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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Padre Lancelote

Nascido em Malaca em 1923, concluiu em Macau os estudos em filosofia e teologia. Um trabalho de várias décadas com os refugiados que terá salvo milhares de vidas.Tem 85 anos e está há 73 em Macau. Ja li algures que o Padre "fez mais pela imagem de Portugal no Oriente que os ministros dos negócios estrangeiros todos juntos". A obra que desenvolveu junto da UNESCO e a que dedicou a sua vida - os refugiados - faz dele um dos portugueses mais internacionais e prestigiados de sempre.
Há quem diga que era próximo da CIA. 'Eles eram os protectores dos pobres, pois deram-nos muito dinheiro para os refugiados', comenta, não negando que 'era muito ligado ao governo americano'. 'Sempre nos abriu muitas portas. De modo que aproveitávamos. Eles tinham que saber a posição, a situação e a política da China, pelo que mandava muitos relatórios para o consulado americano de Hong Kong. Fazíamos isso muito abertamente. Às vezes os elementos da CIA vinham ter comigo. Falávamos, tomávamos as nossas bebidas, dávamo-nos bem. Representante da CIA nunca fui porque isso é uma coisa política', esclarece.
O amigo e arquitecto Carlos Marreiros enfatiza que 'o padre Lancelote é louvado por toda a gente, desde o mais pobre até governantes e embaixadores, tendo sido o verdadeiro cônsul-geral dos EUA em Macau nos últimos 40 anos.'
Mas recusa a palavra informador. 'Isso é que não. Ele está muito acima disso'.
Aos 22 anos decidiu ser padre. 'Fiz bem, até porque os refugiados chegaram por altura da minha ordenação. Acontece que o bispo daquele tempo, Dom João Ramalho, não acreditava na minha vocação. Mandou-me tratar dos refugiados, tarefa que cumpri durante 14 anos. Tratar de pessoas que tinham perdido tudo foi uma experiência e educação formidáveis'.
Sobre a sua vida entre os Jesuítas, fala de uma disciplina dura mas 'esmerada'. 'Ao princípio víamo-los como uns tormentadores, mas quando saímos como padres, agradecíamos', confessa, não escondendo que 'recebia muitas torturas. Tínhamos que, durante horas, ficar a olhar para as paredes.
E também apanhávamos bofetadas e castigos corporais. Tive um castigo porque fui apanhado a fumar. Colocaram a minha carteira no meio de um corredor de 80 metros de comprido.' Desses tempos, lembra ainda ter escrito poesias às raparigas e de na procissão olhar para um lado e para o outro para ver 'onde estavam as mais bonitas'. Lancelote acredita que só não foi expulso graças à voz de soprano. 'Fazia falta no coro'. Lancelote Rodrigues gostaria que, 'daqui a 50 anos, fosse recordado como um homem alegre, um bonacheirão que gostava dos pobres e de uísque.' 'Recebi uma medalha das mãos da rainha de Inglaterra onde me chamam Sir Lancelote. Mas Sir Lancelote é o da Távola Redonda. Eu sou o Lancelote da garrafa redonda'.
A personalidade do padre dos pobres reparte-se entre a bondade – praticada de forma contínua junto de milhares e milhares de refugiados, pobres entre os mais pobres – e a atitude efusiva do ‘bon vivant’, aquele que é capaz de apreciar os prazeres da boa mesa, da música, da amizade e da alegria. Nos actos de missionário, onde é capaz de amar os mais necessitados e por eles dar tudo, jamais transpareceu o seu outro lado – folgazão, bom garfo, sempre bem-disposto, dono de uma potente voz de baixo-barítono. Lancelote Rodrigues não recusa emborcar dois deditos de um bom uísque antes de entoar algumas belas canções na companhia dos amigos.
Padre Lancelote pensou desistir da sua vocação. Queria casar com uma rapariga 'muito sensata e boa'. Só desistiu porque 'gostava de ajudar os outros, principalmente os pobres'. 'Via tanta pobreza no campo de refugiados que me afeiçoei a eles. Se casasse isso perdia-se. Afinal, em vez de amar uma, podia amar 150 mil', conta.
Leonor Seabra, professora da Universidade de Macau e biógrafa do padre Lancelote Rodrigues, enaltece "a acção desempenhada pelo prelado no interior da China, junto de populações absolutamente carenciadas, às quais proporcionou melhores condições de vida. Graças aos inúmeros contactos, estabelecidos ao longo de muitos anos de actividades de ajuda humanitária, criou uma obra a todos os tí-tulos exemplar", reconhecida até pelo anterior Papa, João Paulo II, que o recebeu.
Lancelote Rodrigues nasceu em Malaca, filho de pai português, e foi para Macau aos 12 anos. Decidiu aprender o português para poder estudar Filosofia e Teologia. Aos 22 decidiu ir para padre.

O Padre Lancelote rodrigues é o representante em Macau do Alto comissariado para os Refugiados

1 comentário:

  1. Estimado João Botas,
    O Padre Lancelote um velho e grande amigo meu, pelo que deduzi faleceu, não sei de nada nem tive conhecimento.
    Abraço amigo

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