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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Uma história de amor no séc. XVIII

As personagens são figuras da História de Macau e os acontecimentos ocorreram há 300 anos mas, pelos actuais padrões seriam, para além de uma tentativa de homicídio, um problema de pedofilia.
Nesse tempo, Macau vivia numa grande recessão que durou quase todo o século XVIII. Em 1706, chegou a Macau numa fragata o capitão de Infantaria, António de Albuquerque Coelho, e logo se apaixonou por Maria de Moura, de sete anos de idade, que era muito rica. Mas a criança tinha outro pretendente, o fidalgo D. Henrique de Noronha, que estava determinado a desfazer-se do seu rival. Maria de Moura Vasconcelos nascera em 1699 e era filha do comerciante Francisco de Moura e Bastos, que faleceu em 1702, e de Isabel de Vasconcelos, que pouco tempo depois também faleceu, sendo a órfã confiada à sua avó materna, Maria Vasconcelos. O capitão Albuquerque Coelho regressou a Goa na mesma fragata e dali foi enviando cartas tanto para a sua amada, que as recebia via o seu tutor, como para os padres jesuítas.
O capitão regressa a Macau em 1708 e continuou a cortejar a pequena de nove anos, tendo pelo seu lado o tutor dela, o bispo D. João do Casal e os jesuítas. Os adversários eram a avó da órfã, o Juiz dos Órfãos, Manuel Vicente Rosa, o Ouvidor, João Carneiro Zuzarte e D. Henrique de Noronha que também andava embeiçado pela pequena e tinha a preferência da avó, Maria de Vasconcelos.
Mas Albuquerque Coelho tinha protectores nas altas esferas eclesiásticas. A 30 de Junho de 1709, celebra-se o noivado de Albuquerque Coelho e Maria de Moura. Nesse mesmo dia, o bispo D. João do Casal mandou retirar Maria de Moura da casa da avó e depositá-la em casa de Pedro Vaz de Sequeira e de Maria Catarina de Noronha (uma das famílias mais importantes, que deu muitos governadores de Macau) até se realizar o seu casamento com Albuquerque. Desesperado, D. Henrique resolveu desfazer-se do seu rival.
No dia 18 de Setembro de 1709, Albuquerque Coelho vinha a cavalo pelo campo de S. Francisco e foi atacado por um cafre, com um tiro de bacamarte que falhou o alvo. Enquanto perseguia o atacante, já na rua Formosa, é atingido por um outro tiro, disparado por D. Henrique de Noronha da janela duma casa, onde hoje é o Centro Católico. Foi ferido no braço direito, acima do cotovelo.
António de Albuquerque Coelho ferido foi recolher-se ao Convento de S. Francisco. Ao chegar próximo da escadaria do edifício, outro cafre atirou-lhe um tiro que, mas tal como o primeiro, não lhe acertou. Ainda conseguiu pelos seus pés entrar no convento, mas já foi preciso ajudarem-no a apear-se. Os frades recolheram-no no convento, onde o cirurgião da cidade, António da Silva e o cirurgião da fragata Nossa Senhora das Neves, que era cafre, o atenderam.
Correu logo a notícia do atentado e o governador de Macau, Diogo de Pinho Teixeira, mandou buscar à outra banda o Ouvidor, que lá se estava divertindo e ordenou-lhe que prendesse D. Henrique de Noronha, mas este já se tinha escondido no Convento de São Domingos, que foi imediatamente cercado. No dia seguinte, o governador ordenou que se fizesse uma busca em todo o edifício. Também não encontraram D. Henrique que, durante a noite fugira para as casas do Patriarca de Antioquia, Charles Thomas Maillard De Tournon, para os lados da Barra, e assim se refugiou debaixo da protecção do representante do Papa, que na China e aqui em Macau causou grandes tormentas ao Padroado Português e nas relações dos chineses com o Cristianismo. Ali o iam visitar os amigos e todos os da sua parcialidade. A autoridade não tentou tirá-lo de lá.
A avó da órfã, pede em 28 de Novembro de 1709 ao Senado que lhe assegurassem sua neta por ter indícios de que António de Albuquerque Coelho a pretendia levar furtada para Goa. O Ouvidor João Carneiro Zuzarte e o juiz dos órfãos também se opuseram a este depósito e o senado apoiou-os. Logo o bispo D. João do Casal queixou-se ao Vice-rei da Índia. Mas em 17 de Dezembro de 1709 o Senado resolveu indeferir o pedido de ajuda por parte da avó da criança, que nessa altura andaria pelos nove anos de idade. A resposta do Vice-rei à queixa do bispo é de 7 de Maio de 1710, através de uma carta régia que remete ao Senado, verberando o “enjusto procedimento com q’ o juiz dos Orphãos e o Ouvidor dessa Cidade se houverão em quererem alterar o depozito que tinha mandado fazer o bispo da Orpham Maria de Moura de Vasconcellos”. O Rei ordenou que o Ouvidor e o Juiz dos Órfãos fossem suspensos dos seus cargos.
O casamento de António de Albuquerque Coelho com Maria de Moura, que tinha 11 anos de idade, realizou-se na noite de 22 de Agosto de 1710 na capela da casa do Campo de S. Francisco, por ordem do governo pelo julgar ali seguro pois ali estava aquartelada a Infantaria de Goa. No receio de que mesmo ali houvesse um ataque, o comandante da fragata, o capitão Jerónimo de Melo Pereira, mandou destacamentos de marinheiros e da Infantaria da fragata de Goa fazerem a guarda da capela para protecção de Albuquerque Coelho e de Maria de Moura.
Julgando Francisco Leite Pereira, tio da noiva e amigo de D. Henrique de Noronha que vivia em sua casa, que este casamento se iria realizar na igreja de St.º António foi esperar o noivo para o matar, porém o plano ficou logrado. A tensão era contínua. Mas quando a fragata partiu para Goa, Albuquerque Coelho ficou em Macau e a 23 de Dezembro de 1711, figura já no Conselho de Homens-Bons e senhorios de barcos. No penúltimo dia de Fevereiro de 1712 nasceu ao casal a filha Inês, que morreu sete dias depois, a 5 de Março. Foi sepultada no dia seguinte na igreja de S. Francisco com grande acompanhamento do povo e da tropa, que deu três descargas ao baixar à sepultura, enquanto a Fortaleza de S. Paulo deu uma salva de nove tiros. Em 1712 é Vereador do Senado e em 1713 Juiz ordinário.

Largo de Sto. Agostinho
A 20 de Julho de 1714, Maria de Moura deu à luz um filho, o que foi comemorado com grandiosas festas que a Voz do Passado descreve: “No dia 23 mandou fazer comédia à sua porta e em 26, correrias a cavalo e muitos outros divertimentos”. Foi baptizado no dia 27 na igreja de Sto. António, tendo assistido ao acto o Governador António Sequeira de Noronha com duas companhias de soldados. À entrada da igreja houve salva de 7 tiros feitos da Fortaleza de S. Paulo, e à saída, onze tiros. (Jack M. Braga)
Mas Maria de Moura morreu quatro dias depois, a 31 de Julho. Com grande pompa e grande acompanhamento foi sepultada na mesma cova onde já estavam a filha e o braço direito do marido na igreja do Convento de S. Francisco, acompanhada de ofícios e dobre de sinos.
Os conflitos continuavam, acirrando a animosidade entre Vicente da Rosa e Albuquerque Coelho. Em Outubro de 1712, a mando do Senado, Manuel Vicente Rosa foi preso pelo Vereador Albuquerque Coelho, por se recusar a pagar ao Senado a dívida do seu cunhado, o falecido António da Cruz, quando barco deste não foi vendido a um arménio por recusa do Senado. Em 1714 foi a vez de Vicente da Rosa (que fora nomeado Ouvidor a 9 de Maio desse ano) de mandar prender António de Albuquerque Coelho, na Fortaleza da Guia, acusando o seu grande inimigo de abuso de autoridade. Albuquerque Coelho, a 22 de Setembro de 1714, protestou contra a sua prisão em carta dirigida ao próprio Ouvidor Vicente Rosa, alegando que fizera isso por paixão, “como inimigo declarado seu, já de cinco anos a esta parte”.
Quando chegou ordem do Vice-rei para mandarem para Goa António de Albuquerque Coelho para não prejudicar a inquirição das suas culpas, o ouvidor Manuel Vicente Rosa, seu inimigo declarado, mandou-o prender na Fortaleza da Guia, para o ter seguro e assim o poder remeter para a Índia. Albuquerque deve ter partido de Macau para Goa em Dezembro de 1714 e aí vivia no ano de 1717, quando foi nomeado governador de Macau pelo primaz de Goa, D. Sebastião de Andrade Pessanha. Como o barco escalonado para o transportar de Goa a Macau, zarpou do porto sem ele, a viagem, que começou no dia 2 de Junho de 1717, foi longa e cheia de peripécias. Apenas chega a Macau numa embarcação chinesa em 29 de Maio de 1718. No seguinte dia, 30 de Maio, tomou posse como Governador de Macau, lugar que ocupou até 9 de Setembro de 1719. Regressando a Goa, foi depois nomeado Governador de Timor (1722-1725).
Ao regressar de Timor a 29 de Setembro de 1725, passou por Macau onde se alojou em S. Francisco. Em 23 de Novembro mandou celebrar um ofício solene nessa igreja por alma de sua mulher; dobrando todos os sinos, houve salva na Fortaleza do Monte. Mandou abrir a cova e recolheu os ossos numa urna, onde depôs o seu braço e os restos mortais da sua mulher e de sua filha Inês. Esta urna foi trasladada da igreja de S. Francisco, onde foi encontrada por ocasião da demolição da igreja e do convento, para a capela-mor de S. Agostinho, onde ainda se encontra encaixada na parede direita da capela-mor. A lápide tem esta inscrição: “Nesta urna estão os ossos de D. Maria de Moura e Vasconcelos e sua filha D. Ignes e os do braço direito de seu marido António de Albuquerque Coelho que aqui a fez depositar vindo de Governador e Capitão Geral das ilhas de Solor e Timor no ano de 1725”. (ver imagem)
Numa carta escrita a 25 de Janeiro de 1746 pelo Vice-Rei, Marquês de Castelo Novo ao Rei lê-se: “António de Albuquerque Coelho governou Angola e as Minas, de idade 60 anos viúvo sem sucessão. Ocupou vários postos com boa reputação e valor. Com patente de General governou Timor, Macau e Paté (Zanzibar) com prudência e acerto”. Passou a General de Bardez de que fez desistência para recolher aos franciscanos na Província da Madre de Deus onde faleceu alguns anos depois.
Há uns 150 anos, este episódio de amor ainda era comentado e no patois local: “amor de antigo san amor divera nunca san comi di hoje” e terminava: “amor nunca san brinco – olá, pegá, largá”: isto quer dizer: “O amor antigo é amor de verdade, nunca é como o de hoje”...”o amor não é uma brincadeira – olhar, pegar, largar”.
Artigo da autoria de José Simões Morais publicado no JTM de 9-11-2011

Mapa de origem holandesa representando Macua no séc. XVIII
Sobre este mesmo tema o Padre Manuel Teixeira deixou o seguinte texto:

Na parede do lado direito da Capela-Mor da Igreja de S Agostinho, há uma urna com os ossos de Maria de Moura e Vasconcelos e de sua filha Inês e do braço direito de António de Albuquerque Coelho. Outra lápide encontrada em 16 de Dezembro de 1955, na Capela-Mor, diz: «À memória de Joaquim Carneiro Machado Castelo Branco, capitão-de-mar-e-guerra da Armada Real de Goa, professo na Ordem de Cristo, que nasceu na cidade do Porto e faleceu em Macau, a 28 de Maio de 1799; no ano de 1805, D. R. Castelo Branco ofereceu, dedicou e consagrou esta lápide».
Maria de Moura Vasconcelos
Maria de Moura nasceu em Macau em 1699, sendo filha do comerciante Francisco de Moura e Bastos e de sua esposa, Isabel de Vasconcelos, neta de Manuel Rombo de Carvalho e de Maria de Vasconcelos. Francisco Bastos faleceu aí por 1702, deixando sua filha de 3 anos; sua esposa devia ter falecido pouco depois, pois a órfã foi confiada a sua avó Maria de Moura.
Manuel da Silva Mendes, num trabalho histórico sobre «Macau antigo», ao falar de Maria de Moura, mistura alhos com bugadoras e tece um enredo romanesco, que é pura fantasia. Escreve ele: «As claristas, pregadoras mudas, ensinavam meninas; e todas as meninas macaenses ricas iam lá beber o leite da sabedoria. Letras maiores--latim, retórica, o mais difícil do «trivium» e do quatrivium» (excepto a música)eram franciscanos dali ao pé que ministravam.
As crónicas do convento não deixaram registrados os nomes das meninas ali abeberadas: apesar disso, uma que deu grande conta de si e que falar, os livros mencionam. Já disse o nome dela: Maria de Moura e Vasconcelos. Era esta menina filha de um tal Vicente da Moura e Vasconcelos, homem que enriquecera no trato. Da mãi o nome ignora-se, sabendo-se apenas que, tendo-a criado a seus peitos com cuidados extremosos, a deixou órfã em tenros anos ao cuidado de sua sogra, senhora virtuosa e de avançada idade.
De nada se tendo alevantado este Vicente, chegou a ser peloseu trabalho honrado, um dos ricaços de Macau e a ocupar cargos de proeminência, como então era da regra e jus que ocupassem as pessoas pecuniosas, e hoje também é.
Doía a Vicente, porem, seu plebeismo, principalmente quando se via entre fidalgos que entroncavam suas linhagens uns em Carlos Magno, outros em ilustres patrícios romanos.
Não ingnorava Moura quão bastardamente eram tais linhas emendadas: assim mesmo, porém, as invejava. O que frei Pedro de Jesus Manteles observando, um dia em tom grave, lhe afirmou: descender de um santo, em minha estimação, e na consideração de toda a gente muito mais é do que ser tataraneto de Carlos Martel ou de romano patrício; e o senhor Vicente de Moura é...
--O quê? sou o quê?
--Também tataraneto paterno (respondeu frei Pedro) mas... de um santo» 105.
Ora aqui está em que dão certos jornalistas quando se metem a fazer história--simples trapaceiros. Não há sequer nma sombra de verdade nesta página de Silva Mendes.
As clarissas pertenciam a uma Ordem contemplativa, de clausura rigorosa, que nem o rosto podiam mostrar a ninguém. Assim nunca tiveram escola nem podiam ter. Durante três séculos não houve em Macau escola de meninas e estas, em geral, não aprendiam a ler.
Também não houve «trivium nem quatrivium» no Convento de S. Franeisco, mas apenas no Colégio de Madre de Deus dos Jesuítas.
As crónicas das clarissas não chegaram até nós. E mesmo que chegassem, não tinham escola e, portanto, a menina Maria de Moura não foi nem podia ter sido educada lá.
O pai desta menina não era Vicente de Moura e Vasconcelos, mas Francisco de Moura e Bastos. De resto, não existia nenhum Vicente de Moura e Vasconcelos, mas sim Vicente de Moura e Bastos, tio de Maria de Moura.
Nunca existiu no convento de S. Francisco nenhum Pedro de Jesus Manteles e tudo que o autor diz sobre Vicente de Moura é pura fantasia sem fundamento nenhum na realidade. Como nesse capítulo Silva Mendes tece a história de Macau, queremos prevenir o leitor de que não há nesta página um única parcela de verdade.
Dois pretendentes a uma criança
Em 1706, chegou a Macau na fragata Nossa Senhora das Neves o Capitão de infantaria António de Albuquerque Coelho, e logo se apaixonou por Maria de Moura, criança de 7 anos de idade, que era muito rica e formosa. Mas esta tinha outro pretendente, o fidalgo D. Henrique de Noronha, que estava determinado a desfazer-se do seu rival.
Coelho regressou a Goa na mesma fragata e dali apertou o cerco à pequena com cartas aos Jesuítas e ao tutor da órfã. Voltou a Macau em 1708, e continou o assalto à pequena de 9 anos, tendo por seu lado o tutor, os Jesuítas e o Bispo, D. João de Casal. Os seus adversários eram a avó da órfã, o Juiz dos órfãos, Manuel Vicente Rosa, o Ouvidor João Carneiro Zuzarte e os parentes da pequena.
Nesse tempo estas questões resolviam-se a tiro e foi o que sucedeu. Indo Coelho a cavalo para S. Francisco, um cafre, postado no Campo de S. Francisco, disparou sobre ele um bacamarte, que não lhe acertou. Coelho correu sobre o cafre até à Rua Formosa sem o apanhar. Ao voltar, D. Henrique de Noronha disparou sobre ele da janela duma casa, onde hoje é o Centro Católico, e acertou-lhe no braço direito por cima do cotovelo. Ele foi recolher-se a S. Francisco, mas, ao chegar à escadaria do convento, outro cafre atirou-lhe um tiro que não lhe acertou.
Ao chegar à portaria, já não se pôde apear e foi preciso ajudarem-no. No convento foi tratado pelo cirurgião de Macau, António da Silva e por um cafre, cirurgião da fragata.
Dezanove dias depois, chegou a Macau um navio inglês, que tinha um cirurgião a bordo. Chamado este, examinou o ferido e, verificando que o braço estava gangrenado, disse que era necessário cortá-lo para lhe salvar a vida. Coelho mandou perguntar à noiva se casaria com ele sem um braço; esta respondeu que o faria, ainda que lhe faltassem ambas as pernas. O braço foi cortado imediatamente e ele restabeleceu-se.
O Governador Diogo de Pinho Teixeira mandou prender D. Henrique de Noronha; mas este homiziou-se em casa do Patriarca de Antioquia, Charles Thomas Maillard de Tournon, para os lados da Fortaleza Barra e assim se livrou.
Ficou na tradição de Macau uma cantiga acerca deste acidente:
«Não he tão formosa
Nem tão bem parecida
Que por seu dinheiro
Maria arma tanta briga».
Casamento
A 30 de Junho de 1709, celebraram-se os esponsais de Coelho e de Maria; esta foi nesse dia retirada da casa da avó e depositada na casa de D. Maria Catarina de Noronha.
A Collecção de vários factos regista assim o casamento: «1710 --Agosto 22. Neste dia á noite cazou-se Antonio dÁlbuquerque Coelho com Maria de Moura filha de Vicente de Moura, na caza de Campo de S. Francisco (que hoje he de Francisco José de Paiva) onde assestiu a Infantaria da Fragata de Goa, com o seu Capitão, e nella o mesmo Albuquerque por ordem do Governo pelo julgar alli seguro. Julgando Francisco Leite, que este Cazamento, se fasia em St.º António, foi esperar o noivo para o matar, porém ficou logrado».
Note-se que Maria era filha de Francisco e não de Vicente de Moura. Francisco Leite Pereira era amigo de D. Henrique de Noronha, que vivia em sua casa.

Luto
A 6 de Março de 1712, foi sepultada Inês, filha de Albuquerque Coelho e de Maria de Moura, recém-nascida de 7 dias com grande acompanhamento do povo e da tropa, que deu três descargas ao baixar à sepultura, enquanto que a Fortaleza de S. Paulo deu uma salva de nove tiros.
A 20 de Julho de 1714, Maria de Moura deu à luz um filho e a 23 houve comédias, correrias a cavalo e outros divertimentos. Foi baptizado no dia 27 na igreja de S. António, com a assistência do Governador António Sequeira de Noronha, estando ali postadas duas companhias de soldados; à entrada da igreja, houve salva de 7 tiros da Fortaleza de S. Paulo, e à saída, onze tiros.
A 30 de Julho, faleceu Maria de Moura. A Colecção de vários factos diz: Que o que de manhã foi mimo He ja lastima de tarde. Com grande acompanhamento, ofício solene e dobres de sinos, foi enterrada na igreja do Convento de S. Francisco, na sepultura onde já estava a sua filhinha Inês e o braço do marido.
Coelho regressou a Goa. Sendo nomeado Governador de Macau, voltou aqui a 29 de Maio de 1718 e governou até 9 de Setembro de 1719, em que chegou o seu sucessor António da Silva Telo e Meneses, irmão do Conde de Aveiras.
Regressando a Goa, foi nomeado Governador de Timor e passou por Macau. Em 1725, ao voltar de Timor,m andou celebrar um ofício solene por alma de sua mulher, dobrando todos os sinos e salvando a Fortaleza; mandou abrir a cova e recolheu os ossos numa urna que esteve na igreja de S. Francisco até à sua demolição em 1865, em que passou para a igreja de S. Agostinho, onde ainda se encontra encaixada na parede da capela-mor. A lápide tem esta inscrição: «Nesta urna estão os ofsos de D. Maria de Moura e Vasconcellos e sua filha D. Ignez, e os do braço direito de seu marido Antonio dÁlbuquerque Coelho, que aqui afez depositar, vindo de Governador e Capitão Geral das Ilhas de solôr e Timôr no anno de 1725»
Qual foi o fim de Coelho? Eis o que o Vice-Rei Marquês de Castelo Novo escrevia ao Rei, a 25 de Janeiro de 1746: «António de Albuquerque Coelho, filho de António de Albuquerque Coelho, que governou Angola e as Minas, de idade 60 anos, viúvo, sem sucessão. Ocupou vários postos com boa reputação e valor. Com patente de General governou Timor, Macau e Paté (Zanzibar) com prudência e acerto. Ultimamente passou a General de Bardez de que fez desistência para se recolher aos franciscanos na Província da Madre de Deus, onde actualmente faz vida beata. Tem grande entendimento, inteireza e verdade». Ali faleceu alguma anos depois.
Uma nhonha (velha) de Macau comentava há uns 50 anos este episódio de amor, no patois local: «amor de antigo san amor divéra, nunca san comi di hoje». E terminava assim: «amor nunca san brinco--olá, pegá, largá»: o amor não é uma brincadeira--olha, pega e larga.

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