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quinta-feira, 30 de abril de 2009

O 1,2,3 em 1966

No final de 1966 Macau viveu um dos eventos mais tensos da sua história em todo o século XX... ficou para a história como o ‘Motim 1-2-3′. Para enquadramento histórico, e aqui ganha especial relevo, importa dizer que na China, Mao Tsé Tung empenhava-se como nunca na Revolução Cultural.
Causas
Em 1966 os residentes chineses da ilha de Taipa esforçaram-se para obter uma licença do governo português para a construção de uma escola privada. Como não obtiveram resposta, iniciaram por conta própria a construção.
Em 15 de Novembro de 1966 os trabalhadores da construção, responsáveis e demais colaboradores além de residentes simpatizantes da iniciativa e jornalistas foram violentamente perseguidos e presos. O acontecimento serviu de pretexto para que a imprensa chinesa e grupos pró-comunistas da região atacassem o governo de Macau, de modo a sugerir este acontecimento como exemplo do mal que havia no domínio estrangeiro em toda a China.
A constante menção e debate do acontecimento serviu para que surgisse o descontentamento entre os chineses de Macau. No dia 30 de Novembro ocorre um protesto de operários, donas de casa e professores diante do palácio do governo.
Os eventos
Em 3 de Dezembro a situação agrava-se devido à invasão de militantes comunistas ao gabinete do governador. No caminho, frases de efeito maoístas e canções revolucionárias eram entoadas; o grupo foi expulso pela polícia, porém uma multidão já descontente com os desmandos acumulados de tempos anteriores juntou-se aos radicais.
Iniciou-se um motim no mesmo dia. Monumentos, prédios e arquivos foram vandalizados. Foi declarada lei marcial pelo governo colonial e as tropas entraram em cena. Saíram mortos 11 e feridos cerca de 200 deste protesto.
O motim recebeu o nome de 1-2-3 em alusão aos dias em que se deram os protestos.


Consequências
O problema é que a situação na melhorou após os acontecimentos. A revolução cultural continuava a servir de inspiração para o descontentamento embora não houvessem mais manifestações. Os residentes europeus migraram para Hong Kong e Portugal.
Em 11 de Dezembro uma delegação dos manifestantes liderada por Leong Pui encontrou-se com o governador, à época, o brigadeiro José Manuel de Sousa e Faro Nobre de Carvalho, que cedia às pressões dos manifestantes.
O problema é que muitos desses manifestantes estavam ligados a regiões vizinhas chinesas, como Cantão (Guangdong), e representavam na verdade interesses da China comunista. Diante de tamanho problema as autoridades portuguesas cogitaram seriamente a entrega de Macau ao governo da República Popular da China.
Curiosamente o governo comunista mostrou-se neste momento simpático aos interesses do Estado Novo português, contribuindo para que Macau continuasse como província portuguesa, impedindo, por exemplo a invasão do exército vermelho chinês ao território, algo que assustaria a administração inglesa de Hong Kong, sua metrópole, o Reino Unido, e seu poderoso e fiel aliado, os Estados Unidos.
Delegações de intermediários diplomáticos de ambos os lados (China e Portugal à época não tinham relações diplomáticas). Enquanto as árduas discussões e negociações entre os dois lados ocorriam, a população adotava a política dos “três nãos”: não pagar impostos, não prestar serviços ao governo e não vender produtos aos portugueses.
Tal atitude fez com que a situação do governo de Macau ficasse extremamente complicada, pois esta se via pressionada por Lisboa e pela população macaense local.
Por fim, a 29 de Janeiro de 1967 o Governo de Macau e a RPC chegaram a um acordo resultando num pedido de desculpas do governador à comunidade chinesa. Ficava ainda proibido o apoio das autoridades de Macau aos nacionalistas chineses de Taiwan (Formosa). Um dos protagonistasprincipais deste acontecimento foi o comendador Ho Yin, que com o seu controlo sobre a comunidade chinesa e a sua orientação política anti-comunista foi decisivo para que Macau continuasse como território português. A origem da revolta até é atribuída a uma momentânea perda de controlo do comendador sobre a comunidade chinesa de Macau.
Este evento marcou para sempre a comunidade local. Está na base de um dos mais significativos movimentos de emigração de macaenses. Brasil, Austrália e Canadá foram os principais destinos. Antes tinha ocorrido movimento semelhante aquando da 2ª Guerra Mundial; depois, pouco antes da transferência de soberania, em 1999.

Pavilhão de Macau na Expo de 1998



Foi concebido com o propósito de integrar a Expo'98 e nela representar de forma autónoma o Território de Macau. O pavilhão tinha como fachada uma réplica mais pequena da fachada da Igreja de S. Paulo, e passava pelas várias facetas de Macau, incluindo o jogo (era dada à entrada do pavilhão uma ficha para as slot machines que se encontravam no interior). No espaço central havia uma réplica de um jardim chinês. O fim da visita continha um filme em ecrã panorâmico sobre a região. Durante o genérico final, uma maqueta da skyline de Macau surgia de um aquário colocado à frente do ecrã.

O pavilhão continuou a operar durante vários meses após a reabertura do recinto em Novembro como Parque das Nações. Posteriormente foi desmantelado, tendo a sua estrutura e respectiva fachada sido reconstruídas no Parque da Cidade, em Loures, onde alberga o IPJ e serve ainda como espaço de exposições temporárias.

Pavilhão de Macau na Expo de 1940


Exposição do Mundo Português. A exposição decorreu de 23 de Junho a 2 de Dezembro de 1940. A sua realização integrou-se nas "Comemorações Centenárias" ou do "Duplo Centenário", um conjunto de manifestações de natureza várias, destinadas a comemorar os centenários da Fundação de Portugal e a Restauração.
Implantada na zona ribeirinha, ocupando 450 mil metros quadrados na Barra do Restelo, em Belém, tinha como objectivo constituir uma síntese da civilização portuguesa e da sua projecção universal.

O Pavilhão de Macau ficava na chamada "secção colonial" onde hoje fica o Jardim Colonial, do lado direito do Mosteiro dos Jerónimos. Num post anterior (é só pesquisar...) tenho mais detalhes sobre o tema.


imagem mais recente no actual Jardim Colonial






A exposição foi inaugurada em 23 de Junho de 1940 pelo Chefe de Estado Marechal Carmona, acompanhado pelo Presidente do Conselho Oliveira Salazar e pelo Ministro das Obras Públicas Duarte Pacheco. Os responsáveis da exposição foram: Augusto de Castro (Comissário-Geral), Sá e Melo (Comissário-Geral-Adjunto), José Leitão de Barros (Secretário-Geral) e Cottinelli Telmo (Arquitecto-Chefe). A Exposição do Mundo Português incluía pavilhões temáticos relacionados com a história, actividades económicas, cultura, regiões e territórios ultramarinos de Portugal. Incluía também um Pavilhão do Brasil, único país estrangeiro convidado. Na Expo'98 foi outra história e Macau também esteve representado... mas isso fica para outro post.

terça-feira, 28 de abril de 2009

"Princesa Margarida" rebatizado "Macau"

A propósito dos mais recentes post's sobre viagens marítimas... eis uma curiosidade: um navio britânico de nome Princesa Margarida em 1931 e rebaptizado de "Macau" em 1961... quando foi comprado pela empresa de Hong Kong Shun Tak que assegurava as ligações entre as então duas colónias, a britânica e a portuguesa.
 The Princess Margaret was built in 1931 by Wm. Denny of Dumbarton for the LMS (London, Midland & Scottish Railway) route from Stranraer to Larne. She was 325ft long, 2838 gross tons, and carried 1250 passengers, with 107 first class berths, and 54 second. Her speed was 20.5 knots. She also ran some coastal cruises and trips to Bangor from Larne. In 1939, on the appearance of the new Princess Victoria, she was transferred to the Heysham-Belfast route, returning to Stranraer when the new ship was requisitioned for war service.
She was reconditioned after the war, being converted to burn oil in 1952. She passed to CSP (Irish) when the railways were nationalised, and was withdrawn in 1961, when the new Caledonian Princess arrived. She was sold to Shun Tak of Hong Kong, renamed Macau, and used to the port of that name. 

Companhia Nacional de Navegação

"Uma frota ao serviço da nação e do império, ligando Portugal a África, norte da Europa e ao Oriente"
Ilustração para um anúncio da Companhia Nacional de Navegação, de autor desconhecido, publicada no Anuário do Turismo Português, número 4, 1956.

Terminada a 2ª Guerra Mundial, o Governo português apostou na renovação e alargamento da marinha mercante (Despacho 100, de 10 Agosto de 1945 ). Entre 1944 e 1949 investe-se na renovação da frota. A CNN passa a realizar carreiras para S. Tomé e Angola, Moçambique, Índia, Macau e Timor e ainda, para os Estados Unidos, Argentina e Golfo do México.
Como consequência do despacho são encomendados o "Angola" e o "Moçambique", o "Lúrio" e o "Zambézia", o "Índia" e o "Timor". A linha da Índia e Extremo-Oriente, para a qual foram construídos o "Índia" (1951) e o "Timor" (1951), foi inaugurada a 3 de Abril de 1952. Nas três primeiras viagens o prejuízo foi da ordem dos 10.000 contos e daí para a frente veio sempre a aumentar, apesar da linha ser subsidiada. No ano de 1955 o conjunto da frota da CNN percorreu 716 022 milhas, transportando 118.253 passageiros e 579 953 toneladas de mercadorias.
A rota/itinerário do Oriente e meados da década de 1960...
Paquete Índia (imagem abaixo):
Lisbon, Port Said, Suez, Aden (optional), Singapore, Hong Kong, Macau, Dili, Singapore, Porto Amélia (optional), Nacala (optional), Moçambique (optional), Beira, Lourenço Marques, Lobito (optional), Luanda (optional), Lisbon.
Paquete Timor:
Lisbon, Port Said, Suez, Aden (optional), Singapore, Hong Kong, Macau, Dili, Singapore. Returned to Aden (optional) and via same ports to Lisbon.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Viagens de paquete


Publicidade ao Vera Cruz em 1952, da autoria de Bernardo Marques

Ilustração da ementa muito provavelmente da autoria de António Quadros
antes da guerra... atraía-se o turismo
Timor
Quando andar de avião ainda era um luxo ao alcance poucos... os navios imperavam nos mares. Na segunda década do século XX Portugal 'ligava' o império com recurso à Companhia Colonial de Navegação, do Estado. Brasil, África e Ásia tinham rotas e navios próprios. A carreira do oriente, assim se chamava, tinha navios com nomes a condizer: Índia, Timor... faziam carreira regular para Goa, Macau e Dili... fazendo também transporte de tropas para a Guiné durante a guerra colonial. Também acontecia seguir-se primeiro para África num dos paquetes de serviço e daí apanhar um paquete estrangeiro, muitas vezes da África do Sul, rumo ao Japão passando pelos vários portos da Índia. A viagem, pelo canal do Suez durava cerca de 45 dias. Contornando o continente africano duplicava.

O paquete Índia (imagem acima) foi construído em 1950 em Sunderland, Inglaterra, pela Bartram & Sons, Ld. Tinha 9254 m3 de capacidade e um porte bruto de 7761 toneladas. O comprimento era superior a 130 metros. Possuia dois motores diesel de 4 cilindros cada. Com uma potência de 5750 cavalos atingia a velocidade máxima de 15 nós sendo a sua velocidade normal de 14,5 nós. Podia alojar 387 passageiros, 60 em primeira classe, 25 em terceira classe e 298 em terceira classe suplementar. A sua tripulação era composta por 120 elementos. Foi vendido para Singapura em 1973 ficando com o nome de Kim Hogh.

Viajar de avião para Macau a partir de 1940

Viajar para Macau a partir de Lisboa (e vice-versa) foi, desde sempre, uma aventura devido à enorme distância (quase 20 mil quilómetros). A via marítima foi a mais utilizada até à decada de 1950 quando o avião começou a ganhar importância. No início do século XX foram os 'vapores' franceses da "carreira do oriente" que serviram os passageiros que de Lisboa queriam ir para Macau.
Já na década de 20 do século XX (1922) surgiu a Companhia Colonial de Navegação (mais tarde compania Nacional de Navegação, ambas extintas em 1974. A CCN tinha os navios com as chaminés amarelas e verdes enquanto a CNN tinha os navios com chaminés pretas.
As suas frotas de navios serviam as diferentes rotas para ligar a metrópole às diversas províncias ultramarinas em áfrica e na ásia. Viagens longas que o avião veio 'encurtar'. Ainda que nos primeiros tempos estas ligações aéreas fossem marcadas por diversas paragens para reabastecimento e trocas de avião. As paragens aconteciam em Bangkok, Rangum, Bombaim,Teerão, Atenas, Roma e Londres. Hong Kong era o destino final seguindo depois via marítima rumo a Macau para mais uma viagem de cerca de duas horas.
O aeroporto de Kai Tak (de 1925 - embora a pista fosse sofrendo alterações, a mais significativa em 1958 - a 1998) foi um marco da aviação: pela sua localização que obrigava a manobras difíceis na aproximação... em dias de tufão, imaginem! Foi substituído pelo aeroporto de Chep Lap Kok. A pista de aproximação mais usada em kai tak era a 13 na baía de Kowloon.
Uma das empresas mais em voga logo na década de 1940 foi a British Overseas Airways Corporation, também conhecida por sua sigla, BOAC, foi uma empresa aérea do Reino Unido. Surgiu como fusão da British Airways Ltd. e da Imperial Airways no ano de 1939. Em 1974 encerrou a sua actividade ao fundir-se com a British European Airways.

domingo, 26 de abril de 2009

Restaurante Fat Siu Lau, desde 1903

Anúncio publicado na imprensa local na década de 1970
É, muito provavelmente, o restaurante mais antigo de Macau. Surgiu em 1903, na Travessa do Matadouro. O sucesso quase imediato originou a transferência para o nº 64 da Rua da Felicidade... numa zona de divertimento masculino. O seu fundador era oriundo da China. Tinha (e tem já que o restaurante ainda existe) gastronomia chinesa, portuguesa e macaense. Dos primeiros tempos ganhou fama o 'pombo marinado. O nome Fat Siu Lau, significa Buda da Felicidade.

Quotidiano em Abril de 1974

Publicidade no jornal O Clarim em Abril de 1974
O jornal Notícias de Macau custava 40 avos avulso. Um anúncio a uma coluna de dimensão custava 4 patacas. Estava à venda "na Av. almeida ribeiro frente ao hotel central, na tenda de jornais do chinês Ah -Hói.
Nos cinemas o Império apresentava "Gordon's War", um "espectáculo para maiores de 17 anos" com "sessões às 14.30, 20.00 e 22.00 hrs."
No Nam Van as sessões eram à mesma hora mas o filme era outro. "Filme colorido chinês Chin Ping Mei" com legendas em inglês. O Apollo fazia concorrência no memso horário com o filme "Indian Summer" protagonizado por Sonia Petrova e Alain Delon.
A Emissora de Radiodifusão de Macau, em onda média e frequência modulada (já nos 98) abria a emissão às 7h30 e encerrava às 23h, embora com interrupções pelo meio. Funcionava somente das 7h30 às 8h30, das 13h às 14h3o e das 20h às 23 horas. Noticiário, boletim meteorológico, guitarradas, cançonetas e miscelânia musical faziam parte da programação.

100 escudos valiam cerca de 20 patacas, 1 dólar pouco mais de 5 patacas, já libra inglesa cotava-se nas 12,24 patacas.
O Fat Siu Lau publicava um anúncio no NM apregoando ser "o mais antigo de Macau" mas ambém "o mais podernizado" com "ar condicionado em todo o edifício".
No jornal Gazeta Macaense (com edições diárias em inglês e português) havia publicidade ao Furusato, restaurante japonês do Hotel Lisboa e ainda ao night club Mermaid, no mesmo hotel.
A Caixa Económica Postal anunciava "juros de 2% nos depósitos à ordem" e "3% nos depósitos a prazo". O Overseas Trust Bank Ltd subia a parada oferecendo "7,5% a 12 meses". O Banco do Oriente "com sede provisória no 1º andar do edifício do Hotel Lisboa" afirmaca fazer "todas as operações bancárias". Já o BNU, em Macau desde 1902, destacava os seus "mais de 100 anos de experiência".
A Farmácia Popular, no Largo do Senado, "com serviço permanente, sem encargos extraordinários" tinha o telefone nº 3739.
No NM de 24 de abril de 1974 a primeira página era ocupada pela transcrição ipsis verbis do discurso do gov. na Assembleia Legislativa (e iria continuar nos dias 25 e 26). No interior podia ler-se "Os estaleiros da Setenave devem entrar em funcionamento já em 1975" e "107 pessoas mortas num desastre de aviação" a caminho de Bali proveniente de Hong Kong um Boeing 707 da Pan Am. A morte do presidente francês Pompidou era destaque na página 3.

A STDM publicava um anúncio do seu império "Macau Palace", "Café Estoril", "Hotel Estoril", "Hotel Lisboa" com os restaurantes Portas do Sol, café Noite e Dia e A Galera. Referência ainda para o centro de Bowling com 4 pistas e para os hidroplanadores guia, penha, taipa, patane, balsa, barca, cacilhas, praia e cerco... que partiam diariamente de Macau para Hong Kong entre as 7h45 e as 17h15. Os bilhetes podiam ser comprados no nº 161 da rua do Guimarães ou na Ponte Cais do Porto Exterior.
No desporto o hóquei em campo era rei... e noticiava-se a ida da selecção de macau a Lisboa (com diversas fotos) com destaque para os 3 macaenses que se iam juntar à selecção portuguesa.
O horário das missas não era esquecido; Sé Catedral, S. Lourenço, Sto. António, S. Lázaro, Taipa, Coloane, etc... com os horários e a indicação da língua em que era proferida a liturgia, português ou chinês.
No Hotel Lisboa organizava-se mais uma Festival "Abril em Portugal". A estrela do evento que decorre entre os dias 13 e 28 é Rui de Mascarenhas, "príncipe do fado" acompanhado pelo conjunto "Portugal a Cantar".

Telegrama da AL para Ministro Ultramar 23 Abril 1974

Na terça-feira, 23 de Abril de 1974, em Macau a Assembleia Legislativa reunida para a primeira sessão ordinária do ano "deliberou por aclamação" enviar um telegrama ao Senhor Ministro do Ultramar: "(...) significando o seu grande apreço pela obra vem desenvolvendo Ultramar e solicita V. Exa. se digne transmitir Sua Exa. Presidente do conselho Doutor Marcello Caetano rendido preito respeitosa admiração grato reconhecimento desta assembleia traço de tão alto grau representatividade traço pela notável obra transformação para melhor operada todos os sectores vida nacionalnão obstante dificuldades ordem interna externa vg e expressa seu inteiro apoio política ultramarina que define o rumo melhor serve superiores interesses nacionais e que impõe nesta hora grave país atravessa a maior coesão todos os portugueses pt."
Poucos dias depois, a viragem foi total, o mesmo teor, mas dirigido ao MFA...

Anos quentes: 1974-1975

Gazeta Macaense, 24 Abril 1974
Gov. Nobre de Carvalho em 1974 aos microfones da Emissora de Radiodifusão de Macau

A 22 de Outubro de 1974, no regresso da sua viagem ao Oriente o ministro da Coordenação interterritorial, Almeida Santos, afirma que "Timor optará pela manutenção de laços estreitos com Portugal e Macau quer continuar a ser administrado pelos Portugueses".
No dia 29 de Setembro de 1974, o general Nobre de Carvalho deixa o seu cargo no Governo de Macau. A 10 de Outubro Almeida Santos reúne-se com um emissário de Pequim para tomar consciência do panorama económico da colónia e, no dia 22 do referido mês , anuncia que é sua vontade continuar sob a governação de Portugal.
O coronel Garcia Leandro ocupa o cargo de novo governador de Macau no dia 13 de Novembro de 1974 saindo ao fim de 51 meses, em 1979.
Responsável pelo processo de descolonização, Almeida Santos, terá de em 1975 colocar alguma água na fervura após a publicação no New York Times de uma notícia que dava conta de que o MFA teria tentado entregar Macau à China.

Notícias de Macau, 26 Abril 1974

Dizia o jornal que os militares teriam atribuído a tarefa ao coronel graduado Garcia Leandro quando da sua deslocação ao território em Junho de 1974 - cerca de cinco meses antes da sua designação como governador – de “fazer a primeira oferta de transferência de soberania e de eliminação da guarnição militar portuguesa de Macau”. No mesmo artigo, o jornalista acrescentava que “o coronel Leandro foi então informado de que Pequim não desejava alterar o Estatuto. Os diplomatas revelaram ainda que o coronel Leandro recebeu esta informação de Ho Yin, um homem de negócios milionário que, na qualidade de presidente da Associação Comercial Chinesa de Macau, actua como representante de Pequim em Macau”.
A notícia foi depois reproduzida em Lisboa pelo vespertino Diário Popular e prontamente desmentida, um dia depois, no Diário de Notícias por Almeida Santos, o responsável pelo processo de descolonização.
“A notícia não tem qualquer fundamento”, disse. “De resto ela aparece não só desgarrada, mas ao arrepio de afirmações feitas e repetidas pelas autoridades militares e civis portuguesas, do mais baixo ao alto nível, que sempre enfaticamente acentuaram o facto de, em relação a Macau, se não pôr o problema das alterações estruturais. (...) “O Governo Português não considera Macau um colónia, nem aplicável a este território o processo de descolonização em curso. (...) Trata-se de pura e decerto mal intencionada especulação, a partir de coisa nenhuma Devemos estar atentos e premunidos contra este tipo de campanha visando o novo regime português, em geral, e o processo de descolonização, em especial”.
No mesmo dia em que o Diário de Notícias publicou as declarações de Almeida Santos, em Macau, o Centro de Informação e Turismo (CIT) da administração portuguesa, divulgou um comunicado em que rejeitava “energicamente” o conteúdo do artigo publicados pelo New York Times “refutando na totalidade essas afirmações que só podem ser lançadas por quem esteja interessado em turvar um ambiente perfeitamente clarificado”. O CIT reafirmava ainda “o respeito total pela vontade das populações quanto à definição do seu próprio futuro” e fazia notar que a notícia tinha sido publicada no dia das mentiras e, como tal, só podia ser “uma brincadeira de mau gosto”.

Gazeta Macaense, 30 Abril 1974

Almeida Santos viria ainda a reiterar o desmentido numa entrevista a 9 de Abril à Emissora de Radiodifusão de Macau, e a 13, o próprio governador Garcia Leandro voltava falar no assunto.

MFA enviou Garcia Leandro a Macau


Garcia Leandro veio a Macau em Junho de 1974, a mando do Movimento das Forças Armadas, para tomar o pulso à situação no território. O New York Times escreveu na altura que o delegado do MFA aproveitou a visita para oferecer a devolução de Macau à China. Mas os documentos confidenciais da época hoje desclassificados apontam noutro sentido: o regime revolucionário português queria dar a Macau uma certa forma de autodeterminação, pouco lhe importando se a população de Macau escolheria deputados comunistas ou até fascistas. Quanto ao resto, a conselho do representante de Pequim no território, o melhor mesmo era manter tudo como antes.

26 de Abril de 1974. Marcada semanas antes, uma recepção do Governador de Macau Nobre de Carvalho ao corpo consular acreditado no território teria sido de rotina como todas as outras dos anos anteriores, não fosse ter acontecido na véspera um golpe militar que acabara com quase meio século de ditadura. Em Hong Kong, o consulado americano, antena privilegiada do governo de Washington para a evolução política na China, transmitiu nesse mesmo dia para o Departamento de Estado a sua primeira informação sobre Macau pós 25 de Abril. Dizia que os funcionários do governo de Macau presentes na recepção consular mostravam-se “pouco surpreendidos” com a ocorrência do golpe e relatava uma confidência do Governador a um diplomata americano de que “não tinha ocorrido qualquer problema” no território nas horas que se seguiram ao anúncio da mudança de regime em Lisboa. O único queixume ouvido na recepção partiu de um “importante empresário de Macau”, que disse esperar que a revolução levasse a uma redução dos “impostos opressivos” que eram cobrados em Macau para suportar a guerra em África.Mas o telegrama do consulado americano para Washington continha uma outra informação ainda mais importante. Citava o representante oficioso da República Popular da China em Macau, Ho Yin (pai do actual chefe do Executivo, Edmund Ho), como tendo afirmado que os residentes locais nada teriam a recear das mudanças políticas em Portugal, porque economicamente Macau era autónomo da Metrópole. Em declarações publicadas pelo jornal Ming Pao, Ho Yin ia mais longe: “Macau esteve sempre incluído no território chinês e regressará à China mais cedo ou mais tarde”.

Era uma reacção a quente, e ainda assim pouco inflamada. A julgar pelas comunicações entre o consulado americano em Hong Kong e o Departamento de Estado – muitas delas secretas ou confidenciais, mas desclassificadas nos últimos anos –, os meses que se seguiram ao 25 de Abril foram a tal ponto de expectativa e incerteza, que raras são as declarações públicas disponíveis dos principais intérpretes da política local. Até Junho de 74, Washington teve por isso que se bastar com os relatos de jornalistas, políticos ou empresários que visitavam o território, a maioria dos quais apontava a manutenção do status quo como o desejo predominante na população de Macau. Até que em Julho foram mandados regressar a Portugal o Comandante Militar e o seu adjunto, medida que coincidiu com a chegada ao território de dois majores do exército português, ambos delegados do MFA.Aparentemente, as mudanças na hierarquia militar destinaram-se a apaziguar um grupo de cerca de 200 oficiais que se mostrava insatisfeito com a permanência em funções de figuras ligadas ao antigo regime, e ameaçava por isso desencadear uma rebelião. Segundo eles, os comandos militares de Macau utilizavam em proveito próprio os recursos das forças armadas, sendo por isso “ladrões” e “burgueses”. Acalmados os ânimos, os delegados do MFA anunciaram então que a Junta de Salvação Nacional pretendia levar a cabo eleições em Macau no prazo de um ano, para a escolha dos representantes da população. Segundo o consulado americano, a promessa terá mesmo incluído a eleição do governador, apesar dos representantes de Lisboa terem deixado claro que Nobre de Carvalho mantinha a confiança do novo poder. Os dois delegados do MFA, Garcia Leandro e Rebelo Gonçalves, diziam que os habitantes de Macau tinham plena liberdade para escolher os seus representantes, “mesmo que fossem fascistas ou comunistas”, mas não teriam a possibilidade de determinar o futuro do território – ao contrário de Timor-Leste, por exemplo, para onde estava planeado um referendo sobre a questão da independência – porque Macau era considerado um “caso especial” entre os territórios ultramarinos.

publicidade nos jornais em 1974

Ho Yin ria-se dos rumores sobre a entrega de Macau

Regressados a Portugal os enviados do MFA, Macau voltou a sentir-se só e abandonada. Nos meses que se seguiram, intensificou-se a especulação sobre o futuro do território, para o que muito terão contribuído as declarações nem sempre coincidentes de responsáveis do novo regime português sobre o processo de reaproximação à República Popular da China. Mário Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros, reconhecia que a presença portuguesa em Macau se devia a acordos celebrados com a “velha China; Almeida Santos, ministro da coordenação interterritorial, garantia que Lisboa só decidiria o futuro de Macau depois de discutir o assunto com a China; e Vítor Alves, ministro sem pasta, defendia o princípio da autodeterminação para o território. Em Setembro, no período de maior incerteza, o consulado americano informava Washington de um encontro entre o editor de um jornal comunista de Hong Kong e o líder da comunidade chinesa de Macau, Ho Yin, tal como lhe foi relatado pelo chefe da delegação do New York Times na colónia britânica. Contou o editor, Fei I Min, que tinha estado uma noite com Ho Yin e ambos tinham “rido um bom bocado” com o alarido que se estava a fazer à volta do futuro de Macau. Para ambos, “um punhado de portugueses estava a dizer disparates sobre uma mudança em breve do estatuto da colónia”. Nada de muito preocupante. “São comunistas, quer dizer, são revisionistas, trostkistas. Não são para levar a sério”, terá dito o editor chinês ao correspondente do NYT. Outubro trouxe a Macau o ministro da coordenação interterritorial. Enquanto o Partido Comunista Português aprovava no seu congresso em Lisboa um programa que reclamava a integração de Macau na China, Almeida Santos sossegava os residentes do território, afirmando que o governo português iria introduzir apenas ligeiras alterações no estatuto político do território, no sentido de uma maior representatividade da população local. Sobre a eleição do governador, nem uma palavra. No mês seguinte, Nobre de Carvalho era finalmente substituído no cargo por Garcia Leandro, nomeado pela Junta de Salvação Nacional. Vingava a política da acomodação à realidade de Macau, que diplomatas portugueses teriam depois ocasião de prosseguir nas Nações Unidas, ao chegarem a um entendimento tácito com os seus congéneres chineses de que o status quo era para manter.Já em 1975, no mês de Janeiro, o ministério português dos Negócios Estrangeiros emitia um comunicado de reconhecimento da RPC como “único e legítimo representante do povo chinês”. O MNE admitia também que Taiwan era parte da China e sublinhava que “o estatuto de Macau seria objecto de negociações a começar em data considerada apropriada pelos dois governos”.Pobre Garcia Leandro. Nem assim se livrou das suspeitas de que teria oferecido a devolução de Macau à China aquando da sua primeira passagem pelo território, em Junho do ano anterior. No dia 1 de Abril, o New York Times dava credibilidade a esse rumor, num artigo assinado pelo seu correspondente na região, David Binder. O agora governador de Macau não esteve de modas: disse que só podia ser uma “brincadeira do Primeiro de Abril”. Ho Yin apoiou-o, desmentindo que alguma vez tivesse proposta a entrega de Macau. E Almeida Santos considerou o artigo do NYT uma “mentira” e especulação mal intencionada”, que tinha em vista atrapalhar os esforços de Lisboa no processo de descolonização em África.

25 de Novembro em Macau foi em Junho
Apesar dos desmentidos, a imprensa internacional continuou nos meses seguintes a noticiar que a China tinha “rejeitado a oferta portuguesa de fazer regressar Macau ao controlo chinês”, ao mesmo tempo que Pequim continuaria a ignorar os pedidos insistentes de Pequim para um rápido estabelecimento das relações diplomáticas. Mas em Junho de 75 todas as atenções se viraram para a Cimeira de Timor, que deveria reunir em Macau os representantes dos principais partidos políticos timorenses. A cimeira acabou por ser um fiasco devido ao boicote da Fretilin, mas a presença do ministro Vítor Alves no encontro acabou por servir de pretexto à resolução da mini crise político-militar que entretanto se vinha desenvolvendo em Macau. O comandante Catarino Salgado, líder da facção mais revolucionária dos militares colocados em Macau, recusou-se a punir disciplinarmente um seu subordinado que fotografou Vítor Alves num clube nocturno do Hotel Lisboa, a dançar com uma prostituta. Garcia Leandro não hesitou e deu ordem de marcha a Catarino Salgado, sancionando desse modo, com algumas semanas de atraso, os desafios que o mesmo militar terá dirigido à sua governação.Resolvido este problema, o governador terá aproveitado também para um ajuste de contas com Ho Yin, segundo se depreende de um extenso telegrama enviado nessa altura para Washington pelo consulado americano em Hong Kong. Por um lado, Garcia Leandro terá travado a pretensão de Ho Yin de ver aprovada a construção de uma refinaria de petróleo em Coloane, projecto em que tinha como sócio Henry Fok, sócio marioritário da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), concessionária exclusiva dos casinos do território. Por outro lado, terá manifestado a intenção de negociar directamente com o governo de Cantão todas as questões que pudessem ter implicações no volume de receitas de Macau, não ficando assim dependente dos interesses de Ho Yin enquanto empresário. Segundo os americanos, esta investida teria ainda como objectivo “recuperar algum do poder e prestígio que as autoridades portuguesas, de forma humilhante, tinham sido obrigadas a ceder aos manifestantes esquerdistas liderados por Ho Yin, durante os acontecimentos da Revolução Cultural em Macau, em 1966”.

Kissinger cansado da confusão em Portugal
Pequim não aceitava, porém, que as autoridades portuguesas de Macau estabelecessem ligação directa a Cantão. E os dois homens acabaram por ter de adoptar uma postura conciliatória. No dia 10 de Julho, Ho Yin deu uma conferência de imprensa para garantir que empresas estrangeiras a operar em Macau não seriam nacionalizadas e para apelar à confiança de todos no futuro do território. Em contrapartida, dizia ter recebido garantias de Garcia Leandro de que “actividades de espionagem russas em Macau não seriam toleradas”.Esta preocupação assim expressa pelo representante oficioso de Pequim em Macau, não era mera retórica política. Antes, já Garcia Leandro tinha informado o governo português que a China tardava em aceitar o restabelecimento de relações diplomáticas com Portugal, não tanto porque não estava ainda concluído o processo de descolonização em África – tese apresentada oficialmente por Pequim –, mas por desconhecer ainda o grau de influência que a União Soviética teria futuramente na vida política portuguesa.“A China aborda a situação política de Portugal com prudência, por receio de que Portugal venha a cair na órbita de Moscovo”, explicava o cônsul americano em Hong Kong aos seus superiores em Washington, servindo-se para isso de comentários feitos por Garcia Leandro a políticos portugueses. A China preferia a passividade, permitindo mesmo que Macau continuasse a “chafurdar nos seus pecados e num capitalismo sem limites”.Nada podia agradar mais em Washington ao homem que então ocupava o cargo de secretário de Estado na Administração Ford. Numa informação secreta distribuída em Setembro de 75 por várias embaixadas e consulados da região, Henry Kissinger comentava um hipotético restabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a China afirmando não estar “convencido com o argumento de que a presença da RPC em Lisboa actuaria como contrapeso psicológico à influência soviética”.A isso acrescentou um desabafo: “A cena política portuguesa está já suficientemente confusa, só faltava juntarmos-lhe tutores Maoístas”.

Artigo de Ricardo Pinto no jornal Ponto Final, Macau - 24 de Abril de 2009

Consequências do 25 de Abril em Macau

O programa do M.F.A. tinha três objectivos fundamentais: Descolonizar, Democratizar e Desenvolver. O fim da guerra colonial tinha estado na origem do Movimento e era, por esse motivo, uma das questões mais importantes. Para além disso, era fundamental restabelecer a liberdade e assegurar as bases de um novo regime que ajudasse ao desenvolvimento da sociedade portuguesa. Para as província ultramarina previa-se a destituição dos Governadores...
Macau nunca foi uma colónia no sentido restrito do termo, sobretudo se comparada com as ex-colónias portuguesas. Daí que, quando Portugal renunciou às colónias, na sequência da revolução e da mudança de regime ocorrida a 25 de Abril de 1974, Macau foi menos afectado pelo movimento de descolonização. A política então iniciada pelo Governo de Lisboa levou, pela primeira vez em mais de quatro séculos, a uma definição do sistema político-administrativo de Macau. Uma primeira fórmula, politicamente viável, foi encontrada a 8 de Fevereiro de 1979, por ocasião da assinatura do tratado que restabelecia as relações diplomáticas entre Portugal e a China. A declaração então proferida em Paris referia explicitamente "o princípio do mútuo respeito pela soberania e integridade territorial", reconhecendo implicitamente Macau como território chinês sob administração portuguesa.
Já em 1974, logo após a Revolução, Portugal tinha aberto portas ao restabelecimento de relações diplomáticas com a China, com vista à resolução do sistema político de Macau, anunciando-se que Lisboa não tinha nenhuma intenção de manter a soberania sobre Macau contra a vontade das autoridades de Pequim. O processo culminou na assinatura, em Abril de 1987, da Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre a Questão de Macau, documento histórico que permitiu definir o enquadramento geral das grandes questões fundamentais para o futuro de Macau e das suas gentes.
Nos termos desse acordo, que tem força de direito internacional e está depositado nas Nações Unidas, o Território passou, a 20 de Dezembro de 1999, para a soberania da China, instituindo-se a Região Administrativa Especial de Macau, um espaço com elevado grau de autonomia, com órgãos de Governo e leis próprias, que manterá inalterado durante os cinquenta anos seguintes o sistema político, judicial, social, cultural e económico actualmente em vigor, incluindo a manutenção do português como segunda língua oficial, salvaguardando um amplo quadro de direitos, liberdades e garantias de matriz portuguesa, humanista e ocidental.

25 de Abril em Macau


A notícia da revolução dos cravos em Portugal chegou em primeira mão a Macau através da BBC (via Hong Kong). Na imprensa escrita foi preciso esperar mais dois dias... por causa da censura e das distâncias. No dia 26 os jornais Notícias de Macau e Gazeta Macaense ainda vieram para a rua sob o singo do antigo regime... a censura local actuava a partir dos envios das agências ANI e Lusitânia que chegavam com muito atraso. Só a imprensa de Hong Kong não deixava passar o acontecimento em claro.
A 27 de Abril de 1974, ainda com censura, os jornais locais aludem à vitória do MFA e ao novo personagem que emerge na cena política nacional, o general Spínola.
Da Junta Militar de Salvação Nacional, composta por 7 elementos, 3 tinham passado por Macau antes: Jaime Silvério Marques (antigo Gov.), Costa Gomes (tinha sido Chefe do Estado Maior em Macau) e Rosa Coutinho (a bordo do Gonçalves Zaro fizera comissão em Macau na década de 60).
Ao nível do governo local, a revolução não poderia ter surgido em pior altura. O Gov. Nobre de Carvalho enviara poucos dias antes uma mensagem de apoio a Américo Thomáz e Marcelo Caetano. Numa viragem de 180 graus, o mesmo gov. envia uma nova mensagem, deste vez, de apoio à Junta de Salvação Nacional. Rezam as crónicas que só Graciete Batalha, vogal da assembleia legislativa, se recusou a assinar a mensagem, devido a esta incongruência.
Ao continente chinês o "Diário do Povo", órgão oficial, noticia o evento somente a 28 de Abril, numa página interior, a nº 6, e sem direito a fotografia, com o título "golpe de estado em portugal". Sem grandes alaridos, claro está, já que o regime comunista apoiava os diversos movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas em África.
Refira-se que o 25 de abril ocorre em plena revolução cultural chinesa (1966-1976) onde terão morrido 2 milhões de chineses.
Spínola vai manter no cargo de Gov. o general Nobre de Carvalho mas por pouco tempo. A informação é enviada por telegrama pelo último ministro do Ultramar, Rebello de Sousa, a 29 de Abril.

sábado, 25 de abril de 2009

Solidariedade Social em 1911







"São ao todo 14 estabelecimentos--Seminario, collegios, asylos, orphanotrophios, escolas--que derramam beneficios a flux sobre a população désta colonia; dos quaes participam immediatamente mais de mil individuos, na sua quasi totalidade pobres, gratuitamente a maior parte ou por baixo preço aquelles que podem pagar! E por aqui se pode ajuizar quão prejudicial seria a esta colonia qualquer medida tendente a supprimil-os, ou a difficultar-lhes a acção beneficiente.
E é preciso não esquecer que muitos délles foram recentemente criados, outros consideravelmente melhorados, em obediencia a um designio verdadeiramente patriotico. Com effeito, alem da perfeição do ensino, especialmente das linguas mais apreciadas no extremo oriente, e sobretudo do ensino e diffusão da lingua portugueza, tinha-se em vista com isso neutralisar a propaganda de descredito movida contra Portugal por estranhos aventureiros que impunemente ahi trabalhavam na desnacionalisação da colonia, e que infelizmente encontraram o campo disposto para trabalharem á vontade em proveito da sua causa. A colonia achava-se bem servida, podendo honrosamente competir, sob certos pontos de vista, com as outras visinhas. E os chinas que dántes se queixavam de que nada se fazia em Macau por parte dos poderes publicos, em beneficio da instrucção dos da sua raça, já não tinham rasão de queixa; porque quasi todos, ou melhor--todos esses estabelecimentos funccionavam em proveito délles."

Texto anónimo de 1911