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quinta-feira, 31 de março de 2016

Estampilha Fiscal

A Estampilha Fiscal é o selo ou vinheta representativa do imposto pago, que se colava em documentos que representassem obrigação ou quitação pecuniária.
Em cima apresento dois exemplos de estampilhas fiscais usadas em Macau na década de 1940 e feitas a partir de selos já existentes. Num dos casos, o do lado direito, o selo até nem foi feito para circular em Macau.

terça-feira, 29 de março de 2016

O "commercio do anfião"

O anfião é o mesmo que ópio e era por este nome que este tipo de produto começou por ser conhecido no século XVIII. Em baixo reproduzo um parecer da Comissão de Ultramar (Portugal) sobre o "commercio do anfião com o imperio da China" datado de 1823.
”A Commissão de Ultramar examinou o ofício do Secretario d´Estado dos negócios da fazenda, de 29 de Janeiro passado, em que remeteu um projecto para proteger na cidade de Macao o commercio do Anfião com o imperio da China, as actas do leal senado a este respeito, a opinião dos negociantes, o relatorio do procurador do senado, e a carta do interpetre china ao mesmo procurador. O objecto de todas estas representações he o seguinte: o anfião he rigorroso contrabando no imperio: ao mesmo tempo he a principal mercadoria do commercio de Macáo, e avidamente procurada pelos povos da China. A commissão não conhecendo os usos e leis daquelle imperio, não póde dar e este respeito opinião alguma; nem julga que se deva dar: está ordenado pelas leis deste reino, que o leal senado de Macáo, conserve illesas todas as relações politicas com o imperador da China, e que não comprometia jámais nem a existencia do estabelecimento , nem estas relações politicas. He só esta recomendação que a Commissão pensa que o Governo deve reiterar ao leal senado, e governança de Macáo, deixando o mais à sua prudencia, a circunspecção de que tantas provas tem dado neste arduo , e espinhoso negocio.
Paço das Cortes em 17 de Março de 1823 Francisco Soares Franco; Manoel Patrício Correia de Castro; Joaquim Antonio Vieira Belford; Domingos da Conceição; Manoel Caetano Pimenta de Aguiar; Manoel Freitas Branco.Venceu-se, que vá á Commissão do commercio.”

in Diário das Cortes da Nação Portugueza: .. anno de legislatura, Volume 9. Lisboa, a Imprensa Nacional, 1823
Datas de contextualização:
Em 1800 o Imperador da China proibiu severamente que se continuasse a trocar o dinheiro por aquele «vil esterco» (o ópio) tendo sido publicados severos decretos imperiais contra o ópio. Proibição do seu comércio.
Em 1815 o Senado de Macau renovou a antiga restrição, impedindo os navios não portugueses de descarregar ópio em Macau.
Em 1821 a China ameaçou fazer um bloqueio a Macau por causa do comércio do ópio. 
Fumadores de ópio num óleo sobre tela de Fausto Sampaio, 1937
O ópio foi introduzido na China cerca do século VII/ VIII pelos árabes sendo utilizado com fins farmacêuticos. Já no século XVII, os holandeses empregam-no como droga alucinógena e os orientais começaram a fumá-lo misturado com o tabaco. Aos ingleses deve-se a expansão do produto, tendo Companhia das Índias Orientais ficado com o monopólio da produção e comercialização. Depressa o ópio transformou-se num flagelo a ponto da China proibir a entrada do produto no país. Na reacção os ingleses iniciaram um longo período de guerra (1839-1858) com a China, que se viu obrigada a abrir os portos ao comércio ocidental e ainda na sequência da chamada Guerra do Ópio e do tratado de Nanquim (1842), surgiria Hong Kong.
Sugestão de leitura: "Macau e a guerra do ópio" de António Ventura

sábado, 26 de março de 2016

"A China não se define, só se respira e sente"


“A China absorve-nos, narcotiza-nos, prende e domina, como regra geral, o nosso espírito, invade tudo, o raciocínio e o sentimento, como uma teia invisível que aperta, pouco a pouco, insensivelmente, que nos sufoca, esgota e cansa!
A China é traiçoeira e calma, insinua-se quanto mais se aborrece, deseja-se quando se odeia, aspira-se como uma necessidade, a China, que quase até nos mata!
A China é como uma feiticeira que tem sortilégios, é a cartomante terrível que parece escrever o nosso destino com letras invisíveis: há no seu ambiente um sopro de agoiro, uma agonia, uma tristeza, uma tortura, que se recebem sem custo e com prazer, como uma necessidade fatal da nossa existência.
A China é o mistério que ri e que dança na frente de nós, numa volúpia dolorosa do espírito duende, a China é a mensageira do desconhecido que perturba, enerva, envenena e vence.
A China é tudo isso e muito mais ainda que a minha pena não sabe descrever, a China não se define, só se respira e sente, como um veneno imprescindível a quem uma vez o provou.” Jaime do Inso

Imagens de uma edição do livro "China" de Jaime do Inso, profusamente ilustrada. Edições Europa 1936

Jaime do Inso foi um oficial da marinha Portuguesa que serviu em Macau e participou na pacificação de Timor em 1912. Era membro da geração de orientalistas portugueses juntamente com nomes como Wenceslau de Moraes, Alberto Osório de Castro e Camilo Pessanha, e escreveu vários livros e opúsculos sobre a China e Macau.
Os seus livros são uma referência para o conhecimento da presença portuguesa no Oriente pois era um verdadeiro apaixonado por Macau e pela China.
Alguns exemplos:
Cenas da Vida de Macau
O Caminho do Oriente
O caso da rua Volong

quinta-feira, 24 de março de 2016

Selos de Macau com sobrecarga de outras colónias

A primeira série filatélica comemorativa a circular em Macau data de 1898 e diz respeito aos 400 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia (1498). Pode ver-se aqui um envelope circulado na época.
A ideia foi da Sociedade de Geografia de Lisboa que pretendia com o dinheiro da venda dos selos construir um monumento de homenagem a Vasco da Gama (foram também feitas medalhas e moedas...). Aberto o concurso participaram 15 artistas que apresentaram 45 propostas sendo escolhidas oito. João Vaz, por exemplo, assina dois dos oito selos escolhidos.
Estávamos no final do século XIX e poucos anos depois, em 1910, sucede a mudança de regime em Portugal, da monarquia para a república. O facto obrigou a muitas alterações e a filatelia não foi excepção. Acresce o facto de na época ser difícil as comunicações entre Portugal e as restantes colónias portuguesas pelo que foi preciso improvisar de forma a poder utilizar o stock existente de selos. Assim, foram muitos os casos de selos que receberam a 'sobrecarga' "República" e que se podem encontrar aqui no blogue. 
Outra situação que ocorreu, e é esse o motivo deste post, foi a utilização de uma tripla sobrecarga em 1913. Ou seja, houve selos que tendo sido emitidos para Macau seriam utilizados noutras colónias portuguesas, pelo que receberam para a além da sobrecarga Republica uma outra sobrecarga com a designação do país onde passavam a ser utilizados bem como uma sobrecarga relativa ao valor facial vigente no respectivo país/região.
Existem exemplos selos de Macau com sobrecargas do Téte, Guiné, Cabo Verde, Congo, Angola, etc.
Do que pude apurar até agora estes selos nunca chegaram a passar por Macau, tendo saído directamente da Casa da Moeda em Portugal onde foram feitas as devidas alterações/colocadas as sobrecargas.
Ainda a título de curiosidade refira-se que esta emissão 1498-1898 tinha sido feita também para as colónias portuguesas em África e no local onde surge a palavra "Macau" estava a palavra "África".
 Selos Macau-Téte (Província de Moçambique)

  Selos Macau-Guiné
 Selos Macau -Cabo Verde

quarta-feira, 23 de março de 2016

Recordar Bruxelas em 1958

 
Entre Abril e Outubro de 1958, Bruxelas (Heysel) estava no centro de todas as atenções ao acolher a primeira exposição universal realizada depois da Segunda Guerra Mundial. Portugal participou no evento e Macau esteve representado no sector das "Províncias d'além Mar". Em cima a reprodução de dois envelopes alusivos ao evento - entre os vários produzidos na época. Em baixo, aspectos do pavilhão de Portugal.
O certame ficaria na memória de todos pela estrutura escultórica do átomo, o Atomium.
Mais de 42 milhões de pessoas visitaram a exposição marcada pelo apelo à paz no mundo.

terça-feira, 22 de março de 2016

Correios comemoram 132º aniversário

A 1 de Março último os Correios de Macau comemoraram o 132º aniversário. Para assinalar a efeméride reproduzo aqui um selo/registo de 2 avos assinado por José Maria D’ Almeida, director dos Correios de Macau em 1911.

segunda-feira, 21 de março de 2016

O último mandato do Gov. Tamagnini Barbosa

"Em Novembro de 1936, Tamagnini Barbosa foi pela terceira vez nomeado Governador de Macau, desembarcando no território em 11 de Abril do ano imediato. Foi de avião à Conferência Colonial, na metrópole, em Abril de 1939, regressando ao território em Agosto, também de avião — facto extraordinário para a época, pois as viagens aéreas ainda não estavam vulgarizadas. Viria a falecer no palacete de Santa Sancha, a 10 de Julho de 1940, contava 59 anos, vítima de uma anemia cerebral, numa altura em que Macau vivia uma situação muito difícil, com uma população acrescida de largas dezenas de milhares de refugiados, fugidos à guerra sino-nipónica e à ocupação japonesa, receando-se a todo o momento que o território pudesse ser também invadido."
in Revista Macau, 1996
 Vista aérea da parte sul da cidade. As duas imagens são do Anuário de Macau de 1938
28 Abril 1937: Passam poucos minutos das 10 horas da manhã quando o ‘Hong Kong Clipper’ da Pan Am – modelo Martin M130 – amara nas águas do Porto Exterior dando assim início às viagens regulares da Pan Am para Macau, cidade terminal da ligação S. Francisco-Honolulu-Manila-China. A bordo só tripulantes. A cidade parou e o governador Tamagnini Barbosa foi ao hangar receber os “convidados”.

sábado, 19 de março de 2016

sexta-feira, 18 de março de 2016

Largo do Senado: Fevereiro 1908

Esta fotografia de 9 de Fevereiro de 1908 foi tirada no Largo do Senado frente ao edifício do Leal Senado. Ao fundo vê-se a Farmácia Popular e ao lado a Santa Casa da Misericórdia. À direita desta, está um dos vários edifícios que ocupavam o espaço onde seria construído alguns anos depois o edifício dos Correios e Telégrafos. Na praceta interior do largo destaca-se a calçada à portuguesa com formas geométricas em forma de ondas.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Vasco da Gama: primeiro a avenida e depois a estátua

A propósito da notícia por estes dias de que a nau Esmeralda que fazia parte da armada da segunda viagem à Índia, localizada em 1998 em Omã, estudada desde 2013 e agora revelada, ocorreu-me um sem número de curiosidades. A primeira, estando em Portugal, é evocar o sempre esquecido Aquário Vasco da  Gama (em Algés), depois as duas grandes torres que no Parque das Nações receberam o nome das naus S. Gabriel e S. Rafael, e ainda no mesmo espaço, a chamada torre Vasco da Gama, há uns anos transformada em hotel. Isto, claro, sem esquecer a segunda travessia sobre o tejo na zona de Lisboa, a Ponte Vasco da Gama.
Macau já teve uma avenida Vasco da Gama (inaugurada em 1898) mas que depois mudou de nome e é hoje um troço da Sidónio Pais. Da evocação de Vasco da Gama no território, resta um busto inaugurado em 1911 num jardim com o mesmo nome. 
Esta medalha de 20 de Maio de 1998 da Capitania dos Portos de Macau assinala o V Centenário da Chegada da Armada de Vasco da Gama à Índia. A nau é a S. Gabriel.

terça-feira, 15 de março de 2016

Carte Postale: 8 de Outubro de 1918

Postal ilustrado com motivos japoneses enviado de Macau para Portugal a 8 de Outubro de 1918. Tem um selo ceres de 2 avos e entre os vários carimbos é possível detectar um da Censura.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Emissão de Selos Porteados: 1947

 Diário da República: 1.10.1947
Emissão de Selos Porteados: Império Colonial Português
Antes do aparecimento dos selos postais em Portugal e nos então territórios portugueses a maior parte da correspondência circulava "porteada", ou seja, os remetentes enviavam a correspondências cujos portes eram pagos pelos destinatários. A partir de 1853, a situação inverteu-se, e os remetentes passaram a pagar antecipadamente os portes de envio com os denominados selos porteados.

domingo, 13 de março de 2016

Macau e a primeira Grande Guerra: 2ª parte

Um dos fundadores da república (5 de Outubro de 1910), Carlos da Maia deixou o serviço activo na marinha com a patente de capitão-tenente para se dedicar por inteiro à política ocupando o lugar de deputado na Assembleia Constituinte. Depois disso passou a integrar os quadros da Direcção-Geral das Colónias, conhecendo por dentro todos os meandros da política colonial portuguesa bem como a geoestratégia internacional nessa área. Terá sido por esse facto que o governo o nomeou para o então sensível cargo de governador Macau. Saliente-se que à data da nomeação (10 de Junho de 1914) Carlos da Maia se encontrava já em oposição à corrente maioritária do regime que tinha ajudado a implantar. Essa corrente que viria a cindir a república constituiria o que veio a ser conhecido como Partido Democrático (PD) liderado por Afonso Costa e Bernardino Machado que directa, ou indirectamente, governaria o país ao longo dos 16 anos que durou a primeira república em Portugal. Carlos da Maia acusava os políticos do “PD” de se afastarem da pureza dos genuínos ideais revolucionários. No entanto o facto de à data Bernardino Machado, responsável pela nomeação de Carlos da Maia, se afirmar como chefe de um governo de “reconciliação nacional” justificou a escolha extra partidária.
Carlos da Maia chegou a Macau num momento em que todo o extremo oriente se agitava. A Norte o Japão ocupava a Manchúria e a Coreia enquanto paredes meias a China que três anos antes tinha proclamado a república via um dos seus mais prestigiados caudilhos (general Yuan-chi-kai) voltar com a palavra atrás, fazer ressuscitar o antigo regime e autoproclamar-se imperador. A China divide-se então mergulhando numa guerra civil que esfrangalha o país e que só terminará verdadeiramente em 1949 com a derrota dos nacionalistas e a proclamação da República Popular em 1 de Outubro de 1949. Nesse contexto de divisão a província de Guangdong declara-se independente e republicana deixando de obedecer a Pequim. Por seu turno Yuan-chi-kai responde enviando tropas para o sul que momentaneamente sobrelevam os republicanos cujos líderes retiram estrategicamente para os “santuários” de que dispunham nas colónias britânica e portuguesa na foz do Rio das Pérolas. Em Macau estabeleceram mesmo um dos principais quartéis-generais militares da contra ofensiva republicana. A minúscula Macau encontrava-se assim, mergulhada num caldeirão politico em ebulição que ameaçava transbordar a todo o momento. Entretanto o conflito mundial eclodia na Europa e o Japão depois de um breve período de neutralidade declarava guerra à Alemanha em 15 de Agosto de 1914 pondo cerco a Tsingtao que seria a primeira colónia germânica a cair nas mãos dos aliados da “entente”. No final do conflito a presença alemã na China e na bacia do Pacífico seria totalmente erradicada.
A declaração de guerra à Alemanha por parte de Portugal ocorreu a 10 de Março de 1916 e um dia depois a decisão seria publicada no Boletim Oficial

Nesse processo de clarificação de posições a China mergulhada na guerra civil e sem um centro político de decisão nacional tardava em pronunciar-se. Carlos da Maia chega a Macau essencialmente incumbido da missão de preparar a colónia para resistir a eventuais ameaças, ainda que militarmente pouco discerníveis e coordenar com os seus homólogos de Hong Kong e da Indochina políticas para fazer face às iniciativas estratégicas alemãs.
Para Macau o perigo decorria muito mais da anarquia em que a China se encontrava mergulhada do que da iniciativa alemã. Isto, tanto mais que, a esquadra germânica deixaria definitivamente a sua base da península de Shandong que se rendia às forças conjuntas anglonipónicas, depois de ferozes e prolongados combates, para se lançar em operações de caça às esquadras inimigas nas costas sul americanas e nos mares do Índico. Para Macau a “Grande Guerra” seria sempre um conflito longínquo. Isto ainda que todos os seus desenvolvimentos se repercutissem nas páginas da imprensa local, ainda que raramente sobrelevassem os títulos de primeira página essencialmente dedicados aos acontecimentos do quotidiano local. Macau estava demasiado longe dos teatros da guerra europeia mas demasiado perto do palco revolucionário da China. Luís Nolasco, director do jornal “O Progresso”, chamando a atenção para o facto de Macau se encontrar numa das situações mais delicadas da sua história e que teria de organizar a sua defesa para fazer face a agressões externas, ou subjugar “algum movimento insurreccional interno” sintetizava assim a situação: – “Temos de um lado a Europa empenhada nessa gigantesca e encarniçada luta fratricida despendendo milhões por dia e sacrificando milhares de vidas nessa hecatombe formidável dos campos de batalha. Por outro lado vemos nos jornais que a China está também em vésperas de uma contra revolução. O irrequieto dr. Sun-iat-sen e os seus agentes revolucionários seguiram pelos cabelos este ensejo da conflagração europeia para desfraldar novamente o pendão da revolta”. Apesar de a ameaça alemã ser vista pelos planeadores militares como bastante vaga e de difícil concretização o governo de Macau não deixou de tomar medidas, nesse âmbito, pedindo nomeadamente o envio de uma força militar para reforçar a guarnição existente considerada insuficiente , mesmo em tempos de paz. No entanto o governo de Lisboa fez “ouvidos moucos” ao pedido e em vez de mandar reforços exigiu antes o envio da quantia de “120 contos” para Angola, para onde, sim, Portugal estava a enviar consideráveis forças militares destinadas a proteger a fronteira Sul que confinava com a colónia germânica da Namíbia. A remissão de tão elevada quantia, não deixou de levantar os mais veementes protestos das forças vivas de Macau que, no entanto, não produziram qualquer efeito junto de um governo que canalizava todas as suas energias políticas e económicas para África. Do ponto de vista administrativo Macau encontrava-se num estado de desorganização patente, ainda que economicamente os monopólios do ópio e do jogo, entre outros, assegurassem ao governo elevadas receitas. Estas fontes foram aproveitadas por Carlos da Maia para pôr em marcha um plano de reorganização política e administrativa que vinha sendo adiada desde a mudança de regime em 1910. Foram igualmente essas fontes de receita que lhe permitiram modernizar com sucesso o esquema defensivo em terra e no mar.
Perante a recusa do governo da metrópole de enviar tropas, o governador toma a iniciativa de organizar um batalhão de voluntários encarregado de auxiliar a guarnição militar local. Este corpo voluntário pouco acrescentava ao dispositivo militar existente não compensando de modo algum a lacuna deixada pela recusa metropolitana, Carlos da Maia sabia-o bem, mas apesar do seu pequeno número a organização do “batalhão de voluntários” visava essencialmente um efeito político e propagandístico exaltando o moral da população de Macau. Apesar de nunca terem tido oportunidade de entrar em acção os voluntários efectuaram treino regular ao longo de todo o período da guerra sendo amiúde citados na propaganda como um exemplo de orgulho nacional na imprensa metropolitana e estrangeira.
A par do “batalhão voluntário” o governador procedeu também à reorganização dos serviços de manutenção da ordem pública com a criação da polícia civil (30-10-1915), organização estruturada segundo os conceitos mais modernos em vigor. Na área de marinha foram igualmente dados passos decisivos num sector que se encontrava em decadência e impossibilitado de efectuar uma guarda minimamente eficaz das costas de Macau e das ilhas, bem como a protecção contra a actividade dos piratas que se mostravam impunes na região do Delta e muitas vezes efectuavam assaltos em terra penetrando até aos mais movimentados bairros do interior da cidade. Para o efeito foi lançado um plano de aquisição de cinco lanchas canhoneiras que restabeleceram o sistema de defesa naval. A culminar toda a estrutura Macau e as ilhas ficaram também ligadas pelo primeiro sistema de comunicações através da telegrafia sem fios. Esta novidade tinha uma importância fundamental tendo em conta que não existiam pontes entre Macau e as ilhas sendo as ligações efectuadas por embarcações civis que efectuavam o percurso com irregularidade, ou muitas vezes, pelas próprias lanchas da marinha à falta dessas carreiras regulares. A par de tudo isto Carlos da Maia aproveitando, como disse, os plenos poderes com que vinha investido de Lisboa e a boa situação económica local interveio também noutros sectores ainda que nem sempre com o mesmo sucesso. Para além de ter levado a efeito um plano de construção de um sistema de escolas primárias (que ficaram conhecidas como “Escolas República”), no plano da educação, construiu também, na área da saúde, uma leprosaria na ilha de D. João (actual Hengqin), introduzindo igualmente um sistema de subsídios aos três principais hospitais (Kiang Wu, S. Rafael e S. Januário). A criação de uma inspecção dos incêndios comandada pelo major Craveiro Lopes (pai do antigo presidente da república Francisco Higino Craveiro Lopes), com a aquisição à Grã-Bretanha do mais moderno equipamento automóvel foi outro ponto importante da sua administração.
A imprensa local informava sobre a guerra na Europa
A par dos sucessos que a história lhe reconhece, Carlos da Maia também conheceu o fracasso em dois pontos importantes do seu mandato. O primeiro foi a tentativa de levar a cabo e concluir as obras de regularização do Porto Interior e o segundo a implementação uma Carta Orgânica de Macau. O plano de reorganização do Porto Interior, que já vinha de trás, voltou a confrontar-se com a hostilidade chinesa que via nele uma tentativa de expansão de Macau tendente à ocupação por Portugal da ilha da Lapa fronteira ao referido porto. Apesar do bom relacionamento de Carlos da Maia com as autoridades republicanas de Cantão, as correntes nacionalistas ali prevalecentes boicotaram todas as tentativas o que acabaria por fazer fracassar o projecto. A implementação da carta orgânica que deveria substituir o antigo estatuto que vinha de 1842 e que corria em linha com a reorganização políticoadministrativa das colónias portuguesas, foi igualmente plano que fracassou antes mesmo de ver a luz do dia. Ao que parece a principal razão do desfecho deve-se ao facto de Carlos da Maia, à semelhança do que tinha feito antes dele o governador Ferreira do Amaral (1846-49), ter proposto a extinção do Leal Senado transformando a antiga instituição numa secretaria do governo para os assuntos municipais. Esta proposta parece ter constituído uma das principais razões que levou à sua demissão. Uma demissão que Carlos da Maia contestou resolutamente mesmo depois de ter regressado a Lisboa, o que fez com que durante largos meses o governo de Macau tivesse ficado a cargo do secretário-geral Manuel Ferreira da Rocha com poderes limitados delegados pelo próprio Carlos da Maia que chegou a despachar assuntos correntes da colónia a partir de Lisboa.
Esta situação vista como anómala pelo direito administrativo era agravada pelo facto de Ferreira da Rocha ser próximo do Partido Democrático de Afonso Costa, que tinha voltado à chefia do governo e que era inimigo político confesso de Carlos da Maia.
Carlos da Maia embarcou no dia 5 de Setembro de 1916 de regresso a Lisboa, num momento em que tropas portuguesas se preparavam para atravessar em Moçambique o rio Rovuma e penetrar em território alemão uma ofensiva que viria a ter custos terríveis para o exército português. Do outro lado das Portas do Cerco Yuan-chi-kay depois de se ter autoproclamado imperador morria (6 de Junho de 1916) antes de ocupar o trono e de imediato a China mergulhou na guerra civil vendo-se dividida de facto pelos senhores da Guerra em várias províncias virtualmente independentes. Na província de Guangdong vizinha de Macau os republicanos voltaram ao poder ainda que coexistindo em frágeis alianças com os senhores da guerra. Apesar do caos o governo central sedeado em Pequim existia ainda que apenas ou quase só nominalmente já que não tinha poder sobre o país. No entanto apenas pelo facto de existir era reconhecido diplomaticamente pela comunidade internacional o que permitiu ao presidente da república general Feng Guozhang, a 14 de Agosto de 1917, acabar com o impasse que persistia e declarar guerra à Alemanha. A tomada de posição chinesa visava não só obter um lugar à mesa dos vencedores no final da guerra, mas também retomar o controlo sobre a província de Shandong ocupada pelos japoneses. Os aliados deram como bemvinda a entrada de Pequim na guerra, mas rejeitaram o envio de tropas para as frentes de combate preferindo negociar a contratação de trabalhadores para a construção e reparação das linhas de caminho-de-ferro na Europa. O contingente laboral chinês ascenderia até ao final do conflito a mais de 100 mil trabalhadores.
Terminado o consulado de Carlos da Maia, Macau voltou a perder protagonismo no seio do império e a política de maior ou menor indiferença, porque sempre se tinham pautado os governos de Lisboa, relativamente à sua colónia da China regressou. Essa atitude ficou bem patenteada no facto de Macau ter ficado entregue a administrações interinas durante quase dois anos, até à chegada de Artur Tamagnini Barbosa como governador em Outubro de 1918. Precisamente um mês antes da assinatura do armistício (11 de Novembro de 1918) que poria termo à Grande Guerra Mundial. 
Artigo da autoria de João Guedes publicado no Ponto Final de 31.12.2014
Nota do autor do blogue: Os dias 16, 17 e 18 de Novembro de 1918 foram 'feriado' em Macau.

sábado, 12 de março de 2016

Macau e a primeira Grande Guerra: 1ª parte

Este ano assinala-se o centenário da participação de Portugal na primeira guerra mundial, conflito que durou entre 1914 e 1918. Na manhã de 9 de Março de 1916, o Barão Friederich Von Rosen, embaixador do Império Alemão em Portugal, deslocou-se ao palácio das Necessidades em Lisboa levando consigo a declaração de guerra. A entrada de Portugal na guerra foi uma opção política com custos económicos e humanos imensos. No final as colónias, incluindo Macau, continuaram portuguesas. Já antes abordei o tema aqui no blogue mas desta vez sugiro a perspectiva 'oriental' num artigo (dividido em duas partes) da autoria do jornalista e investigador João Guedes.
Legenda de uma fotografia publicado na revista Ilustração Portugueza: "Palácio do Governo: Comissão de senhoras trabalhando na confecção dos artigos de agasalho destinados aos feridos de guerra"
O assassinato do arquiduque Francisco Fernando em Sarajevoque desencadeou a 1ª Grande Guerra Mundial foi apenas o percutor de um conflito latente que apenas precisava de uma justificação, fosse ela qual fosse, para eclodir. De facto na era dos caminhos-de-ferro a Alemanha e a Grã-Bretanha eram duas locomotivas a avançar a pleno vapor em sentidos contrários na mesma ferrovia sem que aos maquinistas ocorresse que era necessário mudar de agulha para fugir ao desastre. Ainda hoje se debate sobre quem, nesse contexto, assumiu o papel de agressor. Essa discussão, porém, parece pouco contribuir para a compreensão de um conflito que era de facto inevitável. É que, voltando à alusão ferroviária, os “maquinistas” das duas locomotivas já não dominavam as máquinas limi tando-se fatalisticamente a aceitar que o Mundo se encontrava inexoravelmente em rota de colisão.
As causas da Primeira Grande Guerra Mundial estão hoje bem determinadas prendendo-se essencialmente com a entrada da Alemanha na expansão colonial por um lado e com a corrida aos armamentos, nomeadamente através do plano de desenvolvimento da marinha germânica que significava uma ameaça directa ao domínio absoluto dos mares exercido até então pela Grã-Bretanha. A Alemanha entrou tardiamente na corrida imperial ultramarina e mais tarde ainda na busca de uma presença na China, que conseguiu obter em 1898 com o estabelecimento de uma colónia na localidade portuária de Tsingtao, na província de Shandong. Esta presença foi conseguida (senão mesmo extorquida à China) a pretexto da protecção dos missionários alemães alegadamente ameaçados pelas forças “antiestrangeiras”que se organizavam e ganhavam terreno no Império.
Este movimento viria a culminar com a revolta dos “boxers” que eclodiria dois anos mais tarde ao abrir do pano para o século XX (1900). Rapidamente a Alemanha transformaria Tsingtao num activo entreposto comercial cuja estrutura seria completada com a construção de cais de acostagem que passariam a abrigar o comando naval da esquadra alemã do Pacífico constituída por vários navios de guerra entre os quais sete dos mais modernos cruzadores que a indústria naval alemã, em plena  expansão, tinha produzido.
Corpo de Voluntários de Macau, uma ideia do Governador Carlos da Maia
A potência destruidora dessa esquadra seria demonstrada já durante a guerra na batalha naval de Coronel (junto à ilha do mesmo nome nas costas do Chile). Este recontro travado no início de Novembro de 1914 culminou com a derrota da esquadra inglesa. Tratou-se da primeira derrota britânica significativa em dois séculos de supremacia naval indisputada.
da Inglaterra. A vitória alemã era adivinhada muito antes e a base naval de Tsingtao vista como uma ameaça directa e uma “intromissão intolerável de um recém-chegado” ao concerto das potências coloniais que já desde, pelo menos, a “Conferência de Berlim” (1884) tinham dividido os seus domínios coloniais e estabilizado esferas de influência. Nesse contexto de confronto asiático a tensão geopolítica incrementava-se tendo em conta que Tsingtao fechava estrategicamente o domínio da bacia do Pacífico onde a Alemanha tinha colonizado vários arquipélagos (Ilhas Bismark, Marshal e parte do arquipélago de Samoa). Para além da ameaça directa à Grã-Bretanha a presença alemã no Extremo Oriente inquietava naturalmente as restantes potências europeias, mas também o Japão que prosseguia igualmente uma política colonial de expansão regional nomeadamente no Nordeste Asiático.
De entre as potências coloniais a que menos se encontrava representada na China em termos de extensão territorial) era Portugal que apenas possuía a sua colónia de Macau constituída por uma península onde se erguia a cidade com uma população de cerca de 120 mil habitantes, e duas pequenas ilhas (Taipa e Coloane), praticamente sem potencial militar nem capacidade de defesa face à pequenez das suas dimensões. Tendo essas circunstâncias em conta dir-se-ia que Macau não teria qualquer importância no vasto contexto político militar do Extremo Oriente. Mas a realidade era exactamente a oposta. Para Portugal, era essencial que cada uma das suas possessões ultramarinas participasse activamente nos planos político militares que os aliados lhes destinassem, fossem eles quais fossem independentemente das dimensões geográficas de cada uma. Isto tendo como fim último a preservação do seu todo colonial (principalmente africano) sempre exposto à cobiça das potências europeias mais fortes, sem excluir a velha aliada Inglaterra. A entrada de Portugal na guerra foi pois um imperativo ditado pela preservação das colónias cujo reconhecimento foi assegurada desde logo através de uma declaração de Londres em que “o governo britânico pedia expressamente a Lisboa que não declarasse neutralidade nem participação na guerra. Em contrapartida assegurava que: “...ao abrigo da aliança anglo-portuguesa, o Reino Unido reconhece o direito de Portugal às colónias africanas, contra as pretensões ou iniciativas da Alemanha”. Essa declaração vinha ao encontro das expectativas portuguesas postando-se como uma garantia contra eventuais acordos de partilha das suas possessões pelas potências vencedoras no final do confronto.
Tendo em conta a conjuntura que marcava o limiar da eclosão da Grande Guerra, onde se avolumavam nuvens de borrasca negras de dúvidas no horizonte geopolítico mundial, Macau apesar de diminuta geograficamente valia tanto para Portugal como as grandes colónias africanas de Angola e Moçambique, ainda que nas garantias inglesas as possessões asiáticas portuguesas (Goa, Macau e Timor) não tivessem merecido menção. Parece ter sido essa omissão a razão essencial que leva  Lisboa a quebrar com uma tradição secular na escolha de governadores para Macau que recaía entre os militares que iniciavam carreira na administração colonial, nomeando em vez disso, um peso  pesado da política portuguesa, Carlos da Maia. (continua)
Artigo da autoria de João Guedes publicado no Ponto Final de 31.12.2014

quarta-feira, 9 de março de 2016

Reflexões "macaenses" em ano de "Encontro"


Já passaram mais de 20 anos sobre a primeira edição do Encontro das Comunidades Macaenses. Foi em Novembro de 1993 e começou a ser delineado anos antes, por volta de 1989 (curiosamente num jantar de macaenses em Toronto, Canadá, onde estava Lourenço da Conceição), e desde cedo apadrinhado pelo Governo de Macau. Desse primeiro grupo que 'arquitectou' o projecto fizeram parte nomes como José Celestino da Silva Maneiras, Presidente do Leal Senado, António Rodrigues, funcionário da Universidade de Macau, José Sales Marques, Sub Director dos Serviços de Turismo, Armindo Ferreira, Chefe de Secção dos Serviços de Turismo, e Lourenço da Conceição, Administrador de Autoridade Monetária e Cambial de Macau. 

No discurso da sessão de abertura do evento, a 4 de Novembro de 1993, o Governador Rocha Vieira falou perante mais de 600 representantes das Casas de Macau e de associações de macaenses de Portugal, Brasil, Estados Unidos, Canadá e Austrália.
"Estamos confiantes na continuidade de um Macau igual a si próprio, continuidade na participação livre e convivente das várias componentes culturais e humanas cuja presença e interacção fizeram a identidade de Macau e continuam a ser condição do seu desenvolvimento e prosperidade. Este é o Macau que todas as partes têm interesse que perdure, este é o Macau que tem o futuro do seu lado, que tem a seu favor o tempo e o sentido da história". (...) 
A presença e a ligação dos Macaenses ao Território é o factor fundamental da continuidade do espírito de Macau, um factor importantíssimo da preservação da sua identidade, e eu estou confiante que essa permanência e essa ligação se irão verificar, graças, uma vez mais, a esse traço essencial da personalidade portuguesa, à capacidade de compreender outras civilizações, de transmitir, respeitar e absorver os traços culturais determinantes, que é uma das grandes qualidades de inteligência e de temperamento dos Macaenses.
As Comunidades Macaenses espalhadas pelo Mundo poderão ter neste contexto um papel importantíssimo e por isso faço a todos vós um apelo veemente, um apelo de alguém que também ficou preso para sempre ao encanto desta Terra e partilha o mesmo anseio e uma grande confiança, relativamente ao seu destino.
Venham a Macau, façam de Macau um lugar de encontro, um lugar de peregrinação. Façam-no pela comunidade portuguesa de Macau que aqui permanecer, façam-no por aqueles que partirem, façam-no por Macau, por Macau que estou certo haverá de perdurar, nele perdurando Portugal, assim se cumprindo o legado de gerações e gerações de macaenses."
As palavras proferidas em 1993 pelo então Governador de Macau continuam válidas, bem como as do Presidente da República, Jorge Sampaio, no Encontro de 1999. No discurso de abertura feito em Março desse ano dizia assim o Presidente Sampaio:
"A grande família macaense possui uma excepcional capacidade de integração nas mais variadas culturas e sociedades, mas renova-se a cada geração, mantendo bem vivos os sentimentos de ligação à sua terra mãe. (...) Devo lançar um desafio, dirigido às novas gerações aqui presentes (...) para que reforcem laços com a terra dos seus pais e dos seus antepassados, para que acompanhem a vida da sua cidade (...) quer seja, a escola, no trabalho, nas cinco partes do mundo, os melhores veículos da rica herança cultural macaense (...)" 
 Já se realizaram oito edições - 1993, 1996, 1999, 2001, 2004, 2007, 2010, 2013 - e já se passaram mais de vinte anos sobre o primeiro encontro, um evento em que a diáspora macaense 'volta a casa' para rever amigos e familiares mas também para falar das questões prementes em torno do que é ser macaense, em Macau e no mundo.
Após estas edições não subsistem dúvidas de "identidade" nem de "sentimento de pertença". Basta ver o crescente número de participantes nestas ocasiões. O que falta é criar condições para a manutenção da vivência macaense, onde quer que as comunidades macaenses estejam: Portugal, Brasil, EUA, Canadá, Austrália, etc...
O Conselho das Comunidades Macaenses (CCM - fundado a 29.11.2004) tem vindo a desenvolver um trabalho meritório mas que pode ser melhorado, nomeadamente na criação de condições básicas para uma melhor articulação e comunicação entre as diversas instituições macaenses. Refiro-me, por exemplo, a um portal na internet que agregue essas instituições e que vá dando conta do que se faz não só nos "encontros" mas também nos períodos entre os "encontros". Sugiro ainda ao CCM que se afirme ainda mais como interlocutor privilegiado dos "interesses" das comunidades macaenses espalhadas pelo mundo junto dos organismos oficiais do Governo da RAEM.
Há não muito tempo José Luis Sales Marques fazia ao Jornal Tribuna de Macau (4.12.2013) um retrato muito fiel do que é a actual situação das Casas de Macau:“As Casas de Macau vivem à custa dos seus próprios recursos, não vivem com subsídios. Vivem com uma grande capacidade de iniciativa e de auto-financiamento, mas que também tem os seus limites, sobretudo quando se quer fazer mais e melhor”.
Convém recordar que a alínea C do artigo 3º dos estatutos do CCM define que compete à direcção da CCM “propôr ao Governo da RAEM modalidades concretas de apoio às organizações não-governamentais de macaenses, locais ou do exterior”.

As Casas de Macau

Há muito que considero que, a cada encontro, mais do que discursos de circunstância, pode e deve-se estabelecer uma reflexão de ordem prática, mesmo a título informal, sobre as melhores formas de assegurar a continuidade das marcas identitárias macaenses. Materiais e imateriais: a cultura, a língua (patuá), a gastronomia, etc...
Para que isso possa ser feito é indispensável o apoio do governo da RAEM - em articulação com o conselho das Comunidades Macaenses - que deve procurar parceiros como as Casas de Macau na diáspora que podem (e devem) ser ponto privilegiados para a promoção de Macau como destino turístico singular nos países onde se encontram instaladas.
Existem muitas formas de o fazer, desde o apoio financeiro regular e acções de promoção pontuais. Dou um exemplo prático que começou a ser implementado na Casa de Macau em Portugal (CMP) em Maio de 2015. Enquanto vice-presidente da instituição convidei a Delegação do Turismo de Macau em Portugal a ser parceiro numa iniciativa que proporciona aos sócios e ao público em geral uma oportunidade única de provar comida macaense. Desde logo o Dr. Rodolfo Faustino abraçou a ideia e até agora as cerca de 500 pessoas que por lá passaram receberam de presente um conjunto de material de merchandising do Turismo de Macau.
Ao nível da promoção da gastronomia pode-se fazer mais e melhor, nomeadamente com o envolvimento da Confraria da Gastronomia Macaense (CGM). Neste exemplo que dei a Casa de Macau em Portugal suportou integralmente todas as despesas de formação de um cozinheiro que recebeu formação da Graça Pacheco Jorge, sócia da CMP e confreira de mérito da CGM.
As Casas de Macau espalhadas pelo mundo (e são mais de uma dezena) têm ainda condições singulares para servir de veículo à promoção da cultura nomeadamente através da venda de livros - em regime de consignação, por exemplo - editados pelo Instituto Cultural de Macau e outros organismos/empresas que publiquem livros sobre Macau na RAEM ou noutros países.
O próximo "Encontro das Comunidades Macaenses" está agendado para o final do ano em Macau tendo definidas como datas provisórias entre 26 de Novembro e 3 de Dezembro.
Se não for antes, vemo-nos lá! Saudações macaenses!
João Botas
Autor do blogue Macau Antigo - macauantigo.blogspot.com - de diversos livros sobre a história de Macau e ex-residente no território entre as décadas de 1980 e 1990.
Nota: O autor do artigo é actualmente vice-presidente da Casa de Macau em Portugal mas as opiniões expressas são feitas a título individual e não vinculam a instituição.
Artigo publicado na edição nº 9 de Março de 2016 do jornal A Voz da Associação dos Macaenses

segunda-feira, 7 de março de 2016

Mapa turístico com publicidade: 1974

Mapa turístico com fins publicitários. Trata-se de uma edição em inglês de um conjunto de ourivesarias e relojoarias que assinalam no mapa as suas localizações. 
Marcas como a Rolex ou a Tudor podiam ser encontradas na Tai Fung Watch, Kwong Chai Watch, Chow Tai Fook e Lisboa Jewellery.
As lojas estavam localizadas essencialmente ao longo da Av. Almeida Ribeiro, no hotel Lisboa (inaugurado há pouco tempo na época) e na Av. Horta e Costa.
Tal como em 1974, as compras são um dos grandes atractivos do turismo de massas em Macau... depois do jogo, claro. As peças de joalharia e relojoaria são muito procuradas devido ao preço, uma vez que não pagam taxas.