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sábado, 8 de dezembro de 2012

Circum-navegação pelo Aviso "Afonso Albuquerque"

Final década 1940: o aviso "Afonso Albuquerque" sem equipamento militar
“Aquele ano de 1960 tinha começado normalmente. Os cadetes do Curso D. Lourenço de Almeida preparavam-se para concluir o 3º semestre do seu curso, o que deveria acontecer até ao fim de Fevereiro. Todos nós sabíamos que no programa de ensino da Escola Naval, o 4º semestre correspondia a uma viagem de instrução. No entanto, apesar de nos aproximarmos rapidamente de Março confesso que não notei que houvesse grande dramatismo com o caso, correndo às vezes notícias desencontradas a que se não dava grande importância. Até que numa tarde, quase no fim de Fevereiro, encontrando-nos a jogar futebol no campo da Base Naval, vejo descer a correr pela rampa do topo sul o meu primo, 1º ten. Martins Salvador, nosso professor na Escola Naval, gritando “Luís, Luís-vocês vão dar a volta ao Mundo!… (…) aproveitando as Comemorações do V Centenário da morte do Infante D. Henrique que ocorriam em 1960, era proporcionado aos cadetes do curso D. Lourenço de Almeida uma viagem de circum-navegação… (…)
Em Macau foi pena termos de ficar no Porto Exterior a 4 milhas de terra. A ligação era feita por um rebocador que ia lançando fagulhas, que com o tempo chuvoso que apanhámos quase sempre, nos sujava as fardas permanentemente. Estivemos pouco tempo em Macau, mesmo assim deu para visitar os pontos mais importantes da cidade, desde o Farol da Guia até à Porta do Cerco, às ruínas da Igreja de S. Paulo e à gruta de Camões e às instalações da Marinha. Circulámos no Centro e tivemos uma recepção no Leal Senado e uma pequena festa no Clube Militar e ainda tivemos tempo de ir uma noite ao velho Casino Central, experimentar aquele ambiente de fumos e odores exóticos. Macau em 1960 tinha casas relativamente baixas e não havia nenhuma construção moderna, como as que vieram a ser construídas no último quartel do século XX. Ficámos um pouco surpreendidos com a reduzida percentagem da população que falava português. Tirando o pessoal dos correios, da polícia, e das funções oficiais, poucos mais falavam a nossa língua.”
Excerto da comunicação apresentada na Academia de Marinha pelo Membro Efectivo
Contra-Almirante EMQ José Luís Roque Martins em 14 de Dezembro de 2010
Esta viagem a bordo do aviso de 1ª classe “Afonso de Albuquerque” iniciou-se em 18 de Março de 1960 mas o aviso ficaria em Goa onde os cadetes foram transferidos para o “Bartolomeu Dias” que regressava a Lisboa. O "Afonso" não voltaria (ver abaixo).
O aviso de 1.ª classe «Afonso de Albuquerque» foi construído em 1934, em Newcastle (Grã-Bretanha). Concebido para servir no Ultramar, foi aumentado ao efectivo em 1935. A sua participação na História do país iniciou-se em 1936 quando, tomado pela sua guarnição (de 229 homens), vê-se envolvido na revolta dos marinheiros da Organização Revolucionária da Armada. Esta sublevação realiza-se, também, a bordo do navio «Dão», que se junta a este na contestação ao regime de Salazar. O «Afonso de Albuquerque» acaba por ser bombardeado, como retaliação de um governo que não admite revoltas.
Entre 1938 e 1939, este aviso de 1.ª classe efectuou uma série de viagens de representação ao Ultramar. Apesar da neutralidade portuguesa assumida na II Grande Guerra Mundial, este navio cumpriu algumas missões de soberania, durante o conflito. Assim, realizou inúmeras comissões na Índia, Moçambique, Timor e Extremo Oriente (Macau). Após regresso à Índia em 1960, desempenha, neste território, um dos seus principais papéis.
No dia 18 de Dezembro de 1961, perante a invasão dos territórios portugueses de Goa e Diu, pelas forças da União Indiana, envolve-se num combate de grandes dimensões, confrontando-se com uma força naval inimiga. Sob o comando do capitão de mar-e-guerra António da Cunha Aragão, trava um combate desigual com uma esquadra indiana, constituída por dois contratorpedeiros e quatro fragatas, que se encontrava a bloquear o porto de Mormugão. Acabou afundado. Depois da guerra foram removidos os quatro canhões anti-aéreos de 40mm que foram substituídos por oito canhões de 20mm. Além deste equipamento e do armamento principal (quatro peças de 120mm) estava ainda equipado com duas peças de 76mm. À semelhança do "Bartolomeu Dias".

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