pretendia era obter uma transição que permitisse consolidar em Macau o sistema existente, modernizar e dinamizar o território de molde a assegurar um futuro próspero. Os chineses tinham pressa em acordar uma data, pois queriam no próximo Congresso do partido (que se reúne de três em três anos) tratar do assunto de Macau. Compreendi também que os chineses não aceitariam uma data muito distante da de Hong Kong. Propusemos então que deveríamos dispor de um período de 12/13 anos para a transição, para realizar nos nossos planos para Macau. Sabíamos que para lá de Dezembro de 2000 os chineses não negociariam. Essa data limite servia os nossos propósitos.
 Depois de muitas e difíceis negociações, acordou-se para a data de passagem da Administração o dia 19 de Dezembro de 1999. Foi assim possível, tendo em atenção a pressa política dos chineses e os nossos interesses, chegar a este compromisso, aceitável para as duas partes: para eles, podiam aprovar em Congresso, em Março de 1987, o acordo que passava a Administração para a China, antes do fim do século; para nós, tínhamos obtido boas condições e tempo para as implementar. Antes da rubrica do Acordo fizeram-se as reuniões que se impunham. O Sr. Presidente da República convocou o Conselho de Estado, que deu o seu acordo ao negociado. Entretanto, o Sr. Primeiro-ministro e o Ministro dos Negócios Estrangeiros tiveram reuniões com os partidos políticos, que foram informados do andamento das negociações e das principais linhas que se tinham seguido. 
Alguns dos pontos acordados não constavam da Declaração Conjunta, nem nos Anexos, mas estavam registados nos ‘procés verbais’, o que tem a validade que tem... Tratava-se da construção do Aeroporto, do caso do Banco Nacional Ultramarino, do Fundo de Pensões, etc. Mas, como quase sempre acontece em negociações (políticas ou comerciais), desta complexidade, surge no último momento uma complicação inesperada e insolúvel, que parece pôr tudo em causa. Foi o que sucedeu com o problema da nacionalidade, que só foi resolvido na véspera (durante a noite) da rubrica do Tratado. O problema foi resolvido pela introdução de declarações, anexas ao tratado, de ambas as partes, em que cada uma fez a interpretação possível, que lhe era mais conveniente, esperando que, na prática, tudo corresse com bom senso. É que nós não podíamos dizer que todos os chineses que viviam em Macau eram portugueses, nem os chineses aceitavam que todos os habitantes com passaporte português fossem portugueses. Obteve-se uma solução ambígua, com que ambas as partes se satisfizeram e que, na prática, até agora, não tem tido dificuldades em ser usada. O acordo foi rubricado em Pequim, em Março de 1987, e a cerimónia da assinatura teve lugar em 13 de Abril de 1987, também em Pequim”.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Repartição do Expediente Sínico: 1885


A Repartição do Expediente Sínico, criada pelo Decreto de 2 de Novembro de 1885, publicado no Boletim da Província de Macau e Timor, em 22 de Março de 1886 (na imagem) tinha como missão:
- Fazer a tradução para português de documentos escritos em chinês e vice-versa, quer relativos às relações com a China, quer relativos às repartições públicas de Macau;
- Fornecer ao Governador, sempre que fosse solicitado, intérpretes para traduções orais do dialecto cantonense e língua mandarina;
- Destacar intérpretes de língua chinesa para comissões de serviço, fora de Macau, sempre que o Governador o determinasse;
- Fornecer intérpretes às outras repartições públicas para o trabalho de tradução de escritos chineses;
- Enviar intérpretes para traduções orais a qualquer repartição, onde tivesse que comparecer alguma autoridade chinesa;
- Arquivar os originais dos ofícios vindos das autoridades chinesas e as cópias em língua chinesa dos que fossem enviados, bem como as versões chinesas de todos os documentos que não fossem publicados em Boletim Oficial e que não fossem arquivados noutras repartições;
- Traduzir os documentos a serem publicados em Boletim Oficial e rever as provas tipográficas dos mesmos.
Manuel Pinheiro Chagas, secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar justifica esta criação desta forma: "Com o extraordinario augmento da população chineza de Macau nos ultimos annos, o expediente sínico a cargo da 1ª secção da procuratura dos negócios sínicos, tem crescido por fórma que se torna indispensavel attender ás reclamações apresentadas officialmente pelo governador da provincia de Macau e Timor, sobre a falta de pessoal que o desempenhe com a devida regularidade (...)."
De acordo com o decreto os intérpretes de 1ª classe deviam possuir o conhecimento perfeito da língua chinesa escrita; da língua mandarina; do dialecto cantonense e das línguas francesa e inglesa. Os de 2ª classe deviam possuir o conhecimento perfeito da língua chinesa escrita e do dialecto cantonense. O letrado china devia estar habilitado também a ensinar a língua mandarina, uma vez que os intérpretes de 2ª classe deviam estudá-la e fazer os respectivos exames, em cada semestre dos três primeiros anos, depois de admitidos ao quadro da Repartição. O Governo de Macau ficava autorizado a subsidiar os estudos da língua chinesa escrita a indivíduos que quisessem integrar o quadro da Repartição.
Pedro Nolasco da Silva (1842-1912) foi o primeiro chefe desta repartição (de 1885 a 1892)
A partir de 1877 fora criado em Macau um tribunal especial para resolver os diferendos apresentados pela comunidade chinesa. Colocou-se então o problema da comunicação... Era preciso que os chineses percebessem a lei portuguesa e para isso era imperioso que se desse conhecimento da mesma em língua chinesa. Anos antes, atendendo às "frequentes relações que as suas auctoridades têem com as do imperio chinez" e à "especialidade da sua população", o ministro encarregado dos negócios da marinha e ultramar, Marquês de Sá da Bandeira, decretara a criação "de um corpo de interpretes de língua sinica, apto para o exercicio das funções que lhe forem incumbidas". Este corpo era composto de um intérprete de 1.ª classe, um de 2.ª classe e "dois alumnos interpretes".

quinta-feira, 21 de março de 2013

António Patrício: 1878-1930


António Patrício, escritor e diplomata, nasceu no Porto em Março de 1878 e morreu em Macau em Junho de 1930.
Foi estudante de matemática no Porto e frequentou a Escola Naval de Lisboa.Em 1908 conclui o curso de Medicina na Escola Médica do Porto. profissão que nunca exerce. No ano de 1911 ingressa na carreira diplomática ao ser nomeado cônsul de 2ª classe em Cantão onde esteve durante dois anos. Passa por diversos países (Reino Unido, Venezuela, Brasil, Alemanha, etc) até que regressa a Portugal em 1928. Dois anos depois, em Março de 1930, é nomeado ministro de Portugal em Pequim, cargo que não chega a ocupar, vindo a falecer à chegada a Macau a 4 de Junho de 1930.
A sua actividade literária (dramaturgo, contista, poeta) começa em 1905. Deixou uma obra marcada pelas influências de Nietzsche, Maeterlinck e D'Annunzio, bem como pelas correntes literárias do simbolismo, decadentismo e saudosismo.
Sugestão de leitura:
"António Patrício - Um Diplomata Republicano Liberal", de Jorge Carvalho Martins, INCM, 2000. O livro tem por base a dissertação de Mestrado defendida pelo autor (mestre em História Contemporânea), em 1995, na Faculdade de Letras de Lisboa.
Acaba de ser editado em Macau (COD Edições) um livro intitulado "Fragmentos Poéticos" com textos inéditos de António Patrício. Os textos compilados foram entregues a Luís Sá Cunha por José Augusto Seabra – autor do prefácio – que por sua vez os obteve da mão de António Braz Teixeira. “A obra dispersiva de António Patrício, escritor de errâncias fugidias, cuja órbita ultrapassou o fim do último século e o primeiro terço actual, entre as suas missões de diplomata discreto e as solicitações intermitentes da poesia, da ficção e do teatro, deixou como se sabe um rasto fascinante mas difuso, que se foi pouco a pouco delineando nas suas derivações. Uma delas, que não tem merecido, quanto a nós, a atenção devida, é a da escrita aforística, a qual marginou recorrentemente as vivências e as experiências estético-literárias de um autor de pendor reflexivo, em que se detectam ecos filosóficos – nietzchianos, nomeadamente, por ele próprio citacionalmente indiciados – com repercussões transtextuais nos seus discursos poético, narrativo e dramático. Da sua leitura ressaltam por vezes, com uma luminosidade ofuscante, reverberações de sentido que manifestam a intencionalidade criadora de muitos dos seus livros”, escreve José Augusto Seabra no prefácio do livro.

quarta-feira, 20 de março de 2013

The Chater Collection


The Chater Collection: Pictures relating to China, Hong Kong, Macao 1655-1860 with historical and descriptive letterpress by James Orange. Neste livro editado em Londres em 1924 (apenas 750 exemplares) reúnem-se cerca de 30 imagens de Macau desde o século 17 ao final do século 19.
A sua origem remonta a Sir Catchick Paul Chater (1846-1926) nascido em Calcutá mas que em meados do século XIX se tornou um homem de negócios bem sucedido em Hong Kong, onde foi um político de destaque desde 1896 até à sua morte em 1926. 
Ao longo da vida reunião centenas de ilustrações, quadros, cerâmicas e demais objectos de arte chinesa que resolveu doar a Hong Kong.
O curador deste espólio foi James Orange a quem se deve a edição deste livro. Macau ocupa o capítulo VII. Os textos e as imagens vão da pág. 271 à 317.
Catchick Paul Chater was a prominent british businessman of armenian descent in Hong Kong. Chater amassed a large collection of historical pictures and engravings relating to China which he gifted to the colony. 
The Chater Collection was subject to a work by its curator, James Orange, in 1924, at which time the collection stood at 430 items. Its backbone was the collection of Wyndham Law of the Chinese Maritime Customs Service, and included oil paintings, watercolours, sketches, prints and photographs, most of which are based on landscape scenes of the South China trading ports in the 18th and 19th centuries, and of British activities in China. 
The Chater Collection was dispersed and largely destroyed during the japanese occupation, and only 94 pieces (now an important part of the collection of the Hong Kong Museum of Art) are known to have survived.
Ilustração de Macau no século 17  e Paul Chatter em 1924
Ilustração do século 17 
Vista do Porto Interior ca. 1780 (zona templo A-Ma) 
Praya Grande por Chinnery ca. 1830
 Desenho da entrada do Palácio do Governo em 1845
 Desenho de uma "casa europeia" por Chinnery  em 1844
 Praya Grande 1847
Vista da Praya Grande em 1845
Mapa de 1840