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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Delfino José Rodrigues Ribeiro: 1930-2012

Nasceu em Macau a 24 de Maio de 1930 (na casa da avó à Rua do Campo) e licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa tendo ingressado na Função Pública.  Iniciou a carreira profissional como subdelegado do Procurador da República da Câmara de Lisboa em 1955. Anos mais tarde, regressa a Macau, onde prosseguiu a carreira. Foi director do Arquivo Provincial do Registo Criminal, juiz do Tribunal de Polícia de Macau; director e docente dos cursos técnicos da Polícia Judiciária; inspector-adjunto da Polícia Judiciária (1969). A 22 de Abril de 1961 acontece a cerimónia de confirmação da posse como Inspector-Adjunto da Policia Judiciária que fundou.
Enquanto estudante, desenvolveu diversas actividades no Centro Universitário da Mocidade Portuguesa. Foi ainda director-geral dos Serviços de Intercâmbios da Mocidade Portuguesa.
Foi deputado por Macau em Portugal - Círculo de Macau - Comissão Ultramar entre 1969 e 1973 (X e XI legislaturas) onde se destaca pelo apoio ao Decreto-Lei n.º 420/70, que condiciona a produção, o tráfico e o uso de estupefacientes.  Em 1973 publica o Exame Prévio sobre a Toxicomania (editado pelo Centro de Informação e Turismo). Em 1980 foi eleito deputado por sufrágio indirecto para a Assembleia Legislativa de Macau. Morreu no passado dia 17 de Janeiro de 2012.

Delfino graduated in Law from the Classic University in Lisbon, Portugal, where he lived many years. In 1961, he returned to Macau to found and direct the Judiciary Police for 9 years, during which he held other posts such as Police Court Judge, Director of Criminal Archives, Director of Drug Addiction Combat Centre and Consultant for the International Institute for the Study of Drug Addiction in New York , USA. In 1970, after being classified in 1st place in all overseas territories of Portugal, was appointed Notary Public in Macau and began simultaneously to exercise liberal professional as a Lawyer.
For two mandates not completed because of the Revolution, he was Deputy of the National Assembly of Portugal as the only representative of Macau where he was elected Permanent Secretary of Overseas Commission. From 1979 to 1983 , he served as a member of the Macau Legislative Assembly. In November 1987, he led the first group of Portuguese Lawyers that, at the invitation of the Chinese Authorities, visited Mainland China (Canton).
In 1989, co-founder of the Law Association of Macau where he presided over the Superior Disciplinary Board of Lawyers (Conselho Superior de Advocacia).
He was also co-founder of ADIM (Civil Association for the Protection of Macau Interests ) and of Elos Club de Macau , President of Tennis Civil ,Vice-President of APIM (Associação Promotora de Instrução dos Macaenses ,ie, Association for Promoting Macanese Instruction ) and Vice-President for Asia of “Elos Internacional da Comunidade Lusíada”(an organization that, established in Brasil, links all Portuguese speaking Communities around the world ) and is an honorary member of Casa de Macau in São Paulo, Brasil.
After retiring as a lawyer and notary public, Delfino became the president of the Board of Trustees (presidente do Conselho de Curadores) to a Foundation he and a group of Macanese established in 1996 in Lisbon, with the main aim of giving assistance to those families that, due to the handover of Macau, decided to move their home to Portugal, although the institution is open to everybody. Its name is “Fundação do Santo Nome de Deus” (Holy Name of God, a title granted to the city of Macau by the King of Portugal) is located in a very good residential area with head office in a 8 storey building, comprising a home for seniors with 38 rooms and in the neighboring building, a small apart hotel that has been a meeting point for Macanese people that visit or pass by Lisbon especially from Macau, Brasil,USA and Canada. Delfino was married to Lorraine Au (b. 11 November 1931 Hong Kong).
Em Maio de 2006 Delfino Ribeiro proferiu uma palestra no Instituto Internacional de Macau (IIM), integrada na série de “serões macaenses” levados a efeito e que viram a luz do dia no formato livro através da colecção “Mosaico”.
“Retalhos de uma vida” foi o título escolhido pelo próprio autor. No texto reúne as memórias da sua vida, desde a infância até aos dias de hoje,  dedicando especial atenção à Fundação do Santo Nome de Deus, a cujo conselho de curadores presidiu, depois de intensa vida profissional e activa participação cívico-política em Macau e em Portugal.
Infância e escola
“O meu primeiro contacto com as letras foi pela mão da Soror Arminda, na secção infantil do Colégio de Santa Rosa de Lima, das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, e também através de Adelina Outeiro, que dava aulas na sua residência à Rua de Inácio Baptista.
A primária, tive-a na Calçada de Bom Jesus, na Calçada do Gamboa, ou seja, no cimo da Calçada do Tronco Velho, perto da antiga Escola Comercial e, por fim, em Tap Seac, no estabelecimento que continua hoje a exercer o seu mister. Em relação aos professores, vêm-me à memória Celestina de Mello e Sena, Vera de Senna Fernandes, Luís Gonzaga Gomes, Danilo Barreiros e Francisco Carvalho e Rêgo.
Com excepção do 7º ano, que frequentei no Monte Estoril, no Colégio João de Deus, cujo director e proprietário era o grande pedagogo João Dias Valente, fiz o liceu na Rua do Campo, em Tap Seac, no prédio onde está presentemente o Instituto Cultural.
Conheci vários professores: Torquato Gomes, Artur de Almeida Carneiro, Rodrigues Lima, Craveiro Lopes, Humberto Rodrigues, Mariazinha de Sousa Afonso, Clement Braga, Guedes de Andrade, Mercedes Pacheco Jorge, Pedro Guimarães Lobato, Ferreira de Castro, Garcia da Silva, Padres Maciel, Manuel da Costa Nunes, Júlio Augusto Massa, Manuel Teixeira e Áureo da Costa Nunes e, ainda, em educação física, Fernando Homem da Costa, Veríssimo do Rosário e João dos Santos Ferreira – este último famoso hoquista, que foi meu vizinho quando regressei a Macau em 1961 e, depois, colega de foro.(...) De entre os docentes que citei, destaco o Padre Massa, que foi quem mais me impressionou, quer como pedagogo e humanista quer pela enorme influência que exerceu nos seus alunos, dentro e fora do liceu, com eles convivendo nos eventos desportivos, nos passeios, bailes e em outros actos da vida quotidiana.(...)
Foi para mim uma elevada honra tê-lo como amigo e confidente durante mais de meio século e a ele devo em grande parte a minha formação, naquilo que porvenura tenha de bom. Doutorado em Filosofia pela Universidade de Salamanca depois de se licenciar pela Universidade Gregoriana de Roma, e com pós-graduação em Ciências Sociais no Instituto Leão XIII de Madrid, faleceu há perto de três anos em Lisboa, onde se encontrava há muito radicado. Purista na arte de escrever, deixou uma valiosa obra em prosa e verso, como grande pensador e magnífico poeta virado para o soneto (produziu 600!) – isto, segundo as suas próprias palavras, ‘pela sua concisão, pelo ritmo, pela música, a traduzir o pensamento, sobretudo filosófico’.
A todos estes docentes que contribuíram em maior ou menor grau para a educação da minha geração, vai a minha respeitosa homenagem. Estava-se então na II Guerra Mundial, em que o número de refugiados, incluindo os membros da comunidade portuguesa de Hong Kong, aumentava assustadoramente e a falta de géneros alimentícios e outros de primeira necessidade se agravava, arrastando consigo a fome, a doença, os furtos, roubos, assaltos e outras sequelas nocivas ao bem estar das pessoas e à segurança dos bens.
As incertezas sobre o devir eram enormes e, talvez por esta razão, apenas se podia contar com o presente, que se procurava aproveitar o melhor possível, preenchendo-o com reuniões sociais, culturais e desportivas e outras festas, o que dava à urbe um ambiente trepidante e aparentemente alegre e despreocupado, em contraste com a miséria que, de mãos dadas, grassava em todos os cantos e recantos.”
A guerra
“Os que viveram nesta época devem estar lembrados do clima de tensão que pairava neste centro de espionagem em que actuavam, dum lado, os homens de Chiang Kai Cheak e das forças aliadas e, do outro, os nipónicos que dominavam toda esta região, sendo lugar comum e prato do dia os tiroteios, homicídios, assaltos, e outros incidentes e atropelos à lei e à ordem pública. A este propósito, em 10 de Julho de 1945, um tio meu, Fernando de Senna Fernandes Rodrigues ou simplesmente Fernando Rodrigues, conceituado comerciante que presidia à Cruz Vermelha, foi, à saída de um funeral no cemitério de S. Miguel, barbaramente assassinado, a mando do sinistro comandante militar japonês Coronel Sauer, com vários tiros por um capanga do famigerado facínora e mercenário Vong Kon Kit (cujo fim acabaria posteriormente por ser também trágico), tendo as duas filhas do meu tio, que o acompanhavam, sido feridas. Este atentado foi como que o funesto desfecho de um litígio provocado pelo abastecimento de arroz, cujo acesso a Macau se fazia por dois canais marítimos: um controlado pelos japoneses, que cobravam uma taxa alfandegária que vinha onerar em muito o custo deste alimento de primeira necessidade, e outro que era utilizado pelos “contrabandistas” (assim classificados pelas autoridades nipónicas) que traziam o arroz, que era vendido a preço inferior, estimulados pelo meu tio, que, brigão e temerário, se mostrava indiferente a contínuas ameaças de represália. Ora, para minorar este estado de coisas, a PSP, com a aprovação do Governador Comandante Gabriel Maurício Teixeira (que, mais tarde, com a rendição das forças do eixo, viria a ser nomeado Governador-Geral de Moçambique), e sob o comando do capitão Carlos Alberto Rodrigues Ribeiro da Cunha, criou uma brigada especial dirigida por Sebastião Voltaire Pinto de Morais, que passou a ser alcunhada de “Spitfire”, devido talvez à presteza e precisão com que actuava nas suas missões, à semelhança dos aviões de caça britânicos do mesmo nome, que imenso terror provocaram na II Grande Guerra. Brigada que foi, em momentos tão conturbados, uma referência marcante da administração portuguesa.
Todavia, instaurada a paz, o capitão Ribeiro da Cunha, o chefe Pinto de Morais e os seus subordinados subchefe José António David e guarda Alberto Cortiço Paz foram presos em 31 de Julho de 1946 e transferidos para Moçambique, sob a alegação de prática de vários crimes, tais como extorsão junto de fumatórios de ópio e de emissores clandestinos, roubo, homicídio, rapto e cárcere privado em que teriam sido vítimas alguns chineses (um dos quais Chan Va Ian, procurado por traição pelo General Van Ian Chek da China Nacionalista) e José Maria Alves, intérprete da Secção Especial do Exército Japonês, e sua companheira Rony, arrebatados da hospedaria ‘Aurora Portuguesa’ da Rua do Campo.
Os arguidos, posteriormente enviados para a capital do nosso País, mantiveram-se escandalosamente presos durante 14 anos até Julho de 1960, quando foram julgados e absolvidos pelo Colectivo do 2.o Tribunal Militar Territorial de Lisboa.”

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