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domingo, 31 de dezembro de 2017
sábado, 30 de dezembro de 2017
"Morreu o Dr. Silva Mendes!"
Manuel da Silva Mendes morreu a 30 de Dezembro de 1931 na sua casa em Macau. Na imprensa da época o facto não passou despercebido. Neste post reproduzo excertos dessas notícias.
Jornal Eco Macaense, 2 de Janeiro de 1932, título “In Memoriam”
“Figura simpática e vulto de destaque nesta terra, a inesperada morte do sr. Dr. Manuel da Silva Mendes foi profundamente sentida em Macau, onde viveu metade da sua vida e onde em cada pessoa contava um amigo e admirador das suas lídimas qualidades intelectuais e morais.
Para Macau veio há cerca de 30 anos como professor do Liceu, onde leccionou até ainda há bem poucos anos quando, tendo atingido o tempo de reforma, se retirou já cansado do esgotante trabalho do seu magistárrio, ao qual se dedicou com vontade e carinho, e enfraquecido de saúde. Como professor, foi um dos mais eruditos que o Liceu teve. As suas lições foram sempre atentamente escutadas porque soube sempre com raro tacto fazê-las interessantes de maneira a captar a atenção dos seus alunos, aos quais tratava com bondade e estima, que o admiravam e respeitavam.
Também foi advogado, e dos melhores deste auditório em todos os tempos. Mestre no Liceu, também o foi no foro. Como poucos, soube exercer a sua nobre profissão com dignidade, aprumo moral e elevação. Foi, na verdade, como advogado, segundo a definição do Dr. Henri Robert ‘le défenseur de la veuve et de l’orphelin, le champion desintéressé de toutes les nobles causes, celui dont le dévouement est acquis à tous les désherités de la fortune et qui fait entendre, devant la justice, la voix de l’humaine pitié et de la miséricorde’.
Trabalhador incansável, apesar de doente e entrevado, recostado na sua cadeira de rodas, à beira da sua secretária cheia de livros e papelada, bastas vezes o fomos encontrar no seu escritório, transformado em precioso museu de arte, enfronhado em perseverantes investigações e profundos estudos. Mais de uma vez o vimos trabalhar, nestes últimos tempos, em processos judiciais, mais por amor à arte (como nos explicava) do que em mira de interesses materiais, e, geralmente, para tirar de embaraços algum colega menos experiente que à sua brilhante inteligência e vasta cultura recorria.
A sua obra está pouco divulgada, porque a sua modéstia tornou-o em severo e exigente crítico de si mesmo. Ainda assim, dispersos pelos jornais e revistas publicaram-se muitos escritos seus, versando geralmente assuntos chineses em que era uma autoridade respeitável, e em muitos processos judiciais se encontram trabalhos jurídicos seus, inconfundíveis pelo seu cintilante estilo de laureado escritor da língua portuguesa. Há bem pouco tempo acabámos de reler os seus ‘Excertos da filosofia taoísta’ em que, a par da cultura, demonstrada, se nos revelou um profundo filósofo.
Professor erudito, causídico brilhante, excelente poeta; cintilante escritor, perseverante estudioso da literatura, da história, da arte e da filosofia chinesa, a sua inteligência e vasta cultura tornaram-no Mestre em muitos ramos do saber. Roubou-o a Morte no momento em que ele quase que concluía a revisão de mais uma obra de vulto à qual, durante anos de paciente trabalho, dedicou o melhor dos seus esforços.
Morreu o Mestre! Mas ‘morrer não é acabar’. À nossa admiração e agradecida amizade ficou a saudosa e perdurável lembrança dos seus doutos ensinamentos e dos seus modelares exemplos, em homenagem dos quais prestamos hoje publicamente o preito sentido da nossa imensa saudade e profunda gratidão pelas lições que deste Mestre e Amigo querido recebemos”.
Jornal A Voz de Macau, 3 de Janeiro de 1932; título “O funeral do Dr. Manuel da Silva Mendes”.
"Morreu o Dr. Silva Mendes! Esta notícia tão inesperada colheu-nos com a mais dolorosa surpresa. É que se sente, profundamente, o abalar inesperado de um amigo bom, um colaborador dos mais distintos de ‘A Voz de Macau’ cujas páginas abrilhantou com a sua colaboração distinta, um camarada ilustre cuja convivência nos honrava pela lhaneza de trato e amizade desinteressada com que nos distinguia.
Os seus conhecimentos vastos e profundos, quer como advogado distintíssimo, quer como escritor de raro mérito, nunca desmentidos na vasta e douta obra que legou à posteridade, impõe-se à nossa consideração e respeito como exponente de uma inteligência invulgar ao serviço de uma proficiência e probidade profissionais verdadeiramente raras.
As facetas variadas do seu saber, manifestam-se irradiando o fulgor da sua erudição profunda, no conhecimento e manejo hábil da língua difícil de Camões; na vastidão dos seus escritos nos jornais de Macau, nos arquivos dos tribunais da comarca, em documentos de subido valor, pela profundeza de argumentação, pela clareza da linguagem e pela elevação e singeleza de conceitos e beleza da forma.
Vindo novo ainda para Macau, em Fevereiro de 1901, em Maio desse ano tomava posse do seu lugar de professor do Liceu de Macau, onde, no ensino das letras pátrias e da língua latina, demonstrou durante 25 anos do magistério secundário, profundo e sólido conhecimento na regência das disciplinas que lhe foram entregues. Assim o declaram os seus inúmeros alunos que hoje lamentam a perda de tão ilustre ornamento do corpo docente do Liceu de Macau.
Durante os seus 30 anos de residência em Macau, foram-lhe confiados, em diversos períodos da sua vida, elevados cargos de responsabilidade da administração pública, como substituto do Juiz de Direito e do Delegado do Procurador da República, tendo por várias vezes entrado em exercício dessas funções; como Presidente do Leal Senado, Administrador do Concelho, membro de várias comissões públicas nomeado pelo governo, tendo em todos estes cargos relevado uma inteligência lúcida, uma cultura e ponderação invulgares e um saber profundo que nas mais insignificantes circunstâncias se revelavam, e impunham ao respeito de todos os que o ouviam.
No exercício da advocacia mostrou-se sempre pronto a acolher todos os que recorriam ao seu saber profissional, jamais se preocupando em distinguir pobres de ricos, a todos tratando com o maior desvelo e o mesmo carinho.”
Acompanharam o féretro, no Cemitério de S. Miguel, onde foi sepultado este respeitado professor e causídico, as mais altas entidades públicas, colegas, alunos e muitos amigos. Na sua lápide ficaram gravadas estas palavras: “Nascer não é começar. Morrer não é acabar.”
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
Sala de Leitura de Jornais e Livros da Associação Comercial de Macau
É muito provavelmente a biblioteca pública mais pequena do mundo e não passa despercebida. Localizado no jardim de S. Francisco, junto ao cruzamento da Avenida da Praia Grande com a Rua do Campo, o edifício de formato octogonal e de características chinesas foi construído em 1927.
O autor do projecto foi o arquitecto chinês Chan Kun Pui sendo o espaço primeira usado como como café/restaurante e sala de bilhar.
Em 1947 Ho Yin, na altura vice-presidente da Associação Comercial de Macau, adquiriu o edifício e transformou-o (inaugurado a 1 Novembro 1948) na Sala de Leitura de Jornais e Livros da Associação, nome oficial que ainda hoje se mantém.
Em 1947 Ho Yin, na altura vice-presidente da Associação Comercial de Macau, adquiriu o edifício e transformou-o (inaugurado a 1 Novembro 1948) na Sala de Leitura de Jornais e Livros da Associação, nome oficial que ainda hoje se mantém.
O Pavilhão Octogonal, como é mais conhecido, tem um telhado duplo, coberto por telhas de cerâmica verdes, com beirais levantados e as suas janelas são guarnecidas com caixilhos de madeira vermelhos. Abriga
mais de 20 mil volumes e é sobretudo frequentada pelo público chinês.
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
Aguarelas de Kam Cheong Ling
Um dos primeiros trabalhos de Kam Cheong Ling quando se radicou em Macau no início da década de 1950
Kam Cheong Ling was born in Hong Kong in 1911. After moving to Macao in the 50s of the last century, he engaged in Art Design, Art Creation and Art Education. Kam Cheong Ling was skillful in watercolor painting, his works had recorded the vast changes in Macao society of the past, and its transformations as time goes by.
Em 2014 os CTT de Macau fizeram uma emissão filatélica denominada "Historical Paintings of Macao” -“Macao Seen by Kam Cheong Ling”.
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
O nº 6 da Estrada de Santa Sancha
Em mais um exercício comparativo - antes e depois - apresento o edifício do nº 6 da Estrada de Santa Sancha. Clicar na imagem para ver em tamanho maior.
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
Cinema Memorabilia
Organizada pela Associação dos Coleccionadores de Antiguidades de Macau, esteve patente de 13 a 20 deste mês, no Jardim Lou Lim Ieok - Salão Chon Chou T'ong, uma exposição de artigos de memorabilia cinéfila. Os artigos, mais de 500, incluem cartazes, bilhetes, fotografias, etc... propriedade dos membros da associação. Em breve será editado um livro, apenas em língua chinesa, com o resultado da exposição.
O tema tem sido amplamente abordado aqui pelo blogue
Teatro Ho I Kiang e Teatro Nam King
Alguns dos exemplares que puderam ser vistos na exposição
O Cheng Peng foi muito provavelmente a primeira sala de espectáculos (teatro/cinema/ópera) do território. Construído por Vong Lok, um destacado comerciante chinês, entrou em funcionamento em 1875, ao que consta, incentivado pelo governador António Sérgio de Sousa. A maioria dos espectáculos eram sessões de ópera chinesa. Fechou portas em 1992. Recentemente remodelado inclui um pequeno museu de ópera.
O bilhete mais antigo da mostra é de 1910: teatro Cheng Peng
segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
Mappa da Barra de Macao
Alguns dos pontos assinalados no mapa "Tera de Macao":
Porta do Cerco; Fortalezas: Monte, Guia, Penha, S. Francisco, Bom Parto, Barra; baía da "Praya Grande", Cacilhas, um pagode... e inclui-se ainda as ilhas da Taipa Grande, Taipa Pequena, Coloane e Montanha.
A nau "Nossa Senhora de Penha de França, São Francisco de Paula e Almas" era navio da carreira do Oriente. Em 1770 chegou a Lisboa vindo da China com escala pela Baía. Em 18 de Março de 1771 largou para Macau.A fragata, de 34 peças, aparece a navegar em 1762. Em 1772 montava 44 peças. Desempenhou diversas missões, nomeadamente, largou a dar comboio para o Rio de Janeiro, Mazagão e Moçambique; integrou a esquadra do Coronel-do-mar João da Costa de Brito, para correr a costa em corso contra franceses; navegou nos mares do Oriente e participou no combate com maratas em 1772. Por vistoria de 11 de Setembro de 1776, foi julgada incapaz do serviço e mandada desmanchar.
Curiosidade: "Em 1728 chegou a Macau vindo de Gôa o navio Nossa Senhora da Penha de França e nelle por ouvidor desta cidade Antonio Fernandes Teixeira."
domingo, 24 de dezembro de 2017
Boas Festas / Season's Greetings / 节日问候 / 佳節快樂
sábado, 23 de dezembro de 2017
De regresso ao "Portugal dos Pequenitos"
Numa época muito especial para as crianças, fica a sugestão de uma viagem a Coimbra, até ao Portugal dos Pequenitos (criado em 1940). Macau está representado num Pavilhão e ainda numa réplica do Farol da Guia e numa Torre de Pagode.
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
"We are Proud of Macau!"
Nas imagens um folheto turístico (vol. 1 nr. 2) intitulado "Macau Garden City of the Orient", Vol 1, n.º 2, publicado em 1966, por F. Rodrigues (Sucessores) Lda e pela Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, SARL, da autoria de Geoffrey Powell. A fotografia da capa é uma dança de leão executada frente ao edifício do Liceu Nacional Infante D. Henrique.
É muito curioso o texto de apresentação dos editores. Começa assim:
"There can be no proud in poverty and we are very conscious of the fact that some poverty still exists in Macau"...
E termina num apelo aos turistas explicando que cada dólar gasto no turismo em Macau é uma forma de ajudar o desenvolvimento do território e eliminar a pobreza: "Every dollar you spend in Macau, in its own small way,helps us achieve our aims, to improve the standards of living for the poor in our community (...)".
No remate final escreve-se "There is nowhere else in the whole wide world quiet like Macau. No wonder we are proud of her."
Geoffrey Bruce St. Aubyn Powell, (1918-1989) fotógrafo, jornalista, realizador, documentarista e radialista australiano, visitou pela primeira vez Macau em 1960 no âmbito de um trabalho para o canal de televisão australiano ABC, tendo ido também às Filipinas e Hong Kong e Macau. Em 1962 mudou-se em definitivo para Macau onde tentou vender máquinas de poker o que se revelou um fracasso. No ano seguinte retomou a sua carreira na rádio com um programa na Radio Hong Kong mas devido à sua pronúncia marcadamente australiana o programa foi cancelado. Procurou então montar em 1962 uma estação de rádio em Macau, sem sucesso. Em 1964 tentou instalar uma nova estação de rádio em Macau mas não o conseguiu. Continuou a fazer trabalhos esporádicos para a ABC australiana e abriu uma empresa de turismo trabalhando sobretudo como fotógrafo e tendo como principal cliente o Centro de Informação e Turismo, do Governo de Macau, na promoção do Grande Prémio, nomeadamente nas edições de 1966 (13ª) a 1968 (15ª), atribuindo-se a ele a autoria do cartaz da prova desse ano.
Geoffrey Powell acabaria por casar em Macau em 1970 e no ano seguinte mudou-se para a Tailândia. Em 1974 voltou a Hong Kong e à rádio e dois anos depois regressou à terra natal onde continua a trabalhar na rádio. Em 1989 morreu de ataque cardíaco e foi nessa década que começaram os primeiros trabalhos de investigação com vista à recuperação do seu legado, sobretudo enquanto fotógrafo.
Geoffrey Powell acabaria por casar em Macau em 1970 e no ano seguinte mudou-se para a Tailândia. Em 1974 voltou a Hong Kong e à rádio e dois anos depois regressou à terra natal onde continua a trabalhar na rádio. Em 1989 morreu de ataque cardíaco e foi nessa década que começaram os primeiros trabalhos de investigação com vista à recuperação do seu legado, sobretudo enquanto fotógrafo.
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
"Um sermão em Pedra"
“Um sermão em pedra” é o título do segundo capítulo do livro "A fachada de S. Paulo" da autoria do Padre Manuel Teixeira, editado pela Imprensa Nacional de Macau em 1941.
Do livro, impresso a propósito das comemorações dos Centenários da Fundação e da Restauração, retirei os seguintes excertos a propósito da fachada que, construída depois da igreja, ainda em 1640, estava por acabar...
“Desenhado por um mártir e executado por cristãos perseguidos, o Frontispício de antiga Igreja da Madre de Deus ainda hoje campeia, erecto e granítico, por sobre as velhas e modernas construções da Cidade do Nome de Deus, como para mostrar a todas as gerações a obra imortal de Macau na evangelização do Extremo-Oriente.”
“Sendo as Ruínas de S. Paulo ainda hoje admiradas por todos os turistas que nos visitam e sendo um dos mais soberbos monumentos históricos que Macau possui, cumpre-nos dar aqui a descrição da Fachada. Esta é toda de granito e as estátuas de bronze. Dá acesso ao adro da Fachada uma vasta escadaria de 68 degraus, maior que a do Capitólio de Roma. Agora, no adro, podemos contemplar com emoção a majestosa Fachada que, sem apoio de espécie alguma, desafia a fúria dos tufões, a lima do tempo e a incúria dos homens, há mais dum século.
Quatro ordens de colunas jónicas se nos apresentam com um entablamento coroado dum pequeno frontão, tudo repleto de simbólicos ornatos e encimado por remates e pináculos.
A primeira e segunda ordem tem dez colunas cada uma, jónicas na primeira e compósitas na segunda; a terceira tem seis colunas coríntias; a quarta ordem tem apenas quatro colunas a formar a base do frontão com uma cruz no acrotério e dois postes de cada lado.
Começando agora de cima para baixo, temos: no acrotério do frontão triunfa a cruz de Jerusalém; no tímpano do mesmo, a pomba simbólica do Espírito Santo, fundida em bronze, rodeada de quatro estrelas, com o sol à direita e a lua à esquerda; oito obeliscos, encimados por esferas, ornamentam os três corpos do frontão. (...)
Logo abaixo do Espírito Santo, na quarta ordem de colunas, aparece num nicho a estátua do Menino Jesus, estendendo a mão esquerda como a segurar um objecto, provavelmente o globo que lhe caiu da mão e tendo a mão direita entreaberta para o alto com o indicador estendido a apontar o céu; está rodeado dos instrumentos da Paixão, a saber: à sua esquerda, a escada, a cana verde, os cravos, a bandeira do Império Romano; à sua direita, a esponja, a coroa de espinhos, o azorrague, o martelo, a torquês, a lança; aos lados, duas colunas de ordem coríntia de cada banda, tendo entre si duas estátuas de anjos, em corpo inteiro; o anjo da esquerda, com brincos na orelha, suporta a coluna da flagelação; o anjo da direita, com o seu colar denticulado e com botões bem nítidos no peito, suporta a cruz, encimada pelas letras I.N.R.I. (ou seja, Jesus Nazarenus, Rex Judeorum: - ‘Jesus Nazareno, Rei dos Judeus’); ao lado do anjo da esquerda, um pouco mais para fora, vê-se um objecto que semelha um molho de trigo; nas bases dos dois obeliscos sem esferas, lêem-se as inscrições: SP ED RO SP AV LO, isto é, S. Pedro na extremidade do lado direito do Menino Jesus e S. Paulo na extremidade esquerda; ao lado da inscrição de S. Pedro vêem-se dois leões, um na parte da frente da Fachada e outro já na parte ocidental, a bica e a cabeça de Cristo coroada de espinhos também junto ao leão da parte ocidental; depois da inscrição de S. Paulo, vem um leão; quanto ao outro leão da parte oriental e respectiva bica, já lá não aparecem, tendo provavelmente caído com o tempo; ao lado do anjo da direita, aparece uma corda que alguns, sem razão, confundiram com uma serpente e, a seguir, um obelisco sem esfera, em cuja base, como dissemos, se lê o nome de S. Pedro.
“Na segunda ordem de colunas, há três janelas, hoje desguarnecidas, com flores na parte superior; nesta 2.ª ordem há dez colunas, como já dissemos, cinco de cada banda; do lado esquerdo da janela central, está uma palmeira entre a 1.ª e a 2.ª coluna; depois vê-se a estátua de S. Francisco Xavier num nicho entre a 2.ª e a 3.ª coluna; vem a seguir uma janela e depois a estátua de S. Luiz Gonzaga, então Beato, num nicho entre as duas colunas extremas; do lado direito da janela central, ostenta-se uma palmeira entre a 1.ª e a 2.ª coluna; depois a estátua de Sto. Inácio de Loyola, num nicho entre a 2.ª e a 3.ª coluna; segue-se uma janela e depois a estátua de S. Francisco de Borja, num nicho entre as duas colunas extremas. Na base de cada uma das estátuas lêem-se os seguintes dísticos: B. RC.º B. S. IGNA. S. RC.º X. B. LVIS G. que significam: Beato Francisco Borja, Sto. Ignácio, S. Francisco Xavier e Beato Luiz Gonzaga. Nas abreviaturas de Francisco, segundo o uso dos antigos, no R está incluído o F. Estas estátuas foram provavelmente trabalhadas na fundição de Manuel Tavares Bocarro, que então fabricava, em Macau, canhões de ferro e de bronze.
Na primeira ordem de colunas, há três portas, hoje guarnecidas com portões de ferro; sobre a porta principal, lê-se a inscrição: MATER DEI; esta inscrição vem emoldurada por quatro artísticos pólipos, um em cada canto, estendendo os seus tentáculos para sugar, e ligados por uma cadeia de pérolas e diamantes; sobre as duas portas laterais está um coração em chamas encimado pelo emblema da Companhia: JHS.
Na pedra da esquina ocidental, lê-se: VIRGINI MAGNAE MATRI CIVITAS MACAENSIS LIBENS POSSUIT AN. 1602
Na Fachada há vários degraus, pelos quais se pode subir desde o fundo, passando pelo centro até ao frontão superior.
Vemos, pois, que esta Fachada com os seus simbolismos tão significativos é um sermão em granito, que todos podem ler sem grande dificuldade; poucas fachadas haverá que narrem a sua história com tanta clareza como esta, que é mesmo um livro aberto. ‘Eis – exclamava há pouco tempo, nas páginas da revista The Rock, um ilustre jesuíta irlandês, o P. Y. D. Francis – eis todo o sermão: é uma verdadeira teologia em pedra; é a Comunhão dos Santos, em que Maria, a Mãe de Divina Graça, tem a sua parte gloriosa. Começando pela fileira de cima, podemos reduzir a lição toda a uma sentença: pela graça do Espírito Santo, num determinado momento (primeira fila), Cristo incarnou e com a sua Sagrada Paixão alcançou-nos a graça e libertou-nos da morte e do inferno, vencendo estes monstros (segunda fileira) e esta graça é-nos concedida por meio de Maria (terceira fila), por cuja poderosa intercessão todos podem nutrir a esperança de transpor as portas da Eternidade. De maneira que a economia da salvação consiste em que Deus nos devia salvar por meio de Cristo, cujos merecimentos são aplicados às nossas almas pela intercessão, em primeiro lugar, da Sua Santíssima Mãe e, depois, de todos os Santos’.
Foto de John Thomson em 1870 |
Esta é, em linhas gerais, a tradução daquele sermão em pedra, daquela teologia sistematizada. Procuremos agora tentar explicar todos os símbolos, começando pelo frontão da Fachada. Em cima, campeia a Cruz da Redenção, o símbolo mais vivo e impressionante do cristianismo, que não é mais que o amor de Deus em Cristo. O Espírito Santo baixa do céu, onde se vê o sol, a lua e as estrelas, a cobrir Maria com a virtude do Altíssimo; é que a Incarnação, realizada no tempo, é obra do céu.
Cristo apresenta-se Menino, porque como tal nasceu de Maria; mas esse Menino que aos 12 anos maravilhou os doutores da lei, aponta para o céu com o indicador, e com a outra mão sustenta o mundo; foi pela sua Paixão dolorosíssima, cujos instrumentos se representam naquela fileira, que remiu esse mesmo mundo do pecado e lhe abriu as portas do céu. – O molho de trigo, que se vê na mesma fileira, refere-se a José do Egito, tipo de Cristo Menino. Nossa Senhora está rodeada de anjos, uns em prece em atitude de veneração, outros embocando a trombeta e outros incensando; a fonte e a árvore da vida são símbolos de Maria, donde brotou Jesus, o fruto do seu ventre, que veio para a todos dar vida e uma vida mais abundante; a Virgem, pela sua Imaculada Conceição, calca a cabeça do dragão infernal, a hidra das sete cabeças, e triunfa da morte e do inferno, pois que tanto o esqueleto como o diabo se encontram derrotados e prostrados por um dardo; o navio representa a esperança, com que havemos de chegar ao porto de salvamento, às praias da Eternidade; a pomba inocente e pura representa também a Virgem sem mancha, e a coroa e as flechas o amor e a realeza de Cristo. Vêm então os Santos que, velejando em busca do porto, pela graça de Cristo e pela intercessão de Maria, já o alcançaram, lançando ferro nas praias da Eternidade.”
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Leading residents of Macao (1908)
No livro de 1908 "Twentieth Century Impressions of Hongkong, Shanghai, and other Treaty Ports of China há um sub-capítulo intitulado "Leading Residentes of Macao". Entre as dezenas de figuras proeminentes da sociedade macaense do início do século XX estão:
Dr. Alfredo Pinto Lello, Colonial Secretary to the Government of Macao, was born in 1864 at Fontes, in the district of Villa Real, Portugal. From 1890 to 1892 he was Colonial Secretary of the province of Mozambique, and Acting-Governor of the District of Lorenzo Marques. He was transferred to Macao in 1893.
Count de Senna Fernandes, the Consul for Siam, in Macao, is a native of the Portuguese Settlement. Born in 1867 he received an excellent education at St. George's College, Weybridge, Surrey, and, at the age of twenty, returned to the place of his birth with the most pleasant memories of his stay in England, and well equipped for the responsibilities of later life. Besides having the supervision of certain commercial interests, he became the intermediary between the Chinese and Portuguese Governments. In recognition of his public services he has been made a Commander of the Legion de Conception, and decorated with the Order of the Crown of Siam.
Mr. A. P. de Miranda Guedes, Director of Public Works and Superintendent of the Fire Brigade, was born at Poiares, near Regoa, in the district of Villa Real, Portugal, in 1875. He obtained honours at the University of Coimbra and at the Army School in Lisbon. As a civil and mining engineer he served in several Portuguese colonies, including West Africa, and has been Chief of the Railway section of St. Thomé, Chief of the Survey of the Railway of Malange, and Director of Land Surveys in Angola. He received his present appointment in 1906.
Mr. Pedro Nolasco da Silva has taken part in a number of progressive educational movements, and has been responsible for initiating several important municipal improvements. He was born at Macao, on May 6, 1842. During his academic course at the Seminary of St. Joseph he won the first prize in Philosophy, and, on the completion of his studies, was appointed Student Interpreter in the Government Chinese Translation Department, of which, subsequently, he rose to be the head. When, later, the department became an independent government office he was responsible for its total re-organisation. In 1887 Mr. Nolasco da Silva was appointed Secretary Interpreter to the Portuguese Minister Plenipotentiary to Peking, Conde de Souza Roza, at present Ambassador in Paris, whose special mission to the Chinese capital resulted in the Portuguese-Chinese Treaty of December 1st of that year, in which China, for the first time, recognised the sovereignty of Portugal over Macao. Always interested in educational matters Mr. Nolasco da Silva has been a teacher of Chinese in the Seminary of St. Joseph, and in the Commercial Institute. He has translated and compiled several school-books, among which is the "Manual da Lingua Sinica para uso dos Joveus Macaenses." He founded the "Associacao Promotora da Instruccao dos Macaenses" (the association for the promotion of the education of Macaenses), which now maintains the English Commercial School conducted by Mr. R. A. Coates, a graduate of Dublin University, and he organised the two central schools of primary instruction for boys and girls respectively. It was due also, to his initiative, that that splendid charitable institution, the Santa Casa da Misericordia, was revived, and, by his organisation of the great "Santa Casa" lottery, placed on a sound financial basis. For several years he was the provedor, or president, of this far-reaching philanthropic enterprise, and his term of office was marked by the erection of the Orphans' Asylum, the introduction of the service for the relief of the poor, and the framing of the present regulations. Mr. Nolasco da Silva's participation in municipal affairs has been no less noteworthy. During his occupancy of the positions of vice-president and president of the Municipal Council or the "Leal Senado" as it is termed locally, a number of important reforms were carried out. The new market and some fine commodious buildings were erected on the site of the old São Domingo market and in the Largo do Senado, where, formerly, only insanitary little houses existed. In other parts of the town several resumptions of insanitary property were also carried out, and the lighting of the public streets by electricity was due almost solely to his efforts. For a time Mr. Nolasco da Silva was editor of the Echo do Povo, a Portuguese weekly paper published in Hongkong, and he was also the principal contributor to the weekly papers, O Macaense and the Echo Macaense, published at Macao. He is a member of the Conselho Inspector da Instruccao Publica, and has been several times a member of the Conselho de Provincia. About twenty-five years ago, in recognition of his many services, he was created by the Portuguese Government Cavalleiro da ordem de Nosso Senhor Jesus Christo.
Mr. Francisco Xavier Pereira (imagem à dta.) has the distinction of being the youngest president of the Leal Senado ever appointed. He was elected to the position in 1907, and his term of office will not expire until 1909. Born at Macao in 1883, he was educated at the Macao Lyceum and at Coimbra University. After being admitted as a barrister, he returned to Macao, in 1905, to practise law.
Mr. A. J. Basto, who has been elected many times as president of the Leal Senado, has practised as a lawyer in Macao for thirty-eight years. Born in Macao in 1848, he travelled a great deal during his younger days, visiting Shanghai many times, India, Portugal, France, Spain, Italy, England, and different parts of Africa. He is a Commander of the Portuguese Order of Christ, the Order of the Pope, the Rising Sun of Japan, the Crown of Siam, and the Redemption of the Republic of Liberia; a Chevalier of the Legion d'Honneur, and a Knight of various other orders. Mr. Basto is also a Fellow of the Royal Geographical Society of England, a member of the Royal Geographical Society of Lisbon, and of other scientific societies of Europe, and was the secretary of a Diplomatic Mission from Portugal to Japan and Bangkok.
Mr. A. J. Basto, who has been elected many times as president of the Leal Senado, has practised as a lawyer in Macao for thirty-eight years. Born in Macao in 1848, he travelled a great deal during his younger days, visiting Shanghai many times, India, Portugal, France, Spain, Italy, England, and different parts of Africa. He is a Commander of the Portuguese Order of Christ, the Order of the Pope, the Rising Sun of Japan, the Crown of Siam, and the Redemption of the Republic of Liberia; a Chevalier of the Legion d'Honneur, and a Knight of various other orders. Mr. Basto is also a Fellow of the Royal Geographical Society of England, a member of the Royal Geographical Society of Lisbon, and of other scientific societies of Europe, and was the secretary of a Diplomatic Mission from Portugal to Japan and Bangkok.
Dr. Lourenço Pereira Marques (imagem ao lado), son of the late Commander Lourenço Marques, was born in Macao, in the famous garden of Camoens, which belonged to his family. Educated at the Royal College of St. José, Macao, and at Lisbon and Dublin, he is a Fellow of the Royal Academy of Medicine in Ireland, a member of the Royal College of Physicians of Ireland, and a Fellow of the Royal Geographical Society of Lisbon. He is the author of essays on various subjects, and has written several articles descriptive of his travels. He is a Commander of the Portuguese Military Order of Christ, and a Knight of the Ancient and Most Noble Order of the Tower and Sword, the latter decoration being awarded him in recognition of assistance rendered during the plague epidemics. Dr. Marques frequently gives poor patients the benefit of his medical experience without payment. He has a large circle of friends, and is a highly esteemed member of the local community.
Mr. Luiz Augusto Lopes Remedios, the Postmaster-General of Macao, was born in the Colony in 1874, and was educated at Macao and Singapore. At the age of nineteen he joined the China Trades' Insurance Company, but returned to Macao in 1900, and received his present appointment two years later.
Mr. A. H. Wilzer, the Commissioner of Customs for the Lappa district, which encircles Macao, was born at Hamburg in 1866 and educated there. He came to China in 1887 for the Customs service, and was stationed, first at Swatow, and afterwards at Peking and Canton. In 1899, following immediately upon his return from a holiday trip to Europe, he was appointed to Shasi on the Yangtsze, and, one year later, to Peking. On his way north, he was delayed at Tientsin by the Boxer troubles, and, returning to Shanghai, held an appointment there until 1901. He was then retransferred to the capital, where he remained till the end of 1904.
Mr. M. da Silva Mendes, who has been practising as a lawyer and advocate in Macao since 1902, was born in 1870 at Santo Thyrso. He had a very successful career at Coimbra University, and now, in addition to his professional duties, he is Professor of German at the Institute of Macao. He devotes a considerable portion of his spare time to literary work, and his publications include "O Socialismo Libertario on Anarchismo," and "Guilherme Tell."
Mr. Luiz Augusto Lopes Remedios, the Postmaster-General of Macao, was born in the Colony in 1874, and was educated at Macao and Singapore. At the age of nineteen he joined the China Trades' Insurance Company, but returned to Macao in 1900, and received his present appointment two years later.
Mr. A. H. Wilzer, the Commissioner of Customs for the Lappa district, which encircles Macao, was born at Hamburg in 1866 and educated there. He came to China in 1887 for the Customs service, and was stationed, first at Swatow, and afterwards at Peking and Canton. In 1899, following immediately upon his return from a holiday trip to Europe, he was appointed to Shasi on the Yangtsze, and, one year later, to Peking. On his way north, he was delayed at Tientsin by the Boxer troubles, and, returning to Shanghai, held an appointment there until 1901. He was then retransferred to the capital, where he remained till the end of 1904.
Mr. M. da Silva Mendes, who has been practising as a lawyer and advocate in Macao since 1902, was born in 1870 at Santo Thyrso. He had a very successful career at Coimbra University, and now, in addition to his professional duties, he is Professor of German at the Institute of Macao. He devotes a considerable portion of his spare time to literary work, and his publications include "O Socialismo Libertario on Anarchismo," and "Guilherme Tell."
Nota: Ao contrário do que é mencionado Manuel da Silva Mendes nasceu em 1867 e chegou a Macau em 1901.
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
"Reviews" de Wartime Macau Under the Japanese Shadow
O ano passado, mais ou menos por esta altura, era editado em Hong Kong, pela Hong Kong University Press, o livro "Wartime Macau Under the Japanese Shadow", uma co-autoria de várias pessoas, coordenadas por Geoffrey C. Gunn, em que me incluo num capítulo dedicado aos aspectos económicos das consequências do conflito em Macau intitulado "Living on the Edge: Economic Management over Military Defences".
Ao longo dos tempos têm sido publicadas algumas críticas sobre o livro; deixo aqui algumas...
- The China Journal, Vol. 79 Jan. 2018
- The China Journal, Vol. 79 Jan. 2018
- South China Morning Post (21.12.2016)
- Journal of the Royal Asiatic Society Hong Kong Branch, Vol. 57 (2017)
- Journal of Asian History, Vol. 51 (2017)
- Asian Affairs, 2017
- Asian Review of Books (2017)
O convite feito por G. Gunn para a minha participação neste livro teve por base um outro título, da minha autoria, editado em 2012: "Macau 1937-1945: os anos da guerra". Aqui ficam as capas dos livros para memória futura e mais uma referência publicada anteriormente no blog.
Excerto da "review/crítica" de Peter Gordon:(...) Whether by accident or design, Wartime Macau’s combination of the personal and political stimulates intellectually and emotionally.
The intellectual satisfying moment comes with Gunn’s discussion of how Macau fit into the geopolitics of the Second World War. It is too simple to say that Portugal was neutral, that therefore Macau was considered neutral territory and the Japanese respected it. Neutrality was not enough to spare East Timor, for example: Japan invaded to expel a small group of Australian, British and Dutch forces that had installed themselves there. Japan never left. Portuguese protestations had to stop short of a declaration of war because Macau would have been immediately occupied.
The Allies, meanwhile, were concerned about Portugal’s vulnerability and were angling for base rights on the Azores. Germany didn’t want Portugal to tip into outright Allied solidarity. António de Oliveira Salazar, the Portuguese leader, was working to preserve Portugal’s colonial possessions in the future post-War period. The resulting unstable equilibrium contributed to preserving Macau’s precarious autonomy: it was a close thing at times.
Similarly interesting, if less far-reaching, is the discussion of the role that Banco Nacional Ultramarino played in maintaining some semblance of financial stability at a time of multiple fluctuating currencies.
The intellectual satisfying moment comes with Gunn’s discussion of how Macau fit into the geopolitics of the Second World War. It is too simple to say that Portugal was neutral, that therefore Macau was considered neutral territory and the Japanese respected it. Neutrality was not enough to spare East Timor, for example: Japan invaded to expel a small group of Australian, British and Dutch forces that had installed themselves there. Japan never left. Portuguese protestations had to stop short of a declaration of war because Macau would have been immediately occupied.
The Allies, meanwhile, were concerned about Portugal’s vulnerability and were angling for base rights on the Azores. Germany didn’t want Portugal to tip into outright Allied solidarity. António de Oliveira Salazar, the Portuguese leader, was working to preserve Portugal’s colonial possessions in the future post-War period. The resulting unstable equilibrium contributed to preserving Macau’s precarious autonomy: it was a close thing at times.
Similarly interesting, if less far-reaching, is the discussion of the role that Banco Nacional Ultramarino played in maintaining some semblance of financial stability at a time of multiple fluctuating currencies.
The hero of the book, if such a book can be said to have had one, is the Governor of the time, Gabriel Maurício Teixeira, who managed to keep the place going despite food shortages and a dramatic influx of refugees which more than doubled Macau’s population; Macau seems, at least by today’s standards, to have been remarkably generous. Teixeira also had to contend with the murder of the Japanese consul, the bombing of Macau by the Americans, and other incidents which could have brought an end to the enclave’s precarious autonomy. Other personalities also make their appearance: the British Consul John Pownall Reeves, Pedro José Lobo and, of course, Stanley Ho. (...)"
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
"Far East Chronicles" / "Crónicas do Extremo Oriente"
Depois da exposição colectiva “Paperscapes” no ano passado, a Karin Weber Gallery convidou Eric Fok para uma exposição a solo, a primeira do artista macaense (nascido em 1990) na antiga colónia britânica, intitulada "Far East Chronicles" - "Crónicas do Extremo Oriente". Está patente até 30 de Dezembro e inclui não só trabalhos em papel como também em objectos de couro e madeira.
É já uma imagem de marca do trabalho de Eric, os mapas desenhados a caneta técnica sobre papel. Os mapas são inspirados nos registos cartográficos dos séculos 17 e 18 e ganham o aspecto antigo quando o papel é manchado com chá. Se está por Macau pode ver outros trabalhos de Eric da exposição "Light From Shadow" patente na galeria da Torre de Macau até ao final de Janeiro.
Eric Fok cursou Artes Visuais no Instituto Politécnico de Macau e já expôs em Nova Iorque, Bolonha, Cantão, Singapura, Shenzhen, Lisboa, Londres, Taipé e Seul. Algumas das suas obras estão patentes nas colecções do Museu do Oriente (Lisboa), na University Museum and Art Gallery (Hong Kong), no Museu de Arte de Macau, na representação local da Fundação Oriente e em colecções privadas em Hong Kong, Macau, Taiwan, Singapura, EUA, Reino Unido e Itália.
Eric num trabalho de grandes dimensões para um hotel |
Eric Fok (b. 1990) graduated from the Macao Polytechnic Institute and currently lives and works in Macao and Taipei. Eric has taken part in many exhibitions in Macao, Taiwan, China, Portugal and Spain. His works form part of several prestigious public collections including the Macau Government Headquarters, Cultural Affairs Bureau of the Macau S.A.R., Oriental Foundation, Macau Museum of Art, The Orient Museum (Portugal), University Museum and Art Gallery (HKU), and private collections in Hong Kong, Macau, China, Taiwan, Singapore, Italy, USA and United Kingdom.
Para 2018 já está agendada uma nova exposição a solo de Eric Fok, desta feita em Taiwan. Mais pormenores muito em breve aqui no blogue Macau Antigo.
Eric Fok will have a new solo exhibition in Taiwan next month. More info very soon here at blog Macau Antigo.
Eric Fok will have a new solo exhibition in Taiwan next month. More info very soon here at blog Macau Antigo.
domingo, 17 de dezembro de 2017
Vencedores do Passatempo 9º Aniversário
Agradeço a todos a participação no Passatempo do 9º Aniversário do Blogue Macau Antigo. Aqui fica a lista do 10 vencedores. Vão receber em casa um exemplar do livro "Liceu de Macau 1893-1999".
Marco Paulo Dias Luís (Torres Vedras)
"Sempre que leio o blogue Macau Antigo faz-me sonhar sobre um Macau que desde que me lembro preenche o meu imaginário e fascínio pelo Oriente e incrementa sempre o meu desejo de um dia poder visitar Macau".
"Sempre que leio o blogue Macau Antigo faz-me sonhar sobre um Macau que desde que me lembro preenche o meu imaginário e fascínio pelo Oriente e incrementa sempre o meu desejo de um dia poder visitar Macau".
Anjos Mendes (Porto)
"O blogue Macau Antigo é uma fonte igual à Fonte do Lilau, mata a sede a todos mas alimenta a alma aos que sempre querem regressar a Macau".
Pedro Oliveira (Cascais)
"O blogue Macau Antigo traz memórias que poderão já estar esquecidas a quem já viveu em Macau e assim trazer algumas lágrimas e sorrisos a algumas pessoas".
Miguel Rosa (Coimbra)
"Fonte inesgotável e recurso essencial para todos os que se interessam pela história de Macau".
Catarina Oliveira (Famalicão)
"Nove anos e mais de um milhão de visitantes são as provas da qualidade dos conteúdos do blogue Macau Antigo".
Osvaldo Carvalho (Lisboa)
"Incontornável para todos os que se interessam pela história de Portugal no Oriente"
Carmen Silva (Lisboa)
"Um marco na divulgação da história e cultura macaense em todas as vertentes".
Luís Manuel (Porto)
"Fascinante a forma moderna de contar a história de Macau".
João António (Lisboa)
"Também assim se preserva uma identidade única e ímpar, a da história e cultura macaense".
Maria Silva (Lisboa)
"Um guia essencial e acessível a todos sobre a história de Macau"
"O blogue Macau Antigo é uma fonte igual à Fonte do Lilau, mata a sede a todos mas alimenta a alma aos que sempre querem regressar a Macau".
Pedro Oliveira (Cascais)
"O blogue Macau Antigo traz memórias que poderão já estar esquecidas a quem já viveu em Macau e assim trazer algumas lágrimas e sorrisos a algumas pessoas".
Miguel Rosa (Coimbra)
"Fonte inesgotável e recurso essencial para todos os que se interessam pela história de Macau".
Catarina Oliveira (Famalicão)
"Nove anos e mais de um milhão de visitantes são as provas da qualidade dos conteúdos do blogue Macau Antigo".
Osvaldo Carvalho (Lisboa)
"Incontornável para todos os que se interessam pela história de Portugal no Oriente"
Carmen Silva (Lisboa)
"Um marco na divulgação da história e cultura macaense em todas as vertentes".
Luís Manuel (Porto)
"Fascinante a forma moderna de contar a história de Macau".
João António (Lisboa)
"Também assim se preserva uma identidade única e ímpar, a da história e cultura macaense".
Maria Silva (Lisboa)
"Um guia essencial e acessível a todos sobre a história de Macau"
Neste ano que agora termina assinalaram-se os 90 anos da inauguração do correio aéreo em Macau. Aqui fica mais um testemunho através de um envelope timbrado. Podem encontrar mais informação sobre o tema aqui.
sábado, 16 de dezembro de 2017
Padre Cézar Brianza
O Padre César Brianza nasceu a 17 Abril 1917em Chiari, na Lombardia (Itália). Radicado no Extremo Oriente desde 1935, primeiro em Hong Kong - estudou piano com o conhecido maestro Elisio Gualdi - e Macau e depois em Xangai, que já era então uma das maiores e mais importantes e desenvolvidas cidades do mundo, de 1938 a 1949, onde concluiu o curso de Teologia e foi ordenado padre, e de novo em Hong Kong e Macau, após a entrada vitoriosa dos comunistas em Xangai, em Maio de 1949.
Em Xangai recebeu lições de Kostevich, outro grande maestro, até partir para Lisboa, em 1954, onde tirou o curso de piano no Conservatório Nacional. Dois anos mais tarde partiu para Viena, para um estágio de três meses no Augarten Palaiso, o que lhe permitiu assistir frequentemente aos ensaios do aclamado grupo coral “Viena Boys Choir”.
Professor de Música e de Religião e Moral no Colégio D. Bosco fundou em 1959 o coral dos “Pequenos Cantores do Colégio D. Bosco” dirigindo-o durante 16 anos.
Em 1962, juntamente com o Padre Áureo Castro, fundou a “Academia de Música de São Pio X”. Foi também orientador artístico da Banda da Polícia de Segurança Pública entre 1966 e 1980.
Em 1962, juntamente com o Padre Áureo Castro, fundou a “Academia de Música de São Pio X”. Foi também orientador artístico da Banda da Polícia de Segurança Pública entre 1966 e 1980.
A sua dedicação ao grupo dos Pequenos Cantores em Macau teve um grande impacto não só nos próprios jovens, como também no território. Conhecido pela sua dedicação, o Padre Brianza conseguiu transmitir aos jovens do Colégio Salesiano Dom Bosco uma confiança na procura de atingir a perfeição, merecendo rasgados elogios em cada actuação. Levar os Pequenos Cantores ao Japão foi um sonho tornado realidade para o padre, mas não se ficou por aqui, havendo outras digressões às Filipinas, Portugal, Singapura e Malásia.
Para mais informações sobre a vida e obra do Padre Brianza sugiro a leitura do livro "César Brianza – a missão, o coro e o sonho da China" da colecção “Missionários para o Século XXI”, do Instituto Internacional de Macau, e da autoria de João Guedes.
Excerto:
Excerto:
César Brianza chega a Macau num momento de crise da cultura. Os anos da Guerra (1939-45) tinham transfigurado Macau. Tendo-se então transformado num centro de refugiados de toda a China, a colónia portuguesa acolheu durante esse período artistas das mais diversas áreas. No âmbito da música as grandes orquestras que animavam a vida cultural de Xangai e de outras grandes cidades da China mudaram-se com armas e bagagens para a colónia portuguesa. Este movimento seria reforçado a partir do Natal de 1941, data da ocupação de Hong Kong pelos japoneses, o que fez com que se registasse um êxodo semelhante dos elementos mais destacados do panorama da música erudita e ligeira, do teatro e do espectáculo em geral da vizinha colónia britânica.
Com a reposição da normalidade que começou a ter lugar a partir de 1946, outro êxodo se viria a registar, mas este em sentido contrário, ou seja os grandes intérpretes culturais que tinham animado as ‘matinés’ e ‘soirées’ dos tempos da guerra deixavam inoxoravelmente Macau. Uns regressavam aos seus pontos de origem, nomeadamente a Hong Kong que rapidamente se recompunha da tragédia da ocupação nipónica. Alguns, voltavam a Xangai confiados que a grande metrópole de outrora voltaria a alcandorar-se ao brilho de antes da guerra. No entanto a maioria desiludia-se das promessas asiáticas e rumava à Europa, aos Estados Unidos da América, ou à Austrália. Todas tinham, um destino, mas ninguém ganhara raízes suficientemente sólidas para permanecer. De facto, Macau era um território demasiado pequeno para poder manter uma classe artística profissional fosse em que domínio fosse. Finda a guerra a música e o teatro passavam de novo a depender inteiramente de mecenas de ocasião e do empenho de amadores mais ou menos dotados.
Depois disso tudo foi definhando o que levava mesmo o escritor Henrique de Senna Fernandes a afirmar que a vida cultural macaense morreu nos anos 50. O panorama não seria tão drástico como o escritor afirmava, mas não se encontrava muito longe disso.
Salvava a situação Pedro José Lobo, com o seu ‘Círculo Cultural de Macau’ que promovia iniciativas em várias áreas. Assim surgem os debates, palestras e conferências em torno dos grandes temas que animavam a vida cultural europeia e americana. Pedro Lobo financiava também a edição de livros e era já conhecido na cidade como o mecenas. Sob a sua protecção (…) nasce pouco depois a delegação em Macau do ‘Círculo de Cultura Musical de Portugal’ que trouxe até cá grandes artistas nacionais e estrangeiros. Sequeira Costa, Silva Pereira, Varella Cid, Hellen Traubel, Catarina Heinz e António David foram apenas alguns dos que aqui actuaram.
Seja como for, porém, as iniciativas promovidas por Pedro Lobo e o seu ‘Círculo Cultural’ não passam de eventos esporádicos ainda que meritórios que não chegavam para levar verdadeiramente a arte à população em geral de um modo contínuo e abrangente.
No âmbito da educação musical, esteio e pólo de atracção de músicos, o ambiente era desolador. Nesse âmbito a educação com algum grau de estruturação limitava-se quase estritamente ao Seminário de S. José, já que o ensino oficial se circunscrevia às aulas rudimentares de solfejo do Liceu.”
Com a reposição da normalidade que começou a ter lugar a partir de 1946, outro êxodo se viria a registar, mas este em sentido contrário, ou seja os grandes intérpretes culturais que tinham animado as ‘matinés’ e ‘soirées’ dos tempos da guerra deixavam inoxoravelmente Macau. Uns regressavam aos seus pontos de origem, nomeadamente a Hong Kong que rapidamente se recompunha da tragédia da ocupação nipónica. Alguns, voltavam a Xangai confiados que a grande metrópole de outrora voltaria a alcandorar-se ao brilho de antes da guerra. No entanto a maioria desiludia-se das promessas asiáticas e rumava à Europa, aos Estados Unidos da América, ou à Austrália. Todas tinham, um destino, mas ninguém ganhara raízes suficientemente sólidas para permanecer. De facto, Macau era um território demasiado pequeno para poder manter uma classe artística profissional fosse em que domínio fosse. Finda a guerra a música e o teatro passavam de novo a depender inteiramente de mecenas de ocasião e do empenho de amadores mais ou menos dotados.
Depois disso tudo foi definhando o que levava mesmo o escritor Henrique de Senna Fernandes a afirmar que a vida cultural macaense morreu nos anos 50. O panorama não seria tão drástico como o escritor afirmava, mas não se encontrava muito longe disso.
Salvava a situação Pedro José Lobo, com o seu ‘Círculo Cultural de Macau’ que promovia iniciativas em várias áreas. Assim surgem os debates, palestras e conferências em torno dos grandes temas que animavam a vida cultural europeia e americana. Pedro Lobo financiava também a edição de livros e era já conhecido na cidade como o mecenas. Sob a sua protecção (…) nasce pouco depois a delegação em Macau do ‘Círculo de Cultura Musical de Portugal’ que trouxe até cá grandes artistas nacionais e estrangeiros. Sequeira Costa, Silva Pereira, Varella Cid, Hellen Traubel, Catarina Heinz e António David foram apenas alguns dos que aqui actuaram.
Seja como for, porém, as iniciativas promovidas por Pedro Lobo e o seu ‘Círculo Cultural’ não passam de eventos esporádicos ainda que meritórios que não chegavam para levar verdadeiramente a arte à população em geral de um modo contínuo e abrangente.
No âmbito da educação musical, esteio e pólo de atracção de músicos, o ambiente era desolador. Nesse âmbito a educação com algum grau de estruturação limitava-se quase estritamente ao Seminário de S. José, já que o ensino oficial se circunscrevia às aulas rudimentares de solfejo do Liceu.”
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
"Macau Palace": o primeiro casino flutuante
Numa altura em que surgem notícias da abertura para breve de um novo casino em Macau, com as características de flutuantes, recordo o primeiro de todos, e também o primeiro do que viria a ser o império da STDM: o Casino Macau Palace atracado na Ponte Cais nº 12B do Porto Interior e que entrou em funcionamento a 26 de Maio de 1962.
Para além de casino tinha ainda um restaurante de comida chinesa com o mesmo nome.
Curiosidade: algumas cenas do filme "James Bond 007 - The Man with a Golden Gun" foram filmadas neste casino.
Na altura - Janeiro 1962 - a STDM tinha acabado de assinar um contrato com o Governo de Macau que lhe garantia a exploração, em regime de exclusividade, de jogos de fortuna ou azar ou outros jogos em casinos, por um período de oito anos, de acordo com a portaria n.º 18267, de 13 de Fevereiro de 1961.
Stanley Ho era um dos 10 sócios da STDM (criada em Maio de 1962 com capital social de 3 milhões de patacas) e o segundo em termos de maior número de acções; o número um era Eric Fok; Teddy Yip e Yip Hón eram os outros dois sócios com valor significativo de acções. Com substancialmente menor participação em termos de capital social, estavam: Lai On, Ho Hung Tsin, Chan Ka Sun, Lui King Fat, Yip Wai Chan e Yip Ping Yin.