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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Aguarelas

Portas do Cerco
Kwok Se (1919 – 1999)
Aguarela sobre papel - 1980
A pintura a aguarela é um medium artístico muito flexível, que permite grande riqueza de gradações e intensidade expressiva. A aguarela surgiu da necessidade de registar informação topográfica e esteve na origem da coloração de mapas. Após o século XVIII, os ingleses desenvolveram a arte de pintura em aguarela, que se tornou uma disciplina distinta e servia para descrever cenários naturais e seus personagens, tendo-se assim vulgarizado por todo o mundo. Para os pintores que gostavam de viajar, a aguarela, de utilização simples, era de facto muito conveniente. As pinturas a aguarela surgiram em Macau nos seus primórdios sobretudo em mapas e gravuras topográficas. A partir de meados do século XVI, a pequena aldeia de pescadores de Macau tornou-se gradualmente um posto de intercâmbio entre a cultura, o comércio e a religião do Ocidente e do Oriente.
Igreja de Santo Agostinho Vista do Calçada do Gamboa
George Smirnoff (1903 – 1947)

Aguarela sobre papel - 1945
Viajantes, comerciantes, poetas e missionários da Europa e da China, todos tinham de passar por esta terra única, uma miragem da Europa mediterrânica com laivos orientais, em pleno solo chinês. Os mapas e desenhos topográficos tornaram-se o veículo ideal para os estrangeiros perceberem Macau e os seus arredores. Os ventos marinhos criaram não apenas uma oportunidade dourada para o comércio e um ambiente natural agradável, como também atraíram à cidade muitos artistas, que descreveram o estilo inconfundível de Macau antigo utilizando diversos suportes, tais como a caligrafia, o desenho a lápis, a pintura a óleo, a gravura e a aguarela. Tanto em termos de quantidade como de qualidade, os trabalhos que mostram à geração actual as impressões do Macau antigo são quase todos em aguarela.
O pintor inglês George Chinnery estudou na Academia Real de Arte da Grã-Bretanha, o que lhe deu uma base sólida em termos de formação artística. Chinnery chegou a Macau no início do século XIX e, aqui faleceu vinte e sete anos depois. Durante esse período produziu muitos desenhos cativantes, para além de pinturas a óleo e aguarelas. Os seus alunos – Thomas Watson e Marciano António Baptista, bem como outros pintores chineses e estrangeiros a quem influenciou, como Auguste Borget – também nos legaram paisagens encantadoras de Macau.
Capela e Farol da Fortaleza de Nossa Senhora da Guia
George Smirnoff (1903 – 1947)
Aguarela sobre papel - 1945
Com o dealbar do século XX, a aguarela desenvolveu-se rapidamente em Macau. Durante a segunda guerra mundial, o artista russo George Vitalievich Smirnoff refugiou-se em Macau e o pintor macaense Luís Luciano Demée soube aprender rapidamente com ele. A sua técnica consistia em pinceladas vivas, produzindo aguarelas que descreviam os cenários românticos da cidade bem como o movimentado porto de meados da década de 40 e do pós-guerra. A arte popularizou-se imenso nas décadas de 50 e 60. Em Abril de 1956, os artistas Tam Chi Sang, Lok Cheong, Ng Hei U, Chio Vai Fu e Guan Wanli fundaram a “Associação de Pesquisa Artística de Macau”(actualmente a Associação de Artistas de Macau). Esta associação contribuiu imenso para a promoção da criatividade artística em Macau, organizando muitas exposições de vulto e realizando inúmeros cursos de formação artística para fomentar o talento dos artistas locais.
Museu Luís de Camões
Herculano Estorninho (1921 – 1994)
Aguarela sobre papel - 1963
Em 1962, Frederick Joss, Tam Chi Sang e Herculano Estorninho criaram a “Associação Artística Arco-Íris” que revolucionou o panorama artístico local. Em Fevereiro de 1964, cerca de dez artistas, incluindo os já mencionados e ainda Adolfo C. Demée, Oseo Acconci e Walter Ding, realizaram uma “Exposição dos Artistas do Arco-Íris”, na galeria do Leal Senado de Macau (actual Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais), onde se exibiram muitas aguarelas que causaram sensação.
Avenida de Almeida Ribeiro
Kam Cheong Leng (1911 – 1991)
Aguarela sobre papel - 1982
Nas décadas de 70 e 80, Macau urbanizou-se rapidamente e o desenvolvimento das artes deveu-se ao esforço colectivo de Kam Cheong Leng, Tam Chi Sang, Pun Sio Ieng, Tam Van Iao e Chio Vai Fu, bem como de instituições privadas.Foi nesta época que surgiu uma nova geração de artistas, incluindo Lai Ieng, Lio Man Cheong, Pun Lon San, Lok Hei, Ng Wai Kin, Poon Kam Ling, Poon Kam Ha Elsa, Poon Kam Pek, Io Fong, Luk Tin Chi, Sio In Leong, Choi Su Weng e Wong Io Wa que tinham de comum entre si o facto de adorarem a técnica de aguarela pelas suas cores esbatidas. Houve vários outros artistas locais que não só se distinguiram no desenho e na pintura a óleo como foram exímios aguarelistas. A técnica da aguarela desenvolveu-se e foi sendo transmitida de geração em geração, sendo ainda hoje muito praticada em Macau.
Texto do Museu de Arte de Macau

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