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sábado, 31 de agosto de 2024

'Leitura' de uma pintura de Tingqua

Vários elementos na obra permitem chegar a uma conclusão sobre a data. O Grémio Militar (Actual Clube Militar) ficou pronto em 1870. As torres da Sé catedral foram danificadas no tufão de 1874 e deixaram de ter a aparência que surge na pintura. O vapor a pás é da Hong Kong, Canton and Macao Steamboat Company, fundada em Hong Kong em 1865. Estão representadas a bandeira da então colónia britânica e também a bandeira da empresa de navegação.

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* O estúdio/atelier de Tingqua, também conhecido por Guan Lianchang, em Cantão destacou-se sobretudo pelas pinturas em guache e aquarela, feitas ao gosto ocidental, já que eram os comerciantes estrangeiros que encomendavam e compravam estas obras. Admitindo-se como certa a data da morte em 1870, pode dar-se o caso desta pintura ter sido terminada ainda pelo próprio ou por outros pintores do atelier, o que na época era prática habitual.
Alguns dos traços característicos do estilo e da técnica de Tingqua estão aqui presentes: o mar/rio é representado por linhas paralelas regulares e por vezes com ondulação no primeiro plano. As árvores eram representadas como grossos aglomerados de folhas verde-amareladas. As que surgem em segundo plano correspondem à zona do que viria a ser jardim de S. Francisco.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Emissões filatélicas da década 1990

 Algumas das emissões filatélicas da década 1990










quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Victoria Hotel e Macao Hotel

O actual Guangdong Victory Hotel foi fundado no início da década de 1890 e começou por se chamar Shameen Hotel. As primeiras referências desta unidade hoteleira de estilo ocidental que encontrei são de 1892.
A fotografia acima, da autoria de Lai Afong, é da década de 1870 e mostra o "assentamento" europeu da ilha de Shameen/Shamian or Shameen Island vista do rio Zhu Jiang, também conhecido pelos nomes Rio das Pérolas ou rio de Cantão. Ainda não é visível o edifício do hotel cuja construção é de 1888.
A ilha Shameen/Shamian/Shamiandao é uma ilha assente em bancos de areia (o nome em chinês significa superfície arenosa) frente à cidade de Cantão. Entre 1859 e 1943 o pequeníssimo território (0.3Km2) foi dividido em duas concessões concedidas à França (2/5) e ao Reino Unido (3/5) pelas autoridades chinesas na sequências da guerra do ópio. Era onde estavam algumas empresas e os consulados de países estrangeiros na província de Guangdong, incluindo o de Portugal. Assim se explica os muitos edifícios de traço arquitectónico ocidental ainda hoje ali existentes.
C. R. Sail descreve o hotel num livro de 1892 apenas como "very poor". Em 1895 Madar e Farmer eram proprietários do Victoria Hotel.

No anúncio abaixo (1899/1900) menciona-se que o hotel fora "recentemente renovado" passando a contar com uma "nova ala de três pisos".
Hong Kong Daily Press - Novembro de 1900

W. Farmer já era dono do Victoria Hotel quando adquiriu em Macau o Hing Kee hotel e o transformou em "Macao Hotel" pelo que passou a publicar um só anúncio fazendo publicidade às duas unidades hoteleiras.
Anúncio de 1906

 
Shameen estava dividida por duas concessões, a francesa e a inglesa. Cada uma delas tinha uma ponte com ligação a Cantão. O Victoria Hotel ficava no lado inglês, na Canal Street. No mapa abaixo, da década de 1890, assinalei a localização de Shameen.

Pormenor do edifício no século 21
Curiosidade: No final do século 19 existia um outro Victoria Hotel, localizado na "Praya Central" em Hong Kong. Eram proprietários Dorabjee e Hing Kee. Este último tinha também nessa época um hotel na baía da Praia Grande em Macau com o seu nome. 

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Récita em homenagem aos Gloriosos Aviadores

A 4 de Julho de 1924 o Grupo de Amadores de Teatro e Música organizou no teatro D. Pedro V uma homenagem aos protagonistas da primeira ligação aérea entre Portugal e Macau. Foi umas das muitas homenagens realizadas em Macau.
No programa da récita incluiu-se um texto do poeta Camilo Pessanha (1867-1926) que aqui se reproduz. De acordo com a imprensa da época não há registo da presença de Pessanha nas homenagens.
Programa impresso pelo tipografia Mercantil, de N. T. Fernandes e Filhos, 1924

"Associo-me comovido, como antigo residente da colónia, (mais de trinta anos de residência), às gerais manifestações de entusiasmo pela chegada triunfal dos ínclitos aviadores Brito Pais, Sarmento Beires e Gouveia. Pelas condições da sua realização, é a sua visita a mais honrosa que Macau recebe desde há séculos.
Toda a população desta remotíssima terra portuguesa estremeceu de patriótico júbilo ao saber que Macau foi a meta escolhida para a grandiosa prova de audácia esclarecida que os dois ilustres aviadores, assumindo para tal fim a representação da nação portuguesa, desinteressadamente se impuseram e que com tanta perícia, e tão deslumbrante êxito levaram a cabo.
Júbilo que não resultou apenas da satisfação de uma fútil vaidade, aliás justificável, de burgo, mas também, e principalmente, de todos compreendermos que o raid Lisboa-Macau foi utilíssima empresa para o prestígio do nome português no Extremo-Oriente, demonstrando do modo mais palpável às populações destes países distantes que Portugal ainda tem filhos capazes dos mais heróicos sacrifícios, dispõe de competências técnicas rivalizando com as das mais cultas nações e acompanhando, portanto, brilhantemente, o progresso do Mundo."
Camilo Pessanha no Teatro D. Pedro V, a 4 de Julho de 1924.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Decreto 35785 de 6 de Agosto de 1946

Diário da República - Portugal - 6 Agosto 1946










segunda-feira, 26 de agosto de 2024

An American cruiser in the East

"A trip from Hong-kong to Macao in one of the untidy little steamers which ply between the ports is very interesting and enjoyable. When the frantic yells of the officers, the blowing of steam, and the tooting of the whistle have ceased, the little craft heads for the Lymoon Pass, and all is quiet on board except the pulsating throbs of the exhausting steam. We run between scenes in brown and gray, leaden, wild, and weird, and the undulating motion of the ever-restless sea causes the little craft to dance upon the waters. Picturesque groups and crowds unwittingly pose about the decks, — Portuguese, Chinese, and half-breeds, who make up the list of passengers. The ever-changing groups are studies that leave pleasant memories; and long after the journey is done, we smile at the recollections of this or that incident of the trip.
Like all other harbors in this part of the world, Macao swarms with gay sampans, with their queer little shrines and mirrors and pictures, half-Christian, half-Buddhist. A strange mixture of beliefs have come through poor old China, and in coming have brought the soil with them, — religion musty and soiled. 
The town is situated on the southern extremity of the island of Hiang-shang, on a point of land formed by the intersection of the Chu-kiang with the Heung-kiang, in latitude 22° north, and longitude 132° east. The gayly colored, flat-roofed houses, red and blue and green, make a quaint little city, which nestles between bold, bleak, black rocky hills.

The old Portuguese forts, with their ancient guns frowning upon the river, are more picturesque than awe-inspiring in these days of rifle-guns and long ranges. The Praya Grande (here everything is " grande ") is the promenade of the place, where the belles and the beaux of old Macao take their airings, passing before the palace, and among the little shops and gambling saloons which border its animated road. 
The old church of St. Paul has braved monsoons, typhoons, fiery flames, and earthquakes since 1594. St. Paul, with its deep-toned organ, and the old Hospital of the Misericordia, stand as living protests, — the cross against the lotus.
After climbing the rocks and bowlders beyond the city, we reach the grotto of poor Camoens, the real object of our pilgrimage. Strewn with great granite bowlders, abraded and shorn by monsoon and tvphoon, the spot is as wild as nature made it, — although trees and shrubs and vines have been transplanted, so that men of these latter times may not see the place in its native bareness. Sitting here, where Camoens wrote his immortal " Lusiad," to recount the glories of his beloved Portugal, although an exile from her shores, we must admire the man, so filled with patriotism.
The history of Camoens is interesting. (...) He found his way to Macao, and in the solitude of this grotto passed his days in writing the "Lusiad," recounting the virtues of his faithful Javanese slave Antonio, — the poor slave, who, in strange lands, among strange people, tended Camoens so devotedly and with such solicitude, through exile, tempest, and wreck, who begged for him, and who tenderly closed his hungering, weary eyes in death. (...)
In 1557, the Portuguese, in return for their services in combating piracy, were permitted to form a settlement on the peninsula. The Jesuit missionaries set up the cross and in 1575 the Chinese built the wall across the island to separate this settlement from the rest of China. In 1583, a government was formed for the settlement, and in 1628, Jeronimo de Silveria became the first royal Governor. The Chinese claim that they have always retained control over foreign nation. De Amaral was assassinated in the same year, but his successors have continued his policy, although the Chinese government refuses to recognize the claim.
The European powers consider Macao a de facto colony, and the King of Portugal appoints all the officers, including the Chinese magistrates. Macao has been occupied by British forces to prevent its seizure by the French.
There are 6,050 inhabitants of European extraction in Macao, 60,617 Chinese living on the land, and about 11,000 in boats. The people are engaged in commercial and agricultural pursuits, and nearly all the land is under cultivation. Macao has been a free port since 1846. The preparation and packing of tea is the most important industry of the port, and there is a good trade in Chinese manufactured goods from Canton. Gambling and opium dens are numerous, and are openly carried on.
The total value of the trade of the port is $15,000,000. The revenue is largely made up from taxes on gambling tables, and small dues and fines.
Excerto de An American cruiser in the East; travels and studies in the Far East; the Aleutian islands, Behring's sea, eastern Siberia, Japan, Korea, China, Formosa, Hong Kong, and the Philippine islands, John Donaldson Ford publicado em 1898.
O contra-almirante John Donaldson Ford (1840-1918) foi oficial da Marinha dos Estados Unidos durante a Guerra Civil Americana e a Guerra Hispano-Americana. A viagem até ao Oriente foi feita a bordo do navio USS Alert, uma canhoneira a vapor de casco de ferro activa entre 1875 e 1922 e que fez parte da frota do pacífico da marinha dos EUA. A obra tem inúmeras ilustrações, nomeadamente do Japão e China continental.
O autor tem um gosto especial por Camões a ponto de incluir uma citação em inglês no início do livro. é precisamente sobre Macau e os tempos da nau da prata. O excerto sobre Macau refere-se à década de 1890.

domingo, 25 de agosto de 2024

sábado, 24 de agosto de 2024

A "Praya" Pequena

A designação "Praia Pequena" foi usual até ao século 19 e ficava no chamado Porto Interior. Surgiu por oposição à "Praya Grande" - designação do século 19 - no denominado Porto Exterior. Refere-se também ao período em que a linha de terra ao longo do Porto Interior ainda não estava devidamente ordenada por obras de aterros. 
A "Praya Pequena" num mapa de 1804

Refira-se que existiam outras praias (pequenas enseadas na verdade) ao longo do Porto Interior. A Praia do Manduco, por exemplo. Na toponímia do território ainda restam as memórias desses tempos com nomes como Rua da Praia do Manduco, Beco da Praia Pequena, Rua da Prainha...
Praia do Manduco (p) e Igreja S. José (m) num mapa feito em 1804

O termo "Praya" foi corrente até ao século 20 e também era usado na vizinha colónia britânica de Hong Kong, a ponto de algumas vezes, se confundirem, sendo que a de Macau surgiu primeiro. Em fotografias e postais ilustrados da época uma das principais diferenças é a altura dos edifícios junto aos cais. Os de Hong Kong eram mais altos do que os de Macau.



17 de Janeiro de 1728:
Sahe de Macau a náu Madre de Deus conduzindo ao reino o doutor Alexandre Metello de Sousa e Menezes e o mais pessoal da brilhante embaixada de el rei D João V á China. Neste mesmo dia embarcára o embaixador na Praia Pequena acompanhado pelo governador e grande numero de cidadãos e moradores e com as tres companhias da sua guarda na mesma vistosa ponte que se lhe tinha armado quando veio de Cantão. A despesa que fez o senado de Macau por motivo d'esta embaixada foi de trinta mil taeis segundo as contas que ainda existem.

9 de Abril de 1829: 
O mandarim de Hian chan por appellido Leu faz saber ao sr. procurador de Macau que recebeu um officio do vice rei de Cantão em que attendendo sua ex. ás representações de Sung ku chi e outros contra o portuguez Bemvindo o qual se apossou de um baldio marginal sito na praia onde está a pedra chamada do Manduco fazendo um aterro e destruhindo um pagode que ali existia, attendendo á lettra de um edital do seu antecessor o vice rei Pô que pruhibe construirem se mais casas e até acrescentar uma só pedra ou ripa ás que existem, attendendo a que a mencionada pedra do Manduco sendo memoravel na historia do Cantão, não devia ser assim coberta de entulho o que tudo constitue desobediencia ás leis ordena a elle mandarim que mande affixar editaes e officíe ao sr. procurador e ao sr. ouvidor para que obriguem o Bemvindo a demolir immediatamente o cáes já fabricado e a restituir o terreno ao seu estado primitivo dando parte depois de executada a ordem sem opposição alguma. (...)
Nesta sequência de imagens do Largo da Caldeira o edifício mais alto é a chamada Torre Prestamista (não existe desde 2000) localizada na Rua do Bocage.


Legenda: "Macao, Rickshaw on the Praya"

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Antes e depois: vista panorâmica a partir do hotel Central

Em cima foto de Lei Iok Tin ca. 1950 em baixo a mesma perspectiva na década 2020

 

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

The principle walk is the Praya Grande

"(...)In architecture there is little in Macao; to front of the Jesuits college the foundation stone of which was laid about almost a centry ago. The building which was consumed handsome pile partly lighted by an elegant in the great fire of 1834 was it is said a very front the great entrance with nothing be cupola. All that remains is the principal hind it and the noble flight of steps lead ing up to it. The proportions of this front composed of the Doric and Ionic orders are exceedingly graceful and if the pile corresponded with it the whole temple must have reflected honour on the taste of the architect and been a great ornament to Macao. A terraced garden which is or rather was attached to the building commands a view of part of the inner harbour, the Typa and many of the islands in the offing.
The most complete view of Macao is obtained from a fort called the Monte, a hill which rises from the centre of the place. From this position you perceive the whole town spread out below you occupying a peninsular which divides the inner harbour from the Bay of Macao. The length of this peninsular is about 2 miles by about one in breadth in the broadest part.
From the point of view described the town appears to lie in a valley below you whereas in truth it is an illustration of the ups and downs of life for the process of traversing. Macao is that continually walking up and down hill The streets are narrow and irregularly flagged with granite.
The principle walk is the Praya Grande which is smoothly flagged with large square stones and extends along nearly half of the margin of the bay. The present governor has extended this pleasant evening promenade round eastward to the Fort at the entrance of the Bay and would have carried it much further but that the Chinese government interfered and would not allow the coolies to work at it. The reason assigned was that the governor was making a road to facilitate the landing of the English. They can land on the Praya if ever they should be disposed with great facility. (...)
Excerto de Calcutta Monthly Journal and General Register, 1838. Imagens não incluídas na publicação.