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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

"Macau nos Anos da Revolução Portuguesa 1974-1979"

O lançamento do livro "Macau nos Anos da Revolução Portuguesa 1974-1979", da autoria do Antigo Aluno Garcia Leandro (94/1950), terá lugar no dia 10 de Março, pelas 18h30 no auditório do Centro Científico e Cultural de Macau, na Rua da Junqueira, nº 30, em Lisboa. O evento será presidido pelo General Ramalho Eanes e a obra apresentada pelo Doutor Almeida Santos.
Segundo João Paulo Meneses no jornal "Ponto Final" "neste livro Garcia Leandro terá oportunidade de revelar a sua versão relativamente a diversos factos que, do seu ponto de vista, não têm sido apresentados de forma correcta. Interessante, para os historiadores que se interessam pela história contemporânea, será confrontar, por exemplo, aquilo que o antigo governador escreveu com o que o historiador e investigador Moisés Silva Fernandes tem publicado sobre esse período.
O papel de Garcia Leandro à frente do Governo de Macau, hoje muito elogiado, foi nesses anos seguintes à Revolução um pouco polémico. É ele quem tem de lidar com a Revolução em Macau e com os objectivos de uma facção militar que pretendia outras soluções políticas. Almeida Santos, precisamente, já contou um episódio tenso que então se viveu em Macau e o tenente-general não deixará de o abordar neste livro.
“Não são as minhas memórias, são factos fundamentados em documentos que dão conta de muitas coisas que são ainda desconhecidas. Será uma história de Macau nesse período de grande agitação política em Portugal com muitos factos não conhecidos”, disse Garcia Leandro em 2009 à agência Lusa. “Deixar este livro escrito é uma das coisas mais importantes que tenho para fazer, é daquelas coisas que se tem que fazer antes de morrer”, disse na mesma entrevista.
Antes de ter sido nomeado governador do território, para fazer a transição com o último governador escolhido por Marcelo Caetano (Nobre de Carvalho), Garcia Leandro já tinha muita experiência no então Ultramar (Angola, Guiné ou Timor). Depois de regressar manteve-se sempre atento ao desenvolvimento de Macau e ocupou postos relevantes, em Portugal e no estrangeiro.
Nos últimos anos, Garcia Leandro tem estado ligado ao ensino superior, leccionando em diversas escolas. É curador e administrador da Fundação Jorge Álvares. Este é o seu primeiro livro, mas alguns textos seus, nomeadamente sobre Macau, podem ser encontrados em colectâneas.
Informação adicional aqui http://macauantigo.blogspot.com/2009/04/mfa-enviou-garcia-leandro-macau.html

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Brochura Turismo: 1932

Tourists Guide of Canton, Hong Kong, Macau, 1932 - with Fold-Out Map", published by The Tourists' Guide Publishing Co., Hong Kong (editado em Hong Kong incluia um mapa)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

"Colóquios da Lusofonia" em Abril

Depois de 14 edições, Macau foi o destino escolhido para receber em Abril os próximos “Colóquios da Lusofonia”, com a participação de cerca de 50 académicos e estudiosos da Língua Portuguesa. A edição realiza-se de 11 a 15 de Abril no Instituto Politécnico de Macau e conta com uma homenagem especial a Henrique de Senna Fernandes e um roteiro turístico que irá revisitar a Macau dos livros do escritor macaense.

De acordo com o jornal Hoje Macau de 21-2-2011, a Associação dos Colóquios da Lusofonia (AICL) tenciona criar em Macau um centro de estudos permanente sobre o “dóci papiaçam”. Chrys Chrystello, presidente da instituição sem fins lucrativos,
espera concretizar a ideia – que já tem alguns anos – a seguir aos “Colóquios da Lusofonia”. Mas, para tal, ainda é preciso que o encontro no território decorra na perfeição. “Se tudo correr bem, iremos avançar para o centro. Vai depender, sobretudo, dos resultados dos Colóquios e da abertura e do apoio de Macau para tal”, explicou.
Chrys Chrystello viveu quase duas décadas em Macau, aprendeu patuá e pratica-o agora em casa, nos Açores. “Sei contudo que é um dialecto em vias de extinção. Se nada for feito a curto prazo, o patuá estará em extinção”, justificou. O académico acredita que a forte imigração dos macaenses para os Estados Unidos, a Austrália e o Brasil também tem contribuído para o desaparecimento da língua. “Os macaenses que partiram estão a perder as suas características de macaenses. O patuá é um dialecto condenado à extinção. Mas acredito ainda ser possível recuperá-lo e evitar que morra com as gerações que ainda o falam.”

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Marcas de "Macau Antigo" na BTL

O Turismo de Macau vai estar presente na BTL 2011 pela 23ª vez consecutiva. O evento, está patente na FIL, Parque das Nações, até ao próximo dia 27. Segundo a organização da BTL “Macau vai fazer-se representar através de diversas actividades tradicionais, cuja singularidade é representativa do misticismo associado àquele território e ao sucesso do seu stand”.
Rodolfo Faustino, responsável pelo Turismo de Macau em Portugal, considera que “a prioridade dada a esta nova edição da BTL pode ser, desde logo, atestada pela área expositiva do stand, na qual terão lugar apresentações dirigidas aos media e ao sector do trade, tendo sempre como fundo a nova realidade de Macau, assente no binómio: património histórico-cultural/turismo de negócios”.
Ainda segundo aquele responsável, “à semelhança de anos anteriores, estarão presentes nesta edição, representantes de diversas actividades tradicionais – adivinhos, artesãos, calígrafos – cuja singularidade garantiu sempre o sucesso do nosso stand de representação”.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O Ano Novo Lunar, nas palavras do Adé

"Pa quim lê nosso papiaçam, Nôs vem falá: «Kung Hei Fat Choi"
5 de Março, pelas 16 horas, tertúlia no Centro de Documentação Fundação Casa de Macau
Praça do Príncipe Real, nº 25 – 1º, Lisboa

José dos Santos Ferreira: 1919-1993

A José dos Santos Ferreira (1919-1993), Adé, para os amigos, coube a arte, o engenho e a glória de comemorar literariamente a alma macaense através da cultura do “papiá cristám di Macau”. Dizia que “não quiseram os macaístas puros daqueles tempos comunicar entre si em chinês ou noutra língua e como também não houvesse quem lhes ensinasse o idioma pátrio, é bem de crer que muito se esforçassem por manter regras próprias que lhes permitissem regular a sua linguagem falada e escrita, conservando-as através dos anos, sem dúvida, por entre dificuldades, até ao aparecimento dos primeiros mestres que lhes começaram a ensinar a língua portuguesa com boa gramática e pronúncia correcta”.

De um modo simples e directo, Adé aponta essa lacuna que existiu ao longo de gerações, a ausência de uma estrutura escolar, de ensino e de difusão da língua portuguesa. Os clérigos regentes e os primeiros mestres régios já se queixavam da penúria do ensino oficial e a pedagogia da cultura e da língua disseminada pelo Seminário de S. José não chegava, evidentemente, a todos.
Quanto ao resto, e que não era de somenos, ele fez o seu trabalho de casa, publicando em edição de autor, em 1978, “Papiá Cristám di Macau: Epítome de Gramática Comparada e Vocabulário. Dialecto Macaense”.
Contudo, sem “torá português”, que significava exactamente uma “pessoa que se esmera em falar correctamente o português, com pronúncia afectada”.
Vale a pena fruir esta quadra retirada do “Jardim Abençoado”:
Macau sã casa cristám
Qui Portugal já ergui;
Tudo gente vivo aqui
Têm fé na su coraçám.
Espreitam os valores éticos e morais por esta frincha estética, fazendo-nos lembrar, subtilmente, o peso específico da cultura católica, apostólica e cristã em toda a história desta cidade-estado, sem esquecer a modelação da pessoa e a valoração da alteridade.
Na apresentação do enredo camiliano da “História de Maria e Alferes João”, Adé salienta esta constelação de valores: “Terra de sonhos da nossa infância despreocupada, Macau, toda ela bondade e beleza, é o orgulho de tantas e tão nobres gerações de lealíssimos macaenses, toda a vida ciosos da sua nacionalidade portuguesa. Dizer coisas no dialecto antigo desta grei privilegiada de continuar Macau, dignificando Portugal, e exaltar Portugal, amando Macau, leva-nos a amar ainda mais esta santa terrinha”.
O toque de graça e de humor, também não perde pela demora:
O nosso grande mestre Camões
Se vivo fosse e a Macau viesse,
Ao ver esta versejadura eufórica
Na pena de tantos poetas,
Era capaz de abrir o olho cego
Para ver se isto aqui é realmente Macau.
Na pequena peça teatral “Chico Vai Escola”, poderemos notar a persistência desse velho problema escolar, que se transformou, afinal, numa oportunidade para se inventar e recriar uma língua particular de afectos e de sigilos, de orgulho e de afirmação, suficientemente opaca em relação ao português e suficientemente altiva em relação ao cantonense.
Foi a palavra a separar o que o sangue uniu.
O trabalho de Adé foi simplesmente fabuloso, há que dizê-lo e que reconhecê-lo. Ajudou a dar solidez a esse linguajar nebuloso e sincrético, não só com a utensilhagem conceptual que criou, a gramática e o vocabulário, por exemplo, mas sobretudo com a criação literária e com a revisitação evocativa dos ambientes familiares e dos mitos urbanos. Impediu-se desse modo o vazio nihilista ao mesmo tempo que a comunidade ganhava uma densidade ontológica com essa língua de comunicação, esmagada por um destino que não merecia.
Reviver é reinventar a língua, com o sangue novo a circular nas velhas artérias da memória, irrigando um passado que assim se faz presente.
Graciete Batalha fará, depois, estudos magistrais sobre o dialecto macaense.
No vocabulário macaense encontramos a palavra “Bicha”, (uma palavra humilde com uma tão infeliz conotação, ontem como hoje), com um sentido tributário de uma antropologia cultural regional e ainda com uma fantástica ressonância cultural e cognitiva, que nos escapa sem esta mediação: “nome que se dá à rapariga chinesa que, outrora, era vendida ou dada pelos pais a outrem e que vivia em absoluta sujeição à pessoa que a recebeu”.
E continua com esta história deliciosamente insólita: “Bicha no dialecto macaense, dado o seu significado, pode ser tomado como termo depreciativo. A propósito se recorda o incidente, que dizem ter passado em Lisboa, entre uma senhora macaense de Xangai e um polícia lisboeta.
Estava a senhora à espera do autocarro, mas fora da bicha, tentando passar à frente dos outros. Nisto, passa o polícia, que lhe diz: ‘Bicha, senhora! Bicha!’. E a senhora, imaginando-se insultada, respondeu, toda indignada: ‘Iou bicha? Vós chomá iou bicha? Vós bicho!’“.
Figura benquista na comunidade, José dos Santos Ferreira foi chefe da Secretaria do Liceu de Macau, presidiu ao Conselho Provincial de Educação Física e pertenceu aos corpos gerentes da Santa Casa da Misericórdia, do Hoquei Clube de Macau, da Associação de Futebol de Macau ou do Rotary Clube.
Recebeu a comenda da Ordem do Infante D. Henrique e a Medalha de Mérito Cultural, do Governo de Macau. Há uma estátua de José dos Santos Ferreira num jardim público, o que significa o reconhecimento da comunidade pelas suas qualidades intelectuais e criativas, éticas e cívicas ao serviço da identidade cultural de Macau.
No livro “Qui-Nova, Chencho”, prefaciado por José Silveira Machado e com ilustrações de Leonel Barros, vamos encontrar, nas palavras do autor, a “história da alma macaense”:
Vós sã, Macau, jardim di Portugal,
N’estunga vanda di mundo semeado,
Como vôs, non-têm ôtro más lial!
Deixou colaboração assinada na imprensa do Território e participou em inúmeras peças de teatro, recitais, operetas e programas radiofónicos, valorizando o ‘papiá cristám di Macau’.
Registo a sua bibliografia principal: “Escandinávia, Região de Encantos Mil”(1960), “Macau sã Assi” (1968), “Qui-Nova, Chencho” (1974), “Bilhar e Caridade” (1982), “Camões, Grándi na Naçám” (1982), “Poéma di Macau” (1983), “História de Maria e Alferes João” (1987), ou “Poéma na Lingu Maquista” (1992).
Sob a direcção de José Silveira Machado, a Fundação Macau publicou as Obras Completas de José dos Santos Ferreira, garantindo, deste modo, a salvaguarda deste importante legado cultural doravante acessível a todos.
Artigo de António Aresta, docente e investigador, publicado no JTM de 17-2-2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Memórias de Augusto Veiga - parte 2


"Era um cartão que a rapaziada tinha para assistir aos domingos a um filme no Colégio D. Bosco. Antes da sessão de cinema tínhamos que participar numa cerimónia religiosa e no final do mês em função da nossa assiduidade teríamos um prémio."
 Augusto Veiga - final da década de 1950

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Campo da Victoria: 25 Junho 1869

Pequeno artigo do Boletim (do Governo) en Junho de 1869 sobre o início dos trabalhos do que viria a ser o Campo da Victoria e onde seria colocado um monumento entretanto mandado fazer na Europa. O objectivo era assinalar a vitória sobre os holandeses que tentaram invadir Macau em 24 de Junho de 1622. Naquele local, também chamado de Campo dos Arrependidos, foi o máximo que chegaram dentro do território. 

Resumo do conteúdo de um artigo sobre esta invasão na perspectiva do comandante holandês publicado em Março de 1869 na revista "China Magazine". 
Willem Bontikoe comandava o navio 'Groningen' que partiu da Batavia (Indonésiai) a 10 de Abril de 1622 com o objectivo de "capturar Macau"  onde chegou a 22 de Junho de 1622. No total eram 15 os navios holandeses mais dois britânicos. Nas primeiras horas do dia 24 de Junho desembarcaram 600 homens iniciando o ataque. Os portugueses estavam à espera entricheirados, mas "recuaram para um convento no alto d'um monte". Entretanto os barris de pólvora dos holandeses incendiaram-se e, diz o comandante, os portugueses foram informados do facto por um japonês que desertou para o lado dos portugueses. Quando preparavam o regresso aos navios para reabastecer de pólvora os portugueses atacaram e foi o massacre. 120 mortos e outros tantos feridos entre os holandeses. Centenas de presos (os arrependidos).
Há uns anos contaram-me uma história curiosa. Aquando de uma limpeza na mata do Monte da Guia no início do século XX foram encontrados muitos vestígios da passagem dos holandeses: malas, roupas, armas, etc... Onde estão? Nunca ouvi falar.
Agradecimentos: A. Cação

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Jardins Vasco da Gama e Vitória

Foto 'exclusivo' Macau Antigo: Monumento Vitória em 1939. Foto da autoria de José Miguel Semedo Oliveira, militar em Macau na época.Cedida gentilmente pelo seu filho Fernando Reis.
The Vasco da Gama Garden and the Vitoria Garden were both created at the end of the 19th centruy. Both gardens were designed by Augusto César d’Abreu Nunes. The gardens used to be part of Avenida Vasco da Gama, a long avenue built in 1898 but demolished in 1935. The avenue was built to commemorate the 400th anniversary of the arrival of the fleet of Vasco da Gama to India.
The garden occupies 0.43 hectares including a small childrens playground built in 1980. Finally, the garden was modified in 2005 while building a carpark in time for the East Asian Games in 2005.
A bust of the Vasco da Gama made by Tomas da Costa in 1911 is placed on a pedestal in the middle of the park. The garden is surrounded by a hotel, a police headquarter, schools and the gymnasium.
Monumento da Vitória (Foto IICT de Man Took): início século XX
Os jardins Vasco da Gama (1898) e Vitória (1871)  junto ao monumento/busto com os respectivos nomes são do final do século XIX. No jardim da Vitória - tb conhecido por Campo dos Arrependidos -  foi instalada primeiramente a fonte que mais tarde foi transferida para o Jardim da Flora. Para assinalar a vitória sobre os holandeses foi colocada - 1864 - no centro do jardim uma pequena cruz de pedra da autoria de Manuel Maria Bordalo Pinheiro e mandada fazer pelo Leal Senado. 
Os jardins foram desenhados por Augusto César d'Abreu Nunes.
A avenida foi 'aberta' em 1898 no âmbito das comemorações dos 400 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia. A avenida tinha 500 metros de comprimento e 65 de largura. Dezenas de árvores - ficus rumphii - foram plantadas na altura - ainda hoje algumas resistem.
O busto do navagador foi ali colocado em 1911 e é da autoria do escultor Tomás da Costa.
Imagens do dia da inauguração neste link http://macauantigo.blogspot.com/2009/03/busto-de-vasco-da-gama.html
No Dia da Marinha - 8 de Julho - realizava-se aqui todos os anos uma cerimónia. Celebração de 1997 aqui http://macauantigo.blogspot.com/2009/11/dia-da-marinha-1997.html
Dia da Marinha no final da década de 1940
A partir de 1925 (o edifício da Caixa Escolar é desta data) a avenida começou a ser 'retalhada': campo do Tap Seac, escolas primárias, piscina municipal, hotel Estoril, etc. Nos anos 80 surgiu na zona o hotel Royal e um parque infantil. Mais recentemente toda a zona sofreu obras de remodelação mas continua a ser uma área de lazer. Em redor são famosos os restaurantes tailandeses.
A outrora Av. Vasco da Gama é hoje a Rua Ferreira do Amaral, logo a seguir à Av. Sidónio Pais. Os jardins ficam entre a rua Ferreira do Amaral, Calçada do Gaio e Estrada da Vitória.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Lei Iok Tin: fotógrafo

 Desfiles nos anos 60
 
Da esq. para a dtª.: Escola Comercial (inaugurada em 1966), Campo dos Operários (comemorações do Dia da República Popular da China)  e construção do Hotel Lisboa que seria inaugurado em Fevereiro de 1970. 
O senhor Lei Iok Tin é um fotógrafo famoso de Macau e as pessoas tratam-no por "Velho Tin", tendo dedicado ao trabalho de fotografar há mais de meio século. Embora tenha 86 anos de idade, continua a ser apaixonado pela arte fotográfica, tendo na sua posse, fotografias tiradas das grandes e pequenas paisagens de Macau, onde deixaram muitas pegadas suas. Ele é testemunha das vicissitudes desta pequena cidade. Entre 1949 e 1970, a fim de comemorar o Dia Nacional, os arcos decorativos construíam-se em algumas grandes ruas de Macau. Quando se acendiam as luzes, o grupo de representação recreativa e artística começava a actuar debaixo do arco decorativo e todos se mostravam muito animados, realçando uma elegância impressionante nas actividades realizadas no Dia Nacional. Estes arcos decorativos construídos para o Dia Nacional, eram sofisticados e imponentes e constituíam as características culturais da respectiva comemoração desta Região. Estas imagens preciosas ficaram, do modo de possível, na lente da maquina fotográfica do Velho Tin, as quais testemunharam o orgulho dos arcos decorativos do Dia Nacional celebrado em Macau e reflectiram o patriotismo dos compatriotas desta pequena cidade. 
Texto do site do Museu de Arte de Macau
Foto de Lei Iok Tin, tb conhecido por Tin Pak. 
Nasceu em 1918, em Xinhui na Província de Guangdong, tendo crescido em Macau. Aos 18 anos de idade, comecou a trabalhar como aprendiz de fotografia e completou os estudos três anos depois. Posteriormente, trabalhou para vários estúdios de Hong Kong e Macau. Durante mais de 60 anos dedicou-se à fotografia, apesar das muitas dificuldades que encontrou; desdenha a fama e a fortuna dando bastante importância ao trabalho prático. Tem sempre por objectivo divertir-se e divertir os outros com as suas fotografias.
Mais fotos - por Lei Iok Tin - de arcos comemorativos aqui 
http://macauantigo.blogspot.com/2011/02/100-anos-de-republica-na-china.html

Vista a partir da zona do Fai Tchi Kei. Década 1960. 
No "Macau Antigo" existem várias dezenas de fotografias da autoria deste senhor. A modesta homenagem só peca por tardia. Bem haja por nos ter proporcionado estes 'instantes' únicos. Obrigado!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"Macau é um espectáculo" no Brasil

O quotidiano das ruas de Macau, os costumes chineses e portugueses e factos da mistura entre Ocidente e Oriente estão a estampar, desde ontem, as paredes da Faculdade Frassinetti no Recife, Brasil. A exposição “Macau é um Espectáculo” é itinerante e já passou por diversos países como Canadá, Estados Unidos, Portugal e Espanha. Agora faz parte da programação de preparação para o 5.º Congresso Festlatino (Festival Internacional de Línguas e Literaturas Neolatinas). Quando terminar a temporada no Recife, daqui a dois meses, as fotos seguem para a Biblioteca Nacional de Brasília.
Notícia do Hoje Macau de 16-02-2011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Memórias de Augusto Veiga - parte I


Licença de bicicleta passada pelo Leal Senado em 1959 e Certificado de Vacinação
 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Gabriel M. Teixeira: 1897-1973

Maurício Teixeira em Agosto de 1940 na resposta (excerto) ao convite de Salazar para ser governador de Macau: “Enfim, é serviço, e serviço não se discute: cumpre-se”. O desagrado era evidente mas era nele que o Presidente do Conselho confiava para conduzir os destinos da então colónia. E quem é dizia que não a Salazar?...
Gabriel Maurício Teixeira foi governador de Macau entre 1940 e 1946, um dos períodos mais conturbados da sua história, o da Guerra do Pacífico. No link mais alguns dados...
Entre os chineses era conhecido como Tai Si Lok (a tradução fonética do apelido). Nomeado por Salazar após a morte de Artur Tamagnini de Sousa Barbosa a 10 de Julho de 1940 (nascido em Macau e governador por 3 vezes), foi reconduzido no cargo em 1944 mas o desfecho da guerra ditou um regresso antecipado a Portugal/Moçambique. Macau ficou então com um encarregado de governo - Samuel Vieira, o comandante do "Afonso de Albuquerque" - desde 5 Agosto de 1946 até 1 Setembro 1947 quando um novo governador, Albano Rodrigues de Oliveira, tomou posse.
Depois de saír de Macau - onde foi o 2º governador a estar mais tempo no cargo de forma contínua - Gabriel Teixeira foi governador-geral de Moçambique (1948-1958), onde estava quando Salazar o nomeou. Morreu em 1973.
No livro “Marinheiros Ilustres relacionados com Macau” Monsenhor Manuel Teixeira cita uma nota publicada nos Anais do Clube Militar Naval, em 1973, à data da morte de Gabriel Maurício Teixeira, assinada por alguém que Monsenhor refere como L.A. e do qual transcrevo alguns excertos:
“Em 24 de Julho de 1973 faleceu o Comandante Gabriel Maurício Teixeira, que foi um dos melhores valores de que dispôs a Armada na sua geração. (...) serviu o País com excepcional brilho, tanto na Armada como na Administração Pública. (...) Desde muito novo que se revelaram as suas notáveis qualidades de militar, de marinheiro e de homem de acção, que sempre esteve pronto a demonstrar em quaisquer dificuldades ou momentos de risco (...) Fora da sua arma, não foi menos apreciável a sua actuação em altas funções da Administração Pública e noutras de grande interesse para a Nação. Ficou vincada por múltiplas e valiosas intervenções a sua passagem pela Assembleia Nacional, como deputado em várias legislaturas e teve também especial relevo uma longa permanência que fez no Ultramar, em postos da maior responsabilidade, que soube ocupar com mais são critério, esforçada diligência e grande distinção. Bastará recordar os vários lugares de Governo que lhe estiveram confiados. Começou por ser, ainda no começo da sua carreira, encarregado de Governo do distrito de Cabo Delgado. Mais tarde, em circunstâncias particularmente difíceis, foi Governador da Província de Macau. E mereceu especial menção o longo prazo de três mandatos em que foi Governador-Geral de Moçambique, onde continuam a não ser esquecidos o seu bom senso, a sua integridade e a sua hábil condição dos negócios públicos dessa grande parcela da terra portuguesa. (...) Com o seu desaparecimento perdem o país e a Marinha um dos seus mais ilustres servidores, e os seus camaradas um companheiro e um amigo que profundamente estimavam.”
NA: a fotografia é anterior à sua passagem por Macau onde chegou com 43 anos.

Homenagens: Francisco Figueira e H. Senna Fernandes

Já desapareceram do mundo dos vivos mas a sua dedicação a Macau, em diferentes áreas, deixou marcas e os seus pares querem homenageá-los.
Francisco Figueira, Chico, partiu em 2009 depois de viver em Macau mais de duas décadas e de ser uma referência na defesa do património local. Por este dias decorre um abaixo-assinado promovido por Carlos Marreiros para que haja uma rua com o seu nome. "Defensor do património e macaense adoptivo", olhando para as mãos cheias de anos gastos em Macau, faz todo o sentido que as letras que lhe compõem o nome se fixem numa "rua digna", diz Carlos Marreiros ao JTM de 9-2-2011 que publicou também esta imagem de 'Chico' e Marreiros.
Henrique Senna Fernandes, partiu em Outubro de 2010 e, à semelhança de outras figuras da terra, poderá vir a ter uma estátua em sua homenagem do Jardim das Artes.
A ideia de Carlos Marreiros foi explicada ao Jornal Tribuna de Macau. 
(...) Mereceria uma estátua de bronze. Já o estou a ver sentado num banco do Jardim de Artes…", idealiza Carlos Marreiros. Henrique de Senna Fernandes, autor de "Amor e Dedinhos de Pé", deve assim juntar-se a Luís Gonzaga Gomes, Adé dos Santos Ferreira e Camilo Pessanha, todos representados no Jardim de Artes, situado na Av. da Amizade. O arquitecto até já imaginou a posição que Senna Fernandes poderia assumir naquele cenário: "Sentado, a fumar charuto, em tamanho natural ao nível do transeunte. As pessoas poderão sentar-se ao lado e tirar uma fotografia. Com ele a olhar, por exemplo, para o Porto Interior, porque o Jardim de Artes está no enfiamento da última casa dele. Gostava de fazer uma coisa assim". Miguel de Senna Fernandes aplaude a ideia. "É estupenda, mas será preciso falar também com outros membros da família. De qualquer modo, sabemos que o nosso pai deixou de ser exclusivo e passou a fazer parte do património de Macau", confessa ao JTM. Também Carlos Marreiros salienta que aquela será mais uma marca da identidade local. (...)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Transmissões em "onda curta" em 1927

Em 1927, operando um equipamento por si adaptado à onda curta o 1º Tenente Gabriel Prior, também radioamador, a bordo do cruzador “Adamastor”, em serviço no Extremo-Oriente, estabelece, em Abril, contactos a partir de Macau com o cruzador “República” em Xangai e quando da viagem deste navio para Singapura. Igualmente nesse ano e no seguinte comunica com radioamadores espalhados pelo mundo. Tal o êxito dessas comunicações que equipamentos de onda curta são então montados nos navios da Armada em serviço no Extremo-Oriente.
Em honra deste pioneiro do radioamadorismo em Portugal e da sua actividade em prol do desenvolvimento da onda curta e das comunicações na Marinha o “Núcleo de Radioamadores da Armada” instituiu, em 2002, o “Diploma Almirante Gabriel Prior”. Este diploma, que tem carácter permanente, pode ser obtido por qualquer estação de amador desde que faça prova de ter contactado todos os países (foram 17 na Europa, Américas, Ásia e Oceânia) com que o Tenente Prior estabeleceu comunicações entre 27 de Setembro de 1927 e 19 de Fevereiro de 1928 a bordo do cruzador “Adamastor” com o indicativo XEP1MA e cumulativamente com os países do mundo lusófono. (...)
1929 é outro ano histórico. Os Postos do Monsanto e do Gravato iniciam as comunicações regulares com Macau, tornando a Marinha a pioneira da ligação rádio de Lisboa com aquele longínquo território.
in As Comunicações da Marinha: dos primórdios a 1975 - Comunicação apresentada na Academia de Marinha pelo Membro Efectivo contra-almirante José Luís Leiria Pinto, em 1 de Junho de 2010.

Cruzador "Adamastor" - I

Chegou à Marinha portuguesa em 1897 depois de adquirido a Itália com recurso a uma subscrição nacional. O momento mais emblemático do seu percurso deu-se na madrugada do dia 4 de Outubro de 1910. Foi a bordo deste navio, fundeado no Tejo, que partiu o sinal que desencadeou a revolução republicana. Este aviso fez-se através do disparo de três tiros das suas peças e constituiu o início de todo um plano, que culminou na implantação da República em Portugal.
Cumpriu variadas comissões em África (Angola e Moçambique) e no Extremo Oriente.
João de Canto e Castro (1862-1934), que viria a ser o 5º Presidente da República, foi nomeado comandante do "Adamastor em 1913. Para tomar posse foi buscá-lo a Macau, fazendo a viagem por terra, utilizando o transiberiano.
Com o golpe de estado 1926 foi enviado para Macau - para reforço da Estação Naval juntamente com o "República", por causa da invasão da China pelos japoneses tendo socorrido a comunidade portuguesa de Xangai - tendo regressado seis anos depois em muito mau estado e já reclassificado como "aviso de 2ª classe". Foi abatido um ano depois, em 1933.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Macaenses no New York Times (8-2-2011)

Na edição de 8 de Fevereiro 2011 o jornalista do “The New York Times” Andrew Jacobs assina uma grande reportagem intitulada “Misturas distintas persistem numa esquina da China” sobre a cultura macaense. http://www.nytimes.com/2011/02/08/world/asia/08macao.html?_r=2 
No JTM foi publicado um artigo que traduz a essência da reportagem e que a seguir se reproduz agradecendo mais uma vez aos autores e ao JTM.
Andrew Jacobs inicia a sua reportagem sobre Macau com uma referência ao multiculturalismo do território, que, aponta, é evidenciado pela cultura macaense. “Há muito tempo termos como ‘multiculturalismo’ e ‘cozinha de fusão’ entraram no léxico moderno. Aida de Jesus e os seus antepassados foram misturando linguagem, alimentos, e o ADN por distantes cantos do globo”, escreveu o jornalista, introduzindo assim a sua conversa com a macaense Aida.
E prossegue: “uma ‘chef’ de 95 anos, cuja ancestralidade é traçada a partir de Goa, Malaca e outros pontos do antigo Império português, Senhora de Jesus, como ela prefere ser chamada, cresceu a celebrar o Natal e o Ano Novo Chinês, com refeições baseadas em chouriço português, ‘bok choy’ e galinha cafreal, - um prato de frango com um ‘pedigree’ africano. Senhora de Jesus falava português na escola, cantonense na rua e um crioulo animado conhecido como patuá com ‘as meninas’”.
“Nós, macaenses estamos sempre a misturar”, disse Senhora de Jesus (...) “Somos muito adaptados”.
“Mas actualmente os macaenses estão a nadar contra a maré demográfica que ameaça submergir o seu ‘cocktail’ cultural”, observou o jornalista. “Sempre superados em número pelos imigrantes chineses e comerciantes portugueses, que lotaram esta mancha densamente povoada do Delta do Rio das Pérolas, os macaenses, que ficaram no território após a criação da RAEM 1999, são certamente uma minoria. Menos de 10 mil macaenses residem em Macau, por contraste, a população é de 500 mil habitantes, sendo de cerca de 95 por cento chineses, taxa que continua a subir”, acrescentou.
Photo: Thomas Lee for the International Herald Tribune
Aida de Jesus worked on recipes as her daughter Sonia Palmer had a sausage sandwich at the family-owned Riquexo Cafe and Restaurant.
“Há provavelmente mais macaenses a viver na Califórnia e no Canadá do que em Macau”, apontou Miguel de Senna Fernandes, advogado e escritor, “cujo pai narrou a vida de macaenses comuns numa série de romances”. “Agora que somos parte da China, estamos diante de uma força muito poderosa e absorvente”.
“Mas isso não faz Miguel Senna Fernandes desistir”, sublinhou o jornalista. “Além da organização de eventos sociais, através da Associação dos Macaenses, Miguel também surge como o D. Quixote do patuá, que está listado pela Unesco como uma língua em extinção. O escritor ajudou a publicar um dicionário de expressões em patuá, e nos últimos 18 anos encenou uma peça de teatro anualmente que faz reviver o que os locais chamam de “Dóci Papiaçam”, isto é, fala doce”.
"Miguel de Senna Fernandes, identifica vestígios do seu fascínio pelo patuá na convivência com a sua avó, que falava o crioulo com os amigos durante o ‘chá gordo’ (...) Como frequentemente as expressões eram impróprias para os ouvidos de um miúdo de oito anos, a avó de Miguel traduzia-lhe as expressões de forma mais suave, seguindo-se uma repreensão para que continuasse a estudar o português correcto”, relatou Andrew Jacobs.
“Os antigos consideravam que o patuá era mau português, mas desde essa altura que estou viciado”, explicou, na reportagem, Miguel Senna Fernandes.
Andrew Jacobs refere ainda que “o patuá está entre os últimos dos crioulos que uma vez floresceram na constelação dos portos que compõem as explorações portuguesas na Ásia e em África”.
“Ao contrário de colonizadores britânicos, que mantiveram uma certa distância de seus súbditos em Hong Kong, - território que fica apenas a uma hora de viagem de ferry de Macau -, os portugueses casavam-se frequentemente com mulheres locais, que depois se convertiam ao catolicismo”.
Alan Baxter, linguista da Universidade de Macau e um especialista em crioulos baseados no português, explicou ao jornalista “que as raízes do patuá remontam ao século XVI, quando os comerciantes portugueses e seus seguidores faziam negócios com os africanos, indianos e malaios, tendo, em seguida, rumado para as outras colónias do império”.
“Imagine que estava num lugar novo, privado dos conhecimentos da língua local e que conseguia apenas apanhar os pedaços úteis para se conseguir alimentar”, enfatizou o linguista, explicando a evolução do crioulo.
“As contribuições do cantonense para o patuá vieram muito mais tarde, a partir do final do século XIX, após as muralhas que separavam os bairros portugueses dos bairros chineses terem sido derrubadas e os dois grupos terem começado a misturar-se”, indica o jornalista, usando as palavras de Baxter.
Posto isto, Andrew Jacobs “brinca” ele próprio com o crioulo, dizendo que “hoje em dia os macaenses dão a sua roupa suja a um ‘mainato’ – palavra derivada do malaio - e chamam às pessoas que lhe são queridas de ‘amo chai’, - uma mistura da palavra portuguesa amor e da expressão cantonense que significa pequeno”. “Os verbos não se conjugam, os nomes são repetidos para sugerir o plural e as palavras são, por vezes, colocadas de uma maneira que imita a estrutura clássica dos idiomas chineses”, adicionou.
“No início, esta forma de linguagem serviu bem os macaenses, promovendo o seu papel de ponte entre os governantes portugueses e os habitantes de Macau, predominantemente chineses. Depois, quando os macaenses começaram a enviar os seus filhos para as escolas portuguesas, tornaram-se indispensáveis como gerentes e burocratas. Mais recentemente, quando a China assumiu a administração do enclave depois de mais de 400 anos de domínio português, os macaenses dominaram o funcionalismo público do território”.
Antes de entrar no capítulo dos casinos, Andrew Jacobs realça a magia da zona mais antiga do território. “Embora a maioria dos visitantes hoje em dia seja rapidamente sugada para os casinos - entre os quais está o Venetian, um dos maiores do mundo - aqueles que percorrem as ruas de calçada estreita são facilmente atingidos pela coexistência do Oriente e do Ocidente. Templos budistas impregnados de incenso, igrejas barrocas, pastelarias portuguesas, mercearias de venda de barbatanas secas de tubarão estão amontoados sem descontentamento”.
Segundo escreve, “esse mesmo entrelaçamento é evidente na vida dos macaenses muitos dos quais consagrados católicos, mas que dão aos seus filhos pequenos envelopes vermelhos com dinheiro no Ano Novo Lunar. Por altura do Festival do Meio Outono, - um outro feriado chinês -, vão para as ruas transportando lanternas em forma de coelho”.
“Muitos de nós fomos educados na Europa, mas nenhum macaense ousaria mudar de casa sem consultar primeiro um especialista em feng shui”, explicou, na reportagem, Carlos Marreiros, arquitecto que desenhou o Pavilhão de Macau na Expo Xangai 2010. “Sou cristão, mas eu também acredito que Deus é um grande oceano e que todos os rios de religião correm para o encontrar”.
Andrew Jacobs continua: “nos anos que antecederam a criação da RAEM, milhares de macaenses apreensivos partiram, com muitos a instalarem-se em Portugal. Mas, ao longo da última década, Pequim tem-se mantido fiel à sua promessa de dar a Macau 50 anos de autonomia relativa, pelo que a emigração tem abrandado e um pequeno número, mas constante, tem regressado”.
“Uma atracção irresistível tem sido o crescimento económico desenfreado, estimulado principalmente pela Indústria do Jogo, que no ano passado ajudou a impulsionar o crescimento de 20 por cento da economia. Com os casinos abastecidos pelos jogadores do Continente, as receitas do Jogo de Macau estão agora a quadruplicar aquelas verificadas na Strip de Las Vegas. O impacto sobre a população local tem sido irregular. Uma lei que proíbe os não residentes de trabalhar como ‘croupiers’ e ‘dealers’ ajudou a proporcionar empregos bem remunerados aos residentes, mas o crescimento do sector drenou, inesperadamente, as escolas de professores. Tem sido também uma atracção irresistível para os jovens, estando um número crescente a abandonar a escola ou a rejeitar uma ida para a universidade para ir directamente trabalhar para os casinos”.
“Tanta prosperidade trouxe também outras desvantagens: a especulação imobiliária desenfreada que está a deixar a população local de fora do mercado de habitação. A Macau ensonada que provoca saudosismo a muitos, está cada vez mais submergida pela buzina e ritmos maníacos, que geralmente estão associados a Hong Kong”, observou o jornalista do NYT.
“Está tudo a acontecer de forma muito rápida: a construção é rápida, o negócio é fácil e todos estão mais stressados”, disse, por sua vez, José Sales Marques, último presidente do Leal Senado, que agora trabalha para promover melhores relações entre Macau e a Europa. “A prosperidade é maravilhosa, mas no final do dia todo o dinheiro não pode comprar uma cultura e uma identidade”.
No final do texto, Andrew Jacobs mostra ainda como a música pode perpetuar uma cultura: “Filomeno Jorge está determinado a manter viva uma vertente dessa identidade. Todas as quartas-feiras, ele agita os outros sete membros da sua banda, Tuna Macaense, a tocar um repertório diversificado que inclui, surpreendentemente, fados portugueses, baladas cantonenses e canções pop filipinas. Os pilares são, contudo, as músicas ‘vintage’ em patuá, algumas datadas de 1935, altura em que o grupo foi fundado por José dos Santos Ferreira, poeta e letrista creditado por trazer legitimidade cultural ao dialecto macaense. A Tuna Macaense chegou a ter ao mesmo tempo três dezenas de membros, tendo ficado conhecida por fazer actuações sem aviso prévio em casamentos e festas de aniversário”. (...)
“Apesar da Tuna Macaense ser abençoada com espectáculos frequentes, o Filomeno Jorge, está cada vez mais preocupado com a procura de sangue novo para a banda, uma busca até agora sem êxito”. “Todos nós temos mais de 50 anos. Depois de morrermos, a nossa música vai morrer, e eu não posso deixar isso acontecer”, disse Sr. Jorge a Andrew Jacobs, que termina a reportagem com esta afirmação.
Artigo da autoria de O.P. publicado no JTM de 9-2-2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Recordando Leonel Barros

A Sala de Colecções Raras da Universidade de Macau vai receber um exemplar de “Macau – Coisas da Terra e do Céu”, autografado por Leonel Barros. O autor do livro, que faleceu no início de Fevereiro, era considerado um contador de histórias de Macau e um “filho da terra”. Leonel Barros tem várias obras espalhadas pelo território. “Macau – Coisas da Terra e do Céu” foi publicado em 1999 e debruça-se em aspectos da vivência de Macau, lendas e tradições. Anteriormente detido pela Biblioteca Comendador Joaquim Morais Alves do Instituto Internacional de Macau, o livro vai agora ser entregue à Universidade de Macau, de forma a assinalar a morte deste promotor da cultura do território.Sempre ouvi dizer que as más notícias se espalham a velocidade bem maior que as boas e hoje, com os meios de comunicação disponíveis, é num instante que delas tomamos conhecimento. Vem isto propósito da infausta notícia do falecimento do Leonel Barros figura muito estimada da comunidade macaense com quem, ao longo de anos, partilhei muitos e agradáveis momentos.
Notícia do Hoje Macau de 10-2-2011
A família esteve ligada aos vapores que faziam a ligação entre Macau e Cantão.
'Neca' fez muitas viagens ainda adolescente
"Embora nunca tivesse estado em Portugal, evidenciou um grande sentimento de portugalidade e, como há anos tive oportunidade de referir, a simplicidade e a filantropia eram traves mestras da sua postura. Natural de Macau aí se criou tendo, desde muito cedo, manifestado uma invulgar propensão pelo desenho e a música, a que, anos mais tarde, se juntaria o gosto pela criação de animais, prática que fazia com enorme amplitude, pois além de dúzia e meia de cães, fui testemunha que, em casa, chegou a ter cobras que, perigosas ou não, guardava em sacos de pano e às quais ma-nuseava com afagos!
A nossa relação pessoal teve início aí por volta de 1974, quando vivíamos ao lado do demolido Bairro Albano de Oliveira e ele me deu a conhecer interessantes apontamentos sobre ofídios que, desde logo o incentivei a publicar, e vieram a público em 1978. A facilidade com que manuseava o lápis era impressionante e constituía um regalo vê-lo criar as mais diferentes imagens, delas se valendo e bem para ilustrar os textos que redigia. Por diversas vezes tive o privilégio de o ver desenhar, deliciando-me com as peças que com graça e subtileza fazia despontar. Como esquecer o trabalho que executou na sala de refeições do antigo Hotel Bela Vista, em que com pequenos azulejos reproduziu, com grande fidelidade, a Torre de Belém, desde há anos foi classificada como peça portuguesa de Património Mundial? E a sessão de desenho que, certa tarde no Hotel Hyatt proporcionou aos membros do Rotary Club Amagao! Durante os anos em que trabalhei nos SFAM, foi um excelente colaborador que contribuiu para ilustras temas relacionados com a conservação da natureza, a origem de animais e plantas, tem-do-lhe muito a ficado dever as primeiras “Semanas Verdes de Macau” realizadas no início dos anos oitenta. E, é com particular comoção que dele me recordo ao desfolhar o livro de poemas que editei por ocasião dos meus 25 anos de residência permanente em Macau, onde figuram sete desenhos de sua autoria e alusivos aos temas em apreço. 
Era assim Macau (1939) na juventude de Leonel Barros
A música foi outra área em que se moveu com facilidade tendo-se revelado bom executante de diferentes instrumentos como sejam a flauta, viola e bateria. Tal dom e a afabilidade de relacionamento levaram-no a integrar conjuntos musicais, como o “Six Rockers”. Sempre sorridente e bem-disposto, a sua presença era contagiante e, por diversas vezes o vi actuar. Aliás, o Neco como vulgarmente era tratado, constituía presença obrigatória nas peças de autoria doutro grande macaense e amigo que foi José dos Santos Ferreira, vulgo Adé. Em minha casa, onde, de quando em vez, aparecia prendia a atenção das minhas filhas que, encantadas, o ouviam contar histórias locais, valorizadas pela abundância de gestos e a nunca faltavam os efeitos sonoros. Era o que se pode classificar com um entertainer nato. Funcionário do Montepio, entidade de que se aposentou em meados dos anos 70, cultivou, em profundidade e anos a fio, o gosto pelos animais, sendo muito requeridos os valiosos préstimos que, em sua casa, a qualquer hora e fosse a quem fosse, disponibilizava minimizando o sofrimento de animais e sem cobrar tratamentos cujos encargos suportava, chegando ao ponto de ceder medicamentos que adquiria e armazenava numa pequena farmácia. Os animais aprisionados em estreitas gaiolas de rede ou gradeadas a ferro e prontos a ser consumidos em alguns dos restaurantes da Rua da Felicidade tinham nele condoído protector, tendo chegado a conseguir que alguns fossem libertados e salvos. Quanto às peças existentes no Jardim da Flora tiveram nele um dedicado amigo a quem nem as inúmeras mordeduras dos macacos impediram de, com grande frequência, os visitar e tratar. Dotado dum arguto olhar, conseguia aperceber-se do estado dos animais em cativeiro e muitas vezes o vi recomendar determinado medicamento ou a aplicação dum reforço vitamínico. Aí, bem merecia que o seu nome fosse perpetuado junto à fonte ou ao lado do busto de Alfredo Augusto de Almeida ((1898-1971) outro conceituado macaense que se revelou ser profundo conhecedor da flora local. Seria a homenagem da sua terra.
Com uma prodigiosa memória era capaz de descrever cenas ocorridas há dezenas de anos e chamar à colação intervenientes que delas guardavam vaga lembrança ou total esquecimento. Em boa hora a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) lhe encomendou a redacção de memórias e tradições macaenses, as quais veio a editar em alguns volumes que devem constituir leitura obrigatória para quem tencione conhecer o que foi Macau. Foi pois com imensa tristeza e uma lágrima incontida que soube que falecera. Paz à sua alma."
Artigo de António Estácio publicado no JTM de 8-2-2011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

VI Fórum Internacional de Sinologia

Decorre de 24 a 26 de Fevereiro a 6ª edição do Fórum Internacional de Sinologia. O tema deste ano é: "Um século de mudança e continuidade na China 1911-2011". 
Como nas edições anteriores, este fórum seguirá uma abordagem multidisciplinar e tentará congregar um vasto leque de análises a partir de uma variedade de perspectivas.
Organização: Instituto Português de Sinologia e Museu do Oriente
Horário: 9.30 às 18.00 no auditório do Museu do Oriente
Entrada livre, sujeita a inscrição no Instituto Português de Sinologia
Informações e detalhes sobre o programa em www.ipsinologia.com
Sobre Macau destaco as apresentações do dia 24: "Macau e a Revolução Nacionalista Chinesa, 1905-1926", às 11h15 e às 15h45 "Representar Macau no Écran: a narrativa fílmica de 'Macao', de 1952".

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Soldado Indígena: 1902

Colecção de aguarelas do coronel Ribeiro Arthur 
in Arquivo Histórico Militar - Uniforme Militares Portugueses
"Soldado Indígena da Colónia de Macau: 1902"
Edição do Jornal do Exército, 1987

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

100 anos de República na China

Av. Infante D. Henrique
 Campo dos Operários: ao fundo o Liceu
Jornal Ou Mun
Zona do Senado 
 Nam Kwong
 San Chong Hong
 Frente a cinema Lido
Rua Visconde Paço d'Arcos
No ano em que se celebram os 100 anos da implantação da República na China (1911) recorda-se Macau nas celebrações do dia 'nacional' através da objectiva de Lei Iok Tin (excepto a imagem que está depois deste texto) na década de 1960. Nestas fotografias celebra-se a proclamação da República Popular da China que ocorreu em 1949.
Ainda este mês o Instituto Português de Sinologia dedica o seu fórum anual à efeméride. Mais pormenores em breve.
Teatro Nan King (dos anos 30 ao início anos 50) 
Na imagem enquanto "Centro Recreativo Operário" (anos 60)
 na Rua 5 de Outubro/Visconde Paço d'Arcos. Foi demolido na década de 1990.