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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Explosão da fragata D. Maria II em 1850

A fragata D. Maria II que explodiu ao largo da Ilha da Taipa no dia 29 de Outubro de 1850. Foi no dia 29 de Outubro ocorreu uma violenta explosão no paiol da pólvora da fragata D. Maria II ao largo da Ilha da Taipa de que resultou a morte de 231 pessoas, entre as quais 188 elementos de sua guarnição. Foi o mais trágico acidente da História da Marinha e, muito provavelmente, as suas causas também estarão relacionadas com as motivações que levaram ao assassinato do governados Ferreira do Amaral e com a reacção à nova atitude dos portugueses em relação a Macau. Entretanto, passada a tensão entre as autoridades portuguesas e chinesas e com vida em Macau a normalizar-se, em Abril de 1851 a corveta D. João I largou para Xangai, Hong Kong e Whampoo para mostrar a bandeira. Sepultura dos mortos na explosão na ilha da Taipa

Contextualização

Estamos na véspera da guerra do ópio (1839-1842). Os ingleses que haviam sido expulsos da China em 1839, passam a viver em Macau. Não tarda que em 26 de Janeiro de 1841, ocupem a Ilha de Hong Kong, situada no outro lado da foz do rio das Pérolas e que se desencadeie o processo dos tratados desiguais, iniciado com o tratado de Nanquim (1842) com os britânicos e continuado pelos de Whampoa (1844), com os franceses, Wanghia (1844), com os norte-americanos, e Aigun (1858), com os russos.
A partir da instalação dos britânicos em Hong Kong, Macau deixa de ser o primeiro dos intermediários comerciais entre a China e o resto do mundo, ao mesmo tempo que o assoreamento das respectivas águas se agravava e tardava a introdução do esquema do porto franco que, à semelhança da nova colónia britânica, só veio a ser introduzido em 20 de Novembro de 1845.
O estabelecimento dos britânicos em Hong Kong, numa altura em que habitavam Macau cerca de cinco mil dependentes da coroa portuguesa, para vinte mil chineses, vai ser fulgurante. Aliás em Dezembro de 1851 já aí estão instaladas cerca de 15 000 pessoas, número que, um quarto século depois já atinge mais de centena e meia, incluindo uma importante colónia de portugueses, aliás, maior que a residente em Macau.
A instalação dos britânicos na outra margem do delta e o rugir do complexo de superioridade dos ocidentais face à derrotada multidão dos chineses vai acicatar o nosso desejo de copiarmos modelos imperiais alienígenas e não tarda que o chicote soberanista se desembainhe, não só contra a intervenção das autoridades chinesas, mas também contra o comunitarismo do plurissecular autogoverno de Macau representado pelo Leal Senado que, apesar de tudo, havia resistido ao absolutismo, em nome do tradicionalismo e da capacidade de mobilização de apoios financeiros para o subsídio a actividades militares face a circunstâncias excepcionais de insegurança. Uma instituição que, logo em 2 de Março de 1844, era reduzida à dimensão de mera câmara municipal, na mesma altura em que surgia oficialmente a Província de Macau, Timor e Solor, num bloco que só vai ser quebrado em Outubro de 1850.
Já no ano anterior se iniciara a ocupação da Ilha da Taipa pelo governador José Gregório Pegado, mas, nesta primeira extensão do nosso espaço territorial, o governador ainda utilizou os nossos métodos tradicionais, dado que previamente visitou o Vice-Rei de Cantão que prometeu fechar os olhos perante tal operação que decorreu quando Xangai era aberta ao comércio europeu.
A partir de 1846, quando Macau deixou de pagar foro de chão à China, o Estado Moderno chega a Macau através do reformismo de Ferreira do Amaral, o primeiro governador não dependente de Goa. Tomou posse em 21 de Abril de 1846 (fora nomeado em Dezembro do ano anterior) e, desde logo, tomou medidas drásticas: aplicou um decreto de 20 de Novembro de 1845 que declarava Macau porto franco; em seguida, estabeleceu um imposto predial e industrial, também aplicável aos chineses residentes, e determinou o registo ou cadastro dos barcos de transporte ou faitiões. Esta medida levou a uma revolta organizada dos chineses em 8 de Outubro de 1846. Foi o carácter destemido do governador, à frente de pouco mais que meia centena de soldados que a jugulou, ao mesmo tempo que impediu o posterior boicote do comércio, ameaçando com uma repressão sangrenta.
Para além disso, obrigou o mandarim chinês a abandonar Macau, reduzindo a jurisdição especial dos chineses à existência de um Procurador da Cidade que, logo em 20 de Agosto de 1847, passa a depender do Governador, através da Secretaria do Governo, e não do Leal Senado, como até então. Apesar das imediatas queixas do Leal Senado, remetidas para Lisboa logo em Fevereiro de 1847, não tardou que a respectiva autonomia fosse comprimida
Ao mesmo tempo, o governador modernizava a circulação no território, abrindo vias internas que cortavam a direito o espaço sem respeitarem os locais onde os chineses tinham as suas sepulturas, embora com a boa intenção de quebrar as muralhas que acantonavam a presença portuguesa na península. Finalmente, ocupou militarmente a ilha da Taipa. A 9 de Setembro de 1847 era içada aí, pela primeira vez, a bandeira portuguesa.
Segue-se o arrolamento de todos os chineses residentes no território (20 de Dezembro de 1848), bem como a extinção das próprias alfândegas chinesas (5 de Março de 1849), inevitável corolário do regime de porto franco, enquanto proíbe que os mandarins entrem em Macau tocando bátega, como faziam quando entravam em terras chinesas (18 de Março de 1849).
Não faltou sequer um conflito com os próprios britânicos, com incidentes por ocasião da procissão do Corpo de Deus de 17 de Julho de 1849, quando os súbditos de Londres trataram de aplicar o princípio da extraterritorialidade dos cidadãos em causa, desrespeitando a autoridade portuguesa.
O governador acabou assassinado em 22 de Agosto de 1849 por sete chineses, perto das Portas do Cerco. Mais do que uma mera vingança pessoal, terá sido um assassinato político levado a cabo pela organização secreta chinesa da Sociedade dos Rios e dos Lagos, representante de um mais amplo movimento de resistência que procurava opor-se aos planos portugueses de alargamento do espaço territorial português às ilhas circundantes de Macau, desde a Taipa e Coloane, às ilhas da Lapa, D. João e Montanha, delineados a partir de 1844. Aliás, Ferreira do Amaral, o herói de Itaparica, obedecia a essa estratégia e tinha íntimos contactos com o governador britânico de Hong Kong, Sir John Davis, com quem conjugava acções.
Macau respondeu e no dia 25 de Agosto, passámos à ofensiva militar, com o tenente macaense Vicente Nicolau de Mesquita, à frente de três dezenas e meia de soldados, a conquistar o forte do Passaleão, em território chinês, registando-se assim o único confronto militar formal entre portugueses e chineses ao longo deste quatro séculos e meio de presença portuguesa nos mares e terras da China. Contudo, a movimentação militar acabou por ser contida e, em 16 de Setembro de 1849, o Vice-Rei de Cantão já oficiava ao Governo de Macau, informando ter sido preso e executado o assassino de Ferreira do Amaral. Muito simbolicamente, em 16 de Janeiro de 1850, eram recebidas a cabeça e a mão do governador.
Só então o Governador pôde ter um funeral de Estado tendo os seus restos mortais sido transladados para Lisboa. Restava ao governo português vingar as afrontas sofridas. Para o efeito, foram enviadas para Macau a fragata D. Maria II e as corvetas Íris e D. João I, assim como um destacamento de tropas. Também de Goa veio um destacamento. Pretendia-se, com estes efectivos, a realização de um ataque punitivo a Cantão. Porém, os navios enviados acabaram por chegar em condições deploráveis, a necessitar reparações e as tropas prometidos pelo governo central nunca vieram.
Nesse mesmo ano de 1850, em 28 de Outubro, a mesma sociedade secreta que assassinara o governador levou a cabo a explosão da fragata Dona Maria II, estacionada no ancoradouro da Taipa, eliminando desta forma a possibilidade de um alargamente da influência portuguesa na região, através da via militar.
A tragédia ocorreu após a execução de salvas (comemorava-se o aniversário do Rei). A fragata ficou desfeita pela explosão de trezentos barris de pólvora, tendo morrido cerca de 190 homens da guarnição (os números variam consoante as fontes). A corveta americana Marion, fundeada nas proximidades, escapou por pouco, tendo recebido sobre o convés uma chuva de sangue e fragmentos de carne. Acolheu, também, vários feridos, muitos deles mutilados e desfigurados, contorcendo-se em mortal agonia. De acordo com a versão dos sobreviventes, o desastre ter-se-á, provavelmente, ficado a dever a um acto de vingança do guarda do paiol de munições, punido por embriaguez e negligência (muitos tinham-no ouvido ameaçar deitar fogo ao paiol). Outra versão dá conta de um acto de sabotagem da parte dos chineses... os mesmos que assassinaram Ferreira do Amaral.
PS: noutros post's (é só fazer uma pesquisa) coloquei imagens sobre a explosão da fragata.

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