quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Grande Prémio e "Macau Antigo" na RFM

No dia 31 de Outubro a rádio RFM (Portugal) dedica um programa aos 60 anos do GP de Macau que será transmitido a partir da delegação do Turismo de Macau em Lisboa. O autor do blog Macau Antigo é um dos vários convidados do programa de Carla Rocha que conta ainda como convidados Eduardo Freitas (Fed. Portuguesa Automobilismo e Karting), Isaías Rosário (antigo piloto do GP de Macau) e Graça Pacheco Jorge (macaense, confrade de mérito da Confraria da Gastronomia Macaense)
Para ouvir das 21h às 23h (hora de Portugal) na rádio e na net.
À semelhança do que tem acontecido em anos anteriores durante o mês de Novembro o blog "Macau Antigo" vai dar especial atenção ao GP publicando diversos post's sobre o evento.
Quando tudo começou - fim de semana de 30 e 31 de Outubro de 1954 - grande parte do troço do circuito não tinha asfalto; era em terra batida ou em calçada portuguesa como se pode ver nesta imagem.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Estátua Gov. Ferreira do Amaral: mais alguns dados

Em 1940 comemora-se o chamado duplo centenário (1140 - independência e 1640 - restauração). Em Macau o feito é assinalado ao mais alto nível. Entre as comemorações conta-se inauguração, a 24 de Junho de 1940, desta estátua do governador Ferreira do Amaral, da autoria Maximiliano Alves, que foi colocada na rotunda com o mesmo nome nos então muito recentes aterros da Praia Grande. A estátua pesava cinco toneladas e tinha 15 metros de altura. Só a figura do governador montado a cavalo, em bronze, tinha 4,5 metros.
Ali ficou até Outubro de 1992 (faz agora 21 anos) ano em que foi removida e transportada para Portugal. Hoje está no Bairro da Encarnação (junto ao aeroporto de Lisboa) colocada sem o pedestal original.
 
Década 1980 - Foto de Lee Chu To
Década 1990 (do livro As Seitas, de João Guedes)
 
Para se perceber melhor a razão da retirada da estátua - cada um fará a interpretação que bem entender - recordo alguns dados com a publicação de um texto que não consegui identificar o autor e que a julgar pela grafia do português é bastante antigo. Não obstante o tema já te sido por diversas vezes abordado aqui no blog, a verdade é que são vários os pedidos que me chegam para voltar ao tema. 
Por decreto de 20 de Setembro de 1844, o governo de Macau foi separado e tornado independente do de Goa, ficando a constituir uma Província independente com as ilhas de Timor e Solor. A 21 de Abril de 1846 tomou posse o governador João Maria Ferreira do Amaral cuja principal missão era estabelecer a absoluta independência da Colónia face à China e potências estrangeiras. Um dos primeiros exemplos data de 8 de Outubro de 1846 quando "sufocou a célebre revolta chinesa denominada dos faitiões. que se amotinaram por ter sido lançado o impôsto de uma pataca sôbre as suas embarcações (faitiões)". A Taipa e Coloane foram ocupadas militarmente, construindo-se, em 1847, uma fortaleza na primeira, a pedido e «com ininterrupta satisfação dos habitantes délla e sem litígio de senhorio differente». Mandou também ocupar as ilhas de D.João e Tai-Vong-Cam ou da Montanha. A ilha da Lapa (Patera ou ilha dos Padres), onde outrora existira uma bateria militar, foi reocupada. No domínio territorial, destaque ainda para a 'recuperação' do território ocupado pelos chinas, entre a Porta do Campo e a Porta do Cerco. Ferreira do Amaral vai ainda 'impôr a sua lei' ao suprimir os direitos de tonelagem chamados de medição que os chineses cobravam sobre os navios portugueses que entravam em Macau indo as receitas para o imperador. 
Proibiu certas demonstrações de autoridade com que os mandarins costumavam entrar em Macau e reprimiu com vigor alguns atentados cometidos pelos chinas. A 5 de Março de 1849 deu o 'golpe de misericórdia' do seu mandato ao proclamar a abolição e expulsão do ho-pu, a alfândega chinesa de Macau. Ordenou o seu encerramento a 13 do mesmo mês, uma medida que 'libertou' o território da influência política chinesa e que mudou para sempre o status quo da vida em Macau.
Ferreira do Amaral instituiu ainda o pagamento de fôro dos terrenos aos cidadãos chineses, o que pode ser interpretado como uma espécie de confissão tácita de que a posse territorial era portuguesa.
A 7 de Junho de 1849, por ocasião da procissão do Corpo de Deus, Amaral mandou prender um inglês, Jaime Summers, que recusou descobrir-se à passagem do Santíssimo. O preso avisou o Capitão da marinha inglesa, Keppel, e os ingleses foram libertar o preso ao Leal Senado, tendo nessa ocasião matado um soldado português. Amaral, furioso, chamou as tropas às armas com intuito de atacar a frota inglêsa; por fim, desistiu, levando, porém, a questão a Londres e a Lisboa. O ministro inglês, Lord Palmerston, censurou Keppel e deu a Portugal todas as satisfações, concedendo uma pensão à família do soldado assassinado. Todos estes incidentes excitaram a atenção pública e os chineses começaram a recriminar a «ferocidade» do governador. Em Cantão, a sua cabeça foi posta a preço. Na tarde de 22 de Agosto de 1849, saíra a cavalo a passear, como de costume, acompanhado apenas pelo seu ajudante, tenente Pereira Leite, e dirigiu-se para a Porta do Cerco; quando se achava a 300 passos aquém da Porta do Cerco e estendia o seu óbolo a uma velha china que ali vivia, um rapaz chinês bateu-lhe no rosto com um bambu; ao voltar-se para o seu agressor, precipitaram-se sobre ele cinco bandidos chinas com grandes facas, e, depois duma luta desesperada, trucidaram-no e fugiram, levando a cabeça e a mão deste ínclito governador, mártir da Pátria. Aterrada e consternada a cidade, foi postar-se na Porta do Cerco, na manhã de 25 de Agosto, uma força portuguesa, contra a qual os chinas ramperam o primeiro fogo, que foi sustentado com ardor desde as 10 da manhã às 4 da tarde. Nas proximidades da cidade estavam postadas as tropas chinesas, num total de 2.000 soldados, 400 ou 500 dos quais na fortaleza do Passaleão. A posição chinesa não era atingida pelas fortalezas de Macau, enquanto que a artilharia do Passaleão alcançava a Porta do Cerco.
Tornava-se, pois, insustentável a posição portuguesa; a única solução era ir atacar os chineses. Reinava, porém, grande indecisão, devido aos escrúpulos e observações dos diplomatas estrangeiros, residentes em Macau, que auguravam trágicas consequências da violação do território chinês. O tenente de artilharia, Vicente Nicolau de Mesquita, quebrou esta indecisão e convidou os soldados a segui-lo. «Trinta e seis bravos, narra Caldeira, voluntariamente responderam ao seu brado, e avançaram para o forte debaixo do mais aturado fogo de artilharia e fuzil deste e das imminencias, atravez de difficil terreno, caminhando apenas os soldados um a um, sobre os estreitos vallados que em frente do forte cortam o terreno, todo alagado com plantações de arroz; apesar de tudo dentro de uma hora aquella força se assenhoreou do forte Passaleão, que estava guarnecido com 20 grossos canhões e 400 homens, coadjuvados por mais 2.000 nas alturas visinhas: todos fugiram abandonando a artilharia, armas e munições».

Os poucos soldados chineses que permaneceram no forte de Passaleão foram mortos por Mesquita e pelos seus companheiros; igual sorte teve um mandarim militar que apareceu nas ameias, apesar da sua resistência. Mesquita foi recebido triunfalmente em Macau. O mandarim do Tso-Tang foi imediatamente reenviado a Chin-Shan e nunca mais os mandarins tiveram ingerência na administração da Colónia. Assim ficou restabelecida a paz, coroada a obra gigantesca de Amaral e definitivamente assegurada a autonomia política e independência absoluta da colónia portuguesa de Macau.
 
 
 
 

Década 1970
Ca. 1956
Ca. 1975
Década 1980 e década 1990
Nestas últimas imagens já posteriores à década de 1960 percebe-se a localização da estátua e a sua proximidade com o edifício do liceu (tb já demolido) onde pontua o padrão colocado numa pequena rotunda frente à entrada principal; foi lai colocado em 1960 nas comemorações do V centenário da morte do Infante D. Henrique. A última imagem representa a rotunda depois da retirada da estátua.


Década 1980
1965
Em Lisboa

1948
ca. 1990. Pouco antes de ser removida
 1974
1982. Foto de Fang Chi Fung
 1968. Foto AJMN Silva
 
 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Palácio do Governo: história resumida

Imagem da década 1920
à esquerda: o que parece ser um modelo T-Ford e atrás das árvores (ao fundo): o hotel Boa (Bela) Vista
à direita: Palácio do Governo e Palácio das Repartições (bandeira hasteada)
ao cento/ao fundo: a Penha
... um postal da primeira década do século XX 
O Palácio do Governo na década de 1970 (cima) e ca. 1900-10 (baixo)
segundo projecto do arquitecto macaense José Agostinho Tomás de Aquino (1804-1852).
Em 1894 o conde de Arnoso (que passou por Macau uns anos antes) escreve: "O Palácio do Governo, comprado à família Cercal, é um vasto edifício de bela aparência. Durante algum tempo estiveram nela diversas repartições; mais tarde, durante a última administração, todas se instalaram, com grande comodidade para o serviço público, no antigo Palácio do Governo, um óptimo edifício também, e onde principalmente se admira a sala do tribunal, que era a antiga sala do trono do palácio. (...) Ao lado fica o pequeno Correio estabelecido também durante o governo de Tomás da Rosa. Até então era coisa que não havia na província! Toda a correspondência se enviava, pelo vapor da carreira, ao correio de Hong Kong". 
De acordo com a arquitecta Ana Tostões, o edifício "foi construído na Praia Grande em 1849, sendo então propriedade do barão (depois visconde) do Cercal, Alexandrino António de Melo, que o arrendou ao governador José Maria Lobo d’Ávila em 8 de Junho de 1873."
Após a morte do Barão de Cercal a viúva não consegue saldar dívidas à banca e o palácio é adquirido pelo governador Joaquim José da Graça, em hasta pública, em 1881, pela quantia de 21 mil patacas.
Em 1883, o governador Thomaz de Sousa Roza transfere a residência oficial do antigo Palácio do Governo (também na Praia Grande no local onde hoje se ergue o edifício dos Tribunais) para o palácio dos barões de Cercal, situação que se mantém, com algumas excepções, até 1937, quando, por iniciativa do governador Tamagnini Barbosa, Santa Sancha passa, definitivamente, a residência dos governadores de Macau.
"Já antes existira um outro Palácio do Governo, mas a certa altura foi considerado demasiadamente modesto, quer para as necessidades funcionais da administração do território, quer mesmo como símbolo da autoridade. Há documentação que nos fornece importantes notícias acerca de obras que foram efectuadas. O procurador Luís Coelho ficou encarregue da sua construção em 1767, e a obra foi concluída em 1769. Nesse mesmo ano, a 4 de Janeiro, foi feita a vistoria final, sendo as chaves entregues no Senado, a 4 de Março, com o pagamento das últimas despesas.
Já nas primeiras décadas do século XX a fachada do edifício iria sofre algumas alterações.
Pedro Dias refere "O edifício actual é em forma de U, com dois corpos extremos salientes dotados de varandas e uma outra varanda ao longo de toda a frontaria antiga, plana. Ficou com maior dignidade, nomeadamente com a construção de outro corpo avançado na entrada, com acesso por uma escadaria que é apenas de aparato. O arquitecto utilizou também aqui a gramática neoclássica, então em voga em Macau, e que era símbolo de dignidade das construções, vincando sobretudo os frontões triangulares das janelas e das varandas do andar superior. Na decoração do interior, igualmente neoclássica, destacam‐se a escadaria e o salão nobre."
Em 1983 o palácio foi completamente restaurado. Nas traseiras do edifício foi construído, em 1994, um novo edifício onde passaram a estar os gabinetes dos secretários-adjuntos. No primeiro andar estava instalado o gabinete do governador, a Sala dos Retratos (retratos de 41 governadores desde meados do século passado) e a Sala Azul (decorada com azulejos portugueses, mobília no estilo D. João V e tapeçarias a partir de duas pinturas de Almada Negreiros e de uma de João Botelho). Do palácio faz  ainda parte um jardim estilo ocidental.
Desde 2001 o Palácio (algumas salas) é aberto ao publico dois dias por ano. As fotos acima são da autoria de Bessa Almeida e documentam o facto em Outubro último. O edifício ocupa uma vasta área que ronda os 8 mil metros quadrados. O espaço onde está implantado tem um total de 10 mil m2. Um edifício imponente na zona nobre da cidade, a Praia Grande.