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sábado, 24 de novembro de 2012

Duas sugestões de leitura

Emissão filatélica de 2012
Os seus contos e romances remetem para o domínio da ficção mas as suas memórias e descrições são bem reais... Por isso, ler Henrique de Senna Fernandes (1923-2010) é conhecer Macau e a sua história...
"Desceu a pequena encosta, atravessou os campos relvados do Tap-Seac, sob o sussurro dos bambuais e das acácias enfloradas de vermelho, e chegou às hortas de Long Tin Chun, correndo à sombra dos plátanos meditabundos. Em seguida, abriu-se a zona da Flora, calma e bucólica, longe dos ruídos citadinos. (...) 
O lago da Flora era um espelho esverdeado cintilando revérberos de prata. Novamente suspirou e respirou a largos haustos a pureza campestre do sítio. (...)
O palacete do Governador espreitava, corno urna mancha cor-de-rosa, no meio dum pequeno parque (...) Ladeou o jardim de Senna Fernandes donde partiam vozes de adultos e da criançada, com piquenique, cortou os atalhos sussurrantes da Montanha Russa e parou no alto da Rampa dos Cavaleiros que ligava à Areia Preta. O mar, em baixo, rumorejava por entre os recifes, subindo e descendo com espuma branca, a Praia da Boa Vida e a do Horto do Colaço e os que se seguiam até à Porta do Cerco e além. (...) Em contraste, o cemitério ingles dormitava, melancólico e contemplativo. Mais ao longe, ao alto da colina de Mong-Há, o perfil escuro da fortaleza, onde dropejava à aragem da tarde, a bandeira azul e branca."                                                                                     in Amor e Dedinhos de Pé
Calçada do Tronco Velho: década 1940
Estava um belo dio de outono para a pesca, o céu límpido, a paisagem toda iluminado de tons metálicos, como só acontece nos meses de Ontubro e Novembro. (...) Respirou fundo a brisa matinal, a Estrada da Victória era uma recta dourado e não viu nenhurn riquechó. Não se sentiu contrariado, cortou o Jardim de Vasca da Gama, ladeando os chafarizes, onde os fios de água prateada saltitavam, como garotos irrequietos. Para encortar caminho, dobrou a prirneira esquina, internando-se no área do Cheok Chai Un.(...) Chegou, sem novidade, à zona do poço, numa hora de grande actividade, os aguadeiras e lavadeiras a puxar os baldes ou formando bicha num burburinho de vozes que soavam alegremente. 
E todo teria passado despercebido, não ficando nada na memória, senão um quadro inédito, se, nesse instante, não espadanasse uma gargalhadinha moça e sadia e a evolar-se pelo ar, muito perto. Deteve-se, primeiro curioso, depois com súbito interesse pela belezoa rústica donde partia o riso. Gostou do que viu. Nunca contemplara uma moça tão atraente, de pé descaIço, e nem podia adivinhar que num bairro de ‘facínoras e desordeiros” entesourasse uma bela jóia como aquela. Nunca vira, também, uma trança igual, tão preta que fulgia ao sol. A-Leng, porque era ela, captou o interesse e teve a desagradável sensação de ser escrutinada da cabeça aos pés. Não estava habituada a um exame tão atrevido, sobretudo, dum estranho e demais 'kuailou'. Mais perturbada que irritada, resolveu afastar o insolente, à vista das companheiras".          in Trança Feiticeira

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