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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Epidemia de peste bubónica em Macau: 1895

O que na Idade Média ficou conhecido por peste negra era nada mais nada menos que a peste bubónica. Há relatos desta peste em Portugal desde o século XIV. Um dos surtos, já no séc. XIX (Porto, 1899), terá tido origem em Macau atingida por um surto ca. 1894-85 oriundo de Hong Kong e Cantão.
José Gomes da Silva, médico chefe dos serviços de saúde e reitor do liceu elabora um relatório sobre a epidemia. Antes de reproduzir a introdução do mesmo, atente-se na descrição que este faz sobre as condições das habitações da população chinesa (a maioria) na época:
“Ninguém pode, sem ver, imaginar o que seja o interior dum casebre chinês em pleno coração dos bairros mais populosos. A promiscuidade de seres no quarto de dormir, em que o porco pernoita debaixo da cama do china; e as galinhas se empoleiram no dorso do porco; e o gato se anicha à cabeceira do dono; e o cão se estende do lado oposto ao do gato; e os ratos marinham livremente pelo catre ou se entregam a tropelias afrodisíacas no solo de terra mal batida; e as baratas, monstruosas e fétidas, voam elegante e arrojadamente naquela atmosfera que lhes é cara e vão com ímpeto bater às vezes no dorso do porco ou nas faces do china; quando não acontece que, em noites claras de verão, o china deixa as mulheres e os filhos deitados no solo com os animais e vem para o meio da rua contemplar, de barriga para o ar e perna traçada, a nesga azul do infinito limitada pelos beirais das casas fronteiras; esta promiscuidade dum homem chinês não há polícia sanitária que entre com ela”.
Excerto da introdução do relatório de J. Gomes da Silva sobre A epidemia de peste bubónica em Macau. Impresso na Typographia Mercantil em 1895.
Antes da epidemia (...). Corria normalmente o primeiro trimestre de 1894, quando em fins de março recebi uma carta particular do digno cônsul de Portugal em Cantão, D. Cinatti, convidando-me a ir alli observar uma doença excessivamente curiosa, que havia cerca de um mez grassava sob a forma epideraica em Cantáo e seus arredores, acomettendo exclusivamente os chinas... e os ratos. A doença, no dizer do illustrado funccionario, caracterisava-se principalmente por uma temperatura elevada, que ás vezes bastava a matar o doente, e pela manifestação de bubões no pesco- ço, na axilla ou nas verilhas, com pouca tendência á suppuração. Pouco depois, espalhavam-se também em Macau boatos de que a mortalidade subira sensivelmente na população chineza a visinha colónia de Hongkong, sendo a doença dominante uma espécie de febre typhoide, sob este nome diagnosticada pelos médicos inglezes, e produzindo uma percentagem de mortalidade pouco commum, ainda nas mais severas epidemias conhecidas. Era grave o assumpto era grave também a coincidência. Installada a epidemia, fosse ella qual fosse, em Hong Kong e Cantão, como isolar Macau daquelles dois portos, por onde esta cidade communíca normalmente com o resto do mundo?  Como substituir todos os elementos imprescindiveis de vida individual e commercial que estta colónia recebe daquellas duas cidades? 
Era grave; mas podia nâo ser exacto. Convinha verificar até que ponto a exactidão e a gravidade do facto existiam ; e n'esse sentido enviei o seguinte officio á secretaria geral do governo. ... A junta de saúde é d'opiniâo que por agora não ha medidas prophylacticas a tomar, para prevenir a invasao da cholera, que alguns jornaes chinezes suppoem grassar na visinha cidade de Cantão. Primeiro que tudo, por informações particulares, dignas para mim de toda a fé, consta-me que aepide- " mia a que se referem os jornaes chinezes não é o cholera-mor-bus; depois, quando o seja, as medidas repressivas da comunicação de Macau com Cantão serão absolutamente ineficazes, porque importam egual isolamento de Hong Kong, cujas communicações diárias com Cantão não foram ainda interrompidas. Ora, nas condições actuaes de Macau, esta colónia, isolada subitamente de Hong Kong e Cantão, ficaria isolada do resto do mundo e seria em pouco tempo forçada a postergar as medidas que neste sentido tivessem sido tomadas, para não morrer de fome e de inaniçâo. N'estas condições, parece á junta de saúde que o mais racional e prudente seria: 1.° obter informações officiaes da marcha, symptomas e mortalidade da epidemia, por intermédio do cônsul portuguez em Cantão ou pela ida alli de um facultativo do quadro, incumbido de verificar de visu a natureza da doença; 2.° tornar conhecida do publico de Macau a existência da epidemia em Cantão para que cada um tomasse as çautellas aconselhadas pela hygiene em tempos de epidemia. Infelizmente, o numero de médicos do quadro, já de si restricto e insuficiente, estava então reduzido pela morte do facultativo A. Costa Carvalho, víctima do cholera, a dois médicos em Timor e dois em Macau, incluindo o chefe do serviço de saúde, que se propunha ir estudar a doença dominante em Canão. S. ex. o governador achou portanto intempestiva a proposta por mim feita e mandou que a junta de saúde ficasse de atalaia, esperando as informações que s. ex. ia requisitar do cônsul de Portugal n'aquella cidade. (...)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Grande Prémio de 1970: uma curiosidade

Um bólide estacionado frente ao Templo de A-Má é uma raridade. Para que os mais incautos não interpretem de forma errada a imagem (há ali algo que induz em erro), aqui fica a explicação. Nesta ano foi o austríaco Dieter Quester, ao volante de um BMW Fórmula 2, que venceu o 17º Grande Prémio de Macau.
Anne Wong, de Singapura (a que está dentro do F2), venceu a Corrida de Carros de Turismo, de 20 voltas, num Mini-Cooper S, e Benny Hidajat, da Indonésia, pilotando uma Yamaha YSI, foi o vencedor da prova de motas.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Casa-Museu Macaense

Dois edifícios no Bairro de São Lázaro vão ser recuperados para a criação da “Casa-Museu Macaense”. A intenção é reconstituir o ambiente de um lar macaense, com um espólio com  peças de José Vicente Jorge, Camilo Pessanha e Wenceslau de Moraes. E a estes nomes devem juntar-se outros de famílias macaenses. O projecto ronda os 50 milhões de patacas.
Os dois edifícios estão situados entre as ruas de São Miguel e de São Roque, foram construídos no início do século XX e estão degradados. O projecto que conta com a participação do arquitecto Carlos Marreiros deverá estar concluído em 2013. À frente deste novo museu está a Santa Casa da Misericórdia de Macau, proprietária dos edifícios. Para o provedor António José de Freitas trata-se de um projecto de “valor cultural, histórico e educativo será incalculável”.
“A SCM é uma instituição com uma identidade muito própria, para além do serviço social e sem nunca descurar essa parte, entendemos que também é importante contribuir nas vertentes histórica e cultural, sobretudo porque dispomos desses dois prédios patrimoniais, construídos segundo os documentos existentes em 1903”, AJF.
Excerto de artigo do Jornal Tribuna de Macau (jornalista Raquel Carvalho) 11 Agosto 2011
“Vamos tentar reproduzir o ambiente de uma casa macaense de outros tempos, do século XVIII a finais do século XIX, reconstituindo os espaços e as vivências típicas”. Subir as escadas daquele museu será então como entrar em casa de alguém, mas recuando no tempo. “Sala de Jantar, sala de estar, sala de leitura e uma pequena biblioteca” são algumas das divisões que devem surgir como representações fiéis dos hábitos macaenses. Todavia, as modernices da contemporaneidade também não serão esquecidas: haverá uma “secção multimédia, o que permite englobar componentes de som e imagem”, a par de um “mini-café e um pequeno balcão para a venda de lembranças e de obras de artistas locais”.
Parte do espólio, segundo descreve o provedor da SCM, está a ser negociado com os netos do sinólogo José Vicente Jorge. “Consideramos a herança cultural da família Vicente Jorge muito importante. O casal também tem manuscritos de Camilo Pessanha e de Wenceslau de Moraes que nos interessam bastante. Para além disso, serão importantes as doações ou cedências temporárias de objectos, artefactos, mobiliário e adereços por pessoas singulares ou colectivas da comunidade de Macau.” António José de Freitas desvenda que já foram realizados “alguns contactos” e que outras famílias macaenses de renome serão abordadas.
Embora o processo ainda não esteja concluído, “penso que temos condições para ter um bom espólio. Já fizemos vários levantamentos [escritos e fotográficos] e sabemos o que é preciso para simular uma vivência típica de uma lar macaense”, resume o provedor.
A Casa-Museu ocupará cerca de 400 metros quadrados, a soma de ambos os prédios, cada um com dois andares. “Esses dois edifícios ainda apresentam pormenores originais em madeira, se bem que bastante degradados. As escadas e os corrimões de madeira são originais, os tectos falsos, assim como as grelhas de ventilação, as molduras dos vãos, a carpintaria das janelas e das portas... Tudo isto será restaurado”, avalia António José de Freitas.
Na opinião de Carlos Marreiros, arquitecto responsável pelo projecto, é possível encontrar ali uma espécie de “compêndio, um glossário em termos de arquitectura de Macau” e que, por isso, convém preservar. “A sua integridade em termos patrimoniais é de 90 e muitos por cento...portanto, vale a pena enfiar a mão e fazer qualquer coisa de decente”. Contudo, a tarefa estará longe de ser fácil. “Todos os madeiramentos têm de ser retirados com muito cuidado e devidamente tratados, porque têm cem anos e em Macau há muito formiga branca”, observa o director-geral do Albergue SCM. Simultaneamente, “o edifício terá de ser reforçado com betão armado ou estrutura metálica para responder a todos os requisitos modernos de segurança física e também contra incêndios. A seguir os madeiramentos serão recolocados no espaço físico previamente restaurado.” Carlos Marreiros acredita mesmo que este poderá ser um “exemplo excelente de técnicas de preservação do património, mantendo a autenticidade e introduzindo elementos de reforço estrutural só onde seja necessário.”
Década de 1990
Freguesia de S. Lázaro no final do séc. XIX
Década de 1970

terça-feira, 26 de junho de 2012

"De Portugal a Macau": 1924

No livro "De Portugal a Macau", da autoria de José Manuel Sarmento de Beires, oficial da aviação, que, juntamente com António Jacinto da Silva Brito Pais, e Manuel Gouveia, relata a ligação por via aérea -  quase em simultâneo com a travessia do Atlântico Sul, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral - entre Portugal e Macau ocorrida em 1924. É uma edição rara esta de 1928.
Por estes dias, há 88 anos, estes "malucos das máquinas voadoras" já tinham chegado a Macau onde celebravam o feito, mesmo na altura dos festejos do Dia da Cidade (24 Junho).
Como o comandante Brito Paes era natural de Colos (Vila Nova de Milfontes/Odemira) a região ficou ligada a este grande feito da aviação portuguesa. Foi a 7 de Abril de 1924 que os pilotos partiram do Campo dos Coitos, junto a Milfontes, rumo ao Oriente. Em homenagem aos aviadores e ao seu feito histórico, foi erguido na Praça da Barbacã (em Vila Nova de Mil Fontes), junto ao forte de S. Clemente, um monumento que recorda a heróica viagem.
A edição de autor de 1958 onde pode ler-se: Recordações imprecisas que a memória reteve através das horas inolvidáveis da viagem do PÁTRIA, - este livro não é mais do que o despreocupado apontamento das minhas impressões pessoais, vislumbradas por entre os instantes de dramaticidade intensa que vivemos, singrando os céus longínquos da África e da Ásia. Estas páginas que constituem um documentário quase exclusivamente emocional, na cristalização imperfeita de oitenta dias de incerteza, de inquietação, de luta árdua e esgotante, ao POVO DE PORTUGAL pertencem, a Ele as dedico.
Ao Povo de quem recebemos a força magnética que nos fez triunfar; ao Povo que, na afirmação formidável da sua energia e do seu entusiasmo, concorreu para que , na viagem aérea a Macau, o nome de Portugal se aureolasse de um prestígio maior.

O monumento em Vila Nova de Mil Fontes (2012)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Merchants of Canton and Macao

Merchants of Canton and Macao: Politics and Strategies in Eighteenth-Century Chinese Trade é um livro que aborda a questão do comércio no delta do rio das Pérolas no século 18. Foi editado em 2011 pela Hong Kong e Kyoto University Press e é da autoria de Paul Arthur Van Dyke, historiador (e professor na Univ. de Macau), que também escreveu "The Canton Trade: Life and Enterprise on the China Coast, 1700-1845", editado em 2005.
Eis algumas críticas...
“Paul A. Van Dyke’s Merchants of Canton and Macao is an invaluable addition to our knowledge of Sino-Western trade in the eighteenth century. The level of detail is outstanding, amassed from a rich source base in multiple languages. And from that data base Van Dyke brings the financial actors in this complex commercial story vividly to life.” 
Jonathan Spence, author of The Search for Modern China
“Asia’s ‘dark’ eighteenth-century has never seemed more lively or dynamic. This book will be treasured by all those struggling to understand the hitherto opaque world of pre-modern Chinese business.” 
Anthony Reid, author of Southeast Asia in the Age of Commerce
“Only the most dedicated researcher and extraordinary polyglot could aspire to what Van Dyke accomplishes in Merchants of Canton and Macao. Van Dyke’s painstaking research shows that a 200-year-old narrative of Chinese opposition to trade is at odds with the historical record, while also providing unprecedented detail on the actual conduct of the Canton trade and the careers of its leading Chinese merchants. Van Dyke reveals them as canny businessmen, effective lobbyists, family patriarchs, and men embedded in complex global social and economic networks.” 
Michael Szonyi, Harvard University
“Paul Van Dyke’s knowledge of eighteenth-century Canton and Macau is so detailed that you feel you are on the ground with the men who made this region of southern China one of the most important modern global trading centres. Based on research throughout the world, Van Dyke presents both a narrative of the daily operations of the China trade and a remarkable archive of the contracts, records books, public notices, maps, receipts, letters and other documents that bring this trade to life.” 
Madeleine Zelin, Columbia University
“A remarkable reconstruction of eighteenth-century Canton and Macao merchant practices based upon diverse and scattered archival materials—Van Dyke successfully undermines conventional notions of Chinese ‘monopoly’ control through showing the concrete activities of numerous merchants and government policies responsible for aiding the expansion of trade in this era. This work is an important corrective to European-centred accounts of China’s eighteenth-century foreign trade, to be read with profit by China, Asia, and world historians.” 
R. Bin Wong, UCLA
“Based on a multitude of archival sources in various languages other than English, it mainly looks at Chinese entrepreneurs, their business strategies, their biographies and networks—telling us, very convincingly, how these merchants came to act as major players in an increasingly complex world. The story abounds in new details, its views are carefully balanced, and it makes excellent reading. A must for scholars interested in the history of Euro-Chinese relations."
Roderich Ptak, Ludwig-Maximilians-Universitaet Munich

domingo, 24 de junho de 2012

Macao - St. John's Monument at the Avenida

Este postal publicado em Hong Kong no início do século XX tem uma particularidade que é rara, a legenda: "St. John's Monument at the Avenida"...
O monumento é o da Vitória, o "St. John's" é S. João Baptista, referência ao dia da cidade, 24 de Junho, e da vitória sobre os holandeses em 1622. Para além do 'padrão' em pedra pode ainda ver-ser uma fonte.
A "avenida" (que hoje constitui a rua Ferreira do Amaral e a av. Sidónio Pais) na época chamava-se Vasco da Gama. Face ao momento desta imagem, o monumento e a fonte entretanto mudaram de local. Mil e uma histórias que ficam por contar no Dia de Macau que, inexplicavelmente, após 1999, deixou de ser comemorado oficialmente.
Texto e selecção de imagem de JB/Macau Antigo
in Revista Macau - IV Série nº 27, pág. 128 - Junho 2012

sábado, 23 de junho de 2012

Aterros nos últimos 100 anos


1889
Nos últimos 100 anos realizaram-se aterros de grandes dimensões junto à Ilha Verde, na Areia Preta, no Porto Interior, no Porto Exterior, na antiga Baía da Praia Grande, na ilha da Taipa, na zona do aeroporto e na área entre as ilhas da Taipa e Coloane. No último século o território de Macau constituído pela península e as ilhas da Taipa (Grande e Pequena) e de Coloane, quase que triplicou a sua área, passando de 11,6 quilómetros quadrados para 29,5 quilómetros quadrados, no final de 2009. E já estão previstos mais aterros. 
Planta de 1912
Há um século, a península de Macau tinha cerca de 3,4 Km2 e a cidade terminava no sopé das colinas. A Taipa ainda estava dividida em Taipa Grande e Taipa Pequena e as duas ocupavam uma área de pouco mais de 2 Km2. Coloane atingia os 5,9 Km2.
Os primeiros aterros datam do início do séc. XX e aconteceram no Porto Interior, a zona de maior movimento da cidade. A necessidade de reordenar toda a zona do Porto Interior e a expansão da cidade levaram as autoridades a regularizarem a linha de costa com uma muralha e cais de desembarque. O canal de navegação ficou mais curto mas era preciso rivalizar com Hong Kong.
Houve até ideias para prolongar o território, através de aterros, a norte da Ilha Verde, mas tudo não passou de intenções que terão esbarrado na negação por parte dos chineses.
Mapa ca. 1920: projecto obras do porto de Macau
Postal da mesmo época: novos aterros Mong Há e Patane (numa das imagens) 
Depois de 1920 houve alterações na política de terras em Macau e deram-se os primeiros passos na construção dos aterros do que se conhce como zona do ZAPE. Seria ali o novo grande porto de Macau. Num mapa da época podem ver-se dois bairros industriais (zona da praia da Areia Preta e Reservatório, onde estava previsto o terminal de caminhos de ferro Macau-Cantão) e uma zona comercial (entre o actual Casino Lisboa e o actual Instituto Politécnico). Apesar de muitas obras terem sido feitas o Porto Interior continuou a ser o "porto seguro" de Macau.
Num outro mapa, com os projectos para depois de 1926, percebe-se queo governo não só queria criar um porto de águas profundas no Porto como também tinha planos para fechar o canal de acesso ao Porto Interior, junto à Barra, através da construção de um aterro a partir  da Taipa. Pretendia também construir um outro aterro ligando a Taipa a Coloane (e isso veio a acontecer na década de 1950).
O primeiro grande aterro em Macau ficou concluído em 1936: zona entre o Jardim de São Francisco e onde seria construído o Hotel Lisboa e daí até ao Reservatório e à Areia Preta.
A zona, junto ao actual Grand Lapa, serviu de “pista de aterragem” e de apoio aos hidroaviões da Pan America que escalavam Macau, antes de dar lugar ao antecessor do Clube Náutico.
Aterros dos anos 20/30 do século XX
Em 1936 ocorre um outro aterro no Porto Interior. No final desse ano a península de Macau passou passa a ter 5,2 km2 e a Taipa, que entretanto ficou com as suas duas ilhas unidas por um istmo, 2,6 km2. Só em 1957 foi concluído o aterro entre as ilhas da Taipa Grande e Taipa Pequena, aumentando a superfície em 600 mil metros quadrados.
José Maneiras, arquitecto, explicou em 2010 à Revista Macau este processo.
A união entre as duas ilhas foi um processo gradual que aliou a sedimentação natural dos terrenos usados para a agricultura e a vontade do Homem em conquistar terrenos ao mar. Das praias de Macau até à ilha da Taipa, José Maneiras recorda, nos anos 40 e 50 do século passado, os campos de cultivo, as estradas de terra ladeadas pelo mar em aterros, que “ficavam um pouco acima do nível da água”. “Lembro-me muito bem de um pequeno istmo que ligava as duas ilhas da Taipa”, conta o arquitecto, referindo ainda que na Taipa Grande existia uma estrada que “contornava” a ilha até à zona onde hoje se encontra a rotunda que fica junto à fábrica da Hovione. A Taipa Pequena, acrescenta, chegava à zona onde é hoje o mercado da Taipa e, mais à frente, junto à actual estrada que segue da Ponte Sai Van até à rotunda de entrada no istmo, existia um pequeno cais onde os pequenos barcos atracavam depois de fazerem o transbordo dos passageiros e carga que vinham de Macau para as praias existentes nas ilhas.
Vista a partir do istmo Taipa Coloane
Em 1996 foi fechada a velha baía da Praia Grande para criar os Lagos Nam Van e construir os aterros onde estão a Torre de Macau, o edifício da Assembleia Legislativa e o dos tribunais superiores. Estes aterros estão ligados por estrada à zona dos Novos Aterros do Porto Exterior (NAPE). Na ilha da Taipa, ficam concluídos os aterros do Aeroporto Internacional.
Assim, no final do século XX, a península de Macau passou a ter 7,7 km2, a Taipa 5,8 e Coloane 7,8, num total de 21,3 km2, mais 2,2 do que em 1991. Entre 1996 e 1999, mais 2,2 quilómetros quadrados foram conquistados no chamado Cotai.
Só nos anos 60, com a chegada dos hydrofoils a Macau pelas mãos de Stanley Ho e por força do novo contrato de concessão de jogo, o Porto Exterior recebeu um cais de embarque, primeiro de madeira e, mais tarde, em betão.
A grande expansão do território aconteceu a partir de 1999 com o início dos aterros do Cotai (quase 6 km2 no total). Coloane manteve-se nos 7,6 km2.
A península ronda hoje os 30 km2.


1995
Os mais importantes aterros dos últimos 100 anos:
1923 – Aterro de ligação da Ilha Verde à península de Macau.
1936 – Conclusão da Zona de Aterros do Porto Exterior (ZAPE).
1957 – Aterro entre as ilhas da Taipa Grande e da Taipa Pequena, passando a existir uma única ilha.
1990 – Novos Aterros do Porto Exterior (NAPE).
1995 – Aeroporto de Macau.
1996 – Fecho da Baía da Praia Grande e construção da zona dos Lagos Nam Van.
1996 – Aterro da Areia Preta.
2003... – Aterros da zona do Cotai, entre as ilhas da Taipa e de Coloane.
Mapa de 1986
Terminal marítimo do Porto Exterior construído em 1993

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Loteria do Leal Senado da Camara: 1862

Neste decreto o governo isenta do imposto de selo a lotaria no valor de 4 mil patacas realizada para angariar dinheiro para custear o Monumento da Vitória a "irigir no campo (...) em memoria da felicissima alcançada por esta cidade em 23 de junho de 1622"
Monumento do Campo da Vitória ou dos Arrependidos no final do séc. 19
 segundo uma "photo do dr. Albano de Magalhães".

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Memórias do Passado: exposições

Memórias do Passado – Exposição de Cartazes Coleccionados pela Biblioteca Central de Macau

9 a 30 Junho - Biblioteca Sir Robert Ho Tung
9 a 31 Julho - Biblioteca Central de Macau

                                                                                               A fim de celebrar o “Dia do Património Cultural da China”, a Biblioteca Central de Macau organiza uma exposição itinerante de cartazes locais coleccionados pela Biblioteca. O objectivo é dar a conhecer aos residentes e aos turistas aspectos da vida social de Macau no passado, as actividades culturais e os estilos de obras artísticas.
Já no Arquivo Histórico está patente até 12 de Agosto a exposição “Testemunha da História de Macau – Chan Tai Pak, Vivências e Memórias de Mais de Meio Século”. Exibe material histórico oral e registos doados pelo veterano jornalista Chan Tai Pak, contando ainda com documentos e fotografias da colecção do Arquivo Histórico bem como itens cedidos pelo Museu de Macau, especialistas e académicos. Numerosos items em exposição datam dos anos 30, nomeadamente materiais referentes à participação de Chan Tai Pak na Associação de Assistência às Vítimas dos Desastres dos Quatro Círculos na Guerra Sino-japonesa e nas suas missões ao Interior da China, materiais e documentos que atestam o desenvolvimento da imprensa em língua chinesa e que testemunham a experiência de vida do jornalista macaense ao longo de mais de meio século.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Apresentação de "Macau 1937-1945: os anos da guerra"

"Foi uma cerimónia sentida. Foram tempos muito difíceis. O João Guedes leu a sua mensagem e, entre outras coisas, realçou o importante contributo da sua obra para o conhecimento de um período muito complexo da história de Macau. Estou certo que o livro captará o interesse do público." - Jorge Godinho
Assistência na Livraria Portuguesa
 Fotos da organização do evento En-Cantos
Texto que que me solicitaram para ser lido na apresentação que decorreu na Livraria Portuguesa, em Macau, esta 2ª feira dia 18.
Saudações a todos!
Pediram-me que vos dirigisse uma mensagem sobre o livro “macau: 1937-1945 os anos da guerra” para esta apresentação. Em primeiro lugar agradeço a vossa presença e lamento a minha ausência que espero colmatar muito em breve. A minha ligação a esta terra remonta à década de 1980, à minha juventude e aos tempos do Liceu. Aqui vivi provavelmente os melhores anos da minha vida e Macau entranhou-se-me na alma. Despertei para a história deste território já adulto em Portugal onde estou actualmente. Pelo menos fisicamente, já que em pensamento a maior parte do tempo estou por aqui. A minha ligação a esta terra de que me considero um filho adoptivo não sei explicar. Há coisas que pura e simplesmente não se explicam. São assim e pronto!
Mais do que saudades, sinto e vivo Macau como se daqui nunca tivesse saído. Não bebi água da fonte do Lilau mas não me importava de aqui morrer.
Não sou um historiador. Sou jornalista. Um historiador do dia-a-dia, se quiserem. Foi com esse espírito que comecei por me dedicar à história de Macau. Única no mundo!
Tendo por base um livro de Monsenhor Manuel Teixeira – celebrou-se há pouco tempo o centenário do seu nascimento – reescrevi em 2007 a história do Liceu de Macau, uma instituição centenária. Estava dado o primeiro passo para uma viagem que ainda agora começou. Das pesquisas para esse livro resultou a ideia que me inspirou a embarcar num novo projecto, o blog Macau Antigo.Está a caminho do quinto de existência e já conta com mais de 400 mil visitantes!
Entre a assistência estarão certamente jornalistas. Pois bem, fica lançado o desafio para que a história de Macau tenha um espaço regular nas páginas dos vossos jornais. A esmagadora adesão ao blog Macau Antigo é a prova de que há muitos interessados. Afinal de contas, nem todos se podem orgulhar de estar na lista de Património Mundial da Unesco.
Sobre o livro, razão que vos trouxe aqui, o título diz tudo. Ou quase tudo.
Entre 1937 e 1945 Macau viveu um dos períodos mais conturbados da sua história no século 20. Está lá tudo! Portugal, China, pessoas, dor, alegria, sofrimento, política, intriga, ódio, amor, tristeza… Nestes anos encontramos a essência da génese desta terra e o segredo da sua longevidade até aos dias de hoje. Conhecem algum pedaço de mundo com estas características? Escusam de pensar muito porque não existe!
Na espuma dos dias é a indústria do jogo que mais ordena, mas não nos iludamos, essa é apenas uma face da moeda. O legado histórico nas suas múltiplas dimensões permanecerá para sempre como uma marca singular na história mundial.Confúcio disse que reconhecer que não se sabe já é saber alguma coisa.É com esse espírito que me dedico a divulgar a história de Macau. A cada resposta uma nova pergunta.Com este livro pretendi fazer isso. Fica por saber-se, por exemplo, a versão japonesa dos acontecimentos…
Para além da cronologia quase dia-a-dia, destaco as várias dezenas de testemunhos, muitos deles inéditos, bem com as centenas de imagens, algumas, também elas mostradas pela primeira vez.
Apresentei diversos projectos ao IIM e este foi o primeiro a ser escolhido. Espero que os demais também se concretizem. Sem saír de Portugal - pelo menos fisicamente - escrevi essas centenas de páginas que têm entre mãos. Imaginem se tivesse aí…
Tenho outros projectos para escrever sobre a história de Macau. Com ou sem apoios, os que me conhecem, sabem que, mais cedo ou mais tarde, vão ver a luz do dia.
Quem disse que não se deve voltar ao lugar onde se foi feliz estava redondamente enganado. Acreditem! Até um destes dias! Bem hajam. 
João Botas - Portugal, 18 de Junho de 2012
Ao centro, secretário-geral do IIM, Dr. Rufino Ramos
João Guedes: autor do prefácio