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sábado, 7 de julho de 2012

Farmácias chinesas por Leonel Barros

Boticas chinesas existem hoje por todos os lados em Macau. Todas as mezinhas engarrafadas ou empacotadas que nelas se encontram têm só um fim: o de curar. Muitas das mezinhas hoje aviadas nestas boticas são à base de plantas que outrora eram colhidas por Ná-Chá.

Farmácia onde terá trabalhao Sun Iat Sen
Basta uma pessoa entrar e ver: é uma panóplia de chás, xaropes, óleos, pós, pomadas em potes distribuídas em caixotes, garrafas, frascos e boiões. Tudo à disposição do cliente. São estabelecimentos que vão resistindo ao tempo e à invasão dos grandes e modernos laboratórios farmacêuticos internacionais.
São como se disse, baseados na secular sabedoria chinesa e cada receita hoje presente é transmitida de geração em geração, permanecendo tão secreta como a fórmula que originou o aparecimento da tão afamada e procurada bebida Coca-Cola.
Cada produto ali mantido está destinado a um mal específico e cada bálsamo cura ou alivia a dor. Os pós, por exemplo, servem para aliviar o ataque de líquenes e acabar com as comichões.
As pomadas combatem, sem tréguas, todo o tipo de infecções, furúnculos e hematomas produzidos por fortes pancadas sobre qualquer região do corpo.
Os variados chás que normalmente são amarguíssimos, depois de ingeridos de acordo com as instruções do mestre da farmácia, conhecido em Macau com o nome de mestre-china põem uma pessoa com boa disposição e os óleos são ainda mais ecléticos: curam o reumatismo, aliviam tonturas, como por exemplo o pak-fá-iau, dores musculares e finalmente estancam até pequenas hemorragias. Para este último é indicado o conhecimento Si-chi-iau, (óleo de leão).
Mas afinal, qual a chave do sucesso destas velhas terapias, simultaneamente tão ingénuas e tão eficazes no tratamento de tantas mazelas quotidianas? É um segredo profissional que nenhum médico de medicina chinesa está disposto a divulgar. Sabe-se, no entanto, que quase todos os produtos à venda nas boticas são baseados na Natureza e outrora alegadamente colhidos por Ná-Chá. São todos à base de plantas (sementes, flores. raízes, caules, folhas) bem como insectos, em especial os coleópteros e as cantáridas e órgãos de vários mamíferos, répteis e batráquios.

Farmácia Tai Ning Tong
Os preços de venda não são muito elevados. Por exemplo, para adquirir um pacotinho de flores de algodoeiro com crisântemo, bastam menos de cinco patacas. Estas duas flores são eficazes para tratamento de perturbações intestinais. Por mais algumas patacas compra-se quase tudo quanto é folha, flor ou semente, para preparar o chá caseiro para alívio da gripe-asiática, tosse e pequenos resfriados, quando estes atingem uma criança ou uma pessoa idosa.
Em casos muito especiais o preço do medicamento sofre inflação. É o caso quando à receita se junta uma composição em que se inclui raiz de Jinseng, importado da Coreia e que é o mais procurado, Neste caso, o preço pode atingir valores relativamente elevados.
Sabe-se recentemente que a China está a exportar o seu próprio Jinseng, o que de certeza irá ser bem acolhido pela comunidade chinesa local por ser muito mais barato.
Mas o produto ainda mais caro nas afamadas e procuradas boticas não é ainda o Jinseng, mas sim, os produtos de animais. Trata-se de testículos de macaco, Macaco Resus, secos ao sol e guardados em frascos especiais isolados totalmente da humidade. O testículo seco do macaco cura quase todo o tipo de infecções respiratórias, fazendo desaparecer a tosse convulsa.
Cada dose que corresponde a um sexto do testículo, custa cerca de sessenta patacas. Um testículo inteiro, nada menos de mil patacas! Insólitas ou não, todas estas matérias-primas atravessam semanalmente as Portas do Cerco, em grandes carregamentos ao cuidado da firma Nam-Kong. Chegam quase sempre em contentores congeladores e, mal chegam ao vendedor, vão ser expostas ao sol, arrumadas em tabuleiros, ou são submetidas à acção de caloríferos. Se ganharem bolor, ficam impróprias para o consumo e o único caminho a seguir, é o caixote do lixo.
A freguesia não é certa. Aparecem indivíduos de todos as idades e sem diferença de sexo. O mais importante é as pessoas terem confiança no farmacêutico, saberem que não estão a ser enganados. Esta confiança vai-se conquistando lentamente com o decorre dos anos. Mas, a rainha da medicina chinesa não chegou a descobrir um medicamento capaz de rejuvenescer os homens. Que pena! E se conseguisse, ai Jesus!...
Almofariz (esq)              e        Pilão (dta)
As farmácias chinesas constituem o, elemento, por excelência, no plano da medicina tradicional, como o comprovam os inúmeros estabelecimentos do género que ainda hoje se encontram espalhados por toda a cidade de Macau. Como acontece nas farmácias ocidentais, todos os produtos engarrafados ou empacotados que se encontram no interior de uma farmácia tradicional chinesa têm o único fim de curar, só que maior parte deles são produzidos unicamente à base de plantas medicinais, que outrora foram recolhidas e transformadas pela rainha Na-Chá, símbolo da medicina chinesa.
Farmácia Tak Sang
O “recheio” destes estabelecimentos traduz-se, por isso, numa panóplia de chás, xaropes, óleos, pós, pomadas, entre outros produtos destinados à cura de todo o tipo de males, distribuídos por pequenos potes, caixas de papelão, gavetas, frascos e até pequenos boiões. Tudo à disposição dos fieis seguidores de uma velha prática que vai resistindo ao tempo e à invasão dos grandes e modernos laboratórios farmacêuticos espalhados pelo mundo. Vem a propósito acrescentar que, nestes estabelecimentos, não entram produtos das multinacionais. Nas farmácias chinesas, os artigos medicinais são baseados na secular sabedoria chinesa e cada receita hoje prescrita é transmitida de geração em geração, permanecendo tão secreta como a fórmula que originou o aparecimento da tão afamada Coca-Cola.

Farmácia Tai Shun Tong
Cada produto ali mantido contempla um mal específico e cada bálsamo cura ou alivia a dor. Os pós, por exemplo, servem para aliviar comichões, enquanto alguns xaropes, que são normalmente amarguíssimos, uma vez ingeridos segundo as instruções do mestre da farmácia (conhecido em Macau por “mestre China”), devolvem aos indispostos a boa disposição. Por seu lado, os óleos são indicados para problemas de reumatismo, aliviam tonturas e dores musculares, e consta que até estancam hemorragias — para este último caso emprega-se o óleo designado por “Si Chi Iau”. O segredo das receitas das farmácias chinesas, esse, nenhum médico da especialidade parece disposto a divulgar. Não admira, portanto, que algumas receitas médicas passadas por um “mestre China” possam implicar o pagamento de valores superiores a uma centena de patacas.
Texto de Leonel Barros publicado no JTM em 2008
Agradecimentos pela cedência das imagens: Arquitecto Carlos Bonina Moreno e JTM.

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