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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Jogos, brinquedos e... 2º vol. da 2ª parte quase pronto

Poucos meses depois da apresentação de um dos volumes de "Jogos, Brinquedos e outras Diversões de Macau", o Albergue da SCM reafirma a sua intenção de publicar o próximo volume da obra. Para Carlos Marreiros, a primeira parte, publicada em 1976, "é o melhor livro escrito sobre Macau no século XX".
O Albergue da Santa Casa da Misericórdia está interessado em publicar e lançar na Região o segundo volume da segunda parte da obra “Jogos, Brinquedos e outras Diversões de Macau”, segundo confirmou o director do Albergue da SCM, Carlos Marreiros, ao JTM. O livro está já praticamente concluído por Ana Maria Amaro, que ainda não assegurou o financiamento para a sua publicação. Nele são descritos mais de 40 jogos de tabuleiro e “outras diversões”, culminando com uma investigação sobre a ópera cantonense.
Ana Maria Amaro é professora catedrática jubilada do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa e também presidente do Instituto Português de Sinologia (criado em 2007). Tem vindo a estudar a China e Macau há mais de 50 anos, desde que veio viver para o território, onde permaneceu entre 1957 e 1973. A primeira parte de “Jogos, Brinquedos e outras Diversões de Macau” foi publicada em 1976, mas já estava esgotada nos anos 80. Carlos Marreiros não esconde a sua “grande admiração” pela autora e diz mesmo que o referida primeiro tomo “é o melhor livro escrito sobre Macau no século XX”. Uma opinião que era partilhada pelo historiador Charles Boxer. Marreiros recorda que, na década de 1980, assistiu ao doutoramento daquele erudito na Universidade Católica, onde o britânico afirmou que o livro de Ana Maria Amaro era o documento mais notável editado sobre Macau no século XX.
O primeiro volume da segunda parte da enciclopédica obra de Ana Maria Amaro foi apresentado em Lisboa em 22 de Junho, na Delegação Económica e Comercial de Macau. Na obra (uma edição da autora, com apoio da Fundação Macau), são descritos pormenorizadamente jogos de azar (incluindo o ‘fan tan’ e jogos de dados), jogos de cartas e dominós, adivinhas populares de Macau (de tradição oral e impressas), puzzles e jogos relacionados com práticas divinatórias.
Foto de José Simões Morais
Em Abril, quando ultimava a edição do segundo volume, a autora contou ao JTM que viveu durante 16 anos, um período em que se sentiu pouco estimulada pela vida social da comunidade portuguesa então residente no território. Motivada por uma “curiosidade imensa” em perceber a cultura chinesa que via pelas ruas, aprendeu a falar cantonense e procurou uma Associação de Artes Marciais chinesas, um mundo onde o mestre Pun Su Sam foi seu guia. Paralelamente, surgiu o interesse pelos jogos, que a levou a uma recolha exaustiva de materiais – tais como baralhos ou tabuleiros – e testemunhos orais. A sua pesquisa levou-a a ir “apanhando no terreno coisas que se estão a perder”, não só em Macau, mas em vários locais da China. Tais como, por exemplo, um jogo que viu ilha de Lama [em Hong Kong], em que os jogadores rasgavam as cartas depois de as usarem.
Na introdução ao livro, a que o JTM teve acesso, a autora considera que a análise “dos jogos presentes e do resquício dos jogos passados que já foram abandonados, mas dos quais resta a memória”, permite “tirar conclusões interessantes acerca das múltiplas influências culturais” sentidas em Macau, e também “acerca dos preconceitos quer étnicos quer sociais que transformaram completamente certas regras de jogos importados”. Ana Maria Amaro recorda também algumas superstições associadas aos jogos: “Se quem joga perder, isso significa que a sorte não o bafeja e não deve, por isso, nessa altura, fazer um negócio de vulto , empreender uma tarefa difícil de cujo resultado muito espera, um casamento, etc. Se, pelo contrário, ganhar, terá sorte e poderá empreender sem riscos algo de importante. É por isso que abrir o ano (no Ano Novo lunar) implica jogar; e jogar com base no acaso, até se ganhar, mesmo depois de se perderem grandes somas. Nessa altura, já se poderá prever que o novo ano será próspero.”
Artigo da autoria de Paulo Barbosa publicado no JTM de 27-9-2011

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